As revoluções Russas e o nascimento da URSS

Intensas lutas políticas, sociais e econômicas, que levaram à queda do czarismo

Bolshevik, por Boris Kustodiev, 1920
Bolshevik, por Boris Kustodiev, 1920

Resumo

Ao longo desta pesquisa, investigamos os acontecimentos históricos dos séculos XIX e XX, com foco na Revolução Russa e no surgimento e desenvolvimento do socialismo. Analisamos as origens dos movimentos críticos em relação ao sistema capitalista, examinamos os dilemas enfrentados pela Rússia pré-revolucionária e investigamos a influência da Guerra Russo-Japonesa, bem como os eventos significativos da Revolução de 1917. Compreendemos os desafios e contradições inerentes ao governo stalinista, caracterizado por uma forma de governo autoritária e repressiva.

Essa exploração nos revelou que a história da Rússia desempenhou um papel crucial na formação do mundo contemporâneo. As transformações desencadeadas pela Revolução Russa e a ascensão do socialismo exerceram influência nas dinâmicas geopolíticas do século XX e deixaram uma marca profunda na sociedade, política e economia.

Ao concluir esta pesquisa, destacamos a importância de compreender o passado como forma de compreender o presente e moldar um futuro mais consciente. Devemos permanecer vigilantes em relação aos perigos do autoritarismo e da corrupção de ideais nobres, buscando preservar valores fundamentais, como liberdade, justiça e dignidade humana.

Palavras-chave- Revolução Russa, Socialismo, Séculos XIX e XX, Capitalismo, Rússia pré-revolucionária, Guerra Russo-Japonesa, Revolução de 1917, Stalinismo, Autoritarismo, Repressão, Geopolítica, Transformações, Sociedade, Política, Economia, Passado, Presente, Futuro, Consciência, Liberdade, Justiça, Dignidade humana, Valores, Sabedoria, Desafios, Promissor, Humanitarismo, Diversidade, Respeito.

Introdução

Nicolau ll
Nicolau ll

As Revoluções Russas representaram um dos períodos mais significativos e transformadores da história mundial, culminando no surgimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Esses eventos revolucionários foram marcados por intensas lutas políticas, sociais e econômicas, que levaram à queda do czarismo e à consolidação do regime comunista sob a liderança do Partido Bolchevique. Neste artigo, exploraremos a trajetória das Revoluções Russas, desde as suas origens no contexto de um império autocrático até o estabelecimento da URSS, analisando os fatores-chave que impulsionaram as mudanças e o impacto duradouro desses eventos na história mundial.

Para compreendermos o contexto das Revoluções Russas, é essencial examinar a situação política e social da Rússia no final do século XIX e início do século XX. O Império Russo era governado pelo czar Nicolau II, cujo regime autocrático enfrentava crescente insatisfação popular devido às condições de vida precárias da classe trabalhadora, à falta de liberdades civis e à crescente desigualdade social. A industrialização acelerada e a concentração da terra nas mãos de uma elite agrária também agravaram as tensões sociais e econômicas.

Influenciados pelas ideias marxistas e pelos movimentos socialistas europeus, grupos políticos e intelectuais russos começaram a organizar-se para lutar contra o regime czarista. Partidos socialistas, como o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), dividiram-se em diferentes facções, sendo os bolcheviques liderados por Vladimir Lênin e os mencheviques liderados por Julius Martov. Essas divergências refletiam diferentes estratégias para alcançar a revolução socialista na Rússia.

Em 1905, a Rússia enfrentou uma onda de protestos e greves, conhecida como a Revolução de 1905, que abalou o regime czarista. Embora reprimida, essa revolução sinalizou o crescente descontentamento popular e a busca por mudanças políticas e sociais. Esses eventos marcaram um prelúdio das futuras Revoluções Russas.

Entretanto, foi em 1917 que as Revoluções Russas atingiram seu auge. A primeira fase, conhecida como Revolução de Fevereiro, derrubou Nicolau II, resultando na formação de um governo provisório. No entanto, o descontentamento popular persistiu, alimentado pelas dificuldades econômicas, a continuidade da participação russa na Primeira Guerra Mundial e a falta de reformas efetivas. Em outubro do mesmo ano, ocorreu a Revolução de Outubro, liderada pelos bolcheviques, que assumiram o controle do governo e estabeleceram um sistema socialista na Rússia.

Sob a liderança de Lênin, a Rússia transformou-se na primeira república socialista do mundo, pavimentando o caminho para o nascimento da URSS em 1922. A nova ordem política e econômica implementada pelos bolcheviques procurava eliminar as desigualdades sociais, coletivizar a terra e a indústria e estabelecer um estado baseado nos princípios do comunismo. A URSS se tornou uma potência global, desempenhando um papel fundamental na geopolítica mundial durante o século XX.

Este artigo buscará analisar os principais fatores que contribuíram para as Revoluções Russas, desde as tensões sociais e econômicas até a influência de ideologias políticas e movimentos revolucionários. Além disso, serão explorados os desdobramentos dessas revoluções, como a consolidação do regime comunista, as políticas implementadas e o impacto duradouro na história mundial. Para tanto, serão utilizadas fontes bibliográficas e documentais que permitam uma análise embasada e abrangente desses eventos históricos.

Metodologia

1. Definição do tema: O tema selecionado foi a Revolução Russa e o Socialismo nos séculos XIX e XX.

2. Levantamento bibliográfico: Realizou-se uma pesquisa em bibliotecas físicas e digitais, bem como em bases de dados acadêmicas, como JSTOR e Google Scholar. Utilizaram-se palavras-chave relevantes, como "Revolução Russa", "socialismo", "Lenin", "Stalin" e outras, para encontrar fontes pertinentes.

3. Seleção de fontes: Foram selecionadas fontes primárias, como documentos históricos, discursos e escritos de líderes revolucionários, e fontes secundárias, como livros, artigos acadêmicos e ensaios críticos, que abordavam o tema de forma abrangente e atualizada. A seleção das fontes levou em consideração sua autenticidade, veracidade e relevância para o tema proposto.

4. Análise crítica das fontes: As fontes selecionadas foram submetidas a uma análise crítica, considerando sua adequação aos objetivos da pesquisa, a consistência interna das informações apresentadas, a coerência com outras fontes e a reputação dos autores. Essa análise teve o intuito de identificar as principais ideias, argumentos e perspectivas teóricas presentes nas fontes.

5. Organização e estruturação do artigo: Com base na análise das fontes, foi estabelecida uma estrutura para o artigo, seguindo as normas da ABNT. O artigo foi dividido em seções, como introdução, desenvolvimento e conclusão, cada uma abordando aspectos específicos da Revolução Russa e do Socialismo. As informações foram organizadas de forma lógica e coerente, garantindo a fluidez da leitura.

6. Citação e referências: Todas as fontes utilizadas foram devidamente citadas no texto, seguindo as normas da ABNT, com o uso de citações diretas e indiretas. Além disso, as bibliografias completas foram apresentadas em uma lista no final do artigo, seguindo as regras de formatação estabelecidas pelas normas acadêmicas.

7. Revisão e edição: Após a redação do artigo, foi realizada uma revisão minuciosa para verificar a clareza, a coesão e a consistência do texto. Foram feitas correções gramaticais, ajustes de estilo e aprimoramentos na estrutura do artigo, garantindo sua qualidade e rigor acadêmico.

Essa metodologia de pesquisa permitiu uma abordagem sistemática e rigorosa da Revolução Russa e do Socialismo nos séculos XIX e XX, fundamentando o artigo em fontes confiáveis e estabelecendo uma estrutura coesa e organizada.

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Ideias socialistas

O termo "socialista" surgiu no século XIX, utilizado por pensadores como Robert Owen e Saint-Simon para descrever um modelo de organização social alternativo ao sistema capitalista industrial. Esses pensadores foram motivados pela terrível situação de desigualdade e exploração vivenciada pelos trabalhadores nas cidades inglesas do século XIX. A fome e as condições precárias de vida levaram à morte de muitas pessoas, mas a burguesia, que compunha os jurados nos inquéritos, frequentemente evitava reconhecer publicamente a responsabilidade dessas mortes causadas pela fome. Essa situação levou os operários ingleses a denunciarem o que chamavam de "assassinato social" praticado pela sociedade.

Diante dessa realidade social grave, os primeiros pensadores socialistas começaram a propor modelos alternativos de sociedade baseados em princípios como cooperação e função social da atividade produtiva, buscando superar a desigualdade e a exploração existentes.

Outra corrente que surgiu nesse período, conhecida como anarquismo, teve como um de seus principais expoentes Pierre Joseph Proudhon, que criticou a propriedade privada como um roubo. Mais tarde, Mikhail Bakunin introduziu a ideia de uma revolução violenta contra o sistema capitalista como meio de emancipação dos povos. O anarquismo defendia a ação política espontânea, sem um centro de comando como um partido.

No entanto, foi com o trabalho de Karl Marx e Friedrich Engels, no meio do século XIX, que surgiu uma nova concepção de socialismo, chamada de "socialismo científico". Eles diferenciaram sua abordagem da dos primeiros socialistas, que chamaram de "utópicos", pois estes apenas imaginavam como seria uma sociedade ideal, sem uma análise concreta e científica dos problemas da sociedade capitalista.

O marxismo, como é conhecido hoje, se baseia na análise da sociedade capitalista feita por Marx e Engels. Segundo eles, a sociedade capitalista é caracterizada por uma luta de classes entre os detentores dos meios de produção e os que não possuem esses meios e dependem da venda de sua força de trabalho para sobreviver. A burguesia, detentora dos meios de produção, explora o trabalho do proletariado em benefício próprio.

Para o marxismo, a solução para os problemas sociais do mundo capitalista seria a apropriação dos meios de produção pelos próprios trabalhadores. A ação revolucionária consistiria nessa tomada de controle dos meios de produção. O "Manifesto Comunista" de 1848, escrito por Marx e Engels, explora a ideia de que a queda da burguesia é uma consequência inevitável do desenvolvimento capitalista, uma vez que o crescimento do capitalismo industrial leva ao crescimento dos operários, seus principais opositores.

A história do movimento socialista e comunista do século XIX é complexa, com diferentes correntes, divisões e debates internos. No entanto, é importante compreender a relação entre o contexto histórico da época, com o desenvolvimento do capitalismo e as condições precárias dos trabalhadores, e o surgimento dessas ideias. Além disso, é relevante investigar por que o marxismo se tornou um movimento político bem-sucedido na Rússia, culminando na revolução socialista de 1917.

A Modernização e a Crise na Rússia Imperial: Um Estudo Histórico

Para compreender como a Revolução Socialista ocorreu na Rússia em 1917, é necessário voltar ao século XVIII, quando o país iniciou um processo de aproximação com o Ocidente. Esse movimento de modernização e as consequentes transformações socioeconômicas que ocorreram ao longo do século XIX prepararam o terreno para os eventos revolucionários que moldaram o futuro da nação russa.

- O Czar Pedro, o Grande e a Modernização:

No século XVIII, o czar Pedro, o Grande, da dinastia Romanov, desempenhou um papel fundamental na modernização da Rússia. Inspirado pelo modelo absolutista francês, ele promoveu uma abordagem expansionista e transferiu a capital de Moscou para São Petersburgo. Pedro também estimulou o desenvolvimento econômico e construiu o Palácio de Inverno, inspirado no Palácio de Versalhes. Seu governo marcou o início de uma tradição política que caracterizou a história russa, caracterizada por um poder autocrático e uma vigilância intensa.

- O Desafio do Governo Centralizado:

Ao longo do século XIX, a Rússia buscou se aproximar do capitalismo europeu, reconhecendo a necessidade de modernização. No entanto, o país enfrentou desafios significativos devido ao seu sistema político altamente centralizado e à vasta extensão territorial, abrangendo múltiplas nações e etnias. O governo russo era caracterizado por um poder autocrático, difícil de ser exercido de maneira eficaz em um império tão diversificado. Essa realidade de governar um país colossal contribuiu para a "paranoia" e a vigilância extrema dos líderes políticos russos, características que persistiram ao longo da história do país.

- As Transformações Sociais:

Alexandre II
Alexandre II

No século XIX, a Rússia enfrentou mudanças significativas em sua estrutura social. O fim do regime de servidão em 1861, promovido pelo czar Alexandre II, libertou os camponeses das terras de seus senhores feudais. Embora isso não tenha eliminado as desigualdades sociais, criou condições para a migração de parte da população rural para as cidades em busca de melhores condições de vida. Paralelamente, a Rússia buscou uma revolução industrial, estabelecendo parcerias com o capital inglês e desenvolvendo centros urbanos industriais.

- Surgimento do Movimento Operário e a Criação do POSDR:

O rápido desenvolvimento das forças produtivas na Rússia estimulou o surgimento de um movimento operário nas cidades. Greves e paralisações tornaram-se frequentes nas últimas décadas do século XIX, enquanto o país ainda era governado por um regime absolutista, o que resultava em uma repressão feroz. Nesse contexto, o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR) emergiu como a principal agremiação de esquerda. No entanto, divergências políticas internas dividiram o partido em duas correntes: os mencheviques, que defendiam uma abordagem mais "espontânea" da revolução, e os bolcheviques, liderados por Lenin, que acreditavam em uma estrutura partidária centralizada e disciplinada.

A história da Rússia Imperial foi marcada por um processo de modernização, transformações sociais e um governo altamente centralizado. Esses elementos criaram as condições propícias para o surgimento de movimentos revolucionários, culminando na Revolução Socialista de 1917. A divisão entre mencheviques e bolcheviques estabeleceu as bases para o futuro da esquerda russa e teve um papel fundamental nos acontecimentos históricos que moldaram o país. A compreensão desses eventos é crucial para analisar a trajetória da Rússia e suas implicações políticas e sociais até os dias atuais.

A "prévia" de 1905

No início do século XX, ocorreu uma oportunidade revolucionária que teve um impacto significativo na Rússia. Durante esse período, a Rússia e o Japão se envolveram em um conflito imperialista, disputando o controle da Coreia e da Manchúria, uma região ao norte da China. Os japoneses buscavam adquirir territórios e obter acesso à Ásia, enquanto os russos almejavam uma saída para o mar que não ficasse congelada durante parte do ano.

Essa rivalidade de interesses resultou na Guerra Russo-Japonesa, que ocorreu entre 1904 e 1905. A Rússia enfrentava dificuldades e estava perdendo a guerra. Além disso, as condições de vida no país se deterioraram consideravelmente, com escassez de alimentos e exploração ainda mais intensa dos trabalhadores nas indústrias para suprir as necessidades do exército.

Em 1905, uma greve geral teve início em São Petersburgo. Os trabalhadores organizaram uma manifestação pacífica, com a presença maciça de líderes religiosos, com o objetivo de entregar uma petição ao czar Nicolau II, membro da dinastia Romanov, exigindo melhores condições de vida. No entanto, quando os manifestantes se reuniram em frente ao Palácio de Inverno, a guarda imperial abriu fogo e matou quase 100 pessoas. Esse evento ficou conhecido como "Domingo Sangrento" e chocou toda a população russa, desencadeando um ciclo de greves e revoltas violentas conhecido como "Revolução de 1905".

Nesse contexto revolucionário, os operários começaram a se organizar em conselhos, conhecidos como sovietes. Os sovietes eram pequenas assembleias em que os próprios trabalhadores elegiam seus representantes. Esses espaços permitiam que os trabalhadores se informassem, debatessem assuntos políticos e, principalmente, se mantivessem organizados para futuras ações. Os sovietes se espalharam rapidamente por várias cidades e até mesmo entre as forças armadas, desempenhando um papel fundamental na organização da revolução que ocorreria em 1917.

Durante esse período, o jornalista norte-americano John Reed escreveu um livro-reportagem chamado "Dez dias que abalaram o mundo", que se tornou uma das obras mais famosas sobre a Revolução Russa. Em seu prefácio, Reed descreve os sovietes como um exemplo admirável do talento organizacional do povo russo, destacando que, embora talvez não possuíssem a mesma experiência política dos ocidentais, estavam perfeitamente preparados em termos de organização de massas.

Diante dessa situação e da derrota na guerra, o czar Nicolau II foi obrigado a ceder. Ele decidiu convocar as tropas de volta do leste e prometeu convocar a Duma, o parlamento russo, para elaborar uma Constituição. Essa promessa implicava uma abertura democrática que acabaria com o absolutismo e transformaria a Rússia em uma monarquia parlamentar.

Essas promessas foram suficientes para conter a Revolução de 1905. No entanto, assim que a situação se normalizou em 1906, o czar mostrou que tudo não passava de uma ilusão. Embora a Duma continuasse existindo, ela era totalmente controlada pelo monarca, e os trabalhos constitucionais foram interrompidos. Com o exército de volta à capital, o czar ordenou a perseguição aos líderes revolucionários, levando muitos deles ao exílio.

Um dos episódios mais famosos da Revolução de 1905 foi a revolta do navio couraçado Potemkin, pertencente à frota do Mar Negro. Essa revolta ameaçou bombardear a cidade de Odessa em protesto contra a política do czar. O evento foi tão significativo que levou Nicolau II a assinar o Tratado de Portsmouth, encerrando a Guerra Russo-Japonesa. O filme "Encouraçado Potemkin" (1925), do cineasta soviético Serguei Eisenstein, retratou esse evento e é considerado uma das obras mais influentes da história do cinema.

Lenin classificou a Revolução de 1905 como um "ensaio". Ela evidenciou que a população russa ainda não possuía a consciência política e o nível de organização necessários para promover uma mudança social significativa. Em certo sentido, o povo russo foi iludido, acreditando que o czar poderia ser seu "aliado", quando, na verdade, ele era o próprio inimigo.

No entanto, essa experiência serviu como uma importante lição, e a situação seria muito diferente quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914.

A Revolução de 1917: A Ascensão do Poder Popular na Rússia

A Revolução Russa de 1917 foi um evento marcante na história do país, com repercussões tanto no cenário interno quanto no internacional. Para compreender suas causas e desdobramentos, é fundamental analisar o contexto em que ocorreu.

A Rússia estava envolvida na Grande Guerra como parte da Tríplice Entente, juntamente com a Inglaterra e a França, combatendo as potências centrais lideradas pela Alemanha e pelo Império Austro-Húngaro. Apesar de ter conseguido lidar com os turcos e os austríacos com certa eficácia, ficou claro, a partir de 1915, que o exército russo não seria capaz de enfrentar o avanço alemão no front Oriental.

A guerra trouxe consequências desastrosas para a Rússia. A mortalidade entre os soldados foi altíssima, o que gerou escassez de mão de obra agrícola devido à maioria camponesa entre os combatentes. Essa escassez, somada às circunstâncias excepcionais da guerra, resultou em fome e crises de abastecimento nas cidades. O czar Nicolau II, pressionado pela necessidade de vencer os alemães e pelos tratados militares com a Inglaterra, não podia simplesmente retirar seu império do conflito. Assim, mais jovens eram enviados para a morte a cada mês.

Em 1916, a insatisfação contra o governo czarista crescia nas cidades russas, o que culminou na Revolução de Fevereiro de 1917. O czar Nicolau II foi deposto e o poder passou para as mãos da Duma, um governo provisório que tinha como primeira tarefa redigir uma nova Constituição.

Nesse contexto, as forças políticas na Rússia se dividiam em dois projetos básicos. O governo provisório buscava uma linha liberal para a Rússia pós-czarista, inspirando-se no modelo inglês, e admitia até mesmo a permanência dos imperadores Romanov no poder desde que governassem sob uma Constituição. Por outro lado, os socialistas mais radicais, em sua maioria bolcheviques, defendiam pautas populares como reforma agrária, melhores condições de trabalho e autonomia para os povos do império. Os bolcheviques, liderados por Lenin, enfatizavam a necessidade de retirar a Rússia da Primeira Guerra Mundial, considerando-a uma guerra imperialista.

Em abril de 1917, Lenin retornou do exílio e lançou as "Teses de Abril", nas quais denunciava o caráter antipopular do governo provisório e defendia as demandas dos trabalhadores. Essas ideias conquistaram apoio popular, principalmente entre os trabalhadores organizados nos sovietes, como o de Petrogrado. Gradualmente, a opinião pública se voltou contra o governo provisório, que não atendia às expectativas da população.

A insatisfação popular culminou na Revolução Bolchevique de outubro de 1917, na qual os partidários de Lenin tomaram o poder e fecharam a Duma.

Lenin
Lenin

A transição política e social durante a Revolução Russa de 1917

Após a conclusão da Guerra Civil em 1921, os comunistas enfrentaram um desafio significativo: reconstruir uma Rússia devastada pela guerra. O país estava em ruínas e era necessário revitalizar a economia. Nesse contexto, os líderes comunistas adotaram uma estratégia conhecida como Nova Política Econômica (NEP).

A NEP visava reintroduzir elementos da economia de mercado na Rússia socialista como uma forma de impulsionar a recuperação econômica. No campo, os camponeses foram autorizados a possuir pequenas propriedades rurais, contratar mão de obra e alugá-las. Esse grupo de pequenos e médios proprietários rurais ficou conhecido como kulaks.

Nas cidades, pequenas empresas e comércios foram novamente permitidos, enquanto setores estratégicos permaneceram sob controle estatal, como bancos, indústria pesada, petróleo e indústria bélica. Essa abertura econômica permitiu a contratação de trabalhadores assalariados, captação de recursos estrangeiros e livre comércio, especialmente no setor de bens de consumo.

A NEP, proposta por Lenin, tinha como objetivo impulsionar o desenvolvimento socialista, permitindo que as conquistas sociais de 1917 se consolidassem. Essa estratégia foi resumida pela frase "um passo para trás para dar dois passos à frente". A classe de empresários emergente durante esse período ficou conhecida como nepmen.

Além da mudança econômica, em 1922, a Rússia socialista adotou uma nova Constituição e estabeleceu uma nova federação composta por várias nações do antigo Império Russo, como Ucrânia e Bielorrússia. Essa federação recebeu o nome de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se tornaria uma potência mundial, expandindo seu território ao longo dos anos, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. A URSS existiu oficialmente até 1991.

A NEP vigorou de 1921 a 1928, mas o falecimento de Lenin em 1924 levou a uma situação complexa no Partido Comunista. Surgiram dois candidatos principais para sucedê-lo como Presidente do Conselho do Partido: Trotsky e Stalin.

Trotsky, Lenin, Kamenev (1919)
Trotsky, Lenin, Kamenev (1919)

Trotsky, um líder respeitado e intelectual proeminente, defendia a ideia de "revolução permanente", que pregava a extensão da revolução socialista além das fronteiras nacionais. Por outro lado, Stalin defendia a ideia do "socialismo em um só país", argumentando que a URSS deveria se concentrar em se tornar uma nação socialista autossuficiente, adiando a ideia de uma revolução global.

Stalin conseguiu angariar mais apoio no partido, principalmente devido ao contexto desafiador que a URSS enfrentava no final dos anos 1920. Em 1927, uma crise de abastecimento de alimentos levou Stalin a defender a coletivização forçada das terras, a fim de implantar completamente o socialismo no país e resolver o problema. Essa posição acabou contribuindo para sua vitória na disputa interna do partido, assumindo o comando do PCUS em 1928.

Trotsky, por sua vez, foi perseguido e teve que se exilar em vários países até se estabelecer no México. No entanto, em 1940, ele foi assassinado em sua própria casa por um agente de Stalin, pondo fim à sua trajetória política.

Esses eventos marcaram uma importante transição na história da União Soviética, tanto do ponto de vista econômico, com a implementação da NEP, quanto do ponto de vista político, com a ascensão de Stalin ao poder.

A Revolução Russa: A Era do Czar Vermelho

As decisões econômicas e políticas de Stalin: Uma análise mais detalhada

Do ponto de vista econômico, Stalin buscou desmantelar a Nova Política Econômica (NEP) assim que assumiu o poder. Sua estratégia girava em torno da implementação dos Planos Quinquenais, que eram planos governamentais elaborados para orientar o desenvolvimento de cada setor da economia ao longo de um período de cinco anos.

O primeiro Plano Quinquenal entrou em vigor em 1929 e tinha dois objetivos principais. O primeiro objetivo era a coletivização da agricultura, que envolvia a proibição de qualquer forma de propriedade rural privada, incluindo pequenas fazendas familiares. Consequentemente, os kulaks, uma classe de camponeses prósperos, tornaram-se alvos principais do governo.

Os camponeses foram forçados a trabalhar em fazendas estatais, e grandes grupos populacionais foram realocados para fornecer mão de obra para essas terras. No entanto, como não havia incentivo para a produtividade, uma vez que os trabalhadores recebiam salários fixos e baixos, a produção agrícola despencou, resultando em severas fomes em 1932 e 1933. A região mais afetada por essas fomes foi a Ucrânia.

Você sabia?

Um dos episódios mais trágicos do stalinismo foi a "Grande Fome na Ucrânia", que ocorreu entre 1932 e 1933 como resultado da política de coletivização. As estimativas do número de mortos variam, mas pelo menos 2,5 milhões de pessoas pereceram. Para muitos historiadores, essa tragédia foi, na verdade, um genocídio, pois o governo stalinista confiscou alimentos dos ucranianos e impediu que suprimentos de emergência chegassem à região. O evento ficou conhecido como Holodomor, uma palavra ucraniana que significa "morte por fome".

O segundo objetivo do Plano Quinquenal era a rápida industrialização da URSS. Stalin deu prioridade a setores como mineração, bens de produção (ferro, aço, combustíveis), energia, infraestrutura (pontes, represas, ferrovias, estradas) e, posteriormente, à indústria de defesa.

Esse período testemunhou um crescimento econômico espetacular. Poucas nações alcançaram um salto comparável: em aproximadamente dez a quinze anos, um vasto país como a URSS fez a transição de uma sociedade agrária para se tornar uma das principais potências mundiais, em pé de igualdade com os Estados Unidos e os países europeus.

No entanto, essa transformação não foi um golpe de sorte. A exploração da mão de obra foi brutal, embora uma parcela significativa da população russa apoiasse as ações do governo, considerando-as um "preço necessário" para colher recompensas futuras. O financiamento desse empreendimento, incluindo a importação de tecnologia estrangeira, dependia de impostos exorbitantes impostos aos camponeses. Além disso, como todo o Plano Quinquenal focava na indústria pesada, as cidades continuavam enfrentando escassez de bens de consumo básicos, como roupas, papel higiênico, lâmpadas e alimentos.

Esse foi o desempenho econômico do stalinismo. Mas e suas implicações políticas?

O período que se iniciou em 1928 foi marcado pelo "Terror Vermelho". Stalin iniciou purgas massivas de todos os líderes bolcheviques que se opunham a ele ou cuja presença representava uma ameaça à sua liderança, incluindo revolucionários da antiga guarda. O evento mais simbólico dessa era foram os Julgamentos de Moscou, que ocorreram entre 1936 e 1938. Esses julgamentos envolveram um tribunal que, usando provas fabricadas e falsas confissões, julgou e condenou uma série de dissidentes comunistas.

O destino desses dissidentes, famosos ou não, era a morte ou campos de trabalho forçado eufemisticamente chamados de "campos de reeducação" - o sistema gulag. Os campos mais infames estavam localizados na Sibéria, no extremo norte da Rússia, onde prevaleciam condições climáticas severas. Curiosamente, Stalin ele mesmo havia sido preso em um desses campos durante o regime czarista.

A repressão do Terror Vermelho na década de 1930 foi possível graças a uma força policial secreta ativa que monitorava os cidadãos e incentivava a denúncia de potenciais "traidores do socialismo", mesmo entre amigos, vizinhos e membros da família. No auge da era stalinista, essa força era conhecida como NKVD, o Comissariado do Povo para Assuntos Internos, precursor do infame KGB.

O historiador Orlando Figes, outro especialista em história russa, fornece uma dimensão numérica para o "Terror Vermelho":

Stalin em 1937
Stalin em 1937

"O Grande Terror foi um evento extraordinário mesmo pelos padrões stalinistas. Não foi uma onda rotineira de prisões em massa, como as que varreram o país nos primeiros anos do reinado de Stalin, mas sim uma política calculada de assassinato em massa. Não satisfeito em prender 'inimigos do povo', reais ou imaginários, Stalin ordenou que a polícia retirasse pessoas de prisões e campos de trabalho e as executasse. Nos anos de 1937 e 1938, de acordo com estatísticas incompletas, um total impressionante de pelo menos 681.692 pessoas, provavelmente muitas mais, foram executadas por 'crimes contra o Estado'. Durante o mesmo período, a população dos campos de trabalho e colônias do Gulag aumentou de 1.196.369 para 1.881.570. Outros períodos da história soviética também testemunharam ondas de prisões em massa de 'inimigos', mas nunca tantas vítimas foram mortas. Mais da metade das pessoas presas durante o Grande Terror foram fuziladas, em comparação com menos de 10% das que foram presas em 1930, o segundo pico mais alto de execuções no período de Stalin." (FIGES, Orlando. The Whisperers: Vida Privada na Rússia de Stalin. Rio de Janeiro: Record, 2010, pp. 282-283).

O regime stalinista também dependia fortemente da propaganda política aberta e da promoção da figura do "grande líder", assim como outros regimes chamados de "totalitários", como a Alemanha nazista. Especialmente durante a década de 1940, quando as crises alimentares estavam sob controle, as principais purgas do "Terror Vermelho" haviam passado e os efeitos notáveis do plano de industrialização eram visíveis, a imagem de Stalin foi amplamente divulgada por meio da propaganda oficial. Ele recebeu epítetos como o "brilhante guia dos povos", o "pai do povo" e o "maior gênio militar da história". As palavras do historiador John Gooding lançam luz sobre isso:

"Sob Stalin, o regime adotou uma guinada profundamente russa, embora antbolchevique, em direção à restauração da liderança carismática. Stalin obteve tanto sucesso que, até o final da década de 1930, grande parte da população havia se tornado miseravelmente dependente dele. O objetivo de Lenin de obter apoio popular genuíno e uma ligação real entre o povo e seus governantes havia sido alcançado, mas alcançado por meio de meios que tinham pouco a ver com o socialismo ou com as ambições originais dos bolcheviques." (citado em BROWN, Archie. A Ascensão e Queda do Comunismo. Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 96).

Sem a combinação de uma repressão ditatorial feroz ao dissenso político e propaganda aberta promovendo o "grande líder", o crescimento da União Soviética durante a era stalinista provavelmente teria sido impossível. As consequências dessa política, que também tiveram implicações durante a Segunda Guerra Mundial, serão exploradas em unidades futuras.

Por enquanto, é importante reconhecer o caminho longo e tortuoso que o socialismo percorreu na Rússia entre os séculos XIX e XX. O destino do país foi transformado para sempre - hoje, analistas percebem amplamente ecos do stalinismo na política personalista e autoritária do país, apesar de sua democracia formal. Além disso, a polarização entre a URSS, uma potência socialista construída por Stalin por meio de grande sofrimento, e o mundo capitalista liderado pelos Estados Unidos moldou todo o século XX, especialmente durante a Guerra Fria. Estudar a trajetória do "socialismo real" na Rússia ilumina o caminho que o mundo percorreu para se tornar o que é hoje.

Síntese

Chegamos, assim, ao desfecho desta reflexão que nos conduziu por uma jornada cativante através dos séculos XIX e XX, desvendando os eventos cruciais que moldaram a trajetória da humanidade. Ao mergulharmos nas origens da Revolução Russa e ao explorarmos a ascensão do socialismo, compreendemos as complexidades e os desafios enfrentados por esse movimento ao assumir o poder e se desviar de seus ideais iniciais, sobretudo sob a influência dominadora de Stalin e as exigências impostas pela guerra.

Neste percurso intelectual, tivemos a oportunidade de explorar diversas facetas dessa época histórica. Estudamos os movimentos críticos ao capitalismo, suas bases teóricas e suas propostas transformadoras. Analisamos os dilemas enfrentados pela Rússia pré-revolucionária e as crises do czarismo que pavimentaram o caminho para o despertar da consciência revolucionária. Compreendemos a importância da Guerra Russo-Japonesa como um catalisador dos eventos que culminariam na revolução de 1905. E, por fim, testemunhamos os acontecimentos marcantes da Revolução de 1917, cujas consequências abalariam profundamente a Rússia e o mundo.

Ao examinarmos as propostas e ações do stalinismo, nos deparamos com um período caracterizado por um governo autoritário e repressivo. Essa análise crítica nos permitiu compreender não apenas as contradições inerentes ao regime, mas também as implicações históricas e os desafios que surgiram durante esse período.

Com base nesses estudos, concluímos que a história da Rússia do século XIX e XX desempenhou um papel fundamental na formação do mundo contemporâneo. As transformações sociais, políticas e econômicas desencadeadas pela Revolução Russa e pela ascensão do socialismo deixaram marcas profundas na história e influenciaram as dinâmicas geopolíticas do século XX.

Ao encerrarmos essa etapa, reforçamos a importância do conhecimento histórico na compreensão do presente e na construção de um futuro mais consciente e igualitário. As lições extraídas desses períodos tumultuados da história nos alertam para os perigos do autoritarismo, da opressão e da corrupção de ideais nobres. Devemos estar vigilantes e comprometidos com os valores da liberdade, justiça e dignidade humana, a fim de evitar repetições sombrias do passado.

Assim, encerramos essa análise abrangente, munidos de um entendimento mais profundo das complexidades históricas que moldaram nosso mundo atual. Que este conhecimento nos inspire a enfrentar os desafios do presente com sabedoria e a buscar um futuro mais promissor, baseado em princípios humanitários e no respeito à diversidade e à liberdade.

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