Os Estados Unidos realizam ofensivas de represália no Iraque e na Síria contra emissários do Irã

A ação, em retaliação a um ataque de drone que resultou na morte de três militares dos Estados Unidos na Jordânia, representou um aumento das tensões no Oriente Médio.

Forças dos EUA durante um exercício no nordeste da Síria em 2021.Crédito...Baderkhan Ahmad/Associated Press
Forças dos EUA durante um exercício no nordeste da Síria em 2021.Crédito...Baderkhan Ahmad/Associated Press

Internacional- Hoje, sexta-feira (02), os Estados Unidos conduziram uma série de ataques militares contra grupos apoiados pelo Irã em seis locais no Iraque e na Síria, conforme informado por um oficial do Departamento de Defesa dos EUA. Essa ação representa uma significativa intensificação do conflito no Oriente Médio, algo que a administração Biden tentou evitar nos últimos quatro meses.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Últimas Notícias

PUBLICIDADE

O presidente Biden tinha prometido reagir a um ataque de drone na Jordânia no domingo, que resultou na morte de três soldados americanos e deixou pelo menos outros 40 militares feridos. A operação militar visava enviar uma mensagem ao Irã e às suas milícias apoiadas, alertando que os ataques contínuos contra as tropas dos EUA na região e contra navios internacionais no Mar Vermelho resultariam em retaliação.

Autoridades americanas confirmaram que Biden deu luz verde para os ataques retaliatórios. Ele até indicou que estavam a caminho ao informar aos jornalistas na terça-feira que havia tomado uma decisão sobre como responder ao ataque de drones contra um posto avançado remoto na Jordânia.

Biden e seus principais conselheiros têm evitado tomar medidas que possam arrastar os Estados Unidos para um conflito mais amplo numa região já bastante instável. Especificamente, a administração está determinada a evitar que o conflito por procuração em curso com o Irã se transforme em um confronto mais significativo.

Presidente Biden na terça-feira. Ele prometeu retaliar após um ataque letal contra as forças americanas na Jordânia no domingo.Crédito...Kent Nishimura
Presidente Biden na terça-feira. Ele prometeu retaliar após um ataque letal contra as forças americanas na Jordânia no domingo.Crédito...Foto: Kent Nishimura

No entanto, com os recentes ataques, essa possibilidade está se tornando cada vez mais real. Fontes do governo afirmaram que Biden não teve alternativa senão retaliar após o ataque na Jordânia, que resultou na morte dos três soldados americanos, especialmente considerando que suas mortes ocorreram em meio a uma série contínua de ataques de grupos apoiados pelo Irã, como os Houthis no Iêmen e o Kata'ib Hezbollah no Iraque.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Artigos Brasil Escola

PUBLICIDADE

O poder militar do Irã se estende por meio de numerosos grupos armados em toda a região do Oriente Médio. No entanto, até que ponto o país controla as ações desses grupos é uma questão em foco. Esta preocupação ganhou nova relevância após um ataque de uma milícia iraquiana apoiada pelo Irã a uma base dos EUA na Jordânia, resultando na morte de três soldados e em dezenas de feridos. Os grupos apoiados pelo Irã têm diferentes histórias e laços com Teerã, mas todos compartilham o objetivo de expulsar as forças militares dos EUA da região e reduzir o poder de Israel. A retórica iraniana, ecoada por seus aliados, muitas vezes vai além, com apelos para a eliminação de Israel. A maioria desses grupos aliados segue a vertente xiita do Islã, exceto o Hamas, cujos membros são predominantemente sunitas.

O Irã tem oferecido armamento, treinamento, financiamento e apoio diversificado a grupos militantes, principalmente aqueles no Líbano, Síria, Iraque e Iêmen, conforme evidenciado por apreensões de armas, análises pós-ação, rastreamento de ativos estrangeiros e inteligência coletada. Parte do treinamento é conduzido através do Hezbollah no Líbano, de acordo com especialistas dos EUA e internacionais. Recentemente, o Irã também tem permitido que milícias adquiram algumas peças de armas independentemente e desenvolvam ou modernizem suas próprias armas, conforme relatado por autoridades do Oriente Médio e dos EUA. Além disso, o Irã está envolvido em empreendimentos lucrativos, como construção, bem como em atividades ilegais, como sequestros e tráfico de drogas.

Apesar de apoiar as milícias, o Irã não exerce total controle sobre seus ataques contra alvos ocidentais e israelenses, segundo muitos especialistas do Oriente Médio, da Europa e dos serviços de inteligência dos EUA. Embora influencie os grupos e, em alguns casos, possa deter seus ataques, não determina necessariamente onde e quando ocorrem. Após o ataque de militantes baseados no Iraque a uma base dos EUA na Jordânia no domingo, o grupo Kata'ib Hezbollah, sugerido pelo Pentágono como responsável e próximo à Guarda Revolucionária Iraniana, anunciou uma pausa temporária por ordem do Irã e do governo iraquiano. No entanto, cada milícia tem sua própria agenda, variando de acordo com seu país de origem.

Kent Nishimura
Foto: Kent Nishimura

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

O movimento Houthi, por exemplo, ganhou terreno na guerra civil do Iêmen e controla parte do território, mas agora enfrenta dificuldades para sustentar sua população e gerar empregos. Em resposta, estão demonstrando força ao enfrentar grandes potências, atacando navios no Canal de Suez e provocando retaliações dos EUA e seus aliados. Isso os permite apresentar-se como solidários aos palestinos e alinha-os com os objetivos do Irã contra Israel e os EUA.

Por outro lado, o Hezbollah no Líbano, com laços estreitos com o Irã, integra o governo libanês. Suas decisões sobre ataques a Israel consideram os riscos de retaliação israelense contra civis libaneses. Um relatório de 2020 do Departamento de Estado dos EUA estimou o apoio financeiro anual do Irã ao Hezbollah em 700 milhões de dólares naquela época. As armas fornecidas aos grupos variam de armamento leve a mísseis balísticos, além de drones cada vez mais sofisticados, conforme observado por Michael Knights do Instituto de Washington, que monitora esses grupos há muitos anos.

Nos últimos anos, o Irã tem concedido subsídios financeiros menores diretamente aos seus representantes, em parte devido às pressões financeiras resultantes das sanções dos EUA e internacionais, conforme apontam especialistas. Além do auxílio direto, alguns grupos também receberam apoio em forma de recursos, como petróleo, que pode ser comercializado, ou, como no caso dos Houthis, milhares de rifles AK-47 que podem ser vendidos, de acordo com um relatório das Nações Unidas de novembro.

Um analista político iemenita, Hisham al-Omeisy, ao falar sobre os Houthis, afirmou: "Eles recebem um forte apoio dos iranianos, mas não são marionetes nas mãos do Irã. Eles não são controlados por Teerã."

Essa mesma perspectiva pode ser aplicada a outros grupos. O Irã adota diferentes mensagens sobre as milícias, dependendo da audiência, afirmou Mohammed al-Sulami, diretor da Rasanah, uma organização de pesquisa com sede na Arábia Saudita, que há muito tempo enfrenta o Irã pela influência regional.

Quando se comunica com o público interno e do Oriente Médio, o Irã tende a retratar o que chama de "Eixo da Resistência" como estando sob sua liderança e controle, como parte de sua estratégia regional. No entanto, ao se dirigir ao público ocidental, o Irã frequentemente afirma que, embora os grupos compartilhem ideologias semelhantes, não os controla diretamente, explicou al-Sulami.

"O Irã é astuto ao usar essa zona cinzenta para navegar", acrescentou ele.

Doações para o Blog

Postar um comentário

0 Comentários

'