O Humanismo, de maneira geral, priorizou o antropocentrismo em oposição ao etnocentrismo, ampliando assim a busca por uma compreensão mais abrangente do mundo.
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Resumo
O artigo aborda a Reforma Pombalina e a expulsão dos
jesuítas em Portugal e no Brasil. O Marquês de Pombal foi responsável por
implementar ideias iluministas e promover uma educação estatal, expulsando os
jesuítas e tornando os professores funcionários públicos. No Brasil, as
reformas pombalinas tiveram impacto nas áreas econômica e educacional, com a
decadência da produção de cana-de-açúcar e o surgimento da extração de ouro em
Minas Gerais. O texto ressalta a desigualdade na educação, evidenciando a
lacuna entre a elite letrada e a maioria da população sem acesso à educação.
Apesar dos desafios, o próximo século traz esperança para o Brasil na busca por
uma educação mais inclusiva e equitativa.
Palavras-chave: Reforma
Pombalina, expulsão dos jesuítas, Marquês de Pombal, educação estatal, ideias
iluministas, funcionários públicos, Brasil, Portugal, cana-de-açúcar, extração
de ouro, desigualdade educacional, elite letrada, esperança, inclusão,
equidade.
Introdução
Este artigo científico tem como objetivo realizar uma
análise minuciosa da evolução da educação, abrangendo o período que compreende
desde o Renascimento até a colonização do Brasil. Serão examinados os primeiros
movimentos educacionais promovidos pelos padres jesuítas nesse contexto
histórico. O propósito central é apresentar as principais ideias e concepções
educacionais que emergiram ao longo desses períodos, fornecendo uma visão
abrangente dos elementos que moldaram a paisagem educacional atual.
O estudo não se limita a uma abordagem superficial da
História, mas busca compreender as contribuições fundamentais que influenciaram
a evolução da educação ao longo do tempo. Reconhecemos a importância crítica do
estudo e da consciência histórica na formação dos profissionais da educação, e
este artigo se destina a contribuir significativamente para o debate acerca das
diferentes concepções educacionais presentes no sistema de ensino
contemporâneo.
Ao investigar cuidadosamente os caminhos percorridos no
passado, será possível apreciar as bases do conhecimento que foram
estabelecidas ao longo dos séculos. Desde as ideias revolucionárias do
Renascimento até os primeiros experimentos educacionais realizados no contexto
da colonização do Brasil, este estudo proporcionará uma compreensão mais
aprofundada da trajetória histórica da educação e do seu impacto na sociedade.
Diante disso, este trabalho visa fornecer uma base sólida
para a compreensão dos fundamentos históricos que sustentam o nosso sistema
educacional atual. Ao adquirir essa compreensão, os profissionais da educação
estarão melhor preparados para moldar o futuro da educação de maneira informada,
consciente e inspiradora. Portanto, aproveite essa oportunidade para ampliar
seus horizontes e enriquecer sua compreensão da essência da educação.
Por meio dessa análise histórica, almejamos iluminar um
caminho em direção a uma educação mais significativa e transformadora, que
possa atender às demandas contemporâneas e promover o desenvolvimento pleno dos
indivíduos e da sociedade como um todo.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa foi conduzida com o objetivo de investigar o impacto da Reforma Pombalina e da expulsão dos jesuítas na educação de Portugal e do Brasil. Para alcançar esse objetivo, foi adotada uma metodologia composta por diversas etapas. Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica abrangente, buscando fontes relevantes como livros, artigos acadêmicos e teses relacionados ao tema. A seleção dessas fontes foi baseada em sua pertinência e atualidade. Em seguida, os dados coletados foram submetidos a uma análise crítica e analítica, identificando informações relevantes, conceitos-chave e argumentos apresentados pelos autores. Com base nas informações coletadas, os dados foram classificados e categorizados de acordo com os principais tópicos abordados, como contexto histórico, reformas pombalinas, impacto da expulsão dos jesuítas, educação estatal e desigualdade educacional. Utilizando as informações e análises realizadas, o texto final da pesquisa foi redigido, seguindo uma estrutura lógica e coesa, com cuidado para garantir a originalidade das ideias e evitar qualquer forma de plágio. Posteriormente, o texto foi minuciosamente revisado, verificando a precisão dos dados, corrigindo erros gramaticais e garantindo a consistência do conteúdo. Essa abordagem metodológica permitiu conduzir a pesquisa de forma sistemática, assegurando a qualidade e confiabilidade dos resultados apresentados no artigo final.
Um Novo Amanhecer: Explorando o Renascimento, o
Humanismo, a Reforma e a Contrarreforma
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Nesta seção, nos aprofundaremos no período histórico
conhecido como Renascimento, focalizando especialmente o Humanismo e suas
concepções inovadoras que marcaram uma mudança significativa em relação ao
paradigma dominante da Idade Média. Veremos como o Humanismo, de maneira geral,
priorizou o antropocentrismo em oposição ao etnocentrismo, ampliando assim a
busca por uma compreensão mais abrangente do mundo. Além disso, examinaremos o
período de transição da Igreja, no contexto das transformações impostas pela
Reforma e pela Contrarreforma.
O Renascimento
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O Renascimento é amplamente reconhecido como um período de
grande importância na história, sendo frequentemente considerado um marco
transcendental. Contrariando a noção difundida da Idade Média como uma era de
obscuridade de mil anos, o Renascimento trouxe consigo uma série de avanços
significativos, como o ressurgimento das universidades. Neste artigo
científico, dedicaremos nossa atenção às contribuições do Renascimento para o
desenvolvimento da educação.
De acordo com as reflexões de Aranha (2006), durante esse
período histórico, buscou-se superar o teocentrismo, uma característica
proeminente da Idade Média. O Renascimento, que ocorreu entre os séculos XV e
XVI, recebeu esse nome por representar uma retomada dos valores greco-romanos.
Ele desencadeou o movimento conhecido como humanismo, que procurava redefinir a
concepção do ser humano e da cultura, em contraposição às perspectivas
predominantemente teológicas da Idade Média e ao espírito autoritário que delas
derivava (ARANHA, 2006, p. 194).
Uma das características distintivas desse período foi o humanismo, que se destacou pela busca em resgatar os valores greco-romanos, como veremos em detalhes mais adiante. O Renascimento foi marcado por um desejo de inaugurar uma nova era, em que os valores humanos assumiam uma posição central em detrimento dos valores divinos ou teocêntricos, que se voltavam para "o único Deus que controla tudo e todos".
É nesse contexto histórico que nos deparamos com a chegada
dos portugueses ao Brasil, que era então considerado "recentemente
descoberto". Também testemunhamos o movimento de educação religiosa que
predominou durante o período de colonização brasileira por Portugal.
Explorando o Humanismo
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Ao direcionarmos nosso olhar para o humanismo, podemos
compreender que sua característica central, conforme mencionado por Aranha
(2006), reside na busca por valores mais humanos e sociais, voltados para a
prática da vida terrena. Essa abordagem, conhecida como antropocentrismo,
coloca o ser humano no centro das atenções, em contraste com a visão
predominante na Idade Média, em que Deus era considerado o centro de todas as
coisas.
No anseio por uma nova era, o humanismo visava resgatar os
valores greco-romanos, com o objetivo de moldar o cidadão cortês, o homem
refinado da corte. A busca pelo conhecimento tinha como foco os valores sociais
e os prazeres mundanos, anteriormente restringidos pela igreja. Como destaca
Aranha (2006), "o olhar humano desviou-se do céu para a terra,
concentrando-se cada vez mais nas questões do cotidiano. A curiosidade,
despertada para a observação direta dos fatos, intensificou o interesse pelo
corpo e pela natureza ao nosso redor. Na área da medicina, houve avanços no
conhecimento anatômico por meio da prática da dissecação de cadáveres humanos,
que era proibida pela Igreja até então" (ARANHA, 2006, p. 196).
Foi durante o período do humanismo que ocorreu o surgimento
da burguesia e, no campo das artes, houve uma proliferação significativa de
conhecimento e produção cultural, com a Itália desempenhando um papel central
nesse movimento. Esses foram sinais de uma época que buscava valorizar a
individualidade e a razão humana.
As artes em geral, como a pintura, arquitetura, escultura e
literatura, experimentaram um florescimento intenso, e a Itália se destacou
como um centro irradiador dessa nova produção cultural. Mesmo quando os temas
religiosos persistiam, a visão humanista prevalecia, abrangendo cada vez mais
temas relacionados à burguesia (ARANHA, 2006, p. 196).
Nesse contexto, emergia um ideal de liberdade espiritual em
contraposição ao dogmatismo proposto pela igreja. É importante ressaltar que a
igreja não deixou de existir nem de exercer sua influência, inclusive no âmbito
educacional. Ela continuou desempenhando um papel significativo na sociedade da
época.
O Movimento da Reforma e a Resposta da
Contrarreforma
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A Reforma e a Contrarreforma desempenharam um papel
significativo durante esse período. Inclusive, no âmbito da religião, ocorreram
mudanças que influenciam os valores cristãos até os dias atuais, conforme
veremos a seguir.
O espírito inovador do Renascimento também se manifestou no
campo religioso, com críticas à estrutura autoritária da Igreja, que estava
centrada no poder papal. Movimentos de ruptura, como o luteranismo, o calvinismo
e o anglicanismo, surgiram devido a interesses políticos nacionalistas e
econômicos (ARANHA, 2006, p. 197).
A igreja enfrentava tempos de transformação à medida que
novas concepções de mundo surgiam. Nesse contexto histórico, algumas ações
tradicionais da igreja, como o Santo Ofício (Inquisição), começaram a perder
força, enquanto outras ações já não exerciam o mesmo domínio na sociedade, como
era esperado.
Essas mudanças na igreja eram impulsionadas por
insurgências cada vez mais intensas. Foi necessária a Reforma para atender aos
objetivos impulsionados pelos interesses políticos e nacionalistas, uma vez que
a burguesia estava em ascensão.
Aranha (2006) destaca as rebeliões contra a "Santa
Igreja", como aquelas relacionadas ao empréstimo a juros. Essas rebeliões
ganharam notoriedade devido ao crescimento do poder dos reinos da época.
No entanto, as causas desses movimentos não eram
exclusivamente religiosas. Ventos de rebeldia sopravam nas cidades, que
buscavam se libertar dos senhores feudais e das restrições econômicas, como a
condenação do empréstimo a juros pela Igreja. Além disso, a teoria da
supremacia da autoridade papal era rejeitada, uma vez que o universalismo da
Igreja entrava em conflito com o crescente ideal nacionalista expresso na
formação das monarquias e no fortalecimento do poder dos reis (ARANHA, 2006, p.
198).
Muitas dessas ações de contestação ao poder da igreja
surgiram em meio à nova ordem política e social característica do Renascimento,
cujo objetivo central era estabelecer uma nova ordem mundial baseada no poder
centrado no ser humano, ou seja, no antropocentrismo.
A Contrarreforma e as Transformações da Igreja
A Contrarreforma é um movimento que abalou
significativamente os rumos e as concepções da igreja, como apontado por Aranha
(2006). Nesse período de ruptura, surgiram novas visões, como o protestantismo,
e houve uma tentativa de retomada do poder por parte da Igreja Católica.
A maior crise da igreja ocorreu no século XVI, com a
Reforma Protestante. Os protestantes, contrariando as restrições católicas aos
negócios e a condenação ao empréstimo a juros, consideravam o enriquecimento
como um sinal do favor divino. Lutero conquistou a adesão da nobreza,
interessada na apropriação dos bens do clero, enquanto Calvino recebeu apoio da
rica burguesia. Dessa forma, as divergências não se limitavam apenas a questões
religiosas, mas também refletiam as transformações sociais e econômicas, que
levaram a Europa a enfrentar violentos conflitos.
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Em resposta à expansão da crença protestante, a Igreja Católica desencadeou uma forte reação conhecida como Contrarreforma, com o objetivo de recuperar o poder perdido. As novas diretrizes estabelecidas no Concílio de Trento (1545-1563) reafirmaram a supremacia papal e os princípios da fé, além de incentivarem a criação de seminários para a formação de padres. A Inquisição tornou-se mais atuante, especialmente em Portugal e Espanha (ARANHA, 2006, p. 198).A história estava caminhando em direção a novos horizontes,
e o poder dominante da Igreja Católica estava sofrendo rupturas e
enfraquecimentos devido ao surgimento do protestantismo com Lutero. Na Europa,
a ideia central era estabelecer uma nova ordem que se afastasse do
etnocentrismo e adotasse o antropocentrismo, colocando a natureza humana em
primeiro plano, sobrepondo-se ao divino. Essas mudanças tiveram fortes
repercussões na educação, incluindo o surgimento de colégios, como veremos nas
próximas seções.
As Reformas Educacionais de Pombal e a
Influência Jesuíta
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Durante o período em que o Brasil estava sendo
"descoberto" na Europa, a Igreja estava passando por um movimento de
Contrarreforma, com o intuito de formar padres e mestres para o ensino. Isso
marcou o início das missões e da tentativa de difundir e fortalecer os ideais da
Igreja Católica. Foi nesse contexto que surgiu a concepção de ensino dos padres
jesuítas, com a criação da Companhia de Jesus.
Esse período histórico foi de grande importância para a
formação da nossa nação, pois foram os padres jesuítas, com o objetivo de
civilizar os nativos, que deram início à história da educação no Brasil, desde
o momento em que chegaram à Terra de Santa Cruz, como nosso país foi chamado
naquela época.
Desde o início da colonização, os padres jesuítas já estavam presentes em nosso país, atuando para difundir as ideias da Igreja Católica. As ações desses religiosos são descritas por Aranha (2006):
"Quando o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa,
chegou ao Brasil em 1549, trouxe consigo vários jesuítas liderados por Manuel
da Nóbrega. Apenas quinze dias depois, os missionários já estavam estabelecendo
em funcionamento uma escola 'de ler e escrever' na recém-fundada cidade de
Salvador. Esse foi o início do processo de criação de escolas elementares,
secundárias, seminários e missões espalhados pelo Brasil até 1759, quando os
jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal."
Durante esse período de 210 anos, os jesuítas realizaram
amplamente a catequese dos índios, a educação dos filhos dos colonos, a
formação de novos sacerdotes e da elite intelectual, além de exercer controle
sobre a fé e a moral dos habitantes da nova terra (ARANHA, 2006, p. 226).
Foi o começo de uma longa jornada dos padres jesuítas para
a catequização e a aculturação dos indígenas brasileiros. Isso marcou o início
de nossa história educacional. No entanto, conforme Aranha (2006) relata, os
padres enfrentaram desafios ao se adaptarem à nova terra, à cultura indígena
desconhecida por eles e aos portugueses que vieram morar aqui, ao longo do
século XVI.
O Processo de Catequese e a Influência Cultural
O processo histórico de educação no Brasil teve início com
a implementação da Catequese, cujo objetivo principal era civilizar os nativos,
vistos pelos missionários como pessoas sem fé, ingênuas e com uma cultura
primitiva. Os padres jesuítas acreditavam que podiam imprimir os conceitos
religiosos europeus nessas pessoas e, assim, salvar suas almas.
Segundo Aranha (2006), uma estratégia para se aproximar dos
nativos e desmitificar o papel do pajé era tentar conquistar a confiança do
líder da tribo. No entanto, essa abordagem encontrava muita resistência em
alguns casos. A forma mais fácil de acesso aos indígenas era através das
crianças das aldeias, conhecidas como curumins.
As crianças, em geral, ainda não estavam completamente
influenciadas pelo pajé, ao contrário dos adultos. Por isso, os padres jesuítas
passaram a investir diretamente nas crianças das aldeias como forma de iniciar
o processo de catequização. Inicialmente, os curumins aprendiam a ler e
escrever ao lado dos filhos dos colonos. Anchieta, por exemplo, utilizava
recursos como teatro, música, poesia e diálogos em verso para captar a atenção
das crianças. Através do teatro e da dança, os meninos gradualmente aprendiam a
moral e a religião cristã. Esse processo gerou um choque entre os valores da
cultura nativa e os do colonizador.
Os missionários substituíam as "cantigas
lascivas" entoadas pelos índios por hinos à Virgem e cânticos devocionais.
Eles condenavam a poligamia, promovendo o casamento cristão. Gradualmente,
foram suprimindo a antropofagia, a embriaguez, o adultério e lutando contra a
nudez, impondo a cobertura dos corpos que antes eram considerados
"vergonhosos" para os europeus (ARANHA, 2006, p. 228).
Essa abordagem tinha como objetivo ganhar a confiança dos
indígenas e implantar a ideia de aculturação. Os europeus viam os nativos como
pessoas extremamente ingênuas, que precisavam ser ensinadas em todos os
aspectos, inclusive em relação à cobertura de seus corpos nus.
Os padres jesuítas se envolviam em todos os aspectos sociais da vida no novo mundo, desde casamentos até técnicas agrícolas. Os indígenas eram vistos como seres que necessitavam de orientação em todas as áreas de conhecimento, devido à sua suposta falta de sabedoria. Eles eram considerados uma "folha em branco" na qual era necessário imprimir os aspectos culturais europeus.
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Dessa forma, os missionários acreditavam estar realizando
um serviço civilizatório ao retirar os nativos da "ociosidade", da
"preguiça", da "indisciplina" e da "desorganização".
Introduziram regras de higiene, normas alimentares e condenaram práticas como a
antropofagia e o adultério. Além disso, gradualmente foram impondo padrões de
vestimenta, definindo uma "geografia do corpo" que determinava quais
partes poderiam ser expostas e quais deveriam ser cobertas (ARANHA, 2006, p.
229).
Essa estratégia de aculturação dos indígenas foi uma das
principais características do período de colonização. Os portugueses impunham
sua dominação nas terras brasileiras substituindo gradualmente a cultura
indígena pela cultura lusitana.
Para garantir o sucesso desse processo, os padres também
recorriam a castigos severos, executados em público, como forma de servirem de
exemplo para os demais. Os jesuítas se viam no direito de agir como
"pais" dos nativos, corrigindo e protegendo-os. Naquela época, o uso
de sanções violentas era comum na Europa, e essa prática foi trazida para o
Brasil. As penalidades variavam de acordo com a gravidade da culpa, envolvendo
desde açoitamentos até mutilações (ARANHA, 2006, p. 229).
Esse foi o sistema de ensino predominante no Brasil
colonial. Os padres jesuítas prosperaram em suas atividades por um longo
período, até que em 1759, durante as reformas iluministas, foram expulsos pelo
Marquês de Pombal.
Durante esse tempo de domínio dos jesuítas, não havia
espaço para outras formas de educação no Brasil que não fossem aquelas trazidas
pelos portugueses. A cultura portuguesa predominava na educação brasileira, com
ênfase na religiosidade, conversão dos nativos e educação das mulheres, além da
manutenção do ensino do latim para os filhos dos colonizadores (VEIGA, 2007, p.
51).
Podemos afirmar, portanto, que a influência cultural
portuguesa foi predominante no sistema educacional durante a formação inicial
do Brasil. Somente após a expulsão dos jesuítas, no século XVIII, iniciou-se
uma nova fase para a educação brasileira.
A transformação educacional na Idade Moderna: o
fortalecimento da burguesia, o pensamento do homem moderno e o realismo
pedagógico
A Idade Moderna marcou um período de transformações
significativas na educação, impulsionadas pelo fortalecimento da burguesia e
pelo surgimento do pensamento liberal. Durante essa época, conhecida como
realismo pedagógico, a educação passou por mudanças que refletiam as relações
comerciais e sociais estabelecidas pela classe burguesa.
O avanço da burguesia estava intimamente ligado à reflexão
sobre o poder absoluto dos reis. A aliança entre os monarcas e os burgueses era
sustentada pelo financiamento dos exércitos e marinhas por parte dos burgueses,
em troca de vantagens para suas atividades comerciais. Nesse contexto, surgiu o
liberalismo, com destaque para John Locke, que questionava o poder absoluto dos
reis e defendia restrições à interferência do Estado na vida dos cidadãos.
Locke propunha um sistema democrático em que o poder
legislativo servia como um contrapeso ao poder do soberano, limitando os abusos
e garantindo os direitos individuais. Essa concepção democrática do poder
político contrastava com a nobreza feudal, em que o status era determinado pelo
nascimento.
Essas mudanças sociais e políticas também afetaram a
educação. Enquanto os padres jesuítas mantinham seu método de ensino
tradicional, considerado ultrapassado, surgiram escolas públicas na Europa.
Essas escolas, voltadas para crianças de 6 a 12 anos, eram uma exigência
obrigatória e incluíam crianças pobres.
Apesar das dificuldades causadas pela Guerra dos Trinta
Anos, alguns países europeus, como a Alemanha e a França, implementaram a
educação pública obrigatória. Foram estabelecidas leis que regulamentavam os
graus de ensino, as horas de trabalho, os exames e as inspeções. Surgiram
também escolas gratuitas para crianças pobres e seminários para a formação de
mestres.
Nesse contexto, a pedagogia realista ganhou destaque. Ela
se opunha à educação formal e retórica, priorizando o ensino das ciências da
natureza e buscando uma abordagem mais prática e voltada para a compreensão das
coisas. Educadores leigos e religiosos se envolveram nesse movimento de
transformação educacional.
Com o liberalismo, o ensino passou a ter uma característica
mais democrática, embora ainda houvesse uma diferenciação entre as escolas
frequentadas pela elite e aquelas destinadas às camadas populares. O realismo
pedagógico trouxe métodos de ensino mais voltados para a vida prática e buscou
tornar a educação mais agradável e eficaz, atendendo aos interesses comerciais
da época.
A influência de John Locke na educação e na sociedade foi
significativa durante a Idade Moderna. Suas teorias sobre aprendizado e
desenvolvimento tiveram impacto na história da educação, contribuindo para a
concepção de um sistema educacional mais dinâmico e alinhado às necessidades do
homem moderno.
A educação no Brasil durante o período
colonial: o ensino dos jesuítas, a reforma promovida por Pombal e a expulsão
dos religiosos
Enquanto na Europa se desenrolavam os movimentos
intelectuais da época, como o surgimento do pensamento moderno, o avanço do
liberalismo e a consolidação do Estado moderno, o Brasil encontrava-se sob o
domínio de Portugal, ainda na fase do colonialismo, com um sistema educacional
fortemente influenciado pela religião católica e a atuação dos padres jesuítas.
É nesse contexto histórico que abordaremos o tema da educação no Brasil colonial,
destacando o ensino ministrado pelas missões jesuíticas, a reforma implementada
por Pombal e, por fim, a expulsão dos jesuítas em 1759, que marcou uma nova era
na educação brasileira.
A Educação no Brasil Colonial: A Influência dos
Jesuítas, a Diversidade Cultural e os Impactos Atuais
Durante um extenso intervalo de tempo, que perdurou de 1549
a 1759, os padres da Companhia de Jesus tiveram um papel fundamental na
instrução religiosa no território brasileiro. Em suas ações, eles buscaram
atender aos interesses políticos daquela época, estabelecendo parcerias com os
colonizadores portugueses. Esses interesses abarcavam tanto questões políticas
como econômicas, evidenciando a complexidade do contexto histórico daquele
período.
A metodologia educacional adotada pelos jesuítas estava
intrinsecamente conectada à realidade social vigente, que visava educar os
descendentes dos colonizadores e formar religiosos e indivíduos vocacionados
para o sacerdócio. Segundo Veiga (2007), havia uma ampla gama de atividades
educativas promovidas pelos jesuítas, englobando a missão de converter os
nativos ao cristianismo, a formação teológica e a educação dos filhos dos
colonos. Essas ações ocorriam em diferentes locais, tais como igrejas, missões,
oficinas, colégios e seminários.
Naquela época, a Igreja Católica e a coroa portuguesa
atuavam em conjunto, buscando conquistar corpos, terras, costumes e almas. No
entanto, é importante ressaltar que essa colaboração também enfrentava
conflitos e resistências. De acordo com Veiga, ocorriam confrontos entre os
colonizadores, que desejavam escravizar os nativos, e os jesuítas, que se
opunham a essa prática.
A sociedade daquele período era caracterizada por uma
convivência conflituosa, uma vez que diferentes grupos étnicos, com suas
próprias culturas e tradições, coexistiam. Conflitos, estratégias de dominação,
segregação e resistências eram elementos presentes nesse cenário complexo.
Conforme a colonização avançava e o território brasileiro
era ocupado, a população branca e negra (trazida como escravizada) aumentava
consideravelmente, enquanto a população indígena sofria uma drástica redução,
passando de aproximadamente cinco milhões em 1500 para cerca de 800 mil no fim
do período colonial. Esse declínio populacional se deu principalmente devido a
doenças e genocídio.
Os jesuítas empregavam uma série de estratégias para
"civilizar" os nativos e convertê-los ao cristianismo. Segundo Veiga
(2007), eles combinavam a escrita, a expressão corporal e a oralidade em suas
práticas educativas, chegando ao ponto de aprender a língua indígena,
principalmente o tupi-guarani, conhecido como língua brasílica. Dessa forma, os
padres realizavam pregações, ensinavam orações, cânticos religiosos e canções
portuguesas, explorando o potencial da oralidade musical, a qual era bem
recebida pelos nativos devido à importância do canto e da dança em sua cultura.
Além disso, os indígenas eram instruídos a tocar instrumentos musicais
europeus, como a flauta doce, o pífaro e o cravo, contribuindo para uma
educação estética de inspiração cristã.
Os religiosos jesuítas até mesmo desenvolveram uma
gramática normativa da língua brasílica, organizada pelo padre José de Anchieta
em 1560, que posteriormente foi impressa em 1595. Essa gramática possibilitou a
produção de várias publicações, como peças teatrais, dicionários e outras
gramáticas bilíngues, nas quais o tupi-guarani era combinado com o latim, o
português ou o castelhano.
Enquanto os jesuítas dedicavam-se a "civilizar" e
"converter" os nativos, a educação destinada às classes privilegiadas
seguia uma abordagem distinta. Para que os filhos das elites pudessem avançar
em seus estudos e se aprimorar, era comum enviá-los ao exterior para completar
sua formação e especializar-se. França e Portugal eram os principais destinos
escolhidos, proporcionando contato com colegas e professores que seguia o
modelo educacional europeu, despertando aspirações por um novo estilo de vida e
uma educação a ser seguida. Já para as classes menos privilegiadas, a educação
voltava-se para a aprendizagem de habilidades manuais, porém essa forma de
ensino não possuía um padrão estabelecido e era ministrada em oficinas.
É importante ressaltar que o aprendizado das habilidades
manuais era pouco valorizado socialmente, sendo considerado um trabalho
subordinado. Enquanto isso, a educação no Brasil colonial, durante o período de
atuação dos jesuítas e sua pedagogia, era fortemente influenciada pela igreja,
contrastando com a Europa, onde surgiam contradições entre o ideal da pedagogia
realista e a educação conservadora (Aranha, 2006).
A significativa ação missionária dos jesuítas, visando
aculturar os nativos e suprimir suas próprias culturas em prol de um ideal
cristão, teve um impacto duradouro na cultura brasileira. Até hoje, é possível
observar reflexos desse discurso que promovia um único modelo idealizado de uma
sociedade branca, cristã e europeia, inclusive na forma como a história é
narrada, priorizando a perspectiva do colonizador.
Desse modo, a educação durante o período colonial no Brasil
refletiu a complexa relação entre os jesuítas e os colonizadores, a diversidade
cultural presente na sociedade daquela época, além das disparidades entre a
educação voltada para as elites e a aprendizagem de habilidades manuais
destinada às classes menos privilegiadas. A influência da igreja e o modelo
educacional europeu moldaram o rumo da colônia, deixando um legado histórico
que ainda ressoa em nossa sociedade contemporânea.
Revolução Educacional: A Reforma Pombalina e o
Fim dos Jesuítas
A Reforma Pombalina, liderada pelo Marquês de Pombal, teve
como um de seus principais pontos a expulsão dos jesuítas de Portugal e do
Brasil em 1759. Essa medida foi tomada devido à crítica à forma tradicional de
ensino adotada pelos jesuítas, considerada ultrapassada por muitos,
especialmente em um período de mudanças e ideais liberais emergentes.
Ao expulsar os jesuítas, o Marquês de Pombal abriu caminho
para a implementação de reformas inspiradas nas ideias iluministas. Segundo
Aranha (2006), o Marquês desempenhou um papel fundamental na adoção dessas
ideias em Portugal. Além disso, ele foi pioneiro na promoção de uma educação
estatal, responsabilidade do Estado, antes mesmo da implementação desse modelo
em outros países, como a França após a Revolução Francesa, que ocorreu apenas
em 1790.
A expulsão dos jesuítas marcou o início de uma
transformação no sistema educacional português. O Marquês de Pombal trabalhou
incansavelmente para reformar o ensino, estabelecendo o princípio das escolas
régias, que passaram a pertencer ao rei e não estavam mais sob o comando da
igreja. Essa reforma abrangeu tanto o ensino básico, conhecido como ensino
menor, quanto o ensino superior, com especial atenção para a Universidade de
Coimbra, onde foram concentradas as ações reformistas.
A Reforma Pombalina e a expulsão dos jesuítas representaram
um marco na história da educação em Portugal e no Brasil colonial. Essas
medidas buscaram romper com o modelo educacional tradicional e religioso dos
jesuítas, abrindo espaço para novas ideias iluministas e para a intervenção
direta do Estado na educação. Embora tenham sido controversas e enfrentado
resistência, essas reformas deixaram um legado duradouro, moldando o sistema
educacional e influenciando a trajetória histórica desses países.
Conceito de Iluminismo
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Em meio às reformas pombalinas, que ocorreram no século
XVIII, um importante marco histórico relacionado à profissão de professor
surgiu quando, em 1772, Pombal estabeleceu o cargo de docente como função
pública.
Nesse contexto, foi instituído por Pombal o subsídio
literário em 1772, um imposto destinado a financiar as reformas propostas,
inclusive no Brasil. Essa medida resultou na seleção e remuneração dos
professores pelo Estado, tornando-os funcionários públicos (ARANHA, 2006, p.
290).
Enquanto essas mudanças se desenrolavam em Portugal,
impulsionadas pelo espírito do Iluminismo, é importante questionar: como as
reformas pombalinas se manifestaram no Brasil? Durante esse período, o país se
estruturava economicamente em torno da produção de cana-de-açúcar e das formas
de organização dos senhores de engenho.
No entanto, com o tempo, a influência e o poder dos
senhores de engenho foram enfraquecendo, assim como sua visão da sociedade
baseada na rigidez da aristocracia agrária. À medida que a produção de
cana-de-açúcar entrava em declínio, a mineração de ouro em Minas Gerais ganhava
destaque, levando a uma mudança na atividade econômica voltada para a cultura
aurífera. Conforme Aranha (2006) destaca, essa transformação resultou na
formação de uma pequena elite burguesa voltada para o comércio interno.
A sociedade mineira vivenciou uma nova era, marcada pela
renovação e disseminação cultural que deixou um legado expressivo, como o
barroco presente nas igrejas, a música sacra e os poetas da Arcádia Mineira.
Arte no Brasil: Revoltas, Educação e Desafios
Sociais
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A retração da cultura aurífera desencadeou revoltas devido
aos altos impostos exigido pelo Marquês de Pombal. Esse foi um período de
insurgências contra as políticas impostas pela coroa portuguesa, conforme
descrito por Aranha (2006):
Não por acaso, também surgiram movimentos de resistência à
opressão colonial na região. Em 1720, a revolta de Filipe dos Santos em Vila
Rica foi violentamente reprimida, em 1789, a Conjuração Mineira não apenas
buscava reformas, mas questionava o pacto colonial, embora não tenha conseguido
estabelecer uma nova ordem. Da mesma forma, em 1798, um movimento ainda mais
radical, a Conjuração Baiana, foi sufocado (ARANHA, 2006, p. 318).
No contexto da educação, quando os jesuítas foram expulsos
do país, apesar de sua presença em toda a colônia e de seu poder político e
econômico, o governo apropriou-se de todos os seus bens e destruiu muitos
documentos históricos. Segundo Aranha (2006), isso resultou no abandono dos
indígenas nas missões, pois foram deixados à própria sorte, e no abandono do
ensino das classes mais pobres, que era ministrado pelos religiosos.
Quando a coroa portuguesa retomou o plano de ensino
regular, ocorreram ações semelhantes às que ocorreram em Portugal, como
descrito por Aranha (2006):
Várias medidas antecederam as primeiras providências mais
efetivas, implementadas somente a partir de 1772, quando o ensino público
oficial teria sido estabelecido. A Coroa nomeou professores, estabeleceu planos
de estudo e inspeção, e modificou o curso de humanidades, típico do ensino
jesuítico, para o sistema de aulas isoladas de disciplinas, como ocorria na
metrópole (ARANHA, 2006, p. 320).
No Brasil, algo semelhante ao que ocorreu na metrópole
aconteceu, com a criação de um imposto que permitia a criação de empregos
públicos para professores, que foram nomeados pela coroa portuguesa. Isso
marcou o início da educação pública no Brasil.
No entanto, o movimento de reformas não teve um impacto
significativo na educação brasileira, resultando em um grande lapso de tempo e
decadência na qualidade da educação no país, especialmente após a saída do
modelo dos padres jesuítas. Foi um período de grande retrocesso no ensino
brasileiro.
Como resultado, no Brasil, houve uma notável disparidade em
relação a Portugal, principalmente no campo da educação, o que aprofundou a
diferença entre a elite letrada e a imensa maioria da população que não tinha
acesso à educação.
Embora a reforma pombalina não tenha tido repercussões
imediatas na colônia, as sementes de um novo processo foram lançadas, amadurecendo
gradualmente ao longo do século seguinte (ARANHA, 2006, p. 324).
Essa era a esperança do Brasil: ressurgir para a inovação
das ideias no campo da educação e da sociedade. Veremos mais sobre isso nas
próximas etapas de nosso estudo.
Síntese
Ao analisarmos a história da educação, percebemos a
interação entre os diferentes períodos históricos e suas influências nas
sociedades, resultando em avanços e decadências para a educação, principalmente
no contexto brasileiro.
Neste artigo, refletimos sobre o surgimento do Renascimento
e do Humanismo, ao mesmo tempo em que o Brasil estava sendo
"descoberto" pelos portugueses. Nesse momento inicial da colonização,
testemunhamos o controle e a exploração do Brasil pela coroa portuguesa, com políticas
e ações missionárias de aculturação que também envolviam a escravização de
negros e índios, além do triste episódio do extermínio das tribos indígenas no
final do período colonial.
Com a chegada do Iluminismo e do Liberalismo na Europa,
acompanhados por um fervor renovador nas sociedades, o Brasil vislumbrou uma
nova esperança após a expulsão dos padres jesuítas e a implementação das
reformas pombalinas, promovidas pelo Marquês de Pombal. No entanto, essas
transformações mergulharam o país em um abismo social, exacerbando a
disparidade entre a elite letrada e a imensa maioria de analfabetos e
excluídos.
Apesar desse cenário desafiador, o próximo século trará
renovada esperança para o Brasil. É nesse contexto que avançaremos em nosso
estudo, buscando compreender as mudanças e os desafios enfrentados no campo da
educação e da sociedade brasileira. Através do conhecimento de nossa história e
da reflexão sobre os erros e acertos do passado, podemos traçar um caminho de
progresso e inclusão, rumo a uma educação mais equitativa e acessível para
todos os cidadãos brasileiros.
Referências bibliográficas
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VEIGA, C. V. História da Educação . São Paulo: Ática, 2007.
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