Os Embates Históricos que
Deixaram Profundas Pegadas na Evolução da Sociedade Humana
Saladino, o conquistador de Jerusalém. Imagem: Reprodução/Diário de Notícias
Os Componentes Essenciais
que Definem uma 'Batalha de Impacto Global' e Sua Influência Duradoura
na História da Humanidade - Uma Seleção de Confrontos Emblemáticos.
Ao examinar uma série de
conflitos ao longo da história da humanidade, começamos com a Batalha de Megido (século XV a.C.), um confronto entre os egípcios e uma colônia canaanita. Embora não seja
uma das "principais" e não seja exatamente a mais antiga
conhecida, merece destaque, pois é a primeira registrada em fontes históricas e
arqueológicas. Por outro lado, alguns dos confrontos mais famosos da história
humana, como a Guerra de Troia, narrada por Homero na Ilíada, devem ser
tratados com cautela nesta lista devido à tendência de exagero e à liberdade
artística, uma vez que muitos desses relatos são elaborados pelos vencedores.
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Portanto, para apresentar
um artigo de alta precisão, é justificável recorrer àqueles que já trilharam
esse caminho anteriormente. Sua responsabilidade é definir as batalhas mais
significativas da história. Autores notáveis a serem mencionados incluem Richard
Overy, Nigel Cawthorne, Saul David, Sir John Keegan e Ricardo Bonalume Neto,
este último sendo uma exceção notável nesse cenário, que geralmente é dominado
por europeus e estadunidenses.
Para garantir um
equilíbrio no conteúdo, também incorporamos batalhas que se desviam do cenário
clássico e se aproximam da nossa própria realidade, como a Batalha de Tuiuti (24
de maio de 1866), que ainda hoje é reconhecida como o maior e mais
sangrento confronto em campo aberto na América do Sul.
Portanto, como ponto de partida
em meio aos mais de 4 mil anos de confrontos, vamos direcionar nossa atenção
para a Grécia. Lá, encontramos um conflito que simboliza o eterno embate entre
Ocidente e Oriente e que dá nome a uma das corridas mais tradicionais das
Olimpíadas: a Maratona.
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Um dos principais
confrontos das Guerras Médicas, também conhecidas como Guerras Greco-Persas
(500 a.C. a 448 a.C.), foi a Batalha de Maratona, ocorrida em setembro de
490 a.C. Esse conflito teve como pano de fundo a expansão do Império
Aquemênida, o primeiro Império Persa, desde a Ásia Menor em direção ao que hoje
conhecemos como Grécia. Naquela época, a Grécia era composta por um mosaico de
cidades-estado, sendo as mais notáveis Atenas e Esparta.
Celebrado na literatura
ocidental por deter o avanço de um vasto império oriental, este confronto, que
se desenrolou durante um período de cerca de meio século, representa um marco
notável na história global. Isso não se deve apenas à vitória de Atenas, uma
potência naval, sobre os persas em solo terrestre, mas também à impressionante
proeza física atribuída a um ateniense chamado Fidípedes, também conhecido como
Térsipo.
Logo no início da batalha,
o general Milcíades designou a ele a tarefa de correr até Esparta, que estava a
aproximadamente 200 quilômetros de distância de Maratona, para solicitar ajuda.
Embora os espartanos tenham prometido assistência, eles só poderiam se juntar
após o término de um feriado religioso. Dado esse atraso, Milcíades concebeu um
plano audacioso que se baseava em um ataque direto e preciso contra o inimigo.
Os persas contavam com uma
notável destreza em arquearia e cavalaria, enquanto os gregos eram reconhecidos
por sua habilidade na formação de infantaria, notadamente os hoplitas, uma
unidade de choque equipada com armaduras pesadas e lanças que excediam 2,5
metros de comprimento. Milcíades reconhecia a necessidade de anular a vantagem
persa, impedindo-os de utilizar suas flechas e de atacar com sua cavalaria. Foi
assim que planejou sua estratégia.
Em um audacioso ataque do
tipo "tudo ou nada", os hoplitas gregos cercaram o vasto
exército persa, neutralizando suas principais armas de longo alcance devido à
proximidade do combate. O resultado foi um massacre das forças persas.
Ao desfecho deste
episódio, a responsabilidade de comunicar as boas novas e acalmar a população
recaiu novamente sobre Fidípedes, que se viu compelido a correr 42 quilômetros
até Atenas. Com o último suspiro, exausto pelo esforço, ele proclamou: "Alegrai-vos,
atenienses, vencemos!" e então sucumbiu. Por ora, a Grécia estava a
salvo. No entanto, essa não seria a derradeira página da rivalidade entre
gregos e persas.
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Mesmo após repelirem a
ameaça de conquista da Grécia pela Ásia e se envolverem em conflitos internos,
como a Guerra do Peloponeso (431 a 404 a.C.), que inadvertidamente
abriria as portas para a Macedônia conquistar a Grécia, os novos senhores, os
macedônios, também se voltariam contra os persas. O ponto culminante ocorreu
com a ascensão de um dos maiores conquistadores da história, Alexandre, o
Grande, e sua vitória na Batalha de Gaugamela em 1 de outubro de 331 a.C.
Como discípulo do filósofo
Aristóteles e um admirador das proezas dos heróis míticos como Aquiles e
Hércules, o jovem general destacou-se neste confronto graças à sua inteligência
excepcional e à confiança inabalável. Em contraste com a batalha de Maratona,
onde a coragem perante o inimigo e o sacrifício físico asseguraram a vitória,
na Batalha de Gaugamela, foi a habilidade de liderança do comandante que se
destacou.
Apesar de ter uma força militar
numericamente inferior, a disciplina e o profundo vínculo que Alexandre
cultivou com seus soldados puseram fim ao domínio persa na Ásia.
Por outro lado, os persas,
ao testemunharem seu rei, Dario III, em fuga enquanto os falangistas macedônios
avançavam, perderam o ânimo, reconhecendo que a batalha estava
irremediavelmente perdida para eles. Alexandre não apenas eliminou uma antiga
ameaça à Grécia e ao Ocidente, mas também conquistou vastas extensões de
território no oriente, anteriormente sob o domínio do poderoso Império Persa.
Como resultado, o comandante se tornou o homem mais rico do mundo conhecido.
No entanto, apesar de
algumas campanhas subsequentes, sua vida foi abruptamente interrompida, pois
faleceu prematuramente, com pouco mais de 30 anos de idade. Isso marcou o
início da fragmentação da supremacia helenística, sinalizando o surgimento de
um império que perdura até hoje como um símbolo de grandiosidade: Roma.
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Batalhas dos Césares
Enquanto Alexandre
conduzia suas tropas pela Ásia, Roma ainda travava uma luta para consolidar sua
influência na península Itálica. Contudo, não demorou muito para que essa
modesta cidade expandisse seu domínio de maneira impressionante. Começando como
uma república e eventualmente transformando-se em um império, Roma deu à luz a
uma figura que moldaria o mundo como ninguém mais: Caio Júlio César, ou
simplesmente, César. Seu nome ainda hoje evoca poder e influência, sendo
adotado por monarcas alemães (Kaisers) e russos (czar ou tzar).
Entre os diversos feitos notáveis em sua carreira, a vitória de César na
Batalha de Alésia, ocorrida em setembro de 52 a.C., foi um marco que destacou
tanto ele quanto Roma.
A conquista de Alésia
assinalou o término de mais de uma década de campanhas e a ascensão do domínio
romano sobre a Gália, a atual França. Além de seu renomado talento como
comandante militar, César era um hábil estadista, capaz de inspirar sua tropa
mesmo nos momentos mais adversos. Enfrentando um adversário à altura em
Vercingetórix, o líder que conseguiu unir as tribos gaulesas, o general romano
precisou empregar táticas políticas e diplomáticas para prevalecer em Alésia.
Sua estratégia de isolar
os gauleses dentro da cidade foi um elemento-chave para a vitória na campanha,
mas sua maestria política em ganhar a confiança dos opositores de
Vercingetórix, permitindo-lhe contornar as perdas em suas fileiras e conceder
anistia a alguns gauleses que mudaram de lado, desempenhou um papel crucial na
conquista da batalha.
A vitória em Alésia
resultou em inúmeras homenagens em Roma, elevando o homem ao status de uma
lenda histórica. Progressivamente, isso sinalizou o declínio da República
Romana. Embora a morte de César, o "Ditador Perpétuo", possa ter
contribuído para esse processo, a República foi substituída por um Império,
marcando o auge de Roma.
Entretanto, enquanto a Batalha da Floresta de Teutoburgo, que ocorreu em setembro do ano 9, ofereceu
aos romanos um grande impulso expansionista, ela também momentaneamente deteve
essa sede por novas conquistas. Três legiões completas do poderoso exército
liderado por Augusto, o primeiro imperador romano e membro da linhagem de
César, foram dizimadas no confronto contra tribos germânicas na floresta que
emprestou seu nome à batalha. Além dos diversos erros de cálculo, incluindo
aqueles de natureza política, cometidos pelo administrador romano da região,
Públio Quintílio Varo, a Batalha de Teutoburgo é notável por três elementos
distintivos.
Primeiramente, é
importante destacar que o líder dos chamados "bárbaros" era
Armínio, um príncipe germânico que havia sido educado como romano, mas que
posteriormente se rebelou contra Roma. O fato de Armínio estar familiarizado
com as táticas romanas acabou se tornando uma vantagem significativa para os
"bárbaros".
Em segundo lugar, a estratégia
de guerrilha desempenhou um papel crucial. Consciente de que enfrentar os
romanos em um combate em campo aberto resultaria em um massacre devido à
disciplina tática das legiões romanas, Armínio optou por emboscá-los na
floresta. Ele sabia que, em marcha, os romanos estariam mais lentos,
vulneráveis e teriam menos espaço para adotar suas típicas formações de
batalha.
No entanto, o terceiro e
mais impactante elemento foi a derrota em Teutoburgo e a perda dos estandartes
romanos para o inimigo. Essa derrota foi uma vergonha para as legiões romanas e
serviu como um prenúncio do declínio do Império Romano. Embora o império tenha
continuado por mais alguns séculos, até sua queda definitiva em 476 d.C. nas
mãos de Odoacro, um líder germânico, o massacre de suas legiões fez com que o
imperador Augusto interrompesse suas campanhas no Reno. A decisão de não
colonizar a margem oriental do rio preservou as tradições germânicas e
estabeleceu uma separação cultural que perdura na Europa até os dias de hoje.
Batalha de dois Mundos
Embora o Império Romano do
Ocidente tenha sucumbido em 476, sua contraparte oriental, conhecida como o
Império Bizantino, continuou a existir até 1453. Durante esse extenso período,
o mundo conhecido foi palco de inúmeras guerras e, por conseguinte, inúmeras
batalhas. A maior parte desses conflitos foi moldada por uma rivalidade
específica, a antiga disputa entre o Ocidente e o Oriente.
Embora tenham ocorrido
conflitos locais em várias partes do "velho mundo", foram os embates
entre europeus e asiáticos que se destacaram como os mais significativos. A
maior consequência dessas batalhas foi a abertura da porta para a descoberta de
"novos mundos".
Após uma série de invasões
bárbaras e as lutas dos impérios para ocupar o vácuo deixado pelo Império
Romano, a Europa experimentou um período de relativa estabilidade por volta de
1080. No entanto, tudo mudou com a ascensão do Papa Urbano II ao poder em 1088.
Após implementar reformas na Cúria Romana, em 1095, ele convocou os cristãos a
se unirem em uma guerra contra os muçulmanos em nome da libertação da Terra
Santa. Para angariar o apoio dos nobres europeus, prometeu a salvação da alma
para todos aqueles que "pegassem em armas contra os pagãos".
Isso marcou o início das Cruzadas, que ocorreram de 1096 a 1099.
Os
cruzados conseguiram conquistar Jerusalém e tiveram êxito em campanhas
secundárias pelo Oriente Médio ao longo dos quase cem anos seguintes. No
entanto, um ponto de virada na história das guerras e na história humana
ocorreu na Batalha de Hattin, que ocorreu de 30 de junho a 4 de julho de 1187.
Nessa batalha, a astúcia do Sultão Aiúbida, Saladino, resultou na derrota dos
exércitos cruzados. Isso desencadeou uma série de vitórias que eventualmente
levariam à expulsão dos cristãos da Terra Santa em 1291.
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Saladino merece reconhecimento por sua habilidade em tirar
vantagem do terreno e por não subestimar o seu adversário. Pelo contrário, ele
dedicou-se a um estudo minucioso do exército que enfrentaria, identificando
cuidadosamente as fraquezas dos cristãos. Enquanto isso, os cristãos,
sobrecarregados e subestimando seu oponente, acabaram caindo em uma armadilha,
acreditando erroneamente em sua superioridade sobre um inimigo que consideravam
menos capaz.
A Batalha de Hattin resultou em uma vitória para Saladino
e, com a derrota da maior parte das forças cristãs na Terra Santa, ele
conseguiu conquistar Jerusalém. Essa batalha destacou a importância de nunca
subestimar um adversário. Além disso, a conquista por uma força muçulmana
reacendeu a rivalidade entre o Ocidente e o Oriente e serviu de inspiração,
séculos mais tarde, para outro sultão, Mehmet II, na sua vitória na Batalha de
Constantinopla, que ocorreu de 6 de abril a 29 de maio de 1453.
Mehmet nutria uma profunda admiração pelas conquistas
militares do passado, admirando não apenas figuras orientais como Saladino, mas
também heróis ocidentais como Alexandre e César. Ele acreditava ser o escolhido
para realizar o que seu pai não conseguiu: pôr fim ao domínio bizantino na
Anatólia. Por séculos, as muralhas de Constantinopla haviam resistido aos
invasores, assegurando a sobrevivência da "Segunda Roma". No entanto,
Mehmet possuía algo que nenhum dos antecessores que haviam tentado conquistar a
cidade possuía: a bombarda, um dos primeiros canhões conhecidos.
O uso estratégico da bombarda, combinado com outras táticas de combate inovadoras, destacou as mudanças fundamentais nas estratégias de batalha. Não fosse pelo poder de fogo da bombarda, juntamente com a determinação inabalável do líder otomano, Constantinopla dificilmente teria caído, e a história mundial teria seguido um curso diferente. O colapso da Roma do Oriente também marcou o fim da Idade Média.
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