A incerteza como caminho para a verdade: uma reflexão filosófica sobre o ceticismo
The Amazing Randi |
O cepticismo, também conhecido como ceticismo, é uma
postura intelectual que se caracteriza pela disposição em questionar conhecimentos,
fatos, opiniões e crenças estabelecidas como verdades absolutas. Na filosofia,
o cepticismo é uma doutrina que afirma a impossibilidade de o espírito humano
alcançar certezas sobre a verdade.
Essa postura de questionamento pode ser considerada uma
ferramenta essencial para o desenvolvimento do conhecimento e da ciência, uma
vez que incentiva a busca por evidências e a reflexão crítica sobre as
informações que recebemos. O cepticismo nos impulsiona a não aceitar ideias
como verdades absolutas, mas sim como hipóteses que precisam ser comprovadas
por meio de evidências.
No entanto, é importante destacar que o cepticismo não deve
ser confundido com o negacionismo ou a rejeição sistemática de evidências
científicas. O cepticismo saudável parte da premissa de que todas as ideias
devem ser questionadas e submetidas ao escrutínio crítico, mas sem perder de
vista a necessidade de comprovar ou refutar hipóteses por meio de evidências.
Veja também:
- O Legado de Platão na Filosofia Ocidental
Assim, o cepticismo pode ser considerado como uma postura
intelectual que incentiva a reflexão crítica sobre as informações que
recebemos, contribuindo para o avanço do conhecimento e da ciência.
Ceticismo filosófico
O ceticismo filosófico é uma abordagem global que requer
todas as informações suportadas pela evidência. O ceticismo filosófico clássico
deriva da Skeptikoi, uma escola que nada afirma. Adeptos de Pirronismo, por
exemplo, suspenderam o julgamento em investigações. Os céticos podem até
duvidar da confiabilidade de seus próprios sentidos. O ceticismo religioso, por
outro lado é a dúvida sobre princípios religiosos básicos (como a imortalidade,
a providência e a revelação).
O ceticismo filosófico se manifestou na Grécia clássica,
aparentemente um de seus primeiros proponentes foi Pirro de Elis (360-275 a.C.)
que estudou na Índia e defendia a adoção de um ceticismo prático. Carneades
discutiu o tema de maneira mais minuciosa e contrariando os estoicos, dizia que
a certeza no conhecimento, seria impossível. Sexto Empírico (200 a.C.) é tido
como a autoridade maior do ceticismo grego. Mesmo atualmente o ceticismo
filosófico costuma ser confundido com o ceticismo vulgar e com aquilo que a
tradição cética denominou de dogmatismo negativo. Nada mais está tão em
desacordo com o espírito do ceticismo do que a reivindicação de quaisquer
certezas, seja as positivas ou as negativas.
Acompanhe o Tema:
Na Filosofia islâmica, o ceticismo foi estabelecido por
Al-Ghazali (1058–1111), conhecido no Ocidente como Algazel, era parte da
Ash'ari, a escola de teologia islâmica, cujo método de ceticismo compartilha
muitas semelhanças com o método de René Descartes.
Os principais textos do ceticismo clássico disponíveis
hoje, não foram conhecidos no período medieval, mas por volta de 1430 apareceu
uma edição latina das Vidas do Filósofos de Diógenes Laércio, feita por
Ambrogio Traversari, este texto teve ampla circulação e pode ter despertado o
interesse pelo ceticismo, é aparentemente a partir deste momento que o próprio
termo scepticus se difunde.
Ceticismo científico
Um cientista cético (ou empírico) questiona crenças com
base na compreensão científica. A maioria dos cientistas, sendo cientistas
céticos, testam a confiabilidade de certos tipos de afirmações, submetendo-as a
uma investigação sistemática usando alguma forma de método científico. O
ceticismo científico é uma defesa do público crédulo contra o charlatanismo e
explicações sobrenaturais para fenômenos naturais.
Apesar de o ceticismo envolver o uso do método científico e
do pensamento crítico, isto não necessariamente significa que os céticos usem
estas ferramentas constantemente.
Vídeo destaque:
Os céticos são freqüentemente confundidos com, ou até mesmo
apontados como, cínicos. Porém, o criticismo cético válido (em oposição a
dúvidas arbitrárias ou subjetivas sobre uma ideia) origina-se de um exame
objetivo e metodológico que geralmente é consenso entre os céticos. Note também
que o cinismo é geralmente tido como um ponto de vista que mantém uma atitude
negativa desnecessária acerca dos motivos humanos e da sinceridade. Apesar de
as duas posições não serem mutuamente exclusivas, céticos também podem ser
cínicos, cada um deles representa uma afirmação fundamentalmente diferente
sobre a natureza do mundo.
Os céticos científicos constantemente recebem também,
acusações de terem a mente fechada ou de inibirem o progresso científico devido
às suas exigências de evidências cientificamente válidas. Os céticos, por sua
vez, argumentam que tais críticas são, em sua maioria, provenientes de adeptos
de disciplinas pseudocientíficas, tais como homeopatia, reiki, paranormalidade
e espiritualismo, cujas visões não são adotadas ou suportadas pela ciência
convencional. Segundo Carl Sagan, cético e astrônomo, você deve manter sua
mente aberta, mas não tão aberta que o cérebro caia.
A necessidade de evidências cientificamente adequadas como
suporte a teorias é mais evidente na área da saúde, onde utilizar uma técnica
sem a avaliação científica dos seus riscos e benefícios pode levar a piora da
doença, gastos financeiros desnecessários e abandono de técnicas
comprovadamente eficazes. Por esse motivo, no Brasil é vedado aos médicos a
utilização de práticas terapêuticas não reconhecidas pela comunidade
científica.
Desenganador
Um desenganador (em inglês: debunker) é um cético engajado
no combate a charlatões e idéias que, na sua visão, são falsas e
não-científicas. Alguns dos mais famosos são: James Randi, Basava Premanand,
Penn e Teller e Harry Houdini.
Religiosos contrários aos grupos de céticos desenganadores
dizem que suas conclusões estão cheias de interesse próprio e que nada mais são
que novos movimentos de cruzadas de crentes com a necessidade de assim se
afirmarem.
Entretanto, quando esses mesmos críticos são chamados a
comprovar cientificamente suas teorias e alegações, a maioria dos religiosos
refugam à qualquer tipo de discussão preferindo partir para ataques pessoais
contra os céticos (segundo randi.org, um portal auto-denominado cético).
Conhecimento em destaque:
Pseudo-ceticismo
O termo pseudo-ceticismo ou ceticismo patológico é usado
para denotar as formas de ceticismo que se desviam da objetividade. A análise
mais conhecida do termo foi conduzida por Marcello Truzzi que, em 1987,
elaborou a seguinte conceituação:
Uma vez que o ceticismo adequadamente se refere à dúvida ao
invés da negação - descrédito ao invés de crença - críticos que assumem uma
posição negativa ao invés de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda assim
se auto-intitulam céticos são, na verdade, pseudo-céticos.
Em sua análise, Marcello Truzzi argumentou que os
pseudo-céticos apresentam a seguinte conduta:
- A tendência de negar, ao invés de duvidar.
- A realização de julgamentos sem uma investigação completa
e conclusiva.
- Uso de ataques pessoais.
A apresentação de evidências insuficientes.
A tentativa de desqualificar proponentes de novas idéias
taxando-os pejorativamente de 'pseudo-cientistas', 'promotores' ou 'praticantes
de ciência patológica'.
A apresentação de contra-provas não fundamentadas ou
baseadas apenas em plausibilidade, ao invés de se basearem em evidências. A
sugestão de que evidências inconvincentes são suficientes para se assumir que
uma teoria é falsa.
A tendência de desqualificar 'toda e qualquer' evidência. O
termo pseudo-ceticismo parece ter suas origens na filosofia, na segunda metade
do século 19.
O astrofísico Carl Sagan, popularizou a expressão ceticismo científico. |
Ceticismo como inércia
A ciência moderna é baseada no ceticismo. Por um lado, a
ciência deve estar sempre aberta a novas ideias (por mais estranhas que
pareçam), desde que apoiadas em evidências científicas, mas deve fazê-lo de
forma que sejam sempre devidamente escrutinadas, de modo a assegurar a
veracidade de suas implicações e resultados. Sempre que uma nova hipótese é
formulada ou uma nova alegação é realizada, toda a comunidade científica se
mobiliza de modo a comprovar sua viabilidade teórica e prática. Como em
qualquer outro plano, quanto mais incomuns forem as novas ideias e invenções,
mais resistência tendem a enfrentar durante seu escrutínio por meio do método
científico. Uma consequência disso é que vários cientistas através da história,
ao apresentarem suas idéias, foram inicialmente recebidos com alegações de
fraude por colegas que não desejavam ou não eram capazes de aceitar algo que
requereria uma mudança em seus pontos de vista estabelecidos. Por exemplo,
Michael Faraday foi chamado de charlatão por seus contemporâneos quando disse
que podia gerar uma corrente elétrica simplesmente movendo um ímã por uma
bobina de fio.
Em Janeiro de 1905, mais de um ano após Wilbur e Orville
Wright terem feito o seu histórico primeiro vôo em Kitty Hawk (em 17 de
Dezembro de 1903), a revista Scientific American publicou um artigo
ridicularizando o vôo dos Wright. Com assombrosa autoridade, a revista citou
como principal razão para questionar os Wright o fato de a imprensa americana
ter falhado em cobrir o vôo. Outros a se juntarem ao movimento cético foram o
New York Herald, o Exército Americano e inúmeros cientistas americanos. Somente
quando o presidente Theodore Roosevelt ordenou tentativas públicas no Forte
Mayers, em 1908, após o voo do 14-bis de Alberto Santos Dumont, numa aeronave
aprimorada, os irmãos Wright comprovaram suas afirmações e compeliram até os
céticos mais zelosos a aceitarem a realidade das máquinas voadoras mais pesadas
que o ar. Na verdade, os irmãos Wright foram bem sucedidos em demonstrações
públicas do voo de sua máquina cinco anos antes do voo histórico . Nesse
contexto, embora o voo dos irmãos Wright, mesmo não calando os céticos, tenha
sido talvez o primeiro onde uma nave mais pesada do que o ar alçou voo, o
primeiro voo de uma máquina capaz de alçar voo totalmente por conta própria,
sem ajuda de catapultas, é contudo corretamente creditado a Santos Dumont, esse
devidamente registrado e documentado.
A maioria das invenções revolucionárias modernas, como o
microscópio de corrente de tunelamento, que foi inventado em 1981, ainda
encontram intenso ceticismo e até mesmo ridículo quando são anunciados pela
primeira vez. Como físico, Max Planck observou em seu livro The Philosophy of
Physics , de 1936: uma importante inovação científica raramente faz seu caminho
vencendo gradualmente e convertendo seus oponentes: raramente acontece que
'Saulo' se torne 'Paulo'. O que realmente acontece é que os seus oponentes
morrem gradualmente e a geração que cresce está familiarizada com a ideia desde
o início.
Curiosidade
Uma curiosidade interessante sobre o ceticismo é que a
filosofia cética teve um grande impacto na literatura ocidental, especialmente
na literatura grega antiga. O filósofo Pirro de Élis, um dos principais
expoentes do ceticismo na antiguidade, é citado em diversos textos literários
da época, como os escritos de Plutarco e Sêneca.
Além disso, o ceticismo também influenciou diretamente o
estilo literário de Michel de Montaigne, um dos mais importantes escritores
franceses do século XVI. Montaigne era um grande admirador da filosofia cética,
e suas obras são marcadas por uma profunda reflexão sobre a incerteza do
conhecimento humano e a necessidade de uma postura cética diante do mundo.
Em "Os Ensaios", sua obra mais famosa, Montaigne
escreve sobre a importância do ceticismo como uma ferramenta para a reflexão
crítica e o desenvolvimento da sabedoria. Ele argumenta que devemos estar sempre
dispostos a questionar nossas crenças e opiniões, a fim de chegar a um
conhecimento mais profundo e autêntico sobre nós mesmos e o mundo.
Portanto, podemos dizer que o ceticismo não apenas teve um
impacto significativo na filosofia, mas também na literatura ocidental,
influenciando o estilo e as ideias de escritores renomados ao longo da
história.
Controvérsias
A história do ceticismo é repleta de controvérsias e
debates, tanto no que diz respeito às suas origens quanto à sua natureza e
significado. Uma das principais controvérsias históricas sobre o tema diz
respeito à figura de Pirro de Élis, considerado por muitos o fundador do
ceticismo filosófico.
Enquanto alguns estudiosos defendem que Pirro era um cético
radical, que negava a possibilidade de qualquer conhecimento verdadeiro, outros
argumentam que sua postura era mais moderada, e que ele apenas defendia a
necessidade de uma postura cética diante do mundo.
Outra controvérsia importante diz respeito à relação entre
o ceticismo e o estoicismo, outra corrente filosófica importante da
antiguidade. Enquanto alguns estudiosos argumentam que o estoicismo e o
ceticismo são correntes opostas, que divergem radicalmente em suas concepções
sobre a natureza do conhecimento e da verdade, outros defendem que há uma
grande proximidade entre as duas correntes, e que muitos filósofos estoicos
foram influenciados pelo ceticismo.
Mais recentemente, o ceticismo tem sido alvo de
controvérsias no âmbito da ciência e da epistemologia. Enquanto alguns
cientistas e filósofos argumentam que o ceticismo é essencial para o
desenvolvimento da ciência, incentivando a busca por evidências e a reflexão
crítica sobre as teorias estabelecidas, outros defendem que o ceticismo pode
levar a um relativismo radical, negando a possibilidade de qualquer
conhecimento objetivo.
Essas controvérsias históricas e filosóficas mostram que o
ceticismo é um tema complexo e multifacetado, que continua a despertar debates
e reflexões em diversos campos do conhecimento.
Conclusão
Em conclusão, o ceticismo é uma corrente filosófica que
surgiu na antiguidade e que tem sido objeto de reflexão e debate ao longo da
história da filosofia. A sua ênfase na dúvida e na incerteza tem sido vista
tanto como uma postura crítica e reflexiva diante do mundo, quanto como uma
atitude que pode levar a um relativismo radical e à negação da possibilidade de
qualquer conhecimento objetivo.
A história do ceticismo é marcada por uma série de
controvérsias e debates, tanto no que diz respeito às suas origens e
significado, quanto à sua relação com outras correntes filosóficas. Pirro de
Élis, um dos principais expoentes do ceticismo na antiguidade, é um exemplo
dessa complexidade histórica, visto que sua postura tem sido interpretada de
diferentes maneiras pelos estudiosos ao longo dos séculos.
No entanto, apesar das controvérsias, o ceticismo continua
a exercer um papel importante na filosofia e na reflexão crítica sobre o
conhecimento humano. Como destaca Montaigne em "Os Ensaios", a
postura cética é essencial para a busca da verdade e do conhecimento autêntico,
já que nos obriga a questionar nossas crenças e opiniões, e a estar sempre
abertos ao diálogo e à reflexão crítica.
Assim, podemos dizer que o ceticismo é uma corrente filosófica que, ao longo da história, tem inspirado reflexões críticas e profundas sobre o conhecimento humano, sua natureza e seus limites. Seja visto como uma postura radical ou moderada, o ceticismo continua a exercer um papel fundamental na reflexão filosófica e científica contemporânea.
0 Comentários