Os mistérios da Umbanda

A dança sagrada das energias ancestrais: Umbanda, o encontro místico entre Orixás, tradições africanas, indígenas e cristãs

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Pai Zezinho de Ogum, pai de santo do terreiro Tenda Espírita Vovó Maria Conga de Aruanda




No horizonte da história, desvela-se um enigma místico que ecoa através dos séculos. Deixe-me guiar seus passos por entre as névoas do tempo, onde verdades antigas encontram morada. Em um momento crucial, o dia 15 de novembro emerge como uma estrela brilhante, iluminando o nascimento da Umbanda como uma religião organizada. Um evento transcendental que, em 18 de maio de 2012, foi consagrado pela Lei 12.644, entrelaçando o destino dessa fé com a própria alma do Brasil. E, como se fosse uma profecia cumprida, em 8 de novembro de 2016, o instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) proclamou a Umbanda como um tesouro imaterial, um legado vivo do Rio de Janeiro. Permita-se adentrar nessa dança cósmica, onde o candomblé, o catolicismo e o espiritismo entrelaçam-se em uma sinfonia divina. Explore os mistérios sagrados que unem os orixás africanos, os santos católicos e os espíritos ancestrais indígenas. Abra seu coração para a magia que pulsa nas veias dessa religião brasileira por excelência. Desvende segredos ocultos, conecte-se com o divino e mergulhe em uma experiência única de transformação espiritual. Prepare-se para abraçar a grandiosidade do místico, enquanto a Umbanda revela seus encantos e desvenda os mistérios guardados pelos séculos.

Etimologia

A Umbanda, uma religião rica em mistérios e tradições, guarda em suas raízes uma profunda conexão com diferentes culturas e idiomas. Suas origens etimológicas nos transportam para terras distantes, onde os sons e significados ganham vida. Os termos "Umbanda" e "Embanda" emergem da língua quimbunda de Angola, revelando uma essência poderosa: "magia" e "arte de curar". Essas palavras nos transportam para um universo encantado, onde os véus do sobrenatural são tecidos habilmente.

Além disso, especula-se sobre uma possível origem em um mantra da antiga língua adâmica, que ecoa nas entrelinhas do tempo. Sua tradução revela um significado transcendental, um conjunto de leis divinas ou a presença de um deus ao nosso lado. Essa conexão com o divino nos envolve em um abraço celestial, convidando-nos a explorar os segredos mais profundos da espiritualidade.

No entanto, a Umbanda guarda outras facetas em seu mosaico de crenças. A palavra "mbanda" também encontrou seu lugar no cenário religioso, simbolizando a arte de curar e o culto pelo qual os sacerdotes exerciam sua sagrada missão. Por trás desse termo, esconde-se um reino além do visível, onde os espíritos encontram morada e os véus da realidade se dissolvem.

Dentro desse universo diversificado da Umbanda, surgem vertentes que negam certos elementos africanos, como a Umbanda Branca. Após o I Congresso do Espiritismo de Umbanda, realizado em 1941, essa vertente apresentou uma interpretação diferente da origem da palavra "Umbanda". Segundo eles, ela provém das palavras sânscritas "aum" e "bhanda", que trazem à tona significados profundos: "o limite no ilimitado", "Princípio divino, luz radiante, a fonte da vida eterna, evolução constante". Essa perspectiva amplia nosso entendimento da Umbanda, trazendo novas dimensões ao seu tecido espiritual.

Ao explorar a história e a riqueza linguística da Umbanda, somos convidados a desvendar os enigmas que envolvem essa religião sincrética. Cada termo, cada significado nos leva a um novo patamar de compreensão, onde a magia e a cura se entrelaçam em uma dança sagrada. A Umbanda revela-se como um portal para o divino, um caminho que transcende fronteiras culturais e se torna uma poderosa força de transformação espiritual. Abra-se para essa jornada mística e permita-se ser envolvido pelo encanto que emana das origens da Umbanda.

Parte histórica

- Calundu dos escravizados

Pintura de Zacharias Wagener (ca. 1634 - 1641) retratando um Calundu em Pernambuco


Adentre os caminhos históricos da religiosidade afro-brasileira e desvende as raízes ancestrais que moldaram a cultura e a identidade do povo. Desde os primórdios do Brasil colonial, já se testemunhava a presença de comunidades religiosas afro-brasileiras, registradas em documentos que datam do século XVII. É uma viagem ao passado que nos revela a mais antiga documentação de práticas rituais africanas no Brasil, encontrada em uma pintura de Zacharias Wagener, datada, no mais tardar, de 1641.

Nesse cenário marcado pela escravidão, os escravos deram origem às comunidades religiosas conhecidas como Calundu. Os Calundus floresceram a partir das rodas de batuques, momentos de folga em que os escravos dançavam e tocavam atabaques ao redor das senzalas. Essas práticas de culto eram perseguidas pelas autoridades civis e colonizadores portugueses, mas resistiram com fervor. O sincretismo religioso permeava o Calundu, unindo crenças africanas, a Pajelança indígena e o Catolicismo, revelando uma complexa teia espiritual.

A própria Inquisição Portuguesa deixa-nos vestígios históricos da presença de um sacerdote de Angola atuando na Capitania da Bahia de Todos os Santos, chamado Domingos Umbata. Um documento datado de 1646 descreve uma Gira de Inquice em uma sessão de Calundu, revelando os rituais realizados: mulheres se lavando em uma tigela com água, folhas, uma cascavel e itens mágicos, em busca de alívio para suas condições de vida. No silêncio da meia-noite, testemunha-se uma grande reunião com um idioma incompreensível, símbolos traçados na água e a comunicação com forças invisíveis.

Essas narrativas históricas nos transportam para uma época distante, onde as práticas religiosas afro-brasileiras se desenvolviam em meio à adversidade, resistindo e preservando as tradições e os vínculos sagrados. É uma oportunidade ímpar de mergulhar nas raízes dessa espiritualidade, compreendendo seu papel na construção da identidade cultural do Brasil. Convido você a desvendar essas páginas esquecidas da história e a se conectar com a força ancestral que permeia as tradições religiosas afro-brasileiras. Uma jornada enriquecedora aguarda, repleta de saberes, rituais e histórias que moldaram a nossa sociedade.

- A cabula

Adentre os mistérios ancestrais das tradições religiosas afro-brasileiras e descubra a riqueza e complexidade da Umbanda. É no século XVIII que encontramos os primeiros vestígios dessa religiosidade que ainda hoje fascina e encanta. Os antigos centros de Cabula, popularmente conhecidos como "Macumba", já despontavam como locais de culto e devoção, espalhados pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Bahia.

Nesses terreiros de Cabula, já se evidenciava a sincretização de rituais africanos, crenças indígenas e elementos do catolicismo. Era um mosaico espiritual que se manifestava por meio de cantos, danças, rezas e oferendas, envolvendo a comunidade que ali buscava amparo e conexão com o divino. Foi nesse contexto que Zélio Fernandino de Morais, influenciado por esses rituais, deu vida à Umbanda como religião organizada, adaptando-os sob uma roupagem espírita kardecista.

Os terreiros de Cabula, presentes nas zonas rurais e periferias urbanas, que não foram absorvidos pela influência de Zélio, deram origem aos conhecidos Macumba Popular e, posteriormente, à Umbanda Popular, que perduram até os dias atuais. A diversidade e a pluralidade de influências religiosas são marcas dessas manifestações, que incorporam elementos do Candomblé, esoterismo europeu e diversas outras crenças populares no Brasil e ao redor do mundo.

A Cabula Bantu, por sua vez, surge como descendente direta do Calundu praticado pelos escravizados, com forte presença em Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. A religião Bantu e elementos do catolicismo e crenças indígenas se entrelaçam nessa prática, que também recebe influências do espiritismo a partir do século XIX. No entanto, a Cabula Bantu enfrentou perseguições e hostilidades por parte das elites cristãs ao longo de sua existência.

Explore as nuances e os caminhos trilhados por essas tradições religiosas que ecoam até os dias de hoje. A Umbanda, herdeira dessas múltiplas influências e tradições, se tornou um importante pilar da cultura brasileira, oferecendo amparo espiritual, cura e conexão com o divino. Conheça as raízes históricas da Umbanda, mergulhe em seus ritos e celebrações, e descubra um universo de saberes ancestrais que ecoam através dos séculos. Permita-se adentrar nesse caminho sagrado e enriquecedor, onde as fronteiras entre os mundos se dissipam e a espiritualidade se manifesta em toda a sua diversidade e beleza.

- O anúncio da Umbanda

Em um momento marcante da história, por volta de 1907 ou 1908, um jovem chamado Zélio Fernandino de Morais despertou para uma realidade espiritual desconhecida. Comportamentos estranhos o envolviam, alternando entre a postura de um velho e movimentos felinos intrigantes. Diante desse cenário, a família decidiu buscar ajuda.

Contrariando a sugestão médica de procurar um padre, Zélio foi levado a um centro espírita. Em 15 de novembro, ele participou de uma sessão na Federação Espírita de Niterói, presidida por José de Souza. Durante a reunião, Zélio incorporou diversos espíritos, entre eles um Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Esse Caboclo, ao ser questionado por um médium, revelou sua identidade como Gabriel Malagrida, um padre acusado de bruxaria e queimado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. O Caboclo das Sete Encruzilhadas afirmou que em sua última existência física, Deus lhe concedeu o privilégio de renascer como um Caboclo brasileiro.

Em relação à sua missão, ele anunciou que estaria na casa de Zélio no dia seguinte para iniciar um culto em que os espíritos dos negros e índios poderiam transmitir suas mensagens e cumprir sua missão espiritual. Seria uma religião que falaria aos humildes, simbolizando a igualdade entre todos os seres encarnados e desencarnados. Ele se autodenominou Caboclo das Sete Encruzilhadas, em referência à sua capacidade de desbravar caminhos.

No dia seguinte, na residência da família de Zélio, os membros da Federação Espírita se reuniram para testemunhar os eventos. O Caboclo das Sete Encruzilhadas mais uma vez incorporou em Zélio, reafirmando que os espíritos dos negros escravizados e dos índios poderiam trabalhar em auxílio aos seus irmãos encarnados, independentemente de cor, raça ou posição social.

Assim, nesse dia, fundou-se o primeiro terreiro de Umbanda, chamado Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, localizado na Rua Floriano Peixoto, nº. 30, no bairro Neves. Esse espírito estabeleceu normas baseadas na prática da caridade, tendo como base o Evangelho de Cristo. A palavra "allabanda" foi substituída por "aumbanda" e, posteriormente, popularizou-se como "umbanda".

A partir desse encontro único, nasceu uma religião que abraçava a diversidade, valorizava a igualdade entre todos os seres e promovia a prática do bem. A Umbanda se tornou uma importante expressão religiosa brasileira, permeada por influências africanas, indígenas e espíritas, e oferecendo um caminho espiritual de acolhimento, cura e conexão com o divino.

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Tenda espírita Vovó Maria Conga de Aruanda




- Unificação e rupturas na Umbanda

No início do ano de 1918, um marco importante ocorreu na propagação da Umbanda, com a fundação de sete tendas dedicadas a essa religião: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge e Tenda Espírita São Gerônimo. Essas tendas pioneiras abriram caminho para o crescimento da Umbanda no Brasil.

Ao longo dos anos e até o falecimento de Zélio Fernandino de Morais em 1975, mais de 10 mil templos umbandistas foram fundados, expandindo-se além das tendas iniciais. Em 1939, surgiu um movimento em busca de unificação e organização da Umbanda, resultando na criação da União Espírita de Umbanda do Brasil (UEUB).

No ano seguinte, em 1940, o escritor Woodrow Wilson da Matta e Silva introduziu uma nova perspectiva sobre a Umbanda ao apresentá-la como ciência e filosofia. Ele fundou a Escola Iniciática da Corrente Astral do Aumbhandan, também conhecida como "Umbanda Esotérica", na Tenda Umbandista Oriental em Itacuruçá, no Rio de Janeiro.

Em 1941, a UEUB promoveu o I Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, buscando definir e codificar a Umbanda como uma religião com identidade própria. O objetivo era criar uma religião que unisse todas as crenças, raças e nacionalidades, ao mesmo tempo em que se dissociava das tradições afro-brasileiras existentes.

Nessa conferência, os participantes concordaram em utilizar as obras de Allan Kardec como base doutrinária da Umbanda, estabelecendo uma conexão com o espiritismo. No entanto, houve uma tentativa de remover as raízes africanas e afro-brasileiras da religião, influenciados por teorias ultrapassadas, como a ideia do continente submerso de Lemúria.

Embora a influência africana não tenha sido completamente rejeitada, a assimilação da Umbanda foi permeada por uma percepção racista, considerando-a uma fase de retrocesso evolutivo e associando-a a costumes vulgares e pessoas com "defeitos psicológicos e étnicos". Houve uma tentativa de redefinir o termo "Umbanda", afastando-o de suas origens africanas e buscando uma suposta origem no Oriente.

A partir da década de 1950, segmentos mais humildes da população umbandista, compostos principalmente por negros e mulatos, começaram a contestar esse afastamento das práticas africanas. Surgiu uma oposição à chamada "umbanda branca" e uma busca por resgatar os valores africanos presentes na religiosidade popular.

É importante compreender que a história da Umbanda é marcada por diferentes interpretações e correntes de pensamento. A religião evoluiu ao longo do tempo, absorvendo influências e passando por transformações, refletindo as dinâmicas sociais e culturais.

- Força popular misturada com apagamento histórico

A Umbanda, ao longo de sua trajetória, passou por transformações significativas que moldaram sua identidade e influenciaram seu reconhecimento como religião expressiva no campo das atividades assistenciais. Foi no terceiro congresso realizado em 1973 que a Umbanda consolidou-se definitivamente nesse aspecto, expandindo suas atividades além dos centros espirituais.

Nesse período, a religião não se limitava apenas aos espaços onde ocorriam as práticas espirituais, mas contava também com escolas, creches, ambulatórios e outras instituições voltadas para a promoção da caridade e auxílio ao próximo. A Umbanda assumiu, assim, um papel relevante na esfera assistencial, buscando levar ajuda e amparo àqueles que mais necessitavam.

Foi nesse contexto que a Umbanda alcançou seu auge, tornando-se uma religião reconhecida e admirada por diversas personalidades, como os renomados cantores Clara Nunes, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Baden Powell, Bezerra da Silva, Raul Seixas, Martinho da Vila, entre outros. A opinião pública também passou a ser mais favorável à Umbanda a partir da década de 1980, porém, essa aceitação mais aberta muitas vezes implicou na diluição dos elementos negros em prol do sincretismo católico.

No entanto, a partir da década de 1990, a Umbanda e outras religiões de matriz africana tornaram-se alvo do crescente neopentecostalismo brasileiro. O preconceito e a intolerância religiosa surgiram como obstáculos a serem enfrentados por essas religiões, colocando em risco sua liberdade de culto e seus princípios fundamentais.

Veja também:

É importante destacar que, apesar de Zélio Fernandino de Morais ter sido considerado o fundador da Umbanda organizada, foi a vertente que se aproximou mais das raízes africanas, conhecida como "macumba" ou "Umbanda Popular", que se popularizou no Brasil. Estudos e fontes documentais apontam que a Umbanda possui raízes anteriores ao anúncio feito por Zélio, sendo seu mérito a incorporação de elementos das religiões afro-brasileiras a um ritual com características espíritas kardecistas.

Na vertente de Zélio, alguns elementos africanos foram suprimidos, como o uso de atabaques, o sacrifício animal ritualístico e as manifestações de exus e pombagiras, entre outros. Esse processo de "embranquecimento" da Umbanda buscou torná-la mais aceitável aos costumes das classes alta e média do Rio de Janeiro, evitando assim o preconceito e a rejeição da sociedade. No entanto, outras vertentes da Umbanda, praticadas por pessoas de classes mais baixas e situadas em comunidades, zonas rurais e favelas, mantiveram práticas africanas próximas da antiga Macumba e do Candomblé.

Um dos defensores do retorno da Umbanda às suas raízes africanas foi Tancredo da Silva Pinto, renomado escritor e pai de santo. Seu trabalho e suas contribuições foram essenciais para resgatar a autenticidade e a valorização das tradições africanas dentro da Umbanda.

Tancredo da Silva Pinto, ciente da importância de preservar as raízes culturais e espirituais da Umbanda, dedicou-se incansavelmente a promover o retorno às práticas africanas dentro da religião. Por meio de seus escritos e sua atuação como pai de santo, ele defendeu a necessidade de resgatar as origens e a essência da Umbanda, reconectando-a com suas raízes ancestrais.

Seu trabalho influenciou muitos praticantes e seguidores da Umbanda, despertando uma conscientização sobre a importância de valorizar a cultura afro-brasileira e suas contribuições para a religião. A partir de suas contribuições, a Umbanda ganhou força e resiliência para enfrentar os desafios impostos pelo preconceito e pela intolerância religiosa.

Hoje, graças aos esforços de Tancredo da Silva Pinto e de outros defensores das raízes africanas da Umbanda, a religião vive um momento de resgate e reconexão com suas tradições mais autênticas. A valorização dos atabaques, as manifestações dos exus e pombagiras, e a incorporação de elementos africanos são cada vez mais evidentes nos terreiros umbandistas.

A Umbanda se fortalece ao reconhecer e abraçar suas origens, enriquecendo-se com a diversidade cultural que a compõe. Ao resgatar as práticas e rituais africanos, a religião reafirma sua identidade e se torna um importante símbolo de resistência e empoderamento para a comunidade afrodescendente e para todos aqueles que encontram na Umbanda uma fonte de espiritualidade e acolhimento.

Portanto, é fundamental valorizar e celebrar as contribuições de Tancredo da Silva Pinto e de tantos outros defensores das raízes africanas da Umbanda, reconhecendo a importância de manter viva essa herança cultural e religiosa. A Umbanda, como expressão da religiosidade brasileira, continua a evoluir e se adaptar aos tempos modernos, mas sem perder sua essência ancestral que a torna única e significativa para milhares de pessoas ao redor do país.

Características principais

A Umbanda, rica em sua diversidade, apresenta uma variedade de vertentes e práticas que a tornam uma religião singular. Vertentes como a Umbanda Nação, Umbandomblé, Umbanda Sagrada, Umbanda Omolocô, Umbanda Crística e outras mais, cada uma com suas peculiaridades, compartilham um culto às entidades ancestrais e espíritos associados a diversas divindades de diferentes cultos, tanto africanos quanto hindus, árabes, católicos e muito mais, dependendo da vertente em questão.

No cerne da Umbanda, encontramos alguns princípios comuns que unem todas essas vertentes. A crença em um Deus único e onipresente, referido como Olódùmarè, Olorum e Oxalá na tríade, ou como Zambi na Umbanda Angola, é uma dessas bases fundamentais. Além disso, há a crença nos Orixás e na existência de Guias ou entidades espirituais que atuam como intermediários entre os seres humanos e o mundo espiritual.

A Umbanda também se fundamenta na Lei de causa e efeito, na qual os umbandistas acreditam que suas ações serão retribuídas de acordo com o bem ou o mal praticado, sendo o bem recompensado e o mal enfrentando a justiça divina.

Essa religião encontra seus alicerces na obediência a ensinamentos básicos de valores humanos, como a fraternidade, a caridade, a não discriminação e a coletividade. Além desses preceitos, a prática mediúnica é essencial, pois os médiuns atuam como "aparelhos" para possibilitar a comunicação entre espíritos e Orixás com os seres humanos.

É importante ressaltar que, mesmo com a diversidade de crenças e práticas encontradas nos terreiros umbandistas, há uma certa unidade na diversidade. Embora existam diferenças perceptíveis no modo de praticar a religião, elas não impedem a existência de uma crença comum e de princípios respeitados por todos.

A Umbanda, ao abraçar essa diversidade e unidade doutrinária, enriquece-se como uma expressão vibrante da espiritualidade brasileira. Cada vertente e cada prática contribuem para a riqueza e a vivacidade dessa religião, que se mantém viva e em constante evolução, oferecendo um caminho espiritual único para aqueles que a buscam.

Portanto, a Umbanda nos convida a explorar suas múltiplas vertentes, a compreender suas raízes culturais e a valorizar sua unidade na diversidade. É um convite para mergulhar em uma religião que abraça a pluralidade e nos convida a vivenciar a fraternidade, a caridade e o respeito mútuo.

Os rituais

A Umbanda, com sua rica tradição de rituais, busca evocar os Orixás, ancestrais e toda a hierarquia divina composta por Orixás menores, Guias e Protetores. Esses rituais não possuem uma forma ou modo definido, variando de casa para casa e sendo subordinados à tradição seguida por cada Pai-de-santo e entidade protetora do terreiro.

As celebrações e atendimentos ao público geralmente ocorrem em uma casa denominada Casa ou Tenda, que possui um local apropriado para as sessões. Esse local pode ser um terreiro aberto ou um salão, dependendo da tradição e estrutura do terreiro em questão.

Entre os termos e rituais comumente mencionados na Umbanda, destacam-se as giras, que são as sessões onde se reúnem os espíritos de diversas categorias. Essas giras podem ser festivas, de trabalho ou de treinamento, sendo momentos de interação espiritual e aprendizado.

Outro termo presente na Umbanda é o "bater cabeça", que se refere ao ato de prostração e reverência ao chefe do terreiro, por exemplo. O contexto e significado desse gesto podem variar de terreiro para terreiro, mas é comum que seja realizado antes da defumação, que é um ritual de purificação do ambiente, utilizando o aroma para dispersar energias negativas e afastar espíritos trevosos.

O passe, gesto de imposição de mãos também presente no kardecismo, é uma prática realizada na Umbanda, assim como os pontos riscados, que são diagramas desenhados no chão representando a assinatura do Guia espiritual. Os pontos cantados, por sua vez, são músicas e cantos entoados como forma de louvor ou invocação durante os rituais.

A prática do ebó, que significa oferta ou oferenda, consiste em dispor comida ritual e objetos específicos nos templos ou locais ao ar livre, como forma de agradecimento ou pedido aos Guias e Orixás. É importante ressaltar que, diferente da tradição africana, as casas de Umbanda que seguem a tradição de Zélio não realizam o sacrifício de animais.

Outros rituais presentes na Umbanda incluem a obrigação, que envolve a oferenda de animais aos Orixás ou Exus, e o assentamento, que é o local onde o Orixá ou Exú é depositado. O descarrego, por sua vez, consiste em rituais de limpeza espiritual para livrar-se de cargas negativas, como banhos com ervas especiais ou rituais como a roda de fogo, que utiliza pólvora.

Por fim, o batismo na Umbanda é um ritual que só pode ser realizado pelos líderes religiosos, como o babalorixá ou a ialorixá, semelhante ao que ocorre em outras religiões.

A Umbanda, por meio de seus rituais e práticas, proporciona uma conexão profunda com o divino, possibilitando a interação entre os seres humanos e as entidades espirituais. Cada ritual e termo carrega consigo uma simbologia e significado que enriquecem essa religião.

Perseguição

Durante a era Vargas, que se estendeu até a década de 1950, a Umbanda enfrentou uma repressão política aberta, assim como outras religiões afro-brasileiras. Uma lei de 1934 colocou essas religiões sob a jurisdição do Departamento de Tóxicos e Mistificações da polícia, exigindo um registro especial para que pudessem funcionar. Nesse período, muitos grupos operavam na clandestinidade ou, quando se registravam, tentavam omitir suas conexões ou influências africanas, se autodenominando apenas "espiritistas".

No entanto, em 1946, o escritor Jorge Amado, que na época era deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro de São Paulo, propôs uma emenda à Constituição que garantia a liberdade de culto no Brasil. Essa emenda foi aprovada, conferindo aos terreiros o respaldo legal. No entanto, a omissão, embranquecimento ou desafricanização, que rejeitava as influências tradicionais africanas, já havia sido estabelecida claramente no I Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda realizado em 1941. Nesse evento, definiu-se para os participantes que a raiz da Umbanda provinha de "antigas religiões e filosofias da Índia".

Essa tentativa de enfatizar influências não africanas na Umbanda foi criticada por Roger Bastide, que argumentou que o espiritismo "branqueava" ou "europeizava" a Umbanda, distorcendo suas verdadeiras raízes africanas. A imposição dessa perspectiva não só omitia a herança africana da religião, mas também buscava enquadrá-la em moldes mais aceitáveis pela sociedade da época.

É importante compreender o contexto histórico em que a Umbanda se desenvolveu e enfrentou desafios políticos e sociais significativos. A repressão durante a era Vargas afetou não apenas a Umbanda, mas também outras religiões afro-brasileiras, restringindo sua liberdade e impondo limitações às suas práticas. No entanto, a resistência e a luta pela liberdade de culto contribuíram para a consolidação e preservação da Umbanda como uma importante expressão religiosa no Brasil. A compreensão e valorização de suas raízes africanas são essenciais para uma apreciação completa e autêntica dessa religião.

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Conclusão

Em um intricado e vívido mosaico espiritual, a Umbanda se ergue majestosa como um farol de fé e ancestralidade. Sob o véu da diversidade, desvela-se a essência sagrada que une Orixás, Guias e Protetores, tecendo os fios invisíveis que conectam o humano ao divino.

Ao longo dos tempos, a Umbanda tem enfrentado desafios e adversidades, como as investidas da repressão política e os clamores do embranquecimento. Contudo, como uma força indômita, resistiu bravamente, preservando suas raízes africanas e mantendo vivas as chamas da sua tradição.

Cada ritual, cada gira, cada oferenda é um testemunho vivo da devoção e da busca pela harmonia universal. Nas encruzilhadas da existência, a Umbanda se ergue como farol de esperança, oferecendo acolhimento, cura e consolo aos corações aflitos.

Nas entrelinhas dos pontos cantados e dos pontos riscados, revela-se a poesia transcendental que permeia essa religião singular. Através da mediunidade, a comunicação entre os planos terreno e espiritual se estabelece, trazendo orientação, alento e sabedoria ancestral.

A Umbanda, com seus cânticos vibrantes, suas danças rituais e seus atabaques pulsantes, encanta e transcende fronteiras. Ela transcende a divisão de crenças e abraça a humanidade em sua diversidade, convidando todos a despertarem para a unicidade que nos conecta como seres espirituais.

Em cada Casa, em cada Tenda, a fé se manifesta em comunhão, erguendo a bandeira da fraternidade, da caridade e da não discriminação. A Umbanda é uma ode à coletividade, ao respeito mútuo e à busca constante pelo aprimoramento espiritual.

Que essa luz sagrada que emana da Umbanda continue a iluminar caminhos, dissipando a escuridão do preconceito e da intolerância. Que seus adeptos, como guardiões dessa chama divina, sejam agentes de transformação, promovendo a paz e a harmonia em um mundo sedento de amor e compreensão.

Assim, encerro este relato com a reverência de um devoto encantado pela grandeza e profundidade da Umbanda, confiante de que, em meio às vicissitudes da existência, ela permanecerá como farol de esperança, guiando-nos rumo à transcendência espiritual e ao encontro com nossa própria divindade interior.



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