O comportamento sexual compulsivo afeta uma parcela de 4,8% da sociedade

De acordo com uma pesquisa conduzida em 42 nações, apenas uma pequena proporção de 13,7% dos indivíduos busca ajuda para o comportamento sexual compulsivo.

Nymphomaniac: Director’s Cut”, a versão sem cortes do polêmico “Ninfomaníaca”.
Nymphomaniac: Director’s Cut”, a versão sem cortes do polêmico “Ninfomaníaca. Fonte: RD1

Ciências- Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) categorizou o comportamento sexual compulsivo como um transtorno, mas ainda não determinou se deve ser classificado como um vício similar ao abuso de substâncias, como drogas. A OMS alega que são necessários mais estudos. Geralmente, os especialistas classificam as dependências em três tipos: químicas, não químicas e não relacionadas. No caso das químicas, a dependência é de uma substância como álcool, maconha e cocaína. Nas não químicas, o vício está associado a comportamentos como jogar, comer ou comprar. E nas relacionadas, o problema envolve outra pessoa.

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O comportamento sexual compulsivo está incluído na segunda categoria. No entanto, a classificação é controversa. O conceito de vício sexual, embora amplamente aceito no senso comum, carece de respaldo na literatura científica, afirma Itor Finotelli, Jr., psicólogo e presidente da Sociedade Internacional do Trabalho e da Sociedade Brasileira de Estudo em Sexualidade Humana (SBRASH).

O comportamento sexual compulsivo é considerado um vício semelhante aos demais. Nos Estados Unidos, foi até mesmo cunhado o termo "Sex Addiction" para descrever aqueles viciados em sexo. Os indivíduos com compulsão sexual podem chegar a colocar suas vidas em risco ao terem múltiplos parceiros e praticarem sexo sem proteção.

Opinião do especialista em saúde sexual

Alguns argumentam que o comportamento sexual compulsivo é um transtorno inexistente. Esse é o ponto de vista do psicólogo Paulo Tessarioli, presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde Educação e Terapia Sexual (ABRASEX). "Nossa sociedade tem o costume de rotular qualquer comportamento sexual que não siga o padrão moralmente aceito, que é o sexo com fins reprodutivos", diz o terapeuta sexual. Independentemente da classificação, é um problema complexo cujas causas ainda são desconhecidas para a ciência.

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Uma questão que intriga os pesquisadores que se dedicam ao estudo da sexualidade humana é: por que as pessoas que foram vítimas de abuso sexual na infância frequentemente desenvolvem comportamentos sexuais compulsivos na vida adulta? Não é possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito, explica Danilo Baltieri, psicanalista e coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex), em Santo André, São Paulo.

Existem fatores psicossociais, muitas vezes traumáticos e prejudiciais, que contribuem para o desenvolvimento de comportamentos compulsivos ou impulsivos. Um estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, intitulado "Violência Sexual Infantil", revela que, apenas em 2021, o Brasil registrou 45.994 casos de estupro envolvendo crianças e adolescentes. O dado mais alarmante é que 82,5% dos agressores eram conhecidos das vítimas. Entre eles, 40,8% eram pais ou parentes, 37,2% irmãos ou primos, e 8,7% avós.

Problema de saúde ou extravagância?
Problema de saúde ou extravagância?

Outra pesquisa, conduzida pelo médico norte-americano Patrick Garnes, autor do livro "Isto Não é Amor" (1989), revela que 81% dos indivíduos com comportamento sexual compulsivo foram vítimas de abuso na infância. O estudo contou com a participação de 290 pessoas, incluindo 233 homens e 57 mulheres. Entre os homens, 43% mencionaram carícias sexuais como o tipo mais comum de abuso, enquanto entre as mulheres, o abuso sexual direto foi relatado por 58%. Traumas resultantes de negligência parental ou abuso sexual podem deixar sequelas emocionais, gerando sentimentos de culpa, inadequação ou vergonha, afirma a psiquiatra Camila Abdo, coordenadora do Programa de Estudo em Sexualidade (Prosex).

No entanto, o abuso sexual na infância é apenas uma das várias respostas para a questão: por que algumas pessoas desenvolvem compulsão sexual enquanto outras não? O pesquisador Dartiu Xavier da Silveira, um dos pioneiros do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (PROAD) no Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), sugere que uma combinação de predisposições genéticas e influências do ambiente pode estar envolvida. Silveira explica que os comportamentos sexuais podem ser uma forma de lidar com o estresse da vida ou de escapar da dor física ou emocional.  

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No Brasil, o PRO-AMIT, localizado no Hospital das Clínicas da USP, é um dos centros que proporcionam assistência gratuita a pacientes com transtorno do controle de impulsos, conforme definido pela DSM-5 - a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, conhecida como "a Bíblia da Psiquiatria". Este serviço abrange tanto aqueles transtornos já reconhecidos quanto os que ainda estão em fase de estudo, como as compras compulsivas e o impulso sexual compulsivo.

O tratamento é fundamentado em duas abordagens principais: a terapia psicológica e a prescrição de medicamentos. Na psicoterapia, o foco não é apenas a busca pela abstinência, mas sim a modificação do padrão de comportamento. Já o uso de medicamentos pode ser recomendado em casos de transtornos psiquiátricos graves, como depressão, ou quando o nível de compulsividade apresenta um risco para o paciente ou para outras pessoas. Embora não haja cura, é possível alcançar controle por meio de três componentes essenciais: a adesão do paciente ao tratamento, uma equipe profissional dedicada e o suporte dos familiares na imposição de limites.

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