A metafísica de Schopenhauer: o mundo é a manifestação da Vontade, uma força cega subjacente que impulsiona a existência.
Arthur Schopenhauer, por Filosofia do Início
Introdução
No amplo cenário da filosofia do século XIX, emerge um
pensador inquisitivo e provocativo: Arthur Schopenhauer. Nascido em Danzig em
22 de fevereiro de 1788, e findando sua jornada em Frankfurt em 21 de setembro
de 1860, Schopenhauer destaca-se como um filósofo alemão cujas ideias ecoam
através das eras. Sua obra-prima, "O Mundo como Vontade e
Representação" (1819), lança luz sobre um mundo fenomenal moldado
por uma vontade metafísica cega, insaciável e, em suas palavras, maligna.
Inspirado pelo idealismo transcendental de Immanuel Kant,
Schopenhauer forjou um sistema metafísico que se ergueu como uma voz do
pessimismo filosófico. No entanto, sua visão não se limita a lamentações, mas
sim a uma exploração intrépida das complexidades da existência. Notavelmente,
ele incorporou elementos do pensamento indiano e conceitos budistas à
metafísica alemã, trazendo uma rica tapeçaria de influências culturais e
filosóficas.
Nesta jornada intelectual, Schopenhauer foi profundamente
tocado pelas Upanishads, textos ancestrais indianos que transcendem fronteiras
geográficas e temporais. Através das traduções de Abraham Hyacinthe
Anquetil-Duperron no início do século XIX, Schopenhauer teceu as fibras do
pensamento oriental em seu próprio tecido filosófico.
Neste artigo, exploraremos a vida, as ideias e o impacto
duradouro de Arthur Schopenhauer. Evidenciaremos sua perspectiva única sobre a
vontade, o sofrimento e a metafísica, desvendando camadas profundas de
pensamento que continuam a ressoar na maneira como consideramos o mundo e a
nossa própria existência.
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A Formação da Juventude de Arthur Schopenhauer
A trajetória inicial de Arthur Schopenhauer é marcada por
um contexto complexo e influências diversas. Nascido em 22 de fevereiro de 1788
em Danzig, atual Gdańsk, Polônia, ele foi criado por pais de origem
protestante, Johanna Schopenhauer e Heinrich Floris Schopenhauer, que, apesar
de sua herança religiosa, demonstravam pouco fervor religioso. Essa liberdade
de pensamento se estendia ao apoio que ambos davam à Revolução Francesa,
refletindo seu posicionamento republicano e cosmopolita.
Quando a cidade natal de Arthur, Danzig, passou a fazer
parte da Prússia em 1793, seu pai, Heinrich, mudou-se para a republicana
Hamburgo, deixando sua empresa para trás, mas continuando a negociar em Danzig.
Aos poucos, o jovem Arthur foi adentrando o mundo além de suas fronteiras,
sendo enviado a Le Havre em 1797 para viver com a família de Grégoire de
Blésimaire, sócio de seu pai. Nessa estadia de dois anos, ele mergulhou no
aprendizado da língua francesa e cultivou uma amizade duradoura com Jean
Anthime Grégoire de Blésimaire.
A paixão de Arthur pela música também emergiu em sua
juventude, quando, em 1799, começou a tocar flauta. Mas foram as viagens que
moldaram sua formação de maneira única. Em 1803, ele acompanhou seus pais em
uma extensa jornada pela Holanda, Grã-Bretanha, França, Suíça, Áustria e
Prússia. Essa expedição, aparentemente de lazer, proporcionou a Heinrich a
oportunidade de manter seus laços comerciais no exterior.
Frente a um importante momento de decisão, Arthur escolheu
se juntar à jornada de seus pais, adiando o início dos preparativos para a
universidade em prol de uma educação mercantil em movimento. No entanto, ele
logo descobriu que o treinamento mercantil não o inspirava, uma decisão que,
embora possa ter lamentado posteriormente, levou-o a abraçar uma jornada de
descoberta pessoal e intelectual.
A relação com seu pai, Heinrich, foi marcada por traços de
melancolia que Arthur viria a reconhecer em si mesmo. A morte prematura de
Heinrich, ocorrida em circunstâncias questionáveis em 1805, deixou uma sombra
sobre a família, incitando especulações sobre a possibilidade de suicídio. Tal
como seu pai, Arthur também experimentaria dificuldades mentais ao longo da
vida, evidenciando uma história de instabilidade emocional que percorria o lado
paterno da família.
A juventude de Arthur Schopenhauer é um mosaico complexo de
influências e experiências, um terreno fértil que semeou as bases para sua
futura exploração filosófica. Em meio a suas viagens, desafios pessoais e
desenvolvimento intelectual, traços que herdou e circunstâncias que enfrentou
contribuíram para moldar o pensador único e provocativo que ele viria a se
tornar.
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A Maturidade do Pensamento
Após as conturbadas etapas iniciais de sua vida, Arthur
Schopenhauer emergiu na vida adulta como um pensador determinado a trilhar seu
próprio caminho filosófico. Os anos que se seguiram à sua juventude foram
marcados por explorações acadêmicas, reflexões profundas e um crescimento
constante de suas ideias.
Na Universidade de Berlim, em 1811, Schopenhauer teve o
privilégio de participar dos cursos de renomados filósofos como Schleiermacher
e Fichte. No entanto, sua relação com este último rapidamente se deteriorou, culminando
em acusações de caricaturar a filosofia de Kant para obscurecer a mente do povo
alemão. Em 1813, Schopenhauer doutorou-se com uma tese intitulada "Sobre
a Quádrupla Raiz do Princípio de Razão Suficiente".
A relação complexa com sua mãe, Johanna Schopenhauer, foi
acentuada quando ela encontrou sucesso como novelista em Weimar, envolvendo-se
nos círculos sociais que seu filho desdenhava. O relacionamento tumultuado
culminou em declarações públicas depreciativas sobre o trabalho de
Schopenhauer. Apesar disso, suas viagens e conexões sociais geraram um encontro
fortuito com Goethe, uma figura que reconheceu o gênio filosófico de
Schopenhauer. Goethe sugeriu a ele que trabalhasse em uma teoria antinewtoniana
da visão, o que resultou em seu trabalho "Sobre a Visão e as Cores",
publicado em 1816.
A década de 1820 testemunhou a independência de
Schopenhauer de sua família, acentuada pela morte de seu pai em 1820. Durante
esse período, Schopenhauer lutou para estabelecer-se como professor
universitário, enfrentando insucessos e tentativas frustradas de competir com
Hegel. Sua busca por estabilidade e reconhecimento o levou a fixar-se em
Frankfurt a partir de 1833, onde passou a vida solitária dedicado à sua
filosofia.
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Apesar de sua solidão, Schopenhauer permaneceu prolífico,
produzindo trabalhos como "Sobre a Vontade na Natureza" e
"Os Dois Problemas Fundamentais da Ética". Foi com a
publicação de "Parerga e Paralipomena" em 1851 que sua
notoriedade floresceu, proporcionando-lhe a visibilidade e reconhecimento que
sempre almejou. Artigos críticos e a reverência de filósofos e escritores logo
o envolveram, sua filosofia entrando em diálogo com uma geração ávida por suas
perspectivas únicas.
À medida que a década de 1860 se aproximava, Schopenhauer experimentou
uma gratificante aceitação de sua obra. No entanto, ele não viveu para ver seu
legado florescer por completo. Em 21 de setembro de 1860, aos 72 anos de idade,
Schopenhauer faleceu vítima de insuficiência cardíaca, encerrando assim a
jornada de um pensador cujas ideias ecoariam através das eras.
A vida adulta de Arthur Schopenhauer foi caracterizada por
uma busca incessante por entendimento, um esforço constante para expressar e
promover suas ideias únicas. Essa fase de sua vida refletiu sua persistência,
desenvolvimento intelectual e a consolidação de sua posição como um dos mais
importantes filósofos de seu tempo e para as gerações futuras.
A Filosofia de Schopenhauer
As ideias de Arthur Schopenhauer, embora impregnadas de um
tom sombrio, são cativantes em sua profundidade e originalidade. De acordo com
ele, a essência da vida humana é regida pela vontade, uma força intrínseca
presente em todos os seres, moldando nossos desejos, ações e sofrimentos. A
natureza insaciável dessa vontade nos conduz ao constante desejo de mais,
perpetuando um ciclo de insatisfação e angústia.
Schopenhauer estende essa noção de vontade não apenas aos
seres humanos, mas a todas as formas de vida, refletindo uma visão pessimista
da existência. Ele enxerga um mundo governado por uma vontade cega e
irracional, onde os indivíduos são meros joguetes dessa força subjacente.
Inspirado pela filosofia oriental, especialmente o budismo, Schopenhauer busca
a libertação dessa vontade incessante. Ele vislumbra a renúncia total aos
desejos como o caminho para a redenção, uma maneira de romper o ciclo de
sofrimento humano. Essa perspectiva ecoa no conceito budista de Nirvana, onde a
liberdade é alcançada através do desapego e da renúncia.
As raízes da filosofia de Schopenhauer podem ser
encontradas na distinção kantiana entre fenômenos e coisa-em-si. Kant delineou
a separação entre o que percebemos e o que existe por si só, introduzindo a
limitação do conhecimento científico ao mundo dos fenômenos. Schopenhauer levou
essa ideia adiante, afirmando que nosso entendimento do mundo é construído
através de representações, uma síntese entre a realidade exterior e nossa
consciência subjetiva. Essa perspectiva o levou a encarar a vida como uma
sequência de representações moldadas pela vontade cega que subjaz a tudo.
Enquanto suas ideias podem ser percebidas como
melancólicas, Schopenhauer destaca a busca por uma compreensão mais profunda da
realidade e da natureza humana. Sua exploração de nossos impulsos, anseios e
aspirações proporciona uma lente única para analisar a experiência humana.
Embora suas ideias possam ser vistas como um questionamento provocativo, elas
desencadearam um diálogo duradouro sobre o propósito, a natureza da vontade e o
significado subjacente ao nosso existir.
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Reflexões sobre a Sociedade e Pensamentos sobre
as Mulheres
Além de suas abordagens filosóficas, Arthur Schopenhauer
também lançou seu olhar crítico sobre questões políticas e sociais, deixando um
legado de pensamentos intrigantes e provocativos.
Em seu "Ensaio acerca das mulheres",
publicado em 1851, Schopenhauer questionou abertamente as noções convencionais
sobre o papel feminino na sociedade. Ele rejeitou a visão tradicional de
obediência feminina como uma extensão da "estupidez germano-cristã" e
desafiou a ideia de que a mulher está naturalmente inclinada a obedecer. Em sua
perspectiva, Schopenhauer afirmou que a natureza da mulher é tal que ela se
inclina a obedecer, mas também reconheceu a capacidade das mulheres de exibir
julgamentos sóbrios e empatia pelos sofrimentos dos outros.
Este ensaio polêmico ecoou através do tempo, influenciando
figuras como Friedrich Nietzsche e ativistas feministas do século XIX. A
análise biológica de Schopenhauer sobre as diferenças entre os sexos, com seus
papéis distintos na luta pela sobrevivência e reprodução, antecipou argumentos
que seriam retomados por sociobiologistas e psicólogos evolucionários no século
XX.
Surpreendentemente, na fase mais avançada de sua vida,
Schopenhauer pareceu suavizar sua perspectiva. Enquanto posava para uma
escultura de Elisabet Ney, ele compartilhou com a amiga de Richard Wagner,
Malwida von Meysenbug, a crença de que as mulheres têm a capacidade de superar
as limitações da coletividade. Ele expressou a convicção de que, se uma mulher
conseguisse se libertar das convenções sociais ou optar por se desenvolver além
delas, ela poderia alcançar um progresso ainda maior do que os homens.
As ideias de Schopenhauer sobre a sociedade e as mulheres,
complexas e controversas, continuam a ser discutidas e analisadas em nosso
tempo, ressaltando a natureza dinâmica e em evolução das questões de gênero e
papéis sociais.
Um Olhar sobre a Cronologia
Arthur Schopenhauer, por Youtube
A vida e o pensamento de Arthur Schopenhauer ecoaram
através dos eventos e transformações marcantes de sua época, criando uma
narrativa que se desdobrou ao longo de anos tumultuosos e revolucionários.
O ano de 1788 testemunhou o nascimento de Schopenhauer em
Danzig, no dia 22 de fevereiro, um momento que coincidiu com os primórdios da
Revolução Francesa e o início da presidência de George Washington nos Estados
Unidos.
À medida que a Europa vivenciava a ascensão e queda de
Napoleão, Schopenhauer traçava sua própria jornada. Durante 1800 a 1805, ele se
afastava do destino comercial imposto por seu pai, embarcando em uma série de
viagens pela Europa ocidental. Enquanto Napoleão se tornava imperador,
Beethoven compunha a Heróica, marcando uma época de mudanças culturais e
políticas.
O suicídio do pai de Schopenhauer em 1805 marcou uma virada
significativa em sua vida. Renunciando à carreira comercial, ele mergulhou nos
estudos filosóficos e buscou aprimoramento em Gota e Weimar. Essa fase
coincidiu com Hegel publicando sua "Fenomenologia do Espírito"
em 1807 e Fichte discursando à nação alemã em 1808.
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O ingresso de Schopenhauer na Universidade de Berlim em
1811 ocorreu no mesmo período em que Goethe lançava "As afinidades
eletivas" e "Fausto" (primeira parte). A
partir daí, Schopenhauer lançou-se em um intenso período de criação e reflexão,
culminando com sua tese de doutorado em 1813.
As décadas seguintes testemunharam o rompimento de
Schopenhauer com sua mãe, suas viagens e experiências de ensino fracassadas em
Berlim. Enquanto isso, o mundo continuava a evoluir, com eventos como a derrota
de Napoleão em Waterloo e o Congresso de Viena reorganizando a Europa.
A década de 1840 trouxe inovações filosóficas e literárias
com Kierkegaard, Feuerbach, Stirner e a publicação do "Manifesto
Comunista" de Marx e Engels. Essa fase também viu a segunda edição de
"O Mundo como Vontade e Representação" de Schopenhauer, além
de seu reconhecimento crescente.
Finalmente, a obra mais tarde de Schopenhauer, como "Parerga
e Paralipomena", emergiu em um período de mudanças significativas,
incluindo o nascimento de Freud e a publicação de "A Origem das
Espécies" de Darwin. Schopenhauer faleceu em 1860, no meio dessas
transformações, deixando um legado duradouro em meio às ideias e eventos que
moldaram sua vida e seu tempo.
Resumão
Arthur Schopenhauer (22
de fevereiro de 1788 - 21 de setembro de 1860) foi um filósofo alemão
conhecido por sua influência no idealismo alemão e no kantismo. Nasceu em
Danzigue, Prússia, e faleceu aos 72 anos em Frankfurt, no Grão-Ducado de Hesse.
Residiu em várias cidades, incluindo Gdansk, Hamburgo e Frankfurt am Main.
Ele estudou na
Universidade de Göttingen e na Universidade Humboldt de Berlim, além de
frequentar o Ernestinum Gotha. Sua carreira abrangeu filosofia, música (tocava
flauta) e ensino universitário. Suas obras mais notáveis incluem "O
Mundo como Vontade e Representação".
Schopenhauer se destacou
por sua abordagem ao idealismo e ao kantismo, explorando temas como
gnosiologia, ética, metafísica, estética e religião. Sua filosofia muitas vezes
mergulhava no irracionalismo e ateísmo. Ele também estava interessado em ética
animal e questões relacionadas à linguagem.
Ele deixou um legado
marcante em sua influência nas gerações subsequentes de filósofos, incluindo
Nietzsche, e suas ideias continuam a ser estudadas e discutidas até hoje.
Schopenhauer faleceu de insuficiência respiratória e está sepultado no
Cemitério de Frankfurt am Main.
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Conclusão
Em tempos atuais, a obra
de Arthur Schopenhauer tem ressurgido em destaque, tanto como uma figura
influente na história da filosofia quanto como um tópico relevante em exames
como o Enem. Sua abordagem única e suas ideias sobre a natureza da existência,
a vontade, o sofrimento e a busca pelo conhecimento têm encontrado ressonância
em debates contemporâneos e reflexões sobre a condição humana.
A presença de Schopenhauer
nas provas do Enem é indicativa da importância que sua filosofia ganhou no
cenário educacional. Seu pensamento foi incorporado ao currículo não apenas
para explorar a complexidade de suas teorias, mas também para instigar os
alunos a pensar criticamente sobre questões existenciais e éticas. Suas ideias,
que desafiam a concepção tradicional de realidade e bem-estar, convidam os
estudantes a examinar as profundezas da experiência humana e a considerar
diferentes perspectivas sobre a vida.
Além disso, o
ressurgimento das discussões sobre Schopenhauer na atualidade reflete a
constante busca por respostas e significado em um mundo complexo e em constante
mudança. Suas reflexões sobre a natureza da vontade, a busca pela felicidade e
a relação entre indivíduos e o universo têm encontrado eco em campos diversos,
como filosofia, psicologia, literatura e até mesmo na cultura popular.
A influência duradoura de
Schopenhauer é evidenciada pelo fato de que suas obras continuam a ser
debatidas, analisadas e reinterpretadas por acadêmicos, filósofos e pensadores
contemporâneos. Suas contribuições ao idealismo alemão e suas explorações sobre
a condição humana estabeleceram um legado que transcende sua época e continua a
iluminar as complexidades da existência humana.
Portanto, a presença de Arthur Schopenhauer no Enem e o ressurgimento de sua obra na atualidade são testemunhos do impacto duradouro de suas ideias e da relevância contínua de suas reflexões no mundo moderno. Sua filosofia desafiadora continua a provocar debates e inspirar reflexões profundas sobre a natureza da realidade, a busca pelo conhecimento e a busca pelo significado em nossas vidas.
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