As ideias e filosofias educacionais contrárias ao regime militar foram prontamente banidas.
Painel Paulo Freire no Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional (CEFORTEPE) da Secretaria Municipal de Educação de Campinas, São Paulo. Fonte- Wikipedia |
Introdução
A História da Educação no
Brasil é um campo de estudo fundamental para compreendermos a evolução e os
desafios enfrentados pelo sistema educacional ao longo do tempo. Neste artigo
científico, direcionaremos nossa atenção às principais contribuições dessa área
de pesquisa, com o objetivo de sintetizar os principais acontecimentos que
moldaram a história da educação brasileira.
Ao delimitar nosso foco no
processo histórico da educação brasileira, daremos continuidade a partir do
período da ditadura militar no Brasil. Esse período foi marcado por
transformações significativas no campo da educação, refletindo as diretrizes e
intenções políticas vigentes. Será destacada a atuação de dois grandes
educadores nacionais, Anísio Teixeira e Paulo Freire, cujas ideias e práticas
exerceram influências duradouras no cenário educacional brasileiro.
Anísio Teixeira,
reconhecido por suas propostas inovadoras e sua visão progressista, desempenhou
um papel fundamental na reforma e expansão do sistema educacional brasileiro. Já
Paulo Freire, renomado internacionalmente, tornou-se um ícone da pedagogia
crítica, com suas teorias de educação libertadora e sua luta pela
democratização do ensino.
Além disso, abordaremos a
contemporaneidade do sistema educacional no Brasil, considerando a relevância
da Constituição de 1988, conhecida como "nossa lei maior". Essa
Constituição trouxe importantes garantias e direitos no campo da educação,
reconhecendo-a como um direito fundamental de todos os cidadãos brasileiros.
Destacaremos também a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 1996, que estabeleceu
os fundamentos e normas para a educação no país. Analisaremos a influência
dessa legislação na organização curricular, nas políticas educacionais e nos
desafios enfrentados pela educação brasileira na contemporaneidade.
Por meio dessa
investigação histórica e análise crítica, visamos contribuir para o
aprofundamento do conhecimento sobre a história da educação no Brasil,
reconhecendo suas contribuições, refletindo sobre seus desafios e discutindo
perspectivas para o futuro.
Educação Brasileira sob os Governos Militares: Uma Análise do Período (1964-1985)
Durante o período dos
governos militares no Brasil, que se sucederam no poder, ocorreram
transformações significativas no campo da educação. Marcado por um regime
autoritário, esse período foi caracterizado pelos chamados "anos de
chumbo", em referência à forte repressão imposta pelo governo aos
opositores do regime militar.
Uma das principais ações
foi a reforma universitária de 1968, que teve um impacto significativo no
sistema educacional do país. Essa reforma buscou reorganizar as universidades
de acordo com os princípios e interesses do governo, restringindo a autonomia
acadêmica e impondo um controle mais rígido sobre o ensino e a pesquisa.
Além disso, no campo
político e social, destaca-se o Ato Institucional nº 5, conhecido como AI-5,
que foi promulgado em 1968. O AI-5 representou um marco autoritário, conferindo
amplos poderes ao governo militar para suprimir direitos civis e políticos,
além de estabelecer censura prévia à imprensa e restringir a liberdade de
expressão.
Durante esse período,
foram criadas leis que buscavam legitimar o autoritarismo imposto pela ditadura
militar. A Lei nº 5379/67, o Decreto-Lei nº 869/69 e a Lei nº 5692/71 são
exemplos de legislações que impuseram diretrizes autoritárias sobre a educação
brasileira. Essas leis restringiam a liberdade de cátedra, impondo uma educação
voltada para os interesses do regime e enfraquecendo a autonomia das
instituições de ensino.
O governo militar utilizou
a doutrina de segurança nacional como justificativa para reprimir e perseguir
qualquer forma de oposição. Isso resultou na prisão, tortura, exílio e até
mesmo assassinato de muitos intelectuais, militantes políticos, estudantes e
artistas que se opunham ao regime. A repressão também se estendeu aos
movimentos estudantis, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), que sofreram
perseguições e tentativas de controle.
Nesse contexto, as ideias
e filosofias educacionais contrárias ao regime militar foram prontamente
banidas. Um exemplo notável foi a pedagogia de Paulo Freire, que foi exilado
pelo governo brasileiro devido às suas propostas de educação crítica e
libertadora.
O AI-5, promulgado em
dezembro de 1968, foi um dos atos institucionais mais emblemáticos do período.
Esse ato conferiu ao governo poderes excepcionais para reprimir ainda mais a
dissidência política, cerceando direitos, censurando a imprensa e limitando as
liberdades civis.
É fundamental compreender
e analisar a história da educação brasileira durante os governos militares,
pois esse período deixou marcas profundas no sistema educacional do país. O
estudo desse período nos ajuda a refletir sobre os desafios enfrentados pela educação,
a importância da preservação dos direitos democráticos e o papel da educação na
formação de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Transição Democrática |
Educação
Brasileira: As Marcas da Ditadura Militar e o Período de Redemocratização
O período da ditadura
militar no Brasil, que teve seu fim aparente em 1985 com a redemocratização do
país, foi marcado por anos de repressão política e social. No entanto, o
processo de transição democrática trouxe consigo mudanças significativas, como
o retorno ao pluripartidarismo, a promulgação da Lei da Anistia (Lei nº
6.683/79) e o movimento popular conhecido como Diretas Já, que culminou na
democratização do Brasil.
A partir de 1978, diversos
movimentos populares surgiram, exigindo a abertura política e o retorno ao
estado de legalidade. As manifestações pelas eleições diretas, conhecidas como
"Diretas Já", mobilizaram milhões de pessoas em todo o país, sendo o
evento mais expressivo realizado no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, onde mais
de um milhão de pessoas se reuniram em abril de 1984. Com a morte de Tancredo
Neves, eleito indiretamente como presidente, José Sarney se tornou o primeiro
presidente civil desde 1964.
No campo educacional, as
ações do governo militar foram desastrosas, marcadas pela repressão e pelo
cerceamento de direitos. Estudantes e professores contrários ao regime militar
foram presos, e no ensino superior, houve uma reorganização dos grupos
estudantis para vigiar e controlar as ações. A União Nacional dos Estudantes
(UNE) foi considerada subversiva em 1967 e passou a ser vista como fora da lei.
O governo militar buscava controlar a movimentação dos estudantes, permitindo
apenas a atuação dos Diretórios Acadêmicos (DA) restritos a cada curso, e dos
Diretórios Centrais dos Estudantes (DCE) para cada universidade. Toda ação
política por parte dos estudantes universitários e secundaristas foi proibida,
com a imposição militar de que "Estudante é para estudar; trabalhador para
trabalhar".
Nas escolas de ensino
médio, também houve ações de controle e repressão, com a criação de centros
cívicos e disciplinas como Educação Moral e Cívica. Os grêmios estudantis foram
transformados em centros cívicos, sob orientação de professores de Educação
Moral e Cívica, selecionados pela direção das escolas. Essa seleção muitas vezes
levava em consideração se o professor tinha ou não passagem pelo Departamento
Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS), organismo responsável por
controlar a participação das pessoas em movimentos de protesto e rotulando-as
como subversivas.
A ditadura militar também
buscou "educar" politicamente a juventude, tornando obrigatório o
ensino de Educação Moral e Cívica em todos os graus e modalidades de ensino.
Essa disciplina recebeu diferentes denominações, como Organização Social e
Política Brasileira (OSPB) no ensino secundário e Estudos de Problemas
Brasileiros (EPB) no ensino superior. As propostas curriculares dessas
disciplinas revelavam um caráter ideológico e manipulador, refletindo a
interferência direta do governo militar no sistema de educação.
Além das questões
educacionais, o período da ditadura militar também foi marcado pelo chamado
"milagre econômico". Entre 1968 e 1973, o Brasil experimentou um
crescimento econômico aparente, com aumento significativo do Produto Interno
Bruto (PIB). No entanto, esse crescimento foi desigual, concentrando ainda mais
o poder econômico nas mãos dos ricos e agravando a desigualdade social no país.
Para financiar grandes obras e atrair investimentos estrangeiros, o governo
endividou-se consideravelmente.
No entanto, o
"milagre econômico" não se sustentou a longo prazo. O Brasil
enfrentou uma recessão econômica nos anos seguintes, agravada pelo aumento da
dívida externa e pela crescente inflação, que atingiu 2.700% em 1993. Essas
consequências econômicas, somadas à pressão popular por mudanças políticas,
contribuíram para o fim do regime militar no governo brasileiro.
Portanto, o período da
ditadura militar deixou marcas profundas na educação brasileira, com ações
autoritárias, repressão e controle dos movimentos estudantis. No entanto, com a
redemocratização, o país caminhou em direção a uma sociedade mais plural e
democrática, ainda que as consequências desse período turbulento tenham sido
sentidas por muitos anos na economia brasileira
Reforma
Universitária no Brasil: O Controle Dissimulado do Ensino Superior
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No contexto da ditadura
militar no Brasil, em 1968, foi implementada a Reforma Universitária, que
trouxe significativas mudanças no Ensino Superior. Sob o pretexto de
modernização e eficiência, o governo ditatorial buscou estabelecer um controle
mais rígido sobre as instituições acadêmicas e direcionar o ensino de acordo
com seus interesses.
A Lei nº 5.540/68, que
tratava do ensino de terceiro grau, foi rapidamente aprovada pelo Legislativo,
sem contestações ou emendas. O temor de represálias e perseguições políticas
levou os parlamentares a não questionarem a reforma, pois ser contrário ao
governo autoritário não era uma opção viável na época dos "anos de
chumbo".
A reforma tinha como
objetivo enfraquecer a autonomia das instituições universitárias, concentrar
recursos materiais e humanos em universidades e priorizar a nomeação de
professores com perfil técnico em detrimento do pedagógico. Ela extinguiu as
cátedras, unificou o vestibular e fundiu diversas faculdades em universidades,
visando uma suposta maior eficácia e produtividade.
Além disso, a reforma
introduziu o curso básico nas faculdades para suprir as deficiências do ensino
secundário e estabeleceu cursos de curta e longa duração no ciclo profissional.
Um programa de pós-graduação foi desenvolvido, aparentemente para demonstrar
avanço educacional e social durante o governo militar, mas seu verdadeiro
propósito era minar o crescimento do movimento de politização estudantil.
A estrutura administrativa
também passou por uma completa reestruturação, com o objetivo de racionalizar e
modernizar o modelo de ensino. A nomeação de reitores e diretores de unidade
não mais exigia vínculo com o corpo docente universitário, bastava possuir
experiência na vida pública ou empresarial. Essa abordagem tecnocrática se
sobrepunha à dimensão pedagógica.
Em essência, a Reforma
Universitária de 1968 pretendia atender aos interesses do governo ditatorial,
controlando as atividades das faculdades e universidades brasileiras. A
dualidade na educação, em que o ensino superior era direcionado para as classes
mais privilegiadas e o ensino técnico voltado para o mundo do trabalho das
indústrias, permaneceu como uma barreira significativa na história da educação
brasileira.
É importante ressaltar
que, paradoxalmente, durante esse período, os cursos de pós-graduação, como
mestrado e doutorado, receberam apoio do governo militar. Isso tinha o objetivo
de demonstrar um suposto avanço educacional e social, porém, na realidade,
essas medidas buscavam cercear a autonomia das instituições e controlar o
crescente movimento de politização dos estudantes universitários.
A Reforma Universitária de
1968 deixou um legado marcado pelo controle estatal na educação, enfraquecimento
da autonomia universitária e a manutenção de uma divisão social na oferta de
ensino. Essas marcas foram desafiadoras para o campo da educação brasileira,
sendo necessário um esforço contínuo para superá-las e buscar uma educação mais
inclusiva e igualitária.
A Lei de
Diretrizes e Bases: Avanços e Retrocessos na Educação Brasileira
A Lei de Diretrizes e
Bases (LDB) da educação, promulgada em 1971 durante o período da ditadura
militar brasileira, é um marco importante na história do sistema educacional do
país. No entanto, é necessário analisar os avanços e retrocessos presentes
nessa legislação.
No contexto autoritário da
época, em que a sociedade era vigiada e reprimida, a criação da LDB de 1971
refletiu a influência da mão pesada do governo. A reforma concentrou-se nos
Ensinos Fundamental e Médio, visando a integração entre os níveis de ensino e a
otimização do sistema educativo.
A lei estabelecia que o
ensino de 1º e 2º graus tinha como objetivo geral proporcionar a formação
necessária para o desenvolvimento das potencialidades dos educandos, a
qualificação para o trabalho e o preparo para o exercício consciente da
cidadania. Com a ampliação da obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos,
o antigo primário foi integrado ao ginasial, eliminando os exames de admissão
que promoviam a seletividade.
No âmbito do ensino
técnico e profissionalizante, o governo buscava preparar os estudantes para
ingressarem no mercado de trabalho. A criação da escola única
profissionalizante tinha como objetivo eliminar a separação entre a escola
secundária e a técnica, de forma que os alunos concluíssem o ensino médio já
com uma formação profissional. Para os que não conseguissem concluir os estudos
regulares, foi implementado o curso supletivo.
O governo implementou
mudanças nos currículos, divididos em dois níveis: ensino geral e formação
profissional. A formação profissional oferecia habilitações em áreas econômicas
como agropecuária, indústria e serviços.
No entanto, a avaliação
das reformas promovidas pela Lei nº 5.692/71 revela que nem todas as
expectativas foram alcançadas. A falta de recursos materiais e humanos impediu
a efetivação da obrigatoriedade de oito anos de ensino. A profissionalização
também enfrentou desafios, com a falta de professores especializados e
infraestrutura adequada, o que resultou em mão de obra desqualificada e barata,
mantendo a dependência do país em relação às nações desenvolvidas.
Além disso, o sistema
educacional brasileiro manteve um constante dualismo, em que as escolas
técnicas preparavam os mais pobres para o mercado de trabalho, enquanto as
escolas destinadas às classes superiores enfatizavam o ensino propedêutico,
preparando os jovens para ingressar nas universidades mais prestigiadas.
Essas marcas persistentes
da desigualdade na educação brasileira são um desafio constante para as
políticas educacionais. É importante analisar os caminhos seguidos
posteriormente, como a Constituição brasileira de 1988 e a criação da Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, para verificar se houve avanços na oferta de
uma educação mais igualitária para toda a sociedade.
Ao longo da história,
desde a chegada dos jesuítas e suas formas de ensino, a busca por uma educação
de qualidade para todos sempre foi um desafio relevante no Brasil.
Tendências
Pedagógicas na Educação Brasileira: Contribuições de Paulo Freire e Outros Educadores
A educação brasileira tem
sido impactada por diversas tendências pedagógicas ao longo do tempo. Uma das
contribuições mais significativas foi a de Paulo Freire, cujo método
revolucionou a forma de educar, especialmente na alfabetização de jovens e
adultos e no combate ao analfabetismo.
O método de Paulo Freire
parte do pressuposto de que é necessário compreender e dialogar com o educando
para educar adequadamente. Ele rejeita a postura de quem sabe tudo e incentiva
o educador a se inserir no universo do aluno, conhecendo sua comunidade, modo
de vida e trabalho. O diálogo é a base fundamental desse método. Para
implementá-lo, é realizado um levantamento do vocabulário dos grupos,
selecionando palavras geradoras que são relevantes para cada contexto específico.
A partir disso, são organizados círculos de cultura, coordenados por um
animador, que podem ser professores ou indivíduos já alfabetizados.
O método de Freire vai
além da alfabetização e busca conscientizar o ser humano sobre sua condição de
"fazedor de cultura". Ele permite que os alunos superem a
marginalização da sociedade letrada e se tornem sujeitos ativos na construção
de conhecimento. O aprendizado das palavras é apenas o começo, pois o objetivo
é ensinar o uso dessas palavras, capacitando os alunos a se expressarem e
interferirem na realidade.
Além de Paulo Freire,
outros educadores brasileiros também deixaram contribuições importantes para a
educação no país. Um exemplo é Demerval Saviani, defensor da pedagogia
histórico-crítica e da democratização da educação. Ele busca uma escola
pública, gratuita e de qualidade para todos, rompendo com a tradição dualista
que divide as escolas em ricas e pobres. Saviani propõe uma abordagem
significativa, que trabalhe os conhecimentos de forma contextualizada e
integrada.
As teorias construtivistas
também desempenharam um papel relevante na educação brasileira. Jean Piaget,
com sua teoria do desenvolvimento, influenciou os escolanovistas desde a década
de 1930. Posteriormente, Lev Vygotsky trouxe o conceito de zona de
desenvolvimento proximal, considerando a capacidade de evolução do aluno em
relação ao seu conhecimento atual. Emilia Ferreiro, aluna de Piaget, contribuiu
com sua concepção de alfabetização baseada na psicogênese da língua escrita. Essas
teorias influenciaram a formulação de projetos e políticas educacionais, como
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que buscaram uma abordagem
construtivista e uma relação entre teoria e prática na educação.
Publicidade
As tendências pedagógicas mencionadas continuam influenciando a educação brasileira no século XXI. Elas são incorporadas nos currículos das universidades, na formação de professores e na elaboração dos currículos municipais e estaduais das redes públicas de ensino. Essas abordagens pedagógicas têm o objetivo de proporcionar uma educação mais significativa, engajadora e contextualizada, promovendo a formação integral dos estudantes e sua participação ativa na sociedade.É importante destacar que
a pluralidade de abordagens pedagógicas é fundamental para atender às
diferentes realidades e necessidades dos alunos brasileiros. A educação é um
processo dinâmico que requer constante reflexão e atualização, visando sempre a
melhoria da qualidade e o desenvolvimento integral de cada indivíduo.
Revolucionando
a Educação Brasileira: As Contribuições de Anísio Teixeira e Paulo Freire
Anísio Teixeira, criador do Ideário Pedagógico. Fonte- Wikipedia |
Anísio Teixeira, filósofo
e educador baiano, dedicou-se incansavelmente a promover uma educação pública
de qualidade, gratuita e democrática para o país. Após sua formação em Direito,
teve a oportunidade de conhecer pessoalmente o educador norte-americano John
Dewey durante seus estudos em Nova Iorque. As ideias de Dewey influenciaram
profundamente Anísio Teixeira, que retornou ao Brasil e iniciou sua jornada na
área educacional. Ao longo de sua vida, Teixeira enfrentou as adversidades das
ditaduras de Vargas e militar, sendo injustamente acusado de comunismo e vindo
a falecer de forma trágica e sem explicações claras. Sua importância para a
educação brasileira foi notável, como menciona Aranha em sua obra: "a
escola deve ser uma parte integrada da própria vida, ligando as suas
experiências às experiências de fora da escola" (ARANHA, 2006, p. 609).
Anísio Teixeira defendia a necessidade de trazer a vida para a escola,
proporcionando um ambiente onde as crianças pudessem viver plenamente,
adquirindo habilidades morais e sociais para uma vida feliz e integrada em uma
sociedade dinâmica e flexível.
Paulo Freire (1963). Fonte- Wikipedia |
Por sua vez, Paulo Freire
é reconhecido como um dos mais importantes educadores do Brasil, cuja obra
alcançou reconhecimento internacional. Seus primeiros trabalhos como educador
popular iniciaram-se em 1962, em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde
contribuiu para a alfabetização de centenas de trabalhadores. Diante dos
resultados positivos, foi convidado pelo governador de Pernambuco, Miguel
Arraes, para desenvolver um trabalho semelhante em seu estado de origem. No
entanto, com o golpe militar de 1964, o projeto foi interrompido e Paulo Freire
foi preso, passando cerca de 15 anos no exílio, disseminando seu método de
alfabetização e atuando como educador no Chile e em outros países. Somente em
1980, pôde retornar ao Brasil.
Uma de suas obras mais
importantes, "Educação como prática de liberdade" (1967), detalha seu
método de trabalho para a educação popular. Os conceitos de palavra geradora,
fichas de cultura, entre outros, descritos nesse livro, ainda hoje servem como
base para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) em todo o Brasil e em outros
países. A contribuição de Paulo Freire foi tão significativa que suas ideias e
práticas alcançaram reconhecimento mundial. Recebeu títulos de Doutor Honoris
Causa de diversas universidades na Europa e na América, além do Prêmio Educação
para a Paz concedido pela UNESCO em 1986.
A Educação
Brasileira na Contemporaneidade: Avanços, Desafios e Reflexões
Imagem de LillyCantabile por Pixabay |
A história da Educação no
Brasil é marcada por uma série de transformações e conquistas ao longo dos
anos. A Constituição Brasileira de 1988, conhecida como Constituição Cidadã,
foi um marco fundamental nesse percurso. Após a aparente dissolução da ditadura
militar em 1985, o país buscava novos ares democráticos, renovando a política e
a vida social. No contexto educacional, os debates se voltaram para a questão
da escola pública e o papel dos entes federativos em garantir uma educação
pública, gratuita e de qualidade para todos os cidadãos.
Dentre os princípios
discutidos na época, destacam-se a gratuidade do ensino público em
estabelecimentos oficiais, o ensino fundamental obrigatório e gratuito, a
extensão progressiva do ensino obrigatório ao ensino médio, o atendimento em
creches e pré-escolas para crianças de zero a seis anos e o acesso ao ensino
como um direito público subjetivo, passível de responsabilização das
autoridades competentes caso não seja oferecido ou seja oferecido de forma
irregular.
Além disso, a valorização
dos profissionais do ensino, a autonomia universitária, a destinação mínima de
recursos para a educação, a distribuição equitativa dos recursos públicos e a
elaboração de um plano nacional de educação também estavam entre os princípios
estabelecidos. Essa Constituição foi fruto da união e mobilização de diferentes
grupos sociais, educadores e entidades que atuaram durante a Assembleia
Constituinte, buscando o interesse maior da educação brasileira.
Outra importante conquista
foi a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990. Essa
legislação, considerada uma das mais avançadas do mundo, defende os direitos da
criança à saúde, educação, esporte, lazer e convivência familiar. O ECA contou
com o apoio de diversos grupos da sociedade brasileira e representa um marco na
proteção e garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes.
Em 1996, foi promulgada a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), que estabelece as
regras gerais do sistema educacional do país. Essa lei reafirma a responsabilidade
da família e do Estado na educação, inspirada nos princípios de liberdade e
solidariedade humana. Dentre os princípios da LDB, destacam-se a igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola, o pluralismo de ideias e
concepções pedagógicas, a gratuidade do ensino público, a gestão democrática do
ensino e a consideração com a diversidade étnico-racial.
A LDB passou por algumas
alterações ao longo dos anos, como a mudança na duração do ensino fundamental
para nove anos, incluindo a criança de 6 anos na classe de alfabetização. Essa
mudança foi implementada nos sistemas públicos da educação brasileira em 2010.
A LDB, juntamente com a Constituição e o ECA, representam conquistas de
diversos atores sociais.
Síntese
Em conclusão, ao
analisarmos o panorama da educação brasileira desde a ditadura militar até a
atualidade, fica evidente que a desigualdade social é uma questão arraigada e
persistente no sistema educacional do país. Desde os primórdios da
implementação das primeiras escolas no Brasil, essa desigualdade tem sido uma
marca indelével que afeta diretamente o acesso e a qualidade da educação
oferecida.
No entanto, é importante
ressaltar que houve avanços significativos no âmbito legislativo ao longo desse
período, com destaque para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 e o
Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, entre outras leis e políticas
educacionais. Essas legislações têm como objetivo central a redução das
disparidades sociais e educacionais presentes na educação brasileira.
Embora esses avanços sejam
relevantes, é preciso reconhecer que a implementação efetiva dessas medidas
ainda enfrenta inúmeros desafios. A desigualdade persiste, evidenciando a
necessidade de ações concretas que promovam uma educação inclusiva, equitativa
e de qualidade para todos os cidadãos brasileiros.
Nesse sentido, é
fundamental que sejam desenvolvidas políticas públicas abrangentes, que visem
não apenas a melhoria das estruturas físicas e pedagógicas das escolas, mas
também o combate às desigualdades socioeconômicas que impactam diretamente o
acesso à educação. Investimentos em formação de professores, valorização da
carreira docente, fortalecimento da educação básica e implementação de
programas de inclusão e diversidade são aspectos cruciais a serem considerados.
Além disso, é
imprescindível que haja um amplo envolvimento da sociedade civil, das famílias,
das instituições educacionais e do poder público na busca por soluções
efetivas. A construção de uma educação de qualidade e igualitária requer o
engajamento de todos os atores sociais, com ações coordenadas e comprometimento
com o objetivo comum.
Portanto, é fundamental
que sejamos conscientes das desigualdades existentes no sistema educacional
brasileiro, mas também otimistas e proativos na busca por mudanças
significativas. Somente por meio de um esforço conjunto, pautado na justiça
social e no compromisso com a educação como um direito fundamental, poderemos
construir um futuro mais justo e promissor para todos os brasileiros.
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