Materialismo: O Fantasma que Assombra a Sociedade Moderna

O tempo é uma possibilidade que influencia o pensamento, mas sua origem e mecanismos exatos ainda não são plenamente compreendidos.

Marx com a sua filha Jenny Caroline em 1869
Marx com a sua filha Jenny Caroline em 1869. Esta foto está em domínio público, extraída do Bettmann.

Resumo

Neste artigo, mergulhamos nas intricadas conexões neurais e nos treinamentos sensoriais que fundamentam o significado das palavras. Exploramos a interdependência entre percepção, linguagem e ações físicas, refletindo sobre a evolução do pensamento ao longo do tempo. Contemplamos os desafios do materialismo diante dos mistérios da matéria e a jornada contínua em busca de desvendar os segredos mais profundos do pensamento humano. Concluímos com a dança sublime entre o conhecido e o desconhecido, convocando-nos a desbravar os horizontes da compreensão e iluminar o enigma da existência.

Palavras-chave: pensamento carregado, conexões neurais, percepção, linguagem, ação física, treinamentos sensoriais, significado das palavras, evolução do pensamento, materialismo, mistérios da matéria, compreensão, conhecido e desconhecido, enigma da existência.

Introdução

Na vasta e complexa paisagem da filosofia, o materialismo emerge como um dos pilares fundamentais do pensamento ontológico. De suas raízes históricas às suas implicações contemporâneas, o materialismo nos convida a explorar a natureza essencial da existência e a compreender o mundo por meio de uma perspectiva intrinsecamente conectada à matéria.

O materialismo filosófico sustenta que a matéria é a única entidade fundamental da qual podemos afirmar a existência com certeza. Sob essa visão, todas as coisas, desde os objetos mais tangíveis aos processos mais abstratos, são compostas de matéria e derivam de interações materiais. Essa perspectiva monista da ontologia, distinta de concepções dualistas ou pluralistas, confere ao materialismo um lugar de destaque na compreensão da realidade dos fenômenos.

Ao contrário do idealismo e do metaficismo, o materialismo estabelece-se como uma posição diametralmente oposta. Embora seja possível encontrar pontos de interseção e correlação entre o materialismo e o idealismo em certos casos, a verdadeira antítese da materialidade reside na metafisicidade. Assim, o materialismo emerge como uma abordagem que busca ancorar a compreensão do mundo em fundamentos materiais e rejeitar a atribuição de um significado transcendental ou imaterial às experiências humanas.

Ao longo da história, o materialismo tem exercido um papel crucial no desenvolvimento do pensamento humano. Desde as antigas tradições filosóficas gregas até as abordagens contemporâneas, a compreensão da matéria e de sua relação com a existência tem sido objeto de intenso debate e investigação. Nessa jornada intelectual, filósofos, cientistas e pensadores têm explorado as implicações do materialismo em diversos campos do conhecimento, desde a física e a biologia até a sociologia e a psicologia.

À medida que adentramos a era moderna, o materialismo permanece como um tópico de relevância inegável. Em um mundo cada vez mais marcado pelo consumismo, pela obsessão pelas posses materiais e pela busca incessante por satisfação material, a reflexão sobre os fundamentos do materialismo torna-se ainda mais crucial. Ao compreendermos as implicações do materialismo em nossas vidas e em nossa sociedade, podemos buscar um equilíbrio entre as necessidades materiais e uma busca por significado mais profundo.

Neste artigo, iremos explorar as complexidades do materialismo, traçando sua trajetória histórica e examinando suas ramificações contemporâneas. Ao abordarmos a relação entre matéria e realidade, buscamos lançar luz sobre as tensões entre o materialismo e outras correntes filosóficas, bem como explorar suas implicações sociais, psicológicas e ambientais. Ao fazê-lo, pretendemos não apenas ampliar nossa compreensão do materialismo, mas também fomentar uma reflexão crítica sobre o papel que ele desempenha em nossas vidas e na construção de um futuro mais consciente e equilibrado.

Metodologia de Pesquisa

A metodologia adotada para a elaboração deste artigo envolveu diversas etapas de pesquisa e reflexão. Inicialmente, foi realizado um amplo levantamento bibliográfico, abrangendo livros, artigos científicos, dissertações e teses relacionados aos temas de interesse, como o pensamento carregado, conexões neurais, percepção, linguagem, ação física, treinamentos sensoriais, significado das palavras, evolução do pensamento, materialismo, mistérios da matéria, compreensão, conhecido e desconhecido, e enigma da existência.

A partir dessa extensa revisão da literatura, foi possível obter um panorama das teorias, conceitos e abordagens existentes nesse campo de estudo. Foram identificadas as principais ideias propostas por diferentes autores, bem como as lacunas e questões em aberto que mereciam uma reflexão mais aprofundada.

Com base nesse embasamento teórico, foi realizada uma análise crítica das informações coletadas, buscando estabelecer conexões e identificar pontos de convergência e divergência entre os diferentes pontos de vista. Essa análise crítica permitiu a identificação de tendências, lacunas e desafios presentes no conhecimento atual sobre o tema.

Além disso, foi realizada uma reflexão filosófica sobre os temas abordados, buscando ir além das discussões existentes e propor perspectivas originais. Foram explorados conceitos filosóficos relevantes, como a relação entre mente e matéria, a natureza da linguagem e da compreensão, a influência dos treinamentos sensoriais na formação do pensamento, entre outros.

A partir dessas reflexões e análises, o presente artigo foi redigido, seguindo uma estrutura lógica e coesa. Foram apresentados os conceitos-chave, as discussões teóricas relevantes e as conclusões alcançadas a partir da pesquisa realizada. A clareza e organização do texto foram consideradas como aspectos essenciais, buscando transmitir as ideias de forma acessível e inteligível para os leitores.

Após a redação inicial, o artigo passou por um processo rigoroso de revisão e aprimoramento. Foram realizadas correções gramaticais, ajustes na estrutura do texto e a inclusão de citações adequadas para respaldar as afirmações feitas. Esse processo visou garantir a integridade acadêmica do artigo, evitando plágio e assegurando a devida referência aos autores consultados.

Por fim, o artigo foi finalizado e formatado de acordo com as normas e diretrizes estabelecidas pela instituição ou veículo de publicação. Foram incluídos os elementos pré-textuais, como título, resumo e palavras-chave, além das referências bibliográficas que embasaram o trabalho.

Essa metodologia de pesquisa adotada permitiu uma abordagem abrangente e fundamentada sobre o tema, baseada em fontes confiáveis e promovendo a reflexão crítica e filosófica.

A Filosofia do Materialismo em Um Retrato Histórico

Imagem de Gordon Johnson por Pixabay

Imagem de Gordon Johnson por Pixabay

Desde os primórdios do pensamento filosófico, o materialismo tem deixado sua marca indelével na busca pela compreensão da realidade e da existência. O termo em si foi cunhado em 1702 por Gottfried Leibniz, mas suas raízes remontam a tempos antigos, encontrando eco nos ensinamentos de filósofos pré-socráticos como Demócrito, Leucipo, Epicuro e Lucrécio, assim como nos estóicos.

Publicidade

A semente do materialismo foi plantada na questão fundamental da continuidade da matéria. A visão atomista de Demócrito, com seus átomos evoluindo no vácuo, exerceria uma influência duradoura no pensamento filosófico subsequente. Até mesmo Platão, em sua teoria idealista dos elementos, foi moldado pela concepção atomista, identificando os elementos (fogo, ar, água, terra e éter) aos polígonos regulares (tetraedro, octaedro, icosaedro, cubo e dodecaedro).

No materialismo científico, o pensamento é relacionado a fatos puramente materiais, essencialmente mecânicos, ou considerado um epifenômeno. Nessa perspectiva, a consciência é compreendida como um produto da matéria, embora seja distintamente separada dos fenômenos de natureza material. É nesse contexto que surge o materialismo dialético, uma corrente estabelecida por Karl Marx e Friedrich Engels.

O materialismo dialético introduz o processo dialético na matéria, reconhecendo que, após processos quantitativos, ocorrem mudanças qualitativas ou de natureza. Surge então a consciência, que é um produto da matéria, mas possui uma real distinção em relação aos fenômenos materiais. Essa abordagem filosófica marxista influenciou profundamente a compreensão da história, das lutas sociais e das evoluções econômicas e políticas, dando origem ao materialismo histórico.

O materialismo histórico, um pilar central do marxismo, argumenta que o modo de produção da vida material é o fator determinante de todas as esferas da vida social, política e espiritual. Essa abordagem oferece um método de análise e compreensão dos eventos históricos, das dinâmicas de poder e das transformações sociais. Karl Marx, Friedrich Engels, Rosa Luxemburgo e Lênin são alguns dos principais teóricos que desenvolveram e aplicaram essa tese em obras como "O 18 de Brumário de Luís Bonaparte" e "O Capital".

Além do âmbito filosófico e político, o termo materialismo também é empregado para descrever a atitude daqueles que atribuem grande importância aos bens, valores e prazeres materiais. No campo artístico, o materialismo encontra expressão na tendência de retratar as coisas de  forma realista e sensual.

Os Limites do Materialismo e a Complexidade do Conhecimento

Imagem de Clker-Free-Vector-Images por Pixabay
Imagem de Clker-Free-Vector-Images por Pixabay

Os limites do materialismo residem fundamentalmente nos conceitos inicialmente forjados, que, ao se cristalizarem em nossa mente, podem gerar bloqueios decorrentes de diversas crenças. No entanto, se desejamos avançar no conhecimento, devemos ser capazes de conceber noções que precedam e direcionem nossa busca, abandonando outras hipóteses que possam surgir. Para evitar esses bloqueios, é necessário raciocinar de maneira ponderada, reconhecendo que o valor das hipóteses é sempre inferior a 100%, ao passo que o valor de uma crença é inquestionável, mesmo sem demonstração.

O pensamento humano segue uma lógica semelhante à de um dicionário, em que cada definição é expressa por palavras que, por sua vez, têm suas próprias definições expressas por meio de outras palavras, em uma cadeia contínua. Se não tivéssemos uma referência externa, como um dicionário, seria impossível compreender qualquer definição. Assim, cada ser humano utiliza seu sistema nervoso para interpretar o mundo, que, por sua vez, precisa ser percebido anteriormente por esse indivíduo para que ele possa definir os demais elementos que o rodeiam.

A única maneira de acreditar na possibilidade de transcender esse ciclo vicioso é por meio do consenso que estabelecemos com outros seres humanos. É por meio da interação e compartilhamento de experiências que buscamos alcançar uma compreensão coletiva e mútua do mundo que nos cerca.

Quando nos propomos a explicar um fenômeno, seja ele o universo, o pensamento ou um automóvel, torna-se inútil acrescentar elementos desnecessários, como deuses, alma ou feitiçaria, que apenas complicariam a explicação final. No entanto, a exclusão desses elementos não é exclusivamente um método do materialismo. Já no século XIV, William de Ockham empregava essa abordagem racional. É uma forma de iniciar um exercício explicativo partindo dos elementos observados, em vez de introduzir elementos externos. Embora esses mesmos elementos possam ser úteis em diferentes teorias, mesmo aquelas que possuem finalidades opostas, é necessário invocar essa cláusula para a compreensão completa da demonstração, independentemente da teoria empregada.

A Natureza do Pensamento

Imagem de Gordon Johnson por Pixabay
Imagem de Gordon Johnson por Pixabay

Ao nos depararmos com a complexidade do pensamento, muitas vezes surge a impressão de que ele transcende o mundo material, desvinculando-se da corporalidade. Essa percepção decorre da aparente separação entre o mecanismo físico que constitui nosso ser (a matéria) e a experiência subjetiva que surge dessa engrenagem (a sensação).

Contudo, devemos reconhecer que essa dicotomia entre o mecanismo e a sensação introduz um desafio no cerne do materialismo. Como avançar na compreensão do pensamento se confrontados com essa aparente dualidade? A resposta reside em explorar a interdependência desses elementos e examinar como eles se entrelaçam.

A sensação, fundamental para o pensamento, é o resultado de processos mecânicos que ocorrem em nosso corpo. Esses processos, por sua vez, se manifestam através do "eu" consciente, que é constituído de matéria. É essencial considerar a origem e a codificação da informação sensorial, desde os captadores que percebem o mundo ao nosso redor até as intrincadas redes neurais e os sistemas motores que traduzem essas sensações em ações.

Antes de nos aprofundarmos em fenômenos complexos como o pensamento, é prudente abordar os problemas com as ferramentas que temos à disposição, seguindo o princípio da Navalha de Occam. Esse princípio sugere que devemos privilegiar explicações mais simples antes de introduzir postulados adicionais que complicam desnecessariamente nossa compreensão.

A questão da localização do pensamento vai além do escopo exclusivo do materialismo, sendo um tópico que tem sido debatido ao longo da história da filosofia, desde o platonismo até outras correntes de pensamento. Se o pensamento necessita de mecanismos, estes não precisam necessariamente ser materiais. No entanto, devemos considerar que os mecanismos são produzidos pela matéria e se manifestam através dela. Seria sensato menosprezar a capacidade da matéria humana de ser o veículo do pensamento?

O pensamento requer tanto estabilidade quanto instabilidade para possibilitar a memória e a aprendizagem. Essa necessidade não se limita ao materialismo, mas é uma característica inerente ao próprio funcionamento da mente. Portanto, ao explorar essa temática, devemos contemplar tanto a estabilidade quanto a instabilidade, a memória e a aprendizagem, independentemente do arcabouço filosófico adotado. Esses são aspectos essenciais para compreender o direcionamento de nossas reflexões.

A Navalha de Occam, novamente, nos convida a abraçar a simplicidade antes de adicionar complexidades desnecessárias. Devemos encarar os postulados como suposições, evitando que se tornem motivos para disputas ideológicas. A presente tese não busca oferecer uma prova definitiva, mas sim iniciar uma discussão e proporcionar aos pesquisadores a oportunidade de explorar uma perspectiva que busca fundamentar o pensamento em bases materiais.

As Possibilidades do Pensamento em uma Perspectiva Materialista

Ao abordarmos a questão da natureza do pensamento, nos deparamos com várias teses que nos levam a refletir sobre sua origem e funcionamento. É importante reconhecer que ainda não sabemos completamente como o pensamento é gerado, pois é um mecanismo complexo e difícil de ser descrito de forma precisa.

Por exemplo, o tempo é uma possibilidade que influencia o pensamento, mas sua origem e mecanismos exatos ainda não são plenamente compreendidos. Para entender o tempo de maneira perfeita, seria necessário conhecer a posição de todas as partículas envolvidas em um fenômeno, o que é praticamente impossível. No entanto, mesmo sem conhecer todos os detalhes, ainda podemos resolver problemas complexos por meio de mecanismos como computadores, que não possuem sentimentos.

Essa constatação nos leva a questionar se o pensamento depende necessariamente dos sentimentos ou se pode ser reduzido a um mero processo de cálculo de dados. Enquanto um cálculo de dados utiliza a matéria, quando falamos sobre pensamento, estamos nos referindo ao software ou programa que opera no sistema, em contraste com o material físico. No entanto, é importante ressaltar que o processo de cálculo de dados é resultado da matéria e, portanto, não devemos subestimar a capacidade da matéria humana de ser o veículo do pensamento.

O pensamento envolve tanto a estabilidade quanto a instabilidade para permitir a memória e a aprendizagem. Essa necessidade não se limita apenas ao materialismo, mas é uma característica essencial do funcionamento da mente. Portanto, ao explorarmos essa temática, devemos considerar tanto a estabilidade quanto a instabilidade, bem como a memória e a aprendizagem, independentemente do arcabouço filosófico adotado. Esses são aspectos fundamentais para compreendermos o direcionamento de nossas reflexões.

É necessário ter em mente o princípio da Navalha de Occam, que nos orienta a buscar explicações mais simples antes de introduzir postulados adicionais que tornam nossa compreensão mais complexa. Devemos encarar os postulados como suposições, evitando que se tornem motivos para disputas ideológicas. O objetivo deste trabalho não é oferecer uma prova definitiva, mas sim iniciar uma discussão e fornecer aos pesquisadores a oportunidade de explorar uma perspectiva que busca fundamentar o pensamento em bases materiais.

Para avançar na pesquisa sobre o pensamento, devemos adotar uma abordagem didática, baseada em fatos históricos e filosóficos. Ao reconhecermos a interdependência entre o pensamento, inteligência, consciência, atenção, sentimentos e percepção, podemos entender que esses mecanismos estão intrinsecamente ligados. No entanto, suas definições e mecanismos precisam ser aprimorados por meio de modelos válidos, superando os nós deixados por nossos predecessores.

Uma das perspectivas deste trabalho é que o pensamento não está em um nível inferior ao das redes neurais. Devemos lembrar que os princípios da evolução atuam tanto em níveis macroscópicos quanto microscópicos, incluindo células individuais. O pensamento foi desenvolvido ao longo do tempo para sustentar o corpo como um todo, não apenas para a sobrevivência de células individuais. É uma manifestação do conjunto das células complexas que compõem o corpo humano.

O pensamento não está localizado em uma parte específica do corpo, mas se origina das conexões entre as células nervosas. Embora o mecanismo cerebral seja essencial no processamento dessas conexões, o pensamento não se limita à matéria pura, reintroduzindo assim uma dualidade entre forma e matéria, que vai além do espiritualismo e do materialismo tradicionais.

Para entender melhor o pensamento, é necessário compreender a interação entre os sistemas nervoso, perceptivo e motor. O pensamento é resultado desse processo complexo de conexões neurais, desde a percepção até a ação motora. Devemos enfatizar que o pensamento não é um trabalho que ocorre em um nível inferior, mas sim o resultado das redes neurais ativas. Não há circulação de informações mentais sobre objetos no sistema nervoso; esses objetos mentais surgem quando os circuitos estão ativos.

É fundamental diferenciar o pensamento de sua sustentação. A sustentação pode existir sem o pensamento, mas o pensamento depende da sustentação e do movimento. O pensamento é um processo que resulta dos mecanismos como um todo, incluindo percepção, direcionamento e conexão por meio das redes neurais.

Devemos reconhecer que a existência de uma realidade imaterial do pensamento, embora não comprovada, não é absurda. Seguindo o princípio da Navalha de Occam, essa suposição pode ser considerada válida até que seja demonstrável de maneira simples e convincente. Além disso, seria interessante que os defensores de uma visão espiritualista do pensamento se engajassem em um diálogo com os pesquisadores materialistas, permitindo a coexistência de diferentes perspectivas e enriquecendo o debate científico.

Além disso, a exploração das possibilidades do pensamento requer uma abordagem didática que considere tanto a história quanto os aspectos filosóficos. Ao buscar uma compreensão mais profunda dos mecanismos que fundamentam o pensamento, devemos adotar uma postura aberta para explorar diferentes perspectivas e continuar avançando em nosso conhecimento.

O pensamento auditivo.

O pensamento carregado é uma inclusão no pensamento auditivo. Isso significa que o sentido das palavras vem exclusivamente do treinamento. Quando aprendemos o significado da palavra "árvore", por exemplo, o fazemos por meio de diversas percepções. As conexões entre essas percepções são estabelecidas quando são ativadas simultaneamente ou em sequência. Por exemplo, a percepção do som do telefone, a imagem do telefone, a sensação tátil e a palavra "telefone" estão todas interligadas e aprendemos gradualmente essa conexão.

Quando estamos diante de um telefone e ouvimos a palavra "telefone", a conexão entre a palavra e os outros elementos aos quais ela está relacionada é ativada em nosso sistema nervoso. Sabemos o que fazer e a palavra é evocada verbalmente. O próprio sistema muscular também é envolvido, agindo de acordo com a situação e nossas necessidades. Ao ouvir a palavra "árvore", por exemplo, dependendo de nossa familiaridade com o assunto, podemos ter mais ou menos conhecimento sobre o tema. O sentido completo da palavra é formado por todas as nossas experiências e aprendizados relacionados a ela.

No entanto, nunca temos acesso ao sentido completo da palavra em nossa mente, pois nem todas as conexões estão necessariamente estabelecidas. Não há uma caixa de significados predefinidos que todos os seres humanos possuam desde o nascimento. Esses significados são aprendidos gradualmente ao longo do tempo e provavelmente nunca são os mesmos de um momento para outro. Compreender o sentido completo de uma palavra é um processo complexo que requer tempo e experiência.

É importante destacar que o pensamento carregado também é influenciado pela linguagem em que fomos expostos desde a infância. Por exemplo, se alguém aprendeu a pensar em francês desde muito jovem, seu pensamento estará ajustado nessa língua de forma retroativa. Isso não implica que outros formas de pensamento não possam ser estabelecidas de maneira igualmente mecânica e simples.

A compreensão de uma língua também está relacionada ao processo gradual de aprendizado. Se ouvirmos uma palavra isoladamente, sem que esteja relacionada a um contexto específico, ela não passará de um ruído e não teremos compreensão. O som em si é material, mas a linguagem vai além do som. Não há razão para que um som que afeta os sensores de nossos ouvidos seja traduzido em nosso sistema nervoso da mesma forma que a luz afeta nossas retinas e as imagens são processadas. A compreensão, assim como a emoção, requer ativação. O que é a compreensão quando não está ativa? Nada além de um diagrama de conexões neurais em nossa memória. A compreensão é subjetiva, lenta e contínua, deixando uma marca imprecisa devido à sua natureza gradual. Durante o processo de compreensão, ocorrem diversos mecanismos e conexões múltiplas, afetando nosso corpo e mantendo a homeostase.

O materialismo, como abordagem filosófica, levanta muitas questões que ainda não têm respostas definitivas. Uma das questões significativas é se o pensamento e o sentido poderiam ser explicados apenas em termos de matéria. A nossa compreensão da matéria não é a mesma de cem anos atrás, e o materialismo deve levar em conta esse novo conhecimento. No entanto, ainda não sabemos o que a matéria realmente é em sua essência, quais funções as partículas desempenham para se unir e se separar. Enquanto não soubermos tudo sobre a matéria em seu nível mais fundamental, haverá pelo menos um fator desconhecido nos mecanismos do pensamento. Isso nos leva a testar e questionar o postulado básico do materialismo de que o pensamento resulta de mecanismos em uma escala maior do que a microscópica e que não é necessário compreender os mecanismos quânticos para explicá-lo através do processamento de informações.

Por conseguinte, a compreensão do pensamento e do sentido é um processo complexo que envolve treinamento, conexões neurais e experiências graduais. O pensamento está intrinsecamente ligado à linguagem e à percepção, e é influenciado pelo contexto em que ocorrem. O materialismo, como uma abordagem filosófica, ainda tem questões em aberto, especialmente no que diz respeito à compreensão completa da matéria e sua relação com o pensamento. É importante continuar explorando esses temas e avançando em nosso conhecimento para obter uma compreensão mais profunda dos mecanismos do pensamento e do sentido.

Conclusão

Na tessitura complexa das sinapses cerebrais, o pensamento carregado emerge como uma sinfonia transcendental de conexões neurais entrelaçadas. O sentido das palavras, entretanto, revela-se como uma dança efêmera entre percepções entrelaçadas, cujos laços são tecidos pela tecnicidade do treinamento gradual. Nesse emaranhado, o pensamento se entrelaça à linguagem, revelando-se como um intrincado bailado de significados em constante metamorfose.

É nas conexões simultâneas e consecutivas que a palavra ecoa, imbuída de um universo sensorial complexo. O soar do telefone, a imagem que se desenha na mente, o toque tátil que se funde à palavra "telefone" e tudo o que lhe é tangente compõem a tapeçaria multifacetada do aprendizado. É na presença do objeto que o elo se estabelece, ecoando em nosso sistema nervoso e evocando a palavra indubitavelmente em sua forma verbal. O corpo, esse sagrado templo, reage e responde às sinfonias sinápticas, manifestando-se de acordo com o momento e as necessidades prementes.

A compreensão, esse éter sutil, é um treinamento subjetivo que se desvela em ritmo compassado. Como uma jornada de contemplação, a compreensão desdobra-se lentamente, traçando caminhos intricados em nosso ser. Em sua dança intricada, conexões se estabelecem, químicas se ativam e o corpo vibra em harmonia. No entanto, a totalidade do sentido escapa-nos, como um horizonte que se desvanece no nevoeiro, pois nem todas as conexões são necessariamente estabelecidas. A caixa dos significados, aquela coleção universal, não encontra morada em nossa essência ao nascer. É no percurso de uma existência que eles são aprendidos e gradualmente induzidos, eternamente fluidos e cambiantes.

Nesse universo filosófico, o materialismo ergue-se como uma antítese intrigante, lançando questões ao cosmo do conhecimento. O enigma primordial reside na compreensão da própria matéria, que desvela suas funções ocultas às partículas que se entrelaçam, se unem e se separam em danças invisíveis. Ainda desconhecemos os segredos mais profundos da substância primordial, aquela essência enigmática que escapa às nossas mãos ávidas por desvendar os enigmas do pensamento. O materialismo, em seu ardor investigativo, nos impele a percorrer os corredores do desconhecido e testar seus postulados. Contudo, diante da vastidão desse mistério, ao menos uma incógnita persiste, desafiando-nos em cada esquina do pensamento.

Nessa espiral de reflexão, somos convidados a dançar na grandiosidade do desconhecido. Através da dança vertiginosa das palavras, desvelamos um lampejo da complexidade da mente humana. Cada passo coreografado nessa sinfonia intelectual nos conduz ao limiar do entendimento, onde o véu entre o material e o imaterial se esvai. Assim, imersos nesse balé de pensamentos, mergulhamos nas profundezas do conhecimento em busca das respostas que se escondem nas dobras do universo cognitivo. Que continuemos, então, a tecer as tramas do pensamento, desvelando os mistérios da existência e desbravando as fronteiras entre a matéria e a mente, em busca da iluminação filosófica que aguarda-nos além das cortinas do desconhecido.

 

 

Bibliografia:

 

Descartes, René. Meditações sobre a Filosofia Primeira. Editora Vozes, 2019.

Merleau-Ponty, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Editora Martins Fontes, 2011.

Chalmers, David J. A mente consciente: Em busca de uma teoria fundamental. Editora Unesp, 1999.

Searle, John R. Mentes, cérebros e ciência: A visão de um cientista. Editora Unesp, 2002.

Damásio, António. O erro de Descartes: Emoção, razão e cérebro humano. Editora Companhia das Letras, 1996.

Clark, Andy. Supersizing the Mind: Embodiment, Action, and Cognitive Extension. Editora Oxford University Press, 2008.

Varela, Francisco J., Thompson, Evan, & Rosch, Eleanor. The Embodied Mind: Cognitive Science and Human Experience. Editora MIT Press, 2017.

Dennett, Daniel C. A perigosa ideia de Darwin: A evolução e os significados da vida. Editora Rocco, 1998.

Davidson, Donald. Essays on Actions and Events. Editora Clarendon Press, 2001.

Fodor, Jerry A. The Language of Thought. Editora Harvard University Press, 1980.

Postar um comentário

0 Comentários

'