Em sua forma mais simples, o ateísmo é a ausência de crença em divindades.
Símbolo usado por ateístas |
Origem do Termo Ateísmo
O termo ateísmo tem origem no grego antigo, a partir da
palavra atheos, que significa "sem Deus". O termo foi aplicado com
uma conotação negativa às pessoas que rejeitavam os deuses adorados pela
maioria da sociedade. Com o tempo, o termo começou a ser usado de forma mais
ampla para descrever aqueles que não acreditavam em qualquer divindade.
No século XVIII, os primeiros indivíduos começaram a se
identificar como ateus, e o ateísmo começou a se espalhar em toda a Europa.
Desde então, o ateísmo tem sido objeto de muitos debates e controvérsias.
O Ateísmo e o Teísmo
O ateísmo é o oposto do teísmo. O teísmo é a crença em pelo
menos uma divindade. O teísmo é encontrado em muitas religiões, incluindo o
cristianismo, o islamismo e o judaísmo. O teísmo também pode ser encontrado em
religiões menos conhecidas, como o zoroastrismo e o shintoísmo.
Os ateus, por outro lado, não acreditam na existência de
qualquer divindade. Os ateus tendem a ser céticos em relação a afirmações
sobrenaturais, citando a falta de evidências empíricas que provem sua
existência. Os ateus têm oferecido vários argumentos para não acreditar em
qualquer tipo de divindade.
Argumentos Ateus
O complexo ideológico ateísta inclui uma série de
argumentos filosóficos, sociais e históricos. Abaixo estão alguns dos
argumentos mais comuns usados pelos ateus:
1. O problema do mal
Este é um argumento comum usado pelos ateus. O argumento
afirma que, se Deus é todo-poderoso e todo-bondoso, ele não permitiria o mal e
o sofrimento no mundo. Como o mal e o sofrimento existem, o argumento conclui
que Deus não existe.
2. O argumento das revelações inconsistentes
Este argumento afirma que as diferentes religiões e
tradições espirituais oferecem revelações inconsistentes e muitas vezes
contraditórias sobre a natureza de Deus. Como essas revelações não podem ser
todas verdadeiras, o argumento conclui que a ideia de Deus é uma construção
humana.
3. O argumento da descrença
Este argumento afirma que a ausência de evidências
empíricas para a existência de Deus é evidência suficiente para a descrença. Se
não há evidências para algo, então não há razão para acreditar que esse algo
existe.
O ateísmo e sua evolução ao longo do tempo
Desde os tempos antigos, a humanidade sempre buscou
compreender o mundo ao seu redor e encontrar respostas para as grandes questões
existenciais. Uma dessas questões diz respeito à existência de Deus, ou deuses,
e à crença em sua existência. Ao longo da história, a crença em divindades foi
predominante em diversas culturas e religiões, mas também houve aqueles que
questionaram e negaram a existência de Deus. É sobre esse último grupo que
falaremos neste artigo: os ateus.
O termo "ateu" deriva do grego antigo ἄθεος
(atheos), que significa "sem deus". Inicialmente, o termo era
utilizado para se referir a pessoas que cortavam relações com os deuses ou
negavam sua existência. No entanto, a palavra passou a ter um sentido mais
negativo no debate entre os primeiros cristãos e os helênicos. Durante os
séculos XVI e XVII, a palavra "ateu" ainda era reservada
exclusivamente para a polêmica e era considerada um insulto. Não era comum
alguém se autodenominar como ateu.
Somente no final do século XVIII, o termo
"ateísmo" começou a ser utilizado para descrever a descrença no deus
monoteísta abraâmico. Com a globalização, o termo passou a ser utilizado para
descrever a descrença em todos os deuses, embora ainda haja a tendência de se
referir ao ateísmo como simples "descrença em Deus" na sociedade
ocidental.
Nos últimos anos, tem havido um movimento em certos
círculos filosóficos para redefinir o ateísmo como a "ausência de crença
em divindades", e não como uma crença em si mesmo. Essa definição tem se
popularizado em comunidades ateístas, mas sua utilização ainda é limitada.
O ateísmo, ao longo da história, tem sido alvo de críticas
e condenações por parte de diversos grupos religiosos. Ainda hoje, muitos
religiosos veem os ateus como ameaças à sociedade e como indivíduos imorais e
sem valores. Essa visão negativa dos ateus pode ser atribuída, em parte, à
associação histórica do ateísmo com regimes políticos totalitários, como o
comunismo soviético.
No entanto, é importante ressaltar que a descrença em Deus
não é sinônimo de imoralidade ou falta de valores. Existem ateus que se pautam
em valores éticos e morais e que contribuem para a sociedade de maneira
positiva. Além disso, a crença em Deus não é garantia de moralidade, como
evidenciado por diversos casos de líderes religiosos que cometeram atos imorais
e criminosos.
A descrença em Deus pode ser motivada por diversos fatores.
Alguns ateus afirmam que a falta de evidências concretas da existência de Deus
é o principal motivo para sua descrença. Outros argumentam que a existência de
tanto sofrimento e maldade no mundo é incompatível com a ideia de existir um
Deus.
O ateísmo é um conceito complexo que tem sido objeto de
muita controvérsia e ambiguidade ao longo dos anos. A dificuldade em definir
claramente as palavras "divindade" e "Deus" levou a uma
multiplicidade de concepções conflituosas sobre a aplicabilidade do ateísmo.
Devido a isso, muitos não conseguem chegar a um consenso sobre o que realmente
significa ser ateu.
Historicamente, o ateísmo foi considerado como uma falta de
crença em qualquer divindade. No entanto, com o passar do tempo, a compreensão
da palavra "teísmo" foi expandida para incluir crenças em qualquer
tipo de divindade. Isso significa que uma pessoa pode ser considerada ateia se
rejeitar a existência de quaisquer conceitos espirituais, sobrenaturais ou
transcendentais, como os do budismo, hinduísmo, jainismo e taoísmo.
No entanto, as definições do ateísmo também variam em
relação ao grau de consideração que uma pessoa deve dar à ideia de Deus para
ser considerado um ateu. Algumas definições amplas incluem qualquer pessoa que
não tenha sido exposta a ideias teístas, incluindo recém-nascidos e crianças
com capacidade conceitual, mas que ainda não foram apresentadas às questões
envolvidas. Outras definições exigem uma rejeição consciente da ideia de Deus
para ser considerado ateu.
Essas diferentes definições levaram à criação de dois tipos
principais de ateísmo: ateísmo implícito e ateísmo explícito. O ateísmo
implícito refere-se à ausência de crença teísta sem uma rejeição consciente
dela. Já o ateísmo explícito se refere à descrença consciente e rejeição ativa
da ideia de Deus.
- A história de Jó: Fé e Perseverança
Ateísmo Implícito
O ateísmo implícito, também conhecido como ateísmo
negativo, refere-se à falta de crença teísta sem a necessidade de uma rejeição
consciente dela. Em outras palavras, uma pessoa que nunca ouviu falar em Deus
ou não tem uma opinião sobre a existência ou inexistência de Deus é considerada
um ateu implícito. Esta definição incluiria todos os recém-nascidos e crianças
pequenas que ainda não foram expostas a ideias teístas.
O termo "ateísmo implícito" foi cunhado pelo
escritor americano George H. Smith em 1979. Ele argumentou que a definição de
ateísmo deveria incluir todas as pessoas que não acreditam em Deus,
independentemente de sua consciência ou rejeição consciente da ideia. Smith
afirmou que uma pessoa que não está familiarizada com o teísmo é um ateu porque
não acredita em Deus. Isso incluiria crianças que ainda não foram expostas às
questões envolvidas na discussão sobre a existência de Deus.
No entanto, a definição de Smith tem sido objeto de
críticas. O filósofo Ernest Nagel, por exemplo, argumentou que a ausência de
crença teísta não é suficiente para caracterizar alguém como ateu, já que mesmo
quem nunca ouviu falar de Deus pode não ser ateu, mas sim ignorante em relação
a essa questão. Nagel defende que o ateísmo deve ser definido como a crença
positiva na inexistência de Deus ou divindades, e não apenas como a ausência de
crença teísta.
Além disso, há quem defenda que o ateísmo implícito não é
uma categoria coerente, já que não é possível afirmar que alguém é ateu sem que
haja uma conscientização ou reflexão sobre a existência de Deus ou divindades.
O teólogo e filósofo William Lane Craig, por exemplo, argumenta que a ausência
de crença teísta não é suficiente para caracterizar alguém como ateu, e que o
ateísmo só pode ser considerado como uma posição consciente e justificada em
relação à existência de Deus.
Apesar das divergências em relação à definição do ateísmo,
é possível afirmar que se trata de uma posição filosófica que rejeita a
existência de Deus ou divindades, seja por uma falta de evidências ou
argumentos convincentes em favor de sua existência, ou por razões éticas,
políticas, culturais ou emocionais. O ateísmo pode se manifestar de diferentes
formas, desde um ateísmo explícito e militante, que busca criticar e refutar as
crenças teístas, até um ateísmo mais moderado, que busca conviver pacificamente
com as crenças religiosas, mas que não as compartilha.
Uma das principais críticas ao ateísmo é a de que se trata
de uma posição negativa, que se limita a rejeitar a existência de Deus ou
divindades, sem apresentar uma visão positiva de mundo ou uma ética que possa
substituir as crenças religiosas. No entanto, muitos ateus argumentam que é
possível construir uma visão de mundo e uma ética secular, baseadas em valores
como a razão, a liberdade, a igualdade, a solidariedade e a responsabilidade,
sem recorrer a Deus ou divindades.
Outra crítica comum ao ateísmo é a de que se trata de uma
posição arrogante e dogmática, que pretende ter a última palavra sobre questões
metafísicas e religiosas, sem levar em conta as experiências e as tradições
culturais e religiosas de diferentes povos e épocas. No entanto, muitos ateus
argumentam que a sua posição é baseada em argumentos racionais e empíricos, e
não em dogmas ou preconceitos, e que estão abertos ao diálogo e ao debate com
pessoas de diferentes crenças e convicções.
Diante disso, o ateísmo é uma posição filosófica que
rejeita a existência de Deus ou divindades, e que pode ser fundamentada em
diferentes argumentos e razões. Embora haja divergências em relação à definição
e aos critérios para caracterizar o ateísmo, é possível afirmar que se trata de
uma posição válida e legítima, que contribui para o debate público e para a
diversidade de opiniões e convicções em uma sociedade pluralista e democrática.
Na Apologia de Platão, Sócrates (imagem) foi acusado por Meleto de não acreditar nos deuses |
Ateísmo prático
O ateísmo é uma postura filosófica que rejeita a crença em
divindades e na existência de um Deus ou Deuses. Essa posição tem sido objeto
de debate há séculos, envolvendo questões como definições de divindade e Deus,
grau de consideração e até mesmo formas de prática do ateísmo.
Uma das formas de ateísmo é o apateísmo, também conhecido
como ateísmo prático ou pragmático. Nessa perspectiva, os indivíduos vivem como
se não existissem deuses e explicam fenômenos naturais sem recorrer ao divino.
A existência de deuses não é rejeitada, mas pode ser considerada desnecessária
ou inútil, pois os deuses não dão um propósito à vida nem influenciam a vida
cotidiana.
O naturalismo metodológico é uma forma de ateísmo prático
que tem implicações para a comunidade científica. Essa abordagem envolve a
adoção tácita ou assunção do naturalismo filosófico no método científico,
aceitando-o ou acreditando nele, total ou parcialmente. Em outras palavras, os
cientistas não consideram a possibilidade de fenômenos sobrenaturais ou divinos
como uma explicação para o mundo natural e usam apenas explicações baseadas em
causas naturais.
O ateísmo prático pode assumir várias formas. Uma delas é a
ausência de motivação religiosa, em que a crença em deuses não motiva a ação
moral, a ação religiosa ou qualquer outra forma de ação. Isso não significa que
ateus não sejam pessoas morais ou que não se engajem em ações éticas, mas sim
que sua ética e moralidade são baseadas em outros princípios que não a crença
em uma divindade.
Outra forma de ateísmo prático é a exclusão ativa do problema
dos deuses e da religião da busca intelectual e de ações concretas. Isso
significa que os ateus simplesmente não levam em consideração a existência de
deuses ou a religião em suas vidas cotidianas e decisões pessoais. Eles não
discutem ou debatem a existência de divindades ou os ensinamentos religiosos e
simplesmente não levam isso em conta em suas vidas.
A indiferença é outra forma de ateísmo prático. Nessa
abordagem, os ateus simplesmente não têm nenhum interesse pelos problemas dos
deuses e da religião. Eles não se preocupam com as questões relacionadas à
existência de divindades ou religião e não se engajam em debates ou discussões
sobre o assunto.
Por fim, o desconhecimento do conceito de uma divindade é
uma forma de ateísmo prático. Isso significa que os ateus simplesmente não têm
conhecimento ou entendimento do conceito de uma divindade ou Deus. Isso pode
acontecer em várias situações, como no caso de crianças pequenas que ainda não
foram expostas a ideias teístas ou em culturas em que não há uma tradição
religiosa dominante. O ateísmo prático é uma postura filosófica que tem ganhado
cada vez mais adeptos em todo o mundo.
Ateísmo teórico
O ateísmo teórico é uma posição filosófica que rejeita a
existência de deuses e se baseia em argumentos ontológicos e epistemológicos
para sustentar essa posição. Os ateus teóricos não acreditam em divindades ou
em qualquer tipo de ser sobrenatural que possa influenciar ou intervir no mundo
natural.
Os argumentos ontológicos são aqueles que questionam a existência
de Deus com base na lógica e na razão. Esses argumentos são baseados na ideia
de que a existência de Deus é desnecessária para explicar a existência do
universo e dos seres vivos. O argumento teleológico, por exemplo, argumenta que
a complexidade do universo e da vida é prova da existência de um criador. No
entanto, os ateus teóricos argumentam que essa complexidade pode ser explicada
por processos naturais e evolutivos, sem a necessidade de um criador divino.
Outro argumento comum utilizado pelos teístas é a Aposta de
Pascal, que argumenta que é melhor acreditar em Deus e arriscar estar errado do
que não acreditar e arriscar estar certo. No entanto, os ateus teóricos
argumentam que essa aposta é falha, já que ela se baseia em uma visão limitada
do divino e ignora a possibilidade de que existam outros deuses ou nenhuma
divindade.
Os argumentos epistemológicos, por outro lado, questionam a
possibilidade de se conhecer ou determinar a existência de Deus. O fundamento
do ateísmo epistemológico é o agnosticismo, que assume que não é possível ter
certeza sobre a existência de Deus. O agnosticismo assume várias formas,
incluindo a filosofia da imanência, o agnosticismo racionalista e o ceticismo.
A filosofia da imanência argumenta que a divindade é
inseparável do próprio mundo, incluindo a mente de uma pessoa, e que a
consciência de cada pessoa está bloqueada no sujeito. Isso impede qualquer
inferência objetiva sobre a crença em um deus ou a afirmação de sua existência.
O agnosticismo racionalista, por sua vez, só aceita o conhecimento deduzido com
a racionalidade humana e argumenta que os deuses não são perceptíveis como uma
questão de princípio, logo sua existência não pode ser conhecida. Já o
ceticismo, baseado nas ideias de Hume, afirma que a certeza sobre qualquer
coisa é impossível, o que significa que nunca se pode ter certeza sobre a
existência de um Deus.
No entanto, a inclusão do agnosticismo no ateísmo é
disputada, já que alguns argumentam que o agnosticismo pode ser uma visão
básica do mundo independente do ateísmo. Apesar disso, muitos ateus teóricos se
identificam como agnósticos e utilizam argumentos epistemológicos para
sustentar sua posição.
Além dos argumentos ontológicos e epistemológicos, o
ateísmo teórico também pode ser sustentado por argumentos éticos, políticos e
sociológicos. Argumentos éticos, por exemplo, podem argumentar que não é
necessário um ser divino para determinar a moralidade ou a ética.
Artigos sobre religião:
- Dalai Lama e sua relevância para a sociedade
Começo da idade média ao Renascimento
A relação entre religião e pensamento crítico tem sido
objeto de discussão ao longo da história, e o período que vai da Alta Idade
Média ao Renascimento na Europa é um exemplo claro dessa relação. Durante a
Alta Idade Média e Idade Média, a adoção de pontos de vista ateístas era rara
na Europa, e a metafísica, religião e teologia eram os interesses dominantes,
como indicado pela Inquisição medieval. No entanto, movimentos deste período
promoveram concepções heterodoxas do Deus cristão, incluindo pontos de vista
diferentes sobre a natureza, a transcendência e a cognoscibilidade de Deus.
Entre os indivíduos e grupos que mantinham pontos de vista
cristãos, mas com tendências panteístas, podemos citar João Escoto Erígena,
David de Dinant, Amalarico de Bena e os Irmãos do Livre Espírito. Nicolau de Cusa
sustentava uma forma de fideísmo que chamou de docta ignorantia
("ignorância aprendida"), afirmando que Deus está além da
categorização humana e que o nosso conhecimento de Deus é limitado à
conjectura. Guilherme de Ockham inspirou tendências antimetafísicas com a sua
limitação nominalista do conhecimento humano para objetos singulares e afirmou
que a essência divina não poderia ser intuitivamente ou racionalmente
apreendida pelo intelecto humano. Seguidores de Ockham, como João de Mirecourt
e Nicolau de Autrecourt, expandiram esta visão. A divisão resultante entre a fé
e a razão influenciou teólogos posteriores, como John Wycliffe, Jan Hus e
Martinho Lutero.
Com o Renascimento, houve uma ampliação do escopo da
investigação cética e do livre-pensamento. Indivíduos como Leonardo da Vinci
procuraram a experimentação como meio de explicação, e opuseram-se aos
argumentos de autoridade religiosa. Outros críticos da religião e da Igreja
durante este tempo incluíram Nicolau Maquiavel, Bonaventure des Périers e François
Rabelais.
Ao longo dos séculos, a relação entre religião e pensamento
crítico tem sido complexa e multifacetada. Alguns movimentos religiosos, como o
gnosticismo e o neoplatonismo, foram caracterizados por uma forte ênfase na
experiência pessoal e na busca do conhecimento. Outros, como o escolasticismo
medieval, enfatizaram a autoridade da tradição e da autoridade eclesiástica. O
Renascimento marcou um ponto de virada na história, pois trouxe consigo uma
mudança na maneira como as pessoas pensavam sobre a religião e a autoridade.
O Renascimento foi um período marcado pelo florescimento
das artes, das ciências e da filosofia. Foi também um momento de grande
questionamento e desafio às tradições estabelecidas, incluindo a religião e a autoridade
eclesiástica. Uma das principais características do Renascimento foi a ênfase
na razão e na experiência pessoal, em oposição à autoridade religiosa e à
tradição. Essa ênfase na razão e na experiência pessoal abriu caminho para o
surgimento do livre-pensamento e da investigação.
O Início do Modernismo e a Crítica ao
Cristianismo
O Modernismo, como movimento artístico, literário e
cultural, teve início no final do século XIX e se estendeu até o início do
século XX. Porém, seu embrião teve origem muito antes, nas eras do Renascimento
e da Reforma, que testemunharam um ressurgimento do fervor religioso. Isso se
evidenciou pela proliferação de novas ordens religiosas, confrarias e devoções
populares no mundo católico e pelo aparecimento de seitas protestantes cada vez
mais austeras, como os calvinistas.
Essa era de rivalidade interconfessional permitiu uma
abrangência ainda maior de especulação teológica e filosófica, muita da qual
viria a ser usada para promover uma visão de mundo religiosamente cética. A
crítica ao cristianismo tornou-se cada vez mais frequente nos séculos XVII e
XVIII, principalmente depois do Sismo de Lisboa de 1755. Especialmente na
França e na Inglaterra, parece ter existido um mal-estar religioso, de acordo
com fontes contemporâneas.
Alguns pensadores protestantes, como Thomas Hobbes,
defenderam uma filosofia materialista e um ceticismo em relação às ocorrências
sobrenaturais. Enquanto isso, o filósofo judeu holandês Baruch Spinoza rejeitou
a providência divina em favor de um naturalismo panenteísta. No final do século
XVII, o deísmo passou a ser abertamente defendido por intelectuais como John
Toland, que cunhou o termo "panteísta". Apesar de ridicularizarem o
cristianismo, muitos deístas desprezavam o ateísmo.
O primeiro ateu que se sabe ter jogado fora o manto do
deísmo, negando de modo contundente a existência de deuses, foi Jean Meslier,
um padre francês que viveu no início do século XVIII. Ele foi seguido por
outros pensadores abertamente ateus, como o Barão d'Holbach e Jacques-André
Naigeon. O filósofo David Hume desenvolveu uma epistemologia cética
fundamentada no empirismo, enfraquecendo a base metafísica da teologia natural.
Outros ateus que se destacaram no Iluminismo foram Denis Diderot e Jean le Rond
d'Alembert, autores do Encyclopédie, documento que reunia todos os
conhecimentos de até então.
A Revolução Francesa e a Ascensão do Ateísmo
A Revolução Francesa, iniciada em 1789, foi um dos eventos
mais importantes na história ocidental e marcou o início da era moderna. Ela tirou
o ateísmo e o deísmo anticlerical dos salões e colocou-os na esfera pública. Um
dos principais objetivos da Revolução Francesa foi uma reestruturação e
subordinação do clero em relação ao Estado através da Constituição Civil do
Clero. As tentativas para aplicá-la levaram à violência anticlerical e à
expulsão de muitos clérigos da França.
Passando pelo século XX
O surgimento do Modernismo no século XX não foi apenas uma
mudança estética nas artes e literatura, mas também um reflexo das mudanças
sociais e filosóficas que estavam ocorrendo na época. Uma dessas mudanças foi o
avanço do ateísmo, que encontrou reconhecimento em uma ampla variedade de
outras filosofias.
O ateísmo prático se tornou cada vez mais difundido no
século XX, à medida que a ciência e a razão eram cada vez mais valorizadas. As
filosofias mais amplas, como o existencialismo, o objetivismo, o humanismo
secular, o niilismo, o positivismo lógico, o anarquismo, o marxismo, o
feminismo e o movimento científico e racionalista geral, adotaram o pensamento
ateu como parte de sua ideologia.
O positivismo lógico e o cientificismo foram alguns dos
movimentos filosóficos que pavimentaram o caminho para o neopositivismo, a
filosofia analítica, o estruturalismo e o naturalismo. Essas escolas de pensamento
rejeitaram o racionalismo clássico e a metafísica em favor do empirismo estrito
e do nominalismo epistemológico. Bertrand Russell, um dos proponentes mais
influentes do neopositivismo, rejeitou enfaticamente a crença em Deus. Em seus
primeiros trabalhos, Ludwig Wittgenstein tentou separar a linguagem metafísica
e sobrenatural do discurso racional. A. J. Ayer afirmou a inverificabilidade e
a falta de sentido das afirmações religiosas, citando a sua adesão às ciências
empíricas. O estruturalismo aplicado de Lévi-Strauss ligou a origem da
linguagem religiosa ao subconsciente humano ao negar o seu significado
transcendental. John Niemeyer Findlay e J. J. C. Smart argumentaram que a
existência de Deus não é logicamente necessária.
Os naturalistas e monistas materialistas, tais como John
Dewey, consideravam o mundo natural como a base de tudo, negando a existência
de Deus ou a imortalidade. O pensamento ateu também teve um papel importante no
movimento feminista, à medida que as mulheres lutavam por sua igualdade social
e política, muitas vezes em oposição às tradições religiosas patriarcais.
O ateísmo no século XX não foi uma ideologia homogênea, mas
uma série de posições filosóficas distintas que compartilhavam a falta de
crença em Deus. Embora muitos dos principais proponentes do ateísmo fossem
filósofos e intelectuais, o pensamento ateu também se espalhou para as massas,
influenciando as opiniões políticas e sociais de muitas pessoas.
O ateísmo também teve um papel importante na literatura e
nas artes. O movimento modernista, por exemplo, frequentemente explorou temas
de descrença e desilusão, como pode ser visto em obras de escritores como
Samuel Beckett e Albert Camus. A arte moderna frequentemente refletia uma visão
cética do mundo, como pode ser visto no trabalho de diversos artistas da época.
Século XXl
O século XXI tem sido marcado por diversos avanços
tecnológicos, científicos, sociais e políticos. Contudo, um tema que tem
ganhado cada vez mais espaço no debate público é a questão da religião e do
ateísmo. Desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, o mundo tem passado por
profundas transformações, e isso tem afetado a relação das pessoas com a
religião e com o ateísmo.
De acordo com Timothy Shah, do Fórum Pew, desde a queda do
Muro de Berlim, o número de regimes ativamente anti-religiosos tem diminuído
consideravelmente. Ele constatou uma tendência mundial em todos os grandes
grupos religiosos, na qual movimentos baseados em Deus e na fé, em geral, estão
experimentando confiança e influência crescentes face aos movimentos e
ideologias seculares.
No entanto, Gregory S. Paul e Phil Zuckerman consideram
essa tendência um mito e sugerem que a situação real é muito mais complexa e
matizada. Segundo eles, embora haja um aumento da influência da religião em
algumas partes do mundo, em outras regiões o número de pessoas que se declaram
ateias ou agnósticas tem crescido.
Um exemplo disso é o movimento do Novo Ateísmo, que surgiu em
resposta a eventos como os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e as
tentativas de incluir ideias criacionistas no currículo de ciências das escolas
estadunidenses pelo Discovery Institute, com o apoio do então presidente George
W. Bush em 2005. Autores como Sam Harris, Daniel C. Dennett, Richard Dawkins,
Victor J. Stenger e Christopher Hitchens publicaram obras que se tornaram
best-sellers nos Estados Unidos e em todo o mundo, criticando a religião e
promovendo o ateísmo.
Um levantamento realizado em 2010 descobriu que aqueles que
se identificam como ateus ou agnósticos estão, em média, mais bem informados
sobre religião do que os seguidores das religiões principais. Descrentes
tiveram melhores pontuações respondendo a questões sobre os princípios centrais
das fés protestante e católica. Apenas fiéis mórmons e judeus tiveram tão boas
pontuações sobre religião quanto os ateus e agnósticos.
Esses resultados são significativos, pois mostram que o
ateísmo não é apenas a ausência de crença em Deus, mas também pode ser uma
posição fundamentada em conhecimento e entendimento sobre as religiões. Além
disso, o ateísmo também pode ser uma forma de crítica às religiões e ao seu
papel na sociedade.
No entanto, nem todos os ateus concordam com essa posição.
O Ateísmo 3.0 é um movimento dentro do ateísmo que não acredita na existência
de Deus, mas que diz que a religião tem sido benéfica para os indivíduos e para
a sociedade, e que eliminá-la é menos importante do que outras coisas que
precisam ser feitas.
Conclusão
Com base nas pesquisas sociais analisadas pelo sociólogo
Phil Zuckerman, pode-se afirmar que a irreligião, especialmente o ateísmo, está
correlacionada positivamente com o bem-estar social. Essa correlação se dá
porque os ateus são menos propensos a comportamentos nacionalistas,
preconceituosos, antissemitas, racistas, dogmáticos, etnocêntricos, mentalmente
fechados e autoritários. Além disso, estados com maiores percentuais de ateus
na população apresentam taxas de homicídios menores do que a média, enquanto a
maioria dos estados religiosos dos Estados Unidos tem taxas de homicídios
superiores à média.
Portanto, pode-se concluir que o ateísmo não é uma ameaça à
sociedade, como alguns argumentam, mas sim uma visão de mundo que pode
contribuir para um comportamento mais tolerante e pacífico. É importante
ressaltar que o ateísmo não é sinônimo de ausência de valores ou ética, como
muitas vezes é erroneamente associado. Pelo contrário, os ateus podem ter
sistemas éticos e morais tão robustos quanto aqueles baseados em religiões.
Por fim, é fundamental que as pessoas sejam respeitosas em
relação às escolhas religiosas e não-religiosas de cada indivíduo, permitindo
que todos tenham liberdade de expressão e de crença. O diálogo respeitoso e o
entendimento mútuo são importantes para a construção de uma sociedade mais
tolerante e inclusiva, onde as diferenças são valorizadas e respeitadas.
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