Uma análise da educação do Renascimento à colonização do Brasil.

O Humanismo, de maneira geral, priorizou o antropocentrismo em oposição ao etnocentrismo, ampliando assim a busca por uma compreensão mais abrangente do mundo.

Imagem de Alexandria por Pixabay
Imagem de Alexandria por Pixabay

Resumo

O artigo aborda a Reforma Pombalina e a expulsão dos jesuítas em Portugal e no Brasil. O Marquês de Pombal foi responsável por implementar ideias iluministas e promover uma educação estatal, expulsando os jesuítas e tornando os professores funcionários públicos. No Brasil, as reformas pombalinas tiveram impacto nas áreas econômica e educacional, com a decadência da produção de cana-de-açúcar e o surgimento da extração de ouro em Minas Gerais. O texto ressalta a desigualdade na educação, evidenciando a lacuna entre a elite letrada e a maioria da população sem acesso à educação. Apesar dos desafios, o próximo século traz esperança para o Brasil na busca por uma educação mais inclusiva e equitativa.

Palavras-chave: Reforma Pombalina, expulsão dos jesuítas, Marquês de Pombal, educação estatal, ideias iluministas, funcionários públicos, Brasil, Portugal, cana-de-açúcar, extração de ouro, desigualdade educacional, elite letrada, esperança, inclusão, equidade.

Introdução

Este artigo científico tem como objetivo realizar uma análise minuciosa da evolução da educação, abrangendo o período que compreende desde o Renascimento até a colonização do Brasil. Serão examinados os primeiros movimentos educacionais promovidos pelos padres jesuítas nesse contexto histórico. O propósito central é apresentar as principais ideias e concepções educacionais que emergiram ao longo desses períodos, fornecendo uma visão abrangente dos elementos que moldaram a paisagem educacional atual.

O estudo não se limita a uma abordagem superficial da História, mas busca compreender as contribuições fundamentais que influenciaram a evolução da educação ao longo do tempo. Reconhecemos a importância crítica do estudo e da consciência histórica na formação dos profissionais da educação, e este artigo se destina a contribuir significativamente para o debate acerca das diferentes concepções educacionais presentes no sistema de ensino contemporâneo.

Ao investigar cuidadosamente os caminhos percorridos no passado, será possível apreciar as bases do conhecimento que foram estabelecidas ao longo dos séculos. Desde as ideias revolucionárias do Renascimento até os primeiros experimentos educacionais realizados no contexto da colonização do Brasil, este estudo proporcionará uma compreensão mais aprofundada da trajetória histórica da educação e do seu impacto na sociedade.

Diante disso, este trabalho visa fornecer uma base sólida para a compreensão dos fundamentos históricos que sustentam o nosso sistema educacional atual. Ao adquirir essa compreensão, os profissionais da educação estarão melhor preparados para moldar o futuro da educação de maneira informada, consciente e inspiradora. Portanto, aproveite essa oportunidade para ampliar seus horizontes e enriquecer sua compreensão da essência da educação.

Por meio dessa análise histórica, almejamos iluminar um caminho em direção a uma educação mais significativa e transformadora, que possa atender às demandas contemporâneas e promover o desenvolvimento pleno dos indivíduos e da sociedade como um todo.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa foi conduzida com o objetivo de investigar o impacto da Reforma Pombalina e da expulsão dos jesuítas na educação de Portugal e do Brasil. Para alcançar esse objetivo, foi adotada uma metodologia composta por diversas etapas. Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica abrangente, buscando fontes relevantes como livros, artigos acadêmicos e teses relacionados ao tema. A seleção dessas fontes foi baseada em sua pertinência e atualidade. Em seguida, os dados coletados foram submetidos a uma análise crítica e analítica, identificando informações relevantes, conceitos-chave e argumentos apresentados pelos autores. Com base nas informações coletadas, os dados foram classificados e categorizados de acordo com os principais tópicos abordados, como contexto histórico, reformas pombalinas, impacto da expulsão dos jesuítas, educação estatal e desigualdade educacional. Utilizando as informações e análises realizadas, o texto final da pesquisa foi redigido, seguindo uma estrutura lógica e coesa, com cuidado para garantir a originalidade das ideias e evitar qualquer forma de plágio. Posteriormente, o texto foi minuciosamente revisado, verificando a precisão dos dados, corrigindo erros gramaticais e garantindo a consistência do conteúdo. Essa abordagem metodológica permitiu conduzir a pesquisa de forma sistemática, assegurando a qualidade e confiabilidade dos resultados apresentados no artigo final.

Um Novo Amanhecer: Explorando o Renascimento, o Humanismo, a Reforma e a Contrarreforma

Imagem de Claudia por Pixabay
Imagem de Claudia por Pixabay

Nesta seção, nos aprofundaremos no período histórico conhecido como Renascimento, focalizando especialmente o Humanismo e suas concepções inovadoras que marcaram uma mudança significativa em relação ao paradigma dominante da Idade Média. Veremos como o Humanismo, de maneira geral, priorizou o antropocentrismo em oposição ao etnocentrismo, ampliando assim a busca por uma compreensão mais abrangente do mundo. Além disso, examinaremos o período de transição da Igreja, no contexto das transformações impostas pela Reforma e pela Contrarreforma.

O Renascimento

Imagem de Pexels por Pixabay
Imagem de Pexels por Pixabay

O Renascimento é amplamente reconhecido como um período de grande importância na história, sendo frequentemente considerado um marco transcendental. Contrariando a noção difundida da Idade Média como uma era de obscuridade de mil anos, o Renascimento trouxe consigo uma série de avanços significativos, como o ressurgimento das universidades. Neste artigo científico, dedicaremos nossa atenção às contribuições do Renascimento para o desenvolvimento da educação.

De acordo com as reflexões de Aranha (2006), durante esse período histórico, buscou-se superar o teocentrismo, uma característica proeminente da Idade Média. O Renascimento, que ocorreu entre os séculos XV e XVI, recebeu esse nome por representar uma retomada dos valores greco-romanos. Ele desencadeou o movimento conhecido como humanismo, que procurava redefinir a concepção do ser humano e da cultura, em contraposição às perspectivas predominantemente teológicas da Idade Média e ao espírito autoritário que delas derivava (ARANHA, 2006, p. 194).

Uma das características distintivas desse período foi o humanismo, que se destacou pela busca em resgatar os valores greco-romanos, como veremos em detalhes mais adiante. O Renascimento foi marcado por um desejo de inaugurar uma nova era, em que os valores humanos assumiam uma posição central em detrimento dos valores divinos ou teocêntricos, que se voltavam para "o único Deus que controla tudo e todos".

É nesse contexto histórico que nos deparamos com a chegada dos portugueses ao Brasil, que era então considerado "recentemente descoberto". Também testemunhamos o movimento de educação religiosa que predominou durante o período de colonização brasileira por Portugal.

Explorando o Humanismo

Imagem de mostafa meraji por Pixabay
Imagem de mostafa meraji por Pixabay

Ao direcionarmos nosso olhar para o humanismo, podemos compreender que sua característica central, conforme mencionado por Aranha (2006), reside na busca por valores mais humanos e sociais, voltados para a prática da vida terrena. Essa abordagem, conhecida como antropocentrismo, coloca o ser humano no centro das atenções, em contraste com a visão predominante na Idade Média, em que Deus era considerado o centro de todas as coisas.

No anseio por uma nova era, o humanismo visava resgatar os valores greco-romanos, com o objetivo de moldar o cidadão cortês, o homem refinado da corte. A busca pelo conhecimento tinha como foco os valores sociais e os prazeres mundanos, anteriormente restringidos pela igreja. Como destaca Aranha (2006), "o olhar humano desviou-se do céu para a terra, concentrando-se cada vez mais nas questões do cotidiano. A curiosidade, despertada para a observação direta dos fatos, intensificou o interesse pelo corpo e pela natureza ao nosso redor. Na área da medicina, houve avanços no conhecimento anatômico por meio da prática da dissecação de cadáveres humanos, que era proibida pela Igreja até então" (ARANHA, 2006, p. 196).

Foi durante o período do humanismo que ocorreu o surgimento da burguesia e, no campo das artes, houve uma proliferação significativa de conhecimento e produção cultural, com a Itália desempenhando um papel central nesse movimento. Esses foram sinais de uma época que buscava valorizar a individualidade e a razão humana.

As artes em geral, como a pintura, arquitetura, escultura e literatura, experimentaram um florescimento intenso, e a Itália se destacou como um centro irradiador dessa nova produção cultural. Mesmo quando os temas religiosos persistiam, a visão humanista prevalecia, abrangendo cada vez mais temas relacionados à burguesia (ARANHA, 2006, p. 196).

Nesse contexto, emergia um ideal de liberdade espiritual em contraposição ao dogmatismo proposto pela igreja. É importante ressaltar que a igreja não deixou de existir nem de exercer sua influência, inclusive no âmbito educacional. Ela continuou desempenhando um papel significativo na sociedade da época.

O Movimento da Reforma e a Resposta da Contrarreforma

Imagem de falco por Pixabay
Imagem de falco por Pixabay

A Reforma e a Contrarreforma desempenharam um papel significativo durante esse período. Inclusive, no âmbito da religião, ocorreram mudanças que influenciam os valores cristãos até os dias atuais, conforme veremos a seguir.

O espírito inovador do Renascimento também se manifestou no campo religioso, com críticas à estrutura autoritária da Igreja, que estava centrada no poder papal. Movimentos de ruptura, como o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo, surgiram devido a interesses políticos nacionalistas e econômicos (ARANHA, 2006, p. 197).

A igreja enfrentava tempos de transformação à medida que novas concepções de mundo surgiam. Nesse contexto histórico, algumas ações tradicionais da igreja, como o Santo Ofício (Inquisição), começaram a perder força, enquanto outras ações já não exerciam o mesmo domínio na sociedade, como era esperado.

Essas mudanças na igreja eram impulsionadas por insurgências cada vez mais intensas. Foi necessária a Reforma para atender aos objetivos impulsionados pelos interesses políticos e nacionalistas, uma vez que a burguesia estava em ascensão.

Aranha (2006) destaca as rebeliões contra a "Santa Igreja", como aquelas relacionadas ao empréstimo a juros. Essas rebeliões ganharam notoriedade devido ao crescimento do poder dos reinos da época.

No entanto, as causas desses movimentos não eram exclusivamente religiosas. Ventos de rebeldia sopravam nas cidades, que buscavam se libertar dos senhores feudais e das restrições econômicas, como a condenação do empréstimo a juros pela Igreja. Além disso, a teoria da supremacia da autoridade papal era rejeitada, uma vez que o universalismo da Igreja entrava em conflito com o crescente ideal nacionalista expresso na formação das monarquias e no fortalecimento do poder dos reis (ARANHA, 2006, p. 198).

Muitas dessas ações de contestação ao poder da igreja surgiram em meio à nova ordem política e social característica do Renascimento, cujo objetivo central era estabelecer uma nova ordem mundial baseada no poder centrado no ser humano, ou seja, no antropocentrismo.

A Contrarreforma e as Transformações da Igreja

A Contrarreforma é um movimento que abalou significativamente os rumos e as concepções da igreja, como apontado por Aranha (2006). Nesse período de ruptura, surgiram novas visões, como o protestantismo, e houve uma tentativa de retomada do poder por parte da Igreja Católica.

A maior crise da igreja ocorreu no século XVI, com a Reforma Protestante. Os protestantes, contrariando as restrições católicas aos negócios e a condenação ao empréstimo a juros, consideravam o enriquecimento como um sinal do favor divino. Lutero conquistou a adesão da nobreza, interessada na apropriação dos bens do clero, enquanto Calvino recebeu apoio da rica burguesia. Dessa forma, as divergências não se limitavam apenas a questões religiosas, mas também refletiam as transformações sociais e econômicas, que levaram a Europa a enfrentar violentos conflitos.

Publicidade

Em resposta à expansão da crença protestante, a Igreja Católica desencadeou uma forte reação conhecida como Contrarreforma, com o objetivo de recuperar o poder perdido. As novas diretrizes estabelecidas no Concílio de Trento (1545-1563) reafirmaram a supremacia papal e os princípios da fé, além de incentivarem a criação de seminários para a formação de padres. A Inquisição tornou-se mais atuante, especialmente em Portugal e Espanha (ARANHA, 2006, p. 198).

A história estava caminhando em direção a novos horizontes, e o poder dominante da Igreja Católica estava sofrendo rupturas e enfraquecimentos devido ao surgimento do protestantismo com Lutero. Na Europa, a ideia central era estabelecer uma nova ordem que se afastasse do etnocentrismo e adotasse o antropocentrismo, colocando a natureza humana em primeiro plano, sobrepondo-se ao divino. Essas mudanças tiveram fortes repercussões na educação, incluindo o surgimento de colégios, como veremos nas próximas seções.

As Reformas Educacionais de Pombal e a Influência Jesuíta

Imagem de Foundry Co por Pixabay
Imagem de Foundry Co por Pixabay

Durante o período em que o Brasil estava sendo "descoberto" na Europa, a Igreja estava passando por um movimento de Contrarreforma, com o intuito de formar padres e mestres para o ensino. Isso marcou o início das missões e da tentativa de difundir e fortalecer os ideais da Igreja Católica. Foi nesse contexto que surgiu a concepção de ensino dos padres jesuítas, com a criação da Companhia de Jesus.

Esse período histórico foi de grande importância para a formação da nossa nação, pois foram os padres jesuítas, com o objetivo de civilizar os nativos, que deram início à história da educação no Brasil, desde o momento em que chegaram à Terra de Santa Cruz, como nosso país foi chamado naquela época.

Desde o início da colonização, os padres jesuítas já estavam presentes em nosso país, atuando para difundir as ideias da Igreja Católica. As ações desses religiosos são descritas por Aranha (2006):

"Quando o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa, chegou ao Brasil em 1549, trouxe consigo vários jesuítas liderados por Manuel da Nóbrega. Apenas quinze dias depois, os missionários já estavam estabelecendo em funcionamento uma escola 'de ler e escrever' na recém-fundada cidade de Salvador. Esse foi o início do processo de criação de escolas elementares, secundárias, seminários e missões espalhados pelo Brasil até 1759, quando os jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal."

Durante esse período de 210 anos, os jesuítas realizaram amplamente a catequese dos índios, a educação dos filhos dos colonos, a formação de novos sacerdotes e da elite intelectual, além de exercer controle sobre a fé e a moral dos habitantes da nova terra (ARANHA, 2006, p. 226).

Foi o começo de uma longa jornada dos padres jesuítas para a catequização e a aculturação dos indígenas brasileiros. Isso marcou o início de nossa história educacional. No entanto, conforme Aranha (2006) relata, os padres enfrentaram desafios ao se adaptarem à nova terra, à cultura indígena desconhecida por eles e aos portugueses que vieram morar aqui, ao longo do século XVI.

O Processo de Catequese e a Influência Cultural

O processo histórico de educação no Brasil teve início com a implementação da Catequese, cujo objetivo principal era civilizar os nativos, vistos pelos missionários como pessoas sem fé, ingênuas e com uma cultura primitiva. Os padres jesuítas acreditavam que podiam imprimir os conceitos religiosos europeus nessas pessoas e, assim, salvar suas almas.

Segundo Aranha (2006), uma estratégia para se aproximar dos nativos e desmitificar o papel do pajé era tentar conquistar a confiança do líder da tribo. No entanto, essa abordagem encontrava muita resistência em alguns casos. A forma mais fácil de acesso aos indígenas era através das crianças das aldeias, conhecidas como curumins.

As crianças, em geral, ainda não estavam completamente influenciadas pelo pajé, ao contrário dos adultos. Por isso, os padres jesuítas passaram a investir diretamente nas crianças das aldeias como forma de iniciar o processo de catequização. Inicialmente, os curumins aprendiam a ler e escrever ao lado dos filhos dos colonos. Anchieta, por exemplo, utilizava recursos como teatro, música, poesia e diálogos em verso para captar a atenção das crianças. Através do teatro e da dança, os meninos gradualmente aprendiam a moral e a religião cristã. Esse processo gerou um choque entre os valores da cultura nativa e os do colonizador.

Os missionários substituíam as "cantigas lascivas" entoadas pelos índios por hinos à Virgem e cânticos devocionais. Eles condenavam a poligamia, promovendo o casamento cristão. Gradualmente, foram suprimindo a antropofagia, a embriaguez, o adultério e lutando contra a nudez, impondo a cobertura dos corpos que antes eram considerados "vergonhosos" para os europeus (ARANHA, 2006, p. 228).

Essa abordagem tinha como objetivo ganhar a confiança dos indígenas e implantar a ideia de aculturação. Os europeus viam os nativos como pessoas extremamente ingênuas, que precisavam ser ensinadas em todos os aspectos, inclusive em relação à cobertura de seus corpos nus.

Os padres jesuítas se envolviam em todos os aspectos sociais da vida no novo mundo, desde casamentos até técnicas agrícolas. Os indígenas eram vistos como seres que necessitavam de orientação em todas as áreas de conhecimento, devido à sua suposta falta de sabedoria. Eles eram considerados uma "folha em branco" na qual era necessário imprimir os aspectos culturais europeus.

Veja Também:

- Redação nota 1000

- Lei da prisão especial

Dessa forma, os missionários acreditavam estar realizando um serviço civilizatório ao retirar os nativos da "ociosidade", da "preguiça", da "indisciplina" e da "desorganização". Introduziram regras de higiene, normas alimentares e condenaram práticas como a antropofagia e o adultério. Além disso, gradualmente foram impondo padrões de vestimenta, definindo uma "geografia do corpo" que determinava quais partes poderiam ser expostas e quais deveriam ser cobertas (ARANHA, 2006, p. 229).

Essa estratégia de aculturação dos indígenas foi uma das principais características do período de colonização. Os portugueses impunham sua dominação nas terras brasileiras substituindo gradualmente a cultura indígena pela cultura lusitana.

Para garantir o sucesso desse processo, os padres também recorriam a castigos severos, executados em público, como forma de servirem de exemplo para os demais. Os jesuítas se viam no direito de agir como "pais" dos nativos, corrigindo e protegendo-os. Naquela época, o uso de sanções violentas era comum na Europa, e essa prática foi trazida para o Brasil. As penalidades variavam de acordo com a gravidade da culpa, envolvendo desde açoitamentos até mutilações (ARANHA, 2006, p. 229).

Esse foi o sistema de ensino predominante no Brasil colonial. Os padres jesuítas prosperaram em suas atividades por um longo período, até que em 1759, durante as reformas iluministas, foram expulsos pelo Marquês de Pombal.

Durante esse tempo de domínio dos jesuítas, não havia espaço para outras formas de educação no Brasil que não fossem aquelas trazidas pelos portugueses. A cultura portuguesa predominava na educação brasileira, com ênfase na religiosidade, conversão dos nativos e educação das mulheres, além da manutenção do ensino do latim para os filhos dos colonizadores (VEIGA, 2007, p. 51).

Podemos afirmar, portanto, que a influência cultural portuguesa foi predominante no sistema educacional durante a formação inicial do Brasil. Somente após a expulsão dos jesuítas, no século XVIII, iniciou-se uma nova fase para a educação brasileira.

A transformação educacional na Idade Moderna: o fortalecimento da burguesia, o pensamento do homem moderno e o realismo pedagógico

A Idade Moderna marcou um período de transformações significativas na educação, impulsionadas pelo fortalecimento da burguesia e pelo surgimento do pensamento liberal. Durante essa época, conhecida como realismo pedagógico, a educação passou por mudanças que refletiam as relações comerciais e sociais estabelecidas pela classe burguesa.

O avanço da burguesia estava intimamente ligado à reflexão sobre o poder absoluto dos reis. A aliança entre os monarcas e os burgueses era sustentada pelo financiamento dos exércitos e marinhas por parte dos burgueses, em troca de vantagens para suas atividades comerciais. Nesse contexto, surgiu o liberalismo, com destaque para John Locke, que questionava o poder absoluto dos reis e defendia restrições à interferência do Estado na vida dos cidadãos.

Locke propunha um sistema democrático em que o poder legislativo servia como um contrapeso ao poder do soberano, limitando os abusos e garantindo os direitos individuais. Essa concepção democrática do poder político contrastava com a nobreza feudal, em que o status era determinado pelo nascimento.

Essas mudanças sociais e políticas também afetaram a educação. Enquanto os padres jesuítas mantinham seu método de ensino tradicional, considerado ultrapassado, surgiram escolas públicas na Europa. Essas escolas, voltadas para crianças de 6 a 12 anos, eram uma exigência obrigatória e incluíam crianças pobres.

Apesar das dificuldades causadas pela Guerra dos Trinta Anos, alguns países europeus, como a Alemanha e a França, implementaram a educação pública obrigatória. Foram estabelecidas leis que regulamentavam os graus de ensino, as horas de trabalho, os exames e as inspeções. Surgiram também escolas gratuitas para crianças pobres e seminários para a formação de mestres.

Nesse contexto, a pedagogia realista ganhou destaque. Ela se opunha à educação formal e retórica, priorizando o ensino das ciências da natureza e buscando uma abordagem mais prática e voltada para a compreensão das coisas. Educadores leigos e religiosos se envolveram nesse movimento de transformação educacional.

Com o liberalismo, o ensino passou a ter uma característica mais democrática, embora ainda houvesse uma diferenciação entre as escolas frequentadas pela elite e aquelas destinadas às camadas populares. O realismo pedagógico trouxe métodos de ensino mais voltados para a vida prática e buscou tornar a educação mais agradável e eficaz, atendendo aos interesses comerciais da época.

A influência de John Locke na educação e na sociedade foi significativa durante a Idade Moderna. Suas teorias sobre aprendizado e desenvolvimento tiveram impacto na história da educação, contribuindo para a concepção de um sistema educacional mais dinâmico e alinhado às necessidades do homem moderno.

A educação no Brasil durante o período colonial: o ensino dos jesuítas, a reforma promovida por Pombal e a expulsão dos religiosos

Enquanto na Europa se desenrolavam os movimentos intelectuais da época, como o surgimento do pensamento moderno, o avanço do liberalismo e a consolidação do Estado moderno, o Brasil encontrava-se sob o domínio de Portugal, ainda na fase do colonialismo, com um sistema educacional fortemente influenciado pela religião católica e a atuação dos padres jesuítas. É nesse contexto histórico que abordaremos o tema da educação no Brasil colonial, destacando o ensino ministrado pelas missões jesuíticas, a reforma implementada por Pombal e, por fim, a expulsão dos jesuítas em 1759, que marcou uma nova era na educação brasileira.

A Educação no Brasil Colonial: A Influência dos Jesuítas, a Diversidade Cultural e os Impactos Atuais

Durante um extenso intervalo de tempo, que perdurou de 1549 a 1759, os padres da Companhia de Jesus tiveram um papel fundamental na instrução religiosa no território brasileiro. Em suas ações, eles buscaram atender aos interesses políticos daquela época, estabelecendo parcerias com os colonizadores portugueses. Esses interesses abarcavam tanto questões políticas como econômicas, evidenciando a complexidade do contexto histórico daquele período.

A metodologia educacional adotada pelos jesuítas estava intrinsecamente conectada à realidade social vigente, que visava educar os descendentes dos colonizadores e formar religiosos e indivíduos vocacionados para o sacerdócio. Segundo Veiga (2007), havia uma ampla gama de atividades educativas promovidas pelos jesuítas, englobando a missão de converter os nativos ao cristianismo, a formação teológica e a educação dos filhos dos colonos. Essas ações ocorriam em diferentes locais, tais como igrejas, missões, oficinas, colégios e seminários.

Naquela época, a Igreja Católica e a coroa portuguesa atuavam em conjunto, buscando conquistar corpos, terras, costumes e almas. No entanto, é importante ressaltar que essa colaboração também enfrentava conflitos e resistências. De acordo com Veiga, ocorriam confrontos entre os colonizadores, que desejavam escravizar os nativos, e os jesuítas, que se opunham a essa prática.

A sociedade daquele período era caracterizada por uma convivência conflituosa, uma vez que diferentes grupos étnicos, com suas próprias culturas e tradições, coexistiam. Conflitos, estratégias de dominação, segregação e resistências eram elementos presentes nesse cenário complexo.

Conforme a colonização avançava e o território brasileiro era ocupado, a população branca e negra (trazida como escravizada) aumentava consideravelmente, enquanto a população indígena sofria uma drástica redução, passando de aproximadamente cinco milhões em 1500 para cerca de 800 mil no fim do período colonial. Esse declínio populacional se deu principalmente devido a doenças e genocídio.

Os jesuítas empregavam uma série de estratégias para "civilizar" os nativos e convertê-los ao cristianismo. Segundo Veiga (2007), eles combinavam a escrita, a expressão corporal e a oralidade em suas práticas educativas, chegando ao ponto de aprender a língua indígena, principalmente o tupi-guarani, conhecido como língua brasílica. Dessa forma, os padres realizavam pregações, ensinavam orações, cânticos religiosos e canções portuguesas, explorando o potencial da oralidade musical, a qual era bem recebida pelos nativos devido à importância do canto e da dança em sua cultura. Além disso, os indígenas eram instruídos a tocar instrumentos musicais europeus, como a flauta doce, o pífaro e o cravo, contribuindo para uma educação estética de inspiração cristã.

Os religiosos jesuítas até mesmo desenvolveram uma gramática normativa da língua brasílica, organizada pelo padre José de Anchieta em 1560, que posteriormente foi impressa em 1595. Essa gramática possibilitou a produção de várias publicações, como peças teatrais, dicionários e outras gramáticas bilíngues, nas quais o tupi-guarani era combinado com o latim, o português ou o castelhano.

Enquanto os jesuítas dedicavam-se a "civilizar" e "converter" os nativos, a educação destinada às classes privilegiadas seguia uma abordagem distinta. Para que os filhos das elites pudessem avançar em seus estudos e se aprimorar, era comum enviá-los ao exterior para completar sua formação e especializar-se. França e Portugal eram os principais destinos escolhidos, proporcionando contato com colegas e professores que seguia o modelo educacional europeu, despertando aspirações por um novo estilo de vida e uma educação a ser seguida. Já para as classes menos privilegiadas, a educação voltava-se para a aprendizagem de habilidades manuais, porém essa forma de ensino não possuía um padrão estabelecido e era ministrada em oficinas.

É importante ressaltar que o aprendizado das habilidades manuais era pouco valorizado socialmente, sendo considerado um trabalho subordinado. Enquanto isso, a educação no Brasil colonial, durante o período de atuação dos jesuítas e sua pedagogia, era fortemente influenciada pela igreja, contrastando com a Europa, onde surgiam contradições entre o ideal da pedagogia realista e a educação conservadora (Aranha, 2006).

A significativa ação missionária dos jesuítas, visando aculturar os nativos e suprimir suas próprias culturas em prol de um ideal cristão, teve um impacto duradouro na cultura brasileira. Até hoje, é possível observar reflexos desse discurso que promovia um único modelo idealizado de uma sociedade branca, cristã e europeia, inclusive na forma como a história é narrada, priorizando a perspectiva do colonizador.

Desse modo, a educação durante o período colonial no Brasil refletiu a complexa relação entre os jesuítas e os colonizadores, a diversidade cultural presente na sociedade daquela época, além das disparidades entre a educação voltada para as elites e a aprendizagem de habilidades manuais destinada às classes menos privilegiadas. A influência da igreja e o modelo educacional europeu moldaram o rumo da colônia, deixando um legado histórico que ainda ressoa em nossa sociedade contemporânea.

Revolução Educacional: A Reforma Pombalina e o Fim dos Jesuítas

A Reforma Pombalina, liderada pelo Marquês de Pombal, teve como um de seus principais pontos a expulsão dos jesuítas de Portugal e do Brasil em 1759. Essa medida foi tomada devido à crítica à forma tradicional de ensino adotada pelos jesuítas, considerada ultrapassada por muitos, especialmente em um período de mudanças e ideais liberais emergentes.

Ao expulsar os jesuítas, o Marquês de Pombal abriu caminho para a implementação de reformas inspiradas nas ideias iluministas. Segundo Aranha (2006), o Marquês desempenhou um papel fundamental na adoção dessas ideias em Portugal. Além disso, ele foi pioneiro na promoção de uma educação estatal, responsabilidade do Estado, antes mesmo da implementação desse modelo em outros países, como a França após a Revolução Francesa, que ocorreu apenas em 1790.

A expulsão dos jesuítas marcou o início de uma transformação no sistema educacional português. O Marquês de Pombal trabalhou incansavelmente para reformar o ensino, estabelecendo o princípio das escolas régias, que passaram a pertencer ao rei e não estavam mais sob o comando da igreja. Essa reforma abrangeu tanto o ensino básico, conhecido como ensino menor, quanto o ensino superior, com especial atenção para a Universidade de Coimbra, onde foram concentradas as ações reformistas.

A Reforma Pombalina e a expulsão dos jesuítas representaram um marco na história da educação em Portugal e no Brasil colonial. Essas medidas buscaram romper com o modelo educacional tradicional e religioso dos jesuítas, abrindo espaço para novas ideias iluministas e para a intervenção direta do Estado na educação. Embora tenham sido controversas e enfrentado resistência, essas reformas deixaram um legado duradouro, moldando o sistema educacional e influenciando a trajetória histórica desses países.

Conceito de Iluminismo

Imagem de 0fjd125gk87 por Pixabay
Imagem de 0fjd125gk87 por Pixabay

Em meio às reformas pombalinas, que ocorreram no século XVIII, um importante marco histórico relacionado à profissão de professor surgiu quando, em 1772, Pombal estabeleceu o cargo de docente como função pública.

Nesse contexto, foi instituído por Pombal o subsídio literário em 1772, um imposto destinado a financiar as reformas propostas, inclusive no Brasil. Essa medida resultou na seleção e remuneração dos professores pelo Estado, tornando-os funcionários públicos (ARANHA, 2006, p. 290).

Enquanto essas mudanças se desenrolavam em Portugal, impulsionadas pelo espírito do Iluminismo, é importante questionar: como as reformas pombalinas se manifestaram no Brasil? Durante esse período, o país se estruturava economicamente em torno da produção de cana-de-açúcar e das formas de organização dos senhores de engenho.

No entanto, com o tempo, a influência e o poder dos senhores de engenho foram enfraquecendo, assim como sua visão da sociedade baseada na rigidez da aristocracia agrária. À medida que a produção de cana-de-açúcar entrava em declínio, a mineração de ouro em Minas Gerais ganhava destaque, levando a uma mudança na atividade econômica voltada para a cultura aurífera. Conforme Aranha (2006) destaca, essa transformação resultou na formação de uma pequena elite burguesa voltada para o comércio interno.

A sociedade mineira vivenciou uma nova era, marcada pela renovação e disseminação cultural que deixou um legado expressivo, como o barroco presente nas igrejas, a música sacra e os poetas da Arcádia Mineira.

Arte no Brasil: Revoltas, Educação e Desafios Sociais

Imagem de Bernd Schäfer por Pixabay
Imagem de Bernd Schäfer por Pixabay

A retração da cultura aurífera desencadeou revoltas devido aos altos impostos exigido pelo Marquês de Pombal. Esse foi um período de insurgências contra as políticas impostas pela coroa portuguesa, conforme descrito por Aranha (2006):

Não por acaso, também surgiram movimentos de resistência à opressão colonial na região. Em 1720, a revolta de Filipe dos Santos em Vila Rica foi violentamente reprimida, em 1789, a Conjuração Mineira não apenas buscava reformas, mas questionava o pacto colonial, embora não tenha conseguido estabelecer uma nova ordem. Da mesma forma, em 1798, um movimento ainda mais radical, a Conjuração Baiana, foi sufocado (ARANHA, 2006, p. 318).

No contexto da educação, quando os jesuítas foram expulsos do país, apesar de sua presença em toda a colônia e de seu poder político e econômico, o governo apropriou-se de todos os seus bens e destruiu muitos documentos históricos. Segundo Aranha (2006), isso resultou no abandono dos indígenas nas missões, pois foram deixados à própria sorte, e no abandono do ensino das classes mais pobres, que era ministrado pelos religiosos.

Quando a coroa portuguesa retomou o plano de ensino regular, ocorreram ações semelhantes às que ocorreram em Portugal, como descrito por Aranha (2006):

Várias medidas antecederam as primeiras providências mais efetivas, implementadas somente a partir de 1772, quando o ensino público oficial teria sido estabelecido. A Coroa nomeou professores, estabeleceu planos de estudo e inspeção, e modificou o curso de humanidades, típico do ensino jesuítico, para o sistema de aulas isoladas de disciplinas, como ocorria na metrópole (ARANHA, 2006, p. 320).

No Brasil, algo semelhante ao que ocorreu na metrópole aconteceu, com a criação de um imposto que permitia a criação de empregos públicos para professores, que foram nomeados pela coroa portuguesa. Isso marcou o início da educação pública no Brasil.

No entanto, o movimento de reformas não teve um impacto significativo na educação brasileira, resultando em um grande lapso de tempo e decadência na qualidade da educação no país, especialmente após a saída do modelo dos padres jesuítas. Foi um período de grande retrocesso no ensino brasileiro.

Como resultado, no Brasil, houve uma notável disparidade em relação a Portugal, principalmente no campo da educação, o que aprofundou a diferença entre a elite letrada e a imensa maioria da população que não tinha acesso à educação.

Embora a reforma pombalina não tenha tido repercussões imediatas na colônia, as sementes de um novo processo foram lançadas, amadurecendo gradualmente ao longo do século seguinte (ARANHA, 2006, p. 324).

Essa era a esperança do Brasil: ressurgir para a inovação das ideias no campo da educação e da sociedade. Veremos mais sobre isso nas próximas etapas de nosso estudo.

Síntese

Ao analisarmos a história da educação, percebemos a interação entre os diferentes períodos históricos e suas influências nas sociedades, resultando em avanços e decadências para a educação, principalmente no contexto brasileiro.

Neste artigo, refletimos sobre o surgimento do Renascimento e do Humanismo, ao mesmo tempo em que o Brasil estava sendo "descoberto" pelos portugueses. Nesse momento inicial da colonização, testemunhamos o controle e a exploração do Brasil pela coroa portuguesa, com políticas e ações missionárias de aculturação que também envolviam a escravização de negros e índios, além do triste episódio do extermínio das tribos indígenas no final do período colonial.

Com a chegada do Iluminismo e do Liberalismo na Europa, acompanhados por um fervor renovador nas sociedades, o Brasil vislumbrou uma nova esperança após a expulsão dos padres jesuítas e a implementação das reformas pombalinas, promovidas pelo Marquês de Pombal. No entanto, essas transformações mergulharam o país em um abismo social, exacerbando a disparidade entre a elite letrada e a imensa maioria de analfabetos e excluídos.

Apesar desse cenário desafiador, o próximo século trará renovada esperança para o Brasil. É nesse contexto que avançaremos em nosso estudo, buscando compreender as mudanças e os desafios enfrentados no campo da educação e da sociedade brasileira. Através do conhecimento de nossa história e da reflexão sobre os erros e acertos do passado, podemos traçar um caminho de progresso e inclusão, rumo a uma educação mais equitativa e acessível para todos os cidadãos brasileiros.

 

Referências bibliográficas

A PAIDEIA Grega e a Tradição Pedagógica do Ocidente - VI Congresso de Educação . Postado por Instituto Hugo de São Vitor (13min. 16s.). son. color. port. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=heK0eKtvPeU >. Acesso em: 23 jun. 2023.

ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia : geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.

O DEVER DA EDUCAÇÃO COMO FORMAÇÃO DO CIDADÃO | Marcos Martinho . Postado por Casa do Saber (11min. 53s.). son. color. port. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=NhQq76oBHJE&t=31s >. Acesso em: 23 jun. 2023.

VEIGA, C. V. História da Educação . São Paulo: Ática, 2007.

XAVIER, A. R. História e filosofia da educação: da paideia grega ao pragmatismo romano. Revista Dialectus , Ceará, n. 9, p. 81-99, dez. 2016. Disponível em: < http://www.periodicos.ufc.br/dialectus/article/view/6535 >. Acesso em: 23 jun. 2023.

Postar um comentário

0 Comentários

'