Intensas lutas políticas, sociais e econômicas, que levaram à queda do czarismo
Bolshevik, por Boris Kustodiev, 1920 |
Resumo
Ao longo desta
pesquisa, investigamos os acontecimentos históricos dos séculos XIX e XX, com
foco na Revolução Russa e no surgimento e desenvolvimento do socialismo.
Analisamos as origens dos movimentos críticos em relação ao sistema
capitalista, examinamos os dilemas enfrentados pela Rússia pré-revolucionária e
investigamos a influência da Guerra Russo-Japonesa, bem como os eventos
significativos da Revolução de 1917. Compreendemos os desafios e contradições
inerentes ao governo stalinista, caracterizado por uma forma de governo
autoritária e repressiva.
Essa exploração
nos revelou que a história da Rússia desempenhou um papel crucial na formação
do mundo contemporâneo. As transformações desencadeadas pela Revolução Russa e
a ascensão do socialismo exerceram influência nas dinâmicas geopolíticas do
século XX e deixaram uma marca profunda na sociedade, política e economia.
Ao concluir esta
pesquisa, destacamos a importância de compreender o passado como forma de
compreender o presente e moldar um futuro mais consciente. Devemos permanecer
vigilantes em relação aos perigos do autoritarismo e da corrupção de ideais
nobres, buscando preservar valores fundamentais, como liberdade, justiça e
dignidade humana.
Palavras-chave-
Revolução Russa, Socialismo, Séculos
XIX e XX, Capitalismo, Rússia pré-revolucionária, Guerra Russo-Japonesa,
Revolução de 1917, Stalinismo, Autoritarismo, Repressão, Geopolítica,
Transformações, Sociedade, Política, Economia, Passado, Presente, Futuro,
Consciência, Liberdade, Justiça, Dignidade humana, Valores, Sabedoria,
Desafios, Promissor, Humanitarismo, Diversidade, Respeito.
Introdução
Nicolau ll |
As Revoluções
Russas representaram um dos períodos mais significativos e transformadores da
história mundial, culminando no surgimento da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Esses eventos revolucionários foram
marcados por intensas lutas políticas, sociais e econômicas, que levaram à
queda do czarismo e à consolidação do regime comunista sob a liderança do
Partido Bolchevique. Neste artigo, exploraremos a trajetória das Revoluções
Russas, desde as suas origens no contexto de um império autocrático até o
estabelecimento da URSS, analisando os fatores-chave que impulsionaram as
mudanças e o impacto duradouro desses eventos na história mundial.
Para
compreendermos o contexto das Revoluções Russas, é essencial examinar a
situação política e social da Rússia no final do século XIX e início do século
XX. O Império Russo era governado pelo czar Nicolau II, cujo
regime autocrático enfrentava crescente insatisfação popular devido às
condições de vida precárias da classe trabalhadora, à falta de liberdades civis
e à crescente desigualdade social. A industrialização acelerada e a
concentração da terra nas mãos de uma elite agrária também agravaram as tensões
sociais e econômicas.
Influenciados
pelas ideias marxistas e pelos movimentos socialistas europeus, grupos
políticos e intelectuais russos começaram a organizar-se para lutar contra o
regime czarista. Partidos socialistas, como o Partido Operário
Social-Democrata Russo (POSDR), dividiram-se em diferentes facções,
sendo os bolcheviques liderados por Vladimir Lênin e os mencheviques liderados
por Julius Martov. Essas divergências refletiam diferentes estratégias para
alcançar a revolução socialista na Rússia.
Em 1905, a Rússia
enfrentou uma onda de protestos e greves, conhecida como a Revolução de 1905, que
abalou o regime czarista. Embora reprimida, essa revolução sinalizou o
crescente descontentamento popular e a busca por mudanças políticas e sociais.
Esses eventos marcaram um prelúdio das futuras Revoluções Russas.
Entretanto, foi
em 1917 que as Revoluções Russas atingiram seu auge. A primeira fase, conhecida
como Revolução de Fevereiro, derrubou Nicolau II, resultando na formação de um governo provisório.
No entanto, o descontentamento popular persistiu, alimentado pelas dificuldades
econômicas, a continuidade da participação russa na Primeira Guerra Mundial e a
falta de reformas efetivas. Em outubro do mesmo ano, ocorreu a Revolução de
Outubro, liderada pelos bolcheviques, que assumiram o controle do governo e
estabeleceram um sistema socialista na Rússia.
Sob a liderança
de Lênin, a Rússia transformou-se na primeira república
socialista do mundo, pavimentando o caminho para o nascimento da URSS em 1922.
A nova ordem política e econômica implementada pelos bolcheviques procurava
eliminar as desigualdades sociais, coletivizar a terra e a indústria e
estabelecer um estado baseado nos princípios do comunismo. A URSS se tornou uma
potência global, desempenhando um papel fundamental na geopolítica mundial
durante o século XX.
Este artigo
buscará analisar os principais fatores que contribuíram para as Revoluções
Russas, desde as tensões sociais e econômicas até a influência de ideologias
políticas e movimentos revolucionários. Além disso, serão explorados os
desdobramentos dessas revoluções, como a consolidação do regime comunista, as
políticas implementadas e o impacto duradouro na história mundial. Para tanto,
serão utilizadas fontes bibliográficas e documentais que permitam uma análise
embasada e abrangente desses eventos históricos.
Metodologia
1. Definição
do tema: O tema selecionado foi a Revolução Russa e o Socialismo nos
séculos XIX e XX.
2. Levantamento
bibliográfico: Realizou-se uma pesquisa em bibliotecas físicas e digitais,
bem como em bases de dados acadêmicas, como JSTOR e Google Scholar.
Utilizaram-se palavras-chave relevantes, como "Revolução Russa",
"socialismo", "Lenin", "Stalin" e outras, para
encontrar fontes pertinentes.
3. Seleção de
fontes: Foram selecionadas fontes primárias, como documentos históricos,
discursos e escritos de líderes revolucionários, e fontes secundárias, como
livros, artigos acadêmicos e ensaios críticos, que abordavam o tema de forma
abrangente e atualizada. A seleção das fontes levou em consideração sua
autenticidade, veracidade e relevância para o tema proposto.
4. Análise
crítica das fontes: As fontes selecionadas foram submetidas a uma análise
crítica, considerando sua adequação aos objetivos da pesquisa, a consistência
interna das informações apresentadas, a coerência com outras fontes e a
reputação dos autores. Essa análise teve o intuito de identificar as principais
ideias, argumentos e perspectivas teóricas presentes nas fontes.
5. Organização
e estruturação do artigo: Com base na análise das fontes, foi estabelecida
uma estrutura para o artigo, seguindo as normas da ABNT. O artigo foi dividido
em seções, como introdução, desenvolvimento e conclusão, cada uma abordando
aspectos específicos da Revolução Russa e do Socialismo. As informações foram
organizadas de forma lógica e coerente, garantindo a fluidez da leitura.
6. Citação e
referências: Todas as fontes utilizadas foram devidamente citadas no texto,
seguindo as normas da ABNT, com o uso de citações diretas e indiretas. Além
disso, as bibliografias completas foram apresentadas em uma lista no final do
artigo, seguindo as regras de formatação estabelecidas pelas normas acadêmicas.
7. Revisão e
edição: Após a redação do artigo, foi realizada uma revisão minuciosa para
verificar a clareza, a coesão e a consistência do texto. Foram feitas correções
gramaticais, ajustes de estilo e aprimoramentos na estrutura do artigo,
garantindo sua qualidade e rigor acadêmico.
Essa metodologia
de pesquisa permitiu uma abordagem sistemática e rigorosa da Revolução Russa e
do Socialismo nos séculos XIX e XX, fundamentando o artigo em fontes confiáveis
e estabelecendo uma estrutura coesa e organizada.
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Ideias
socialistas
O termo
"socialista" surgiu no século XIX, utilizado por pensadores como Robert
Owen e Saint-Simon para descrever um modelo de organização social
alternativo ao sistema capitalista industrial. Esses pensadores foram motivados
pela terrível situação de desigualdade e exploração vivenciada pelos
trabalhadores nas cidades inglesas do século XIX. A fome e as condições
precárias de vida levaram à morte de muitas pessoas, mas a burguesia, que
compunha os jurados nos inquéritos, frequentemente evitava reconhecer
publicamente a responsabilidade dessas mortes causadas pela fome. Essa situação
levou os operários ingleses a denunciarem o que chamavam de "assassinato
social" praticado pela sociedade.
Diante dessa
realidade social grave, os primeiros pensadores socialistas começaram a propor
modelos alternativos de sociedade baseados em princípios como cooperação e
função social da atividade produtiva, buscando superar a desigualdade e a
exploração existentes.
Outra corrente
que surgiu nesse período, conhecida como anarquismo, teve como um de seus
principais expoentes Pierre Joseph Proudhon, que criticou a propriedade privada
como um roubo. Mais tarde, Mikhail Bakunin introduziu a ideia de uma
revolução violenta contra o sistema capitalista como meio de emancipação dos
povos. O anarquismo defendia a ação política espontânea, sem um centro de
comando como um partido.
No entanto, foi
com o trabalho de Karl Marx e Friedrich Engels, no meio do século
XIX, que surgiu uma nova concepção de socialismo, chamada de "socialismo
científico". Eles diferenciaram sua abordagem da dos primeiros
socialistas, que chamaram de "utópicos", pois estes apenas
imaginavam como seria uma sociedade ideal, sem uma análise concreta e
científica dos problemas da sociedade capitalista.
O marxismo, como
é conhecido hoje, se baseia na análise da sociedade capitalista feita por Marx e Engels.
Segundo eles, a sociedade capitalista é caracterizada por uma luta de classes
entre os detentores dos meios de produção e os que não possuem esses meios e
dependem da venda de sua força de trabalho para sobreviver. A burguesia,
detentora dos meios de produção, explora o trabalho do proletariado em
benefício próprio.
Para o marxismo,
a solução para os problemas sociais do mundo capitalista seria a apropriação
dos meios de produção pelos próprios trabalhadores. A ação revolucionária
consistiria nessa tomada de controle dos meios de produção. O "Manifesto
Comunista" de 1848, escrito por Marx e Engels, explora a ideia de que a queda da burguesia é uma
consequência inevitável do desenvolvimento capitalista, uma vez que o
crescimento do capitalismo industrial leva ao crescimento dos operários, seus
principais opositores.
A história do
movimento socialista e comunista do século XIX é complexa, com diferentes
correntes, divisões e debates internos. No entanto, é importante compreender a
relação entre o contexto histórico da época, com o desenvolvimento do
capitalismo e as condições precárias dos trabalhadores, e o surgimento dessas
ideias. Além disso, é relevante investigar por que o marxismo se tornou um
movimento político bem-sucedido na Rússia, culminando na revolução socialista
de 1917.
A
Modernização e a Crise na Rússia Imperial: Um Estudo Histórico
Para compreender
como a Revolução Socialista ocorreu na Rússia em 1917, é necessário voltar ao
século XVIII, quando o país iniciou um processo de aproximação com o Ocidente.
Esse movimento de modernização e as consequentes transformações socioeconômicas
que ocorreram ao longo do século XIX prepararam o terreno para os eventos revolucionários
que moldaram o futuro da nação russa.
- O
Czar Pedro, o Grande e a Modernização:
No século XVIII, o
czar Pedro, o Grande, da dinastia Romanov, desempenhou um papel
fundamental na modernização da Rússia. Inspirado pelo modelo absolutista
francês, ele promoveu uma abordagem expansionista e transferiu a capital de
Moscou para São Petersburgo. Pedro também estimulou o desenvolvimento econômico e
construiu o Palácio de Inverno, inspirado no Palácio de Versalhes. Seu governo
marcou o início de uma tradição política que caracterizou a história russa,
caracterizada por um poder autocrático e uma vigilância intensa.
- O
Desafio do Governo Centralizado:
Ao longo do
século XIX, a Rússia buscou se aproximar do capitalismo europeu, reconhecendo a
necessidade de modernização. No entanto, o país enfrentou desafios
significativos devido ao seu sistema político altamente centralizado e à vasta
extensão territorial, abrangendo múltiplas nações e etnias. O governo russo era
caracterizado por um poder autocrático, difícil de ser exercido de maneira
eficaz em um império tão diversificado. Essa realidade de governar um país
colossal contribuiu para a "paranoia" e a vigilância extrema dos
líderes políticos russos, características que persistiram ao longo da história
do país.
- As
Transformações Sociais:
Alexandre II |
No século XIX, a
Rússia enfrentou mudanças significativas em sua estrutura social. O fim do
regime de servidão em 1861, promovido pelo czar Alexandre II, libertou
os camponeses das terras de seus senhores feudais. Embora isso não tenha
eliminado as desigualdades sociais, criou condições para a migração de parte da
população rural para as cidades em busca de melhores condições de vida.
Paralelamente, a Rússia buscou uma revolução industrial, estabelecendo parcerias
com o capital inglês e desenvolvendo centros urbanos industriais.
- Surgimento
do Movimento Operário e a Criação do POSDR:
O rápido
desenvolvimento das forças produtivas na Rússia estimulou o surgimento de um
movimento operário nas cidades. Greves e paralisações tornaram-se frequentes
nas últimas décadas do século XIX, enquanto o país ainda era governado por um
regime absolutista, o que resultava em uma repressão feroz. Nesse contexto, o Partido
Operário Social Democrata Russo (POSDR) emergiu como a principal
agremiação de esquerda. No entanto, divergências políticas internas dividiram o
partido em duas correntes: os mencheviques, que defendiam uma abordagem mais
"espontânea" da revolução, e os bolcheviques, liderados por
Lenin, que acreditavam em uma estrutura partidária centralizada e disciplinada.
A história da
Rússia Imperial foi marcada por um processo de modernização, transformações
sociais e um governo altamente centralizado. Esses elementos criaram as
condições propícias para o surgimento de movimentos revolucionários, culminando
na Revolução Socialista de 1917. A divisão entre mencheviques e bolcheviques
estabeleceu as bases para o futuro da esquerda russa e teve um papel
fundamental nos acontecimentos históricos que moldaram o país. A compreensão
desses eventos é crucial para analisar a trajetória da Rússia e suas
implicações políticas e sociais até os dias atuais.
A
"prévia" de 1905
No início do
século XX, ocorreu uma oportunidade revolucionária que teve um impacto significativo
na Rússia. Durante esse período, a Rússia e o Japão se envolveram em um
conflito imperialista, disputando o controle da Coreia e da Manchúria, uma
região ao norte da China. Os japoneses buscavam adquirir territórios e obter
acesso à Ásia, enquanto os russos almejavam uma saída para o mar que não
ficasse congelada durante parte do ano.
Essa rivalidade
de interesses resultou na Guerra Russo-Japonesa, que ocorreu entre 1904 e 1905.
A Rússia enfrentava dificuldades e estava perdendo a guerra. Além disso, as
condições de vida no país se deterioraram consideravelmente, com escassez de
alimentos e exploração ainda mais intensa dos trabalhadores nas indústrias para
suprir as necessidades do exército.
Em 1905, uma
greve geral teve início em São Petersburgo. Os trabalhadores organizaram uma
manifestação pacífica, com a presença maciça de líderes religiosos, com o
objetivo de entregar uma petição ao czar Nicolau II, membro da dinastia Romanov, exigindo melhores
condições de vida. No entanto, quando os manifestantes se reuniram em frente ao
Palácio de Inverno, a guarda imperial abriu fogo e matou quase 100 pessoas.
Esse evento ficou conhecido como "Domingo Sangrento" e chocou
toda a população russa, desencadeando um ciclo de greves e revoltas violentas
conhecido como "Revolução de 1905".
Nesse contexto
revolucionário, os operários começaram a se organizar em conselhos, conhecidos
como sovietes. Os sovietes eram pequenas assembleias em que os próprios
trabalhadores elegiam seus representantes. Esses espaços permitiam que os
trabalhadores se informassem, debatessem assuntos políticos e, principalmente,
se mantivessem organizados para futuras ações. Os sovietes se espalharam
rapidamente por várias cidades e até mesmo entre as forças armadas,
desempenhando um papel fundamental na organização da revolução que ocorreria em
1917.
Durante esse
período, o jornalista norte-americano John Reed escreveu um
livro-reportagem chamado "Dez dias que abalaram o mundo", que
se tornou uma das obras mais famosas sobre a Revolução Russa. Em seu prefácio,
Reed descreve os sovietes como um exemplo admirável do talento organizacional
do povo russo, destacando que, embora talvez não possuíssem a mesma experiência
política dos ocidentais, estavam perfeitamente preparados em termos de organização
de massas.
Diante dessa
situação e da derrota na guerra, o czar Nicolau II foi obrigado a ceder. Ele decidiu convocar as
tropas de volta do leste e prometeu convocar a Duma, o parlamento russo, para
elaborar uma Constituição. Essa promessa implicava uma abertura democrática que
acabaria com o absolutismo e transformaria a Rússia em uma monarquia
parlamentar.
Essas promessas
foram suficientes para conter a Revolução de 1905. No entanto, assim que a
situação se normalizou em 1906, o czar mostrou que tudo não passava de uma
ilusão. Embora a Duma continuasse existindo, ela era totalmente controlada pelo
monarca, e os trabalhos constitucionais foram interrompidos. Com o exército de
volta à capital, o czar ordenou a perseguição aos líderes revolucionários,
levando muitos deles ao exílio.
Um dos episódios
mais famosos da Revolução de 1905 foi a revolta do navio couraçado Potemkin,
pertencente à frota do Mar Negro. Essa revolta ameaçou bombardear a cidade de
Odessa em protesto contra a política do czar. O evento foi tão significativo
que levou Nicolau II a assinar o Tratado de Portsmouth, encerrando a
Guerra Russo-Japonesa. O filme "Encouraçado Potemkin" (1925), do
cineasta soviético Serguei Eisenstein, retratou esse evento e é considerado uma
das obras mais influentes da história do cinema.
Lenin classificou
a Revolução de 1905 como um "ensaio". Ela evidenciou que a
população russa ainda não possuía a consciência política e o nível de
organização necessários para promover uma mudança social significativa. Em certo
sentido, o povo russo foi iludido, acreditando que o czar poderia ser seu
"aliado", quando, na verdade, ele era o próprio inimigo.
No
entanto, essa experiência serviu como uma importante lição, e a situação seria
muito diferente quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914.
A
Revolução de 1917: A Ascensão do Poder Popular na Rússia
A Revolução Russa
de 1917 foi um evento marcante na história do país, com repercussões tanto no
cenário interno quanto no internacional. Para compreender suas causas e
desdobramentos, é fundamental analisar o contexto em que ocorreu.
A Rússia estava
envolvida na Grande Guerra como parte da Tríplice Entente, juntamente com a
Inglaterra e a França, combatendo as potências centrais lideradas pela Alemanha
e pelo Império Austro-Húngaro. Apesar de ter conseguido lidar com os turcos e
os austríacos com certa eficácia, ficou claro, a partir de 1915, que o exército
russo não seria capaz de enfrentar o avanço alemão no front Oriental.
A guerra trouxe
consequências desastrosas para a Rússia. A mortalidade entre os soldados foi
altíssima, o que gerou escassez de mão de obra agrícola devido à maioria
camponesa entre os combatentes. Essa escassez, somada às circunstâncias
excepcionais da guerra, resultou em fome e crises de abastecimento nas cidades.
O czar Nicolau II, pressionado pela necessidade de vencer os
alemães e pelos tratados militares com a Inglaterra, não podia simplesmente
retirar seu império do conflito. Assim, mais jovens eram enviados para a morte
a cada mês.
Em 1916, a
insatisfação contra o governo czarista crescia nas cidades russas, o que
culminou na Revolução de Fevereiro de 1917. O czar Nicolau II
foi deposto e o poder passou para as mãos da Duma, um governo provisório que
tinha como primeira tarefa redigir uma nova Constituição.
Nesse contexto,
as forças políticas na Rússia se dividiam em dois projetos básicos. O governo
provisório buscava uma linha liberal para a Rússia pós-czarista, inspirando-se
no modelo inglês, e admitia até mesmo a permanência dos imperadores Romanov no
poder desde que governassem sob uma Constituição. Por outro lado, os
socialistas mais radicais, em sua maioria bolcheviques, defendiam pautas
populares como reforma agrária, melhores condições de trabalho e autonomia para
os povos do império. Os bolcheviques, liderados por Lenin,
enfatizavam a necessidade de retirar a Rússia da Primeira Guerra Mundial,
considerando-a uma guerra imperialista.
Em abril de 1917,
Lenin retornou do exílio e lançou as "Teses de Abril",
nas quais denunciava o caráter antipopular do governo provisório e defendia as
demandas dos trabalhadores. Essas ideias conquistaram apoio popular,
principalmente entre os trabalhadores organizados nos sovietes, como o de
Petrogrado. Gradualmente, a opinião pública se voltou contra o governo
provisório, que não atendia às expectativas da população.
A insatisfação
popular culminou na Revolução Bolchevique de outubro de 1917, na qual os
partidários de Lenin tomaram o poder e fecharam a Duma.
Lenin |
A
transição política e social durante a Revolução Russa de 1917
Após a conclusão
da Guerra Civil em 1921, os comunistas enfrentaram um desafio significativo:
reconstruir uma Rússia devastada pela guerra. O país estava em ruínas e era
necessário revitalizar a economia. Nesse contexto, os líderes comunistas
adotaram uma estratégia conhecida como Nova Política Econômica (NEP).
A NEP visava
reintroduzir elementos da economia de mercado na Rússia socialista como uma
forma de impulsionar a recuperação econômica. No campo, os camponeses foram
autorizados a possuir pequenas propriedades rurais, contratar mão de obra e
alugá-las. Esse grupo de pequenos e médios proprietários rurais ficou conhecido
como kulaks.
Nas cidades,
pequenas empresas e comércios foram novamente permitidos, enquanto setores
estratégicos permaneceram sob controle estatal, como bancos, indústria pesada,
petróleo e indústria bélica. Essa abertura econômica permitiu a contratação de
trabalhadores assalariados, captação de recursos estrangeiros e livre comércio,
especialmente no setor de bens de consumo.
A NEP, proposta
por Lenin, tinha como objetivo impulsionar o desenvolvimento
socialista, permitindo que as conquistas sociais de 1917 se consolidassem. Essa
estratégia foi resumida pela frase "um passo para trás para dar dois
passos à frente". A classe de empresários emergente durante esse
período ficou conhecida como nepmen.
Além da mudança
econômica, em 1922, a Rússia socialista adotou uma nova Constituição e
estabeleceu uma nova federação composta por várias nações do antigo Império
Russo, como Ucrânia e Bielorrússia. Essa federação recebeu o nome de União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se tornaria uma
potência mundial, expandindo seu território ao longo dos anos, especialmente
após a Segunda Guerra Mundial. A URSS existiu oficialmente até 1991.
A NEP vigorou de
1921 a 1928, mas o falecimento de Lenin em 1924 levou a uma situação complexa no Partido
Comunista. Surgiram dois candidatos principais para sucedê-lo como Presidente
do Conselho do Partido: Trotsky e Stalin.
Trotsky, Lenin, Kamenev (1919) |
Trotsky, um líder respeitado e intelectual
proeminente, defendia a ideia de "revolução permanente", que
pregava a extensão da revolução socialista além das fronteiras nacionais. Por
outro lado, Stalin defendia a ideia do "socialismo em um só país",
argumentando que a URSS deveria se concentrar em se tornar uma nação socialista
autossuficiente, adiando a ideia de uma revolução global.
Stalin conseguiu angariar mais apoio no
partido, principalmente devido ao contexto desafiador que a URSS enfrentava no
final dos anos 1920. Em 1927, uma crise de abastecimento de alimentos levou
Stalin a defender a coletivização forçada das terras, a fim de implantar
completamente o socialismo no país e resolver o problema. Essa posição acabou
contribuindo para sua vitória na disputa interna do partido, assumindo o
comando do PCUS em 1928.
Trotsky, por sua vez, foi perseguido e teve
que se exilar em vários países até se estabelecer no México. No entanto, em
1940, ele foi assassinado em sua própria casa por um agente de Stalin, pondo
fim à sua trajetória política.
Esses eventos
marcaram uma importante transição na história da União Soviética, tanto do
ponto de vista econômico, com a implementação da NEP, quanto do ponto de vista
político, com a ascensão de Stalin ao poder.
A Revolução
Russa: A Era do Czar Vermelho
As
decisões econômicas e políticas de Stalin: Uma análise mais detalhada
Do ponto de vista
econômico, Stalin buscou desmantelar a Nova Política Econômica (NEP)
assim que assumiu o poder. Sua estratégia girava em torno da implementação dos
Planos Quinquenais, que eram planos governamentais elaborados para orientar o
desenvolvimento de cada setor da economia ao longo de um período de cinco anos.
O primeiro Plano
Quinquenal entrou em vigor em 1929 e tinha dois objetivos principais. O
primeiro objetivo era a coletivização da agricultura, que envolvia a proibição
de qualquer forma de propriedade rural privada, incluindo pequenas fazendas
familiares. Consequentemente, os kulaks, uma classe de camponeses prósperos,
tornaram-se alvos principais do governo.
Os camponeses
foram forçados a trabalhar em fazendas estatais, e grandes grupos populacionais
foram realocados para fornecer mão de obra para essas terras. No entanto, como
não havia incentivo para a produtividade, uma vez que os trabalhadores recebiam
salários fixos e baixos, a produção agrícola despencou, resultando em severas
fomes em 1932 e 1933. A região mais afetada por essas fomes foi a Ucrânia.
Você sabia?
Um dos episódios
mais trágicos do stalinismo foi a "Grande Fome na Ucrânia",
que ocorreu entre 1932 e 1933 como resultado da política de coletivização. As
estimativas do número de mortos variam, mas pelo menos 2,5 milhões de pessoas
pereceram. Para muitos historiadores, essa tragédia foi, na verdade, um
genocídio, pois o governo stalinista confiscou alimentos dos ucranianos e
impediu que suprimentos de emergência chegassem à região. O evento ficou
conhecido como Holodomor, uma palavra ucraniana que significa "morte por
fome".
O segundo
objetivo do Plano Quinquenal era a rápida industrialização da URSS. Stalin deu
prioridade a setores como mineração, bens de produção (ferro, aço,
combustíveis), energia, infraestrutura (pontes, represas, ferrovias, estradas)
e, posteriormente, à indústria de defesa.
Esse período
testemunhou um crescimento econômico espetacular. Poucas nações alcançaram um
salto comparável: em aproximadamente dez a quinze anos, um vasto país como a
URSS fez a transição de uma sociedade agrária para se tornar uma das principais
potências mundiais, em pé de igualdade com os Estados Unidos e os países
europeus.
No entanto, essa
transformação não foi um golpe de sorte. A exploração da mão de obra foi
brutal, embora uma parcela significativa da população russa apoiasse as ações
do governo, considerando-as um "preço necessário" para colher
recompensas futuras. O financiamento desse empreendimento, incluindo a
importação de tecnologia estrangeira, dependia de impostos exorbitantes
impostos aos camponeses. Além disso, como todo o Plano Quinquenal focava na indústria
pesada, as cidades continuavam enfrentando escassez de bens de consumo básicos,
como roupas, papel higiênico, lâmpadas e alimentos.
Esse foi o
desempenho econômico do stalinismo. Mas e suas implicações políticas?
O período que se
iniciou em 1928 foi marcado pelo "Terror Vermelho". Stalin
iniciou purgas massivas de todos os líderes bolcheviques que se opunham a ele
ou cuja presença representava uma ameaça à sua liderança, incluindo
revolucionários da antiga guarda. O evento mais simbólico dessa era foram os
Julgamentos de Moscou, que ocorreram entre 1936 e 1938. Esses julgamentos
envolveram um tribunal que, usando provas fabricadas e falsas confissões,
julgou e condenou uma série de dissidentes comunistas.
O destino desses
dissidentes, famosos ou não, era a morte ou campos de trabalho forçado
eufemisticamente chamados de "campos de reeducação" - o
sistema gulag. Os campos mais infames estavam localizados na Sibéria, no
extremo norte da Rússia, onde prevaleciam condições climáticas severas.
Curiosamente, Stalin ele mesmo havia sido preso em um desses campos durante o
regime czarista.
A repressão do
Terror Vermelho na década de 1930 foi possível graças a uma força policial
secreta ativa que monitorava os cidadãos e incentivava a denúncia de potenciais
"traidores do socialismo", mesmo entre amigos, vizinhos e membros da
família. No auge da era stalinista, essa força era conhecida como NKVD, o
Comissariado do Povo para Assuntos Internos, precursor do infame KGB.
O historiador Orlando
Figes, outro especialista em história russa, fornece uma dimensão numérica
para o "Terror Vermelho":
Stalin em 1937 |
"O Grande
Terror foi um evento extraordinário mesmo pelos padrões stalinistas. Não foi
uma onda rotineira de prisões em massa, como as que varreram o país nos
primeiros anos do reinado de Stalin, mas sim uma política calculada de assassinato em
massa. Não satisfeito em prender 'inimigos do povo', reais ou imaginários, Stalin
ordenou que a polícia retirasse pessoas de prisões e campos de trabalho e as
executasse. Nos anos de 1937 e 1938, de acordo com estatísticas incompletas, um
total impressionante de pelo menos 681.692 pessoas, provavelmente muitas mais,
foram executadas por 'crimes contra o Estado'. Durante o mesmo período, a
população dos campos de trabalho e colônias do Gulag aumentou de 1.196.369 para
1.881.570. Outros períodos da história soviética também testemunharam ondas de
prisões em massa de 'inimigos', mas nunca tantas vítimas foram mortas. Mais da
metade das pessoas presas durante o Grande Terror foram fuziladas, em
comparação com menos de 10% das que foram presas em 1930, o segundo pico mais
alto de execuções no período de Stalin." (FIGES, Orlando. The Whisperers:
Vida Privada na Rússia de Stalin. Rio de Janeiro: Record, 2010, pp. 282-283).
O regime
stalinista também dependia fortemente da propaganda política aberta e da
promoção da figura do "grande líder", assim como outros
regimes chamados de "totalitários", como a Alemanha nazista.
Especialmente durante a década de 1940, quando as crises alimentares estavam
sob controle, as principais purgas do "Terror Vermelho" haviam
passado e os efeitos notáveis do plano de industrialização eram visíveis, a
imagem de Stalin foi amplamente divulgada por meio da propaganda oficial. Ele
recebeu epítetos como o "brilhante guia dos povos", o "pai do
povo" e o "maior gênio militar da história". As
palavras do historiador John Gooding lançam luz sobre isso:
"Sob Stalin, o
regime adotou uma guinada profundamente russa, embora antbolchevique, em
direção à restauração da liderança carismática. Stalin obteve tanto sucesso
que, até o final da década de 1930, grande parte da população havia se tornado
miseravelmente dependente dele. O objetivo de Lenin de obter apoio popular
genuíno e uma ligação real entre o povo e seus governantes havia sido
alcançado, mas alcançado por meio de meios que tinham pouco a ver com o socialismo
ou com as ambições originais dos bolcheviques." (citado em BROWN, Archie.
A Ascensão e Queda do Comunismo. Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 96).
Sem a combinação
de uma repressão ditatorial feroz ao dissenso político e propaganda aberta
promovendo o "grande líder", o crescimento da União Soviética
durante a era stalinista provavelmente teria sido impossível. As consequências
dessa política, que também tiveram implicações durante a Segunda Guerra
Mundial, serão exploradas em unidades futuras.
Por enquanto, é
importante reconhecer o caminho longo e tortuoso que o socialismo percorreu na
Rússia entre os séculos XIX e XX. O destino do país foi transformado para
sempre - hoje, analistas percebem amplamente ecos do stalinismo na política
personalista e autoritária do país, apesar de sua democracia formal. Além
disso, a polarização entre a URSS, uma potência socialista construída por Stalin por
meio de grande sofrimento, e o mundo capitalista liderado pelos Estados Unidos
moldou todo o século XX, especialmente durante a Guerra Fria. Estudar a
trajetória do "socialismo real" na Rússia ilumina o caminho
que o mundo percorreu para se tornar o que é hoje.
Síntese
Chegamos, assim,
ao desfecho desta reflexão que nos conduziu por uma jornada cativante através
dos séculos XIX e XX, desvendando os eventos cruciais que moldaram a trajetória
da humanidade. Ao mergulharmos nas origens da Revolução Russa e ao explorarmos
a ascensão do socialismo, compreendemos as complexidades e os desafios
enfrentados por esse movimento ao assumir o poder e se desviar de seus ideais
iniciais, sobretudo sob a influência dominadora de Stalin e as exigências
impostas pela guerra.
Neste percurso
intelectual, tivemos a oportunidade de explorar diversas facetas dessa época
histórica. Estudamos os movimentos críticos ao capitalismo, suas bases teóricas
e suas propostas transformadoras. Analisamos os dilemas enfrentados pela Rússia
pré-revolucionária e as crises do czarismo que pavimentaram o caminho para o
despertar da consciência revolucionária. Compreendemos a importância da Guerra
Russo-Japonesa como um catalisador dos eventos que culminariam na revolução de
1905. E, por fim, testemunhamos os acontecimentos marcantes da Revolução de
1917, cujas consequências abalariam profundamente a Rússia e o mundo.
Ao examinarmos as
propostas e ações do stalinismo, nos deparamos com um período caracterizado por
um governo autoritário e repressivo. Essa análise crítica nos permitiu
compreender não apenas as contradições inerentes ao regime, mas também as
implicações históricas e os desafios que surgiram durante esse período.
Com base nesses
estudos, concluímos que a história da Rússia do século XIX e XX desempenhou um
papel fundamental na formação do mundo contemporâneo. As transformações
sociais, políticas e econômicas desencadeadas pela Revolução Russa e pela
ascensão do socialismo deixaram marcas profundas na história e influenciaram as
dinâmicas geopolíticas do século XX.
Ao encerrarmos
essa etapa, reforçamos a importância do conhecimento histórico na compreensão do
presente e na construção de um futuro mais consciente e igualitário. As lições
extraídas desses períodos tumultuados da história nos alertam para os perigos
do autoritarismo, da opressão e da corrupção de ideais nobres. Devemos estar
vigilantes e comprometidos com os valores da liberdade, justiça e dignidade
humana, a fim de evitar repetições sombrias do passado.
Assim, encerramos
essa análise abrangente, munidos de um entendimento mais profundo das
complexidades históricas que moldaram nosso mundo atual. Que este conhecimento
nos inspire a enfrentar os desafios do presente com sabedoria e a buscar um
futuro mais promissor, baseado em princípios humanitários e no respeito à
diversidade e à liberdade.
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