Aumento das tensões regionais após ação letal do Irã no Iraque e no Paquistão

O Irã declara que seus lançamentos de mísseis foram direcionados a facções militantes responsáveis por ataques em seu território, no entanto, tanto o Paquistão quanto o Iraque negaram essa justificativa.

Combatentes Houthi e membros de tribos em uma manifestação contra os ataques liderados pelos EUA em instalações militares Houthi, perto de Sana, Iêmen, no domingo.Crédito...Imprensa Associada
Combatentes Houthi e membros de tribos em uma manifestação contra os ataques liderados pelos EUA em instalações militares Houthi, perto de Sana, Iêmen, no domingo.Crédito...Imprensa Associada

Internacional- Na terça-feira (16), o Irã lançou ataques de mísseis contra os vizinhos Paquistão e Iraque, desencadeando duras críticas de ambas as nações e aumentando o temor de uma escalada descontrolada no Oriente Médio. Embora o Irã tenha empregado suas forças por procuração contra Israel e seus aliados desde o início da guerra em Gaza em outubro, afirmou que os ataques recentes foram uma resposta a atos terroristas dentro de suas fronteiras.

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Os disparos de mísseis, contudo, agravaram as hostilidades em uma região onde o conflito já afeta no mínimo cinco nações.

O Ministério das Relações Exteriores da França afirmou em um comunicado: "Estão contribuindo para a intensificação das tensões regionais – e é crucial que isso seja interrompido", após o ataque ao Iraque. Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, também expressou condenação ao ataque no Iraque.

O primeiro relato de um ataque na região do Curdistão veio do Iraque, que indicou ter sido alvo, resultando em várias vítimas, incluindo uma criança de 11 meses. Após o governo iraquiano chamar de volta seu embaixador em Teerã e convocar o encarregado de negócios do Irã em Bagdá para protestar contra o ataque, o Paquistão, horas depois, afirmou ter sido atingido por seu vizinho.

Rastreado os ataques em Israel e em Gaza

Em um comunicado, o governo paquistanês declarou: "O Paquistão condena veementemente a violação não provocada de seu espaço aéreo pelo Irã e o ataque dentro do território paquistanês, resultando na morte de duas crianças inocentes e ferindo três meninas. Essa violação da soberania do Paquistão é totalmente inaceitável e pode ter sérias consequências.

O ataque com mísseis no Paquistão, um estado com armas nucleares, atingiu uma área remota nas montanhas na terça-feira. Já o ataque no Iraque, país com laços políticos e militares estreitos com o Irã, atingiu a capital do Curdistão, Erbil, por volta da meia-noite de terça-feira, envolvendo mísseis balísticos e drones. Autoridades do governo iraquiano relataram que o ataque resultou na morte de quatro civis.

Em ambos os incidentes, as autoridades iranianas alegaram ter visado terroristas que acusam de estar por trás dos recentes ataques em seu território, causando grande comoção entre os iranianos. Neste mês, homens-bomba ceifaram a vida de 84 pessoas em uma procissão em memória de um respeitado líder militar iraniano, enquanto em dezembro, um ataque a uma delegacia de polícia resultou na morte de pelo menos 11 policiais.

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Artigos Brasil Escola

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Os governos iraquiano e paquistanês recusaram as justificativas apresentadas pelo Irã.

O comunicado do Paquistão afirmou: "Sempre afirmamos que o terrorismo é uma ameaça comum a todos os países da região, exigindo uma ação coordenada", destacando como "ainda mais preocupante que esse ato ilegal tenha ocorrido apesar da existência de vários canais de comunicação entre Paquistão e Irã."

As ações do Irã surgem em meio a temores generalizados de que o conflito devastador em Gaza possa se transformar em um conflito regional mais amplo e letal. Já provocou um confronto de baixa intensidade entre as forças por procuração iranianas e os Estados Unidos, bem como outras potências ocidentais.

Estados Unidos, Grã-Bretanha e França condenaram o ataque iraniano no Iraque, que ativou as sirenes no Consulado dos EUA e levou à suspensão dos voos no aeroporto de Erbil.

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Desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, o Irã tem emitido sinais contraditórios sobre suas intenções na região.

Em comunicações privadas, autoridades iranianas afirmam o desejo de evitar um conflito em larga escala. No entanto, publicamente, expressam otimismo em relação às forças militares por procuração que apoiam na região, destacando sua importância para manter a pressão sobre Israel e seus aliados.

As autoridades americanas temem que rotular os Houthis como uma organização terrorista estrangeira possa fazer com que grupos de ajuda e outros parem de enviar suprimentos para áreas do Iémen controladas pelos Houthis.Crédito...Imprensa Associada
As autoridades americanas temem que rotular os Houthis como uma organização terrorista estrangeira possa fazer com que grupos de ajuda e outros parem de enviar suprimentos para áreas do Iémen controladas pelos Houthis.Crédito...Imprensa Associada

Os Houthis, apoiados pelo Irã e operando do Iêmen, têm perturbado o transporte marítimo global ao atacar navios no Mar Vermelho. Ao mesmo tempo, o Hezbollah realiza ataques no norte de Israel a partir do Líbano. Milícias iraquianas estreitamente vinculadas ao Irã atacaram bases e campos dos EUA no Iraque e na Síria mais de 130 vezes nos últimos três meses.

Além de impactar o Paquistão e o Iraque, o Irã também realizou ataques recentemente na Síria. O Estado Islâmico, que reivindicou a autoria do ataque à procissão memorial iraniana, tem presença em Idlib. Até o momento, não houve objeção pública por parte do governo sírio, um aliado próximo do Irã.

O ataque no Paquistão foi conduzido pelo Corpo da Guarda Revolucionária do Irã, conforme relatado pela agência semi-oficial do país, Tasnim News. Ele atingiu uma região onde se acredita que o grupo militante responsável pelo ataque à delegacia de polícia em Rask, próxima à fronteira do Irã com o Paquistão, poderia estar baseado.

O ataque com mísseis no Iraque gerou uma divisão, pelo menos temporariamente, entre Bagdá e Teerã. O Iraque apresentou uma queixa ao Conselho de Segurança da ONU sobre a "agressão" iraniana, conforme declarado pelo Ministério das Relações Exteriores do Iraque em um comunicado na terça-feira. Qassim Al-Araji, conselheiro de segurança nacional do Iraque, classificou a explicação iraniana para os ataques como "infundada", utilizando uma das críticas mais contundentes que Bagdá já fez contra seu vizinho.

“A casa que foi bombardeada pertencia a um empresário civil”, disse Al-Araji, que correu de Bagdá para Erbil algumas horas após o bombardeio.

Al-Araji, figura de destaque no governo iraquiano em diversas questões delicadas relacionadas ao Irã, possui uma extensa colaboração com Teerã e raramente expressa críticas publicamente. Suas declarações na terça-feira indicaram que Bagdá percebia estar sendo prejudicada por seu vizinho.

As vítimas do ataque incluíram Peshraw Dizayee, um empresário curdo, sua filha Zhina, a babá estrangeira e um conhecido de negócios visitante, Karam Mikhail.

O ataque em Erbil pode ter sido uma tentativa de convencer os iranianos de que, apesar da falha da inteligência e das forças de segurança de Teerã em prevenir o ataque à procissão memorial, o governo estava agindo para punir os responsáveis, analisaram especialistas.

Os Guardas Revolucionários têm visado o Curdistão em diversas ocasiões, incluindo pelo menos dois ataques em 2022 e múltiplos durante os protestos de 2019 no Irã, que líderes do governo iraniano afirmaram ser encorajados por dissidentes iranianos no Curdistão.

O recente ataque desta semana adiciona tensão à política envolvendo os esforços do governo iraquiano para retirar as tropas americanas do território. Essas tropas estão no Iraque desde 2014, auxiliando na luta contra os remanescentes do Estado Islâmico e impedindo seu retorno.

O Irã também busca a retirada das tropas americanas, considerando sua presença como uma ameaça à segurança, dada a hostilidade entre os governos iraniano e norte-americano.

O Iraque se encontra em uma posição delicada. Seu Parlamento, que inclui muitos legisladores com vínculos ao Irã, recentemente votou pela retirada das tropas. Após um ataque dos EUA que resultou na morte de um líder de uma milícia associada ao Irã em Bagdá, o primeiro-ministro Mohammed Shia al-Sudani expressou o desejo de iniciar o processo de retirada das tropas e criar um comitê para definir os detalhes.

Embora não tenha especificado uma data, entrevistas recentes indicam que, ao contrário do passado, o governo iraquiano parece estar comprometido dessa vez. O ataque de terça-feira pode complicar significativamente as negociações.

Além das preocupações sobre o ressurgimento do Estado Islâmico, os curdos, que mantêm uma relação estreita com os Estados Unidos e se beneficiaram da presença contínua das tropas americanas, têm sido um fator complicador nas negociações. As tropas dos EUA desempenharam um papel crucial ao proteger os curdos em 2014, quando o Estado Islâmico se aproximou da capital curda. O ataque recente à capital intensificou a relutância dos líderes curdos em aprovar a retirada das tropas norte-americanas.

Masrour Barzani, primeiro-ministro do Curdistão, condenou veementemente o ataque a Erbil durante uma coletiva de imprensa no Fórum Econômico Mundial de 2024 em Davos, Suíça, ressaltando que a região ainda enfrenta instabilidade significativa.

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