Evento marca a primeira participação de países como Egito, Irã, Emirados Árabes e Etiópia, levantando questões sobre o futuro do bloco e seu papel na geopolítica global.
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A Cúpula dos BRICS, realizada em Kazan, Rússia, é a primeira com a participação de novos membros que se juntaram ao bloco original, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Os recém-integrados Egito, Irã, Emirados Árabes e Etiópia alteram a configuração do BRICS, transformando-o em uma força geopolítica ainda mais representativa no cenário global. No entanto, a expansão também levanta desafios diplomáticos e questionamentos sobre os rumos que o grupo deve tomar, principalmente considerando a presença de países sob sanções internacionais e envolvidos em conflitos regionais.
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Em entrevista à CBN, a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, Regiane Bressan, destacou que o Brasil precisará equilibrar seus interesses econômicos com as realidades políticas dos novos membros. “O BRICS, que historicamente se posiciona como uma aliança alternativa ao G7, agora inclui países como Irã e Rússia, que enfrentam sanções e têm seus próprios conflitos. Essa nova configuração cria tensões para o Brasil, especialmente ao considerar que a China é o maior parceiro comercial brasileiro, enquanto a Rússia está envolvida na guerra na Ucrânia e o Irã é acusado de apoiar grupos extremistas no Oriente Médio”, afirmou a especialista.
A expansão do BRICS foi descrita por Bressan como um movimento inevitável, impulsionado por Rússia e China, que veem a integração de mais países como um meio de fortalecer o bloco frente às economias ocidentais. “Rússia e China percebem o BRICS como um instrumento para confrontar a hegemonia dos Estados Unidos e da União Europeia. O bloco representa 35% da riqueza mundial e mais de metade da população global, tornando-se cada vez mais um contraponto ao poder econômico do Ocidente”, explicou.
O Brasil, que assumirá a presidência do BRICS a partir de janeiro de 2025, terá um papel crucial na definição das diretrizes do grupo. Regiane Bressan acredita que o país deverá focar em temas como desenvolvimento econômico e combate à pobreza, buscando se distanciar de uma agenda ideológica e de apoio a conflitos. “O presidente Lula já indicou que pretende pautar sua gestão no combate à pobreza e desigualdade, temas que são mais próximos das necessidades dos países em desenvolvimento”, disse.
Contudo, o evento também expôs os desafios internos que o Brasil enfrenta dentro do bloco. Recentemente, o assessor especial Celso Amorim afirmou que o Brasil não apoia a entrada da Venezuela no BRICS, uma posição que reflete o receio de envolver o bloco com países que desrespeitam o estado democrático de direito. “Isso coloca o Brasil em uma posição delicada, já que o bloco está cada vez mais aberto a países que romperam com cláusulas democráticas, como a Nicarágua e Cuba, que também pleiteiam adesão”, pontuou Bressan.
A professora ainda mencionou que o Brasil precisará lidar com o impacto da presença de novos membros sobre a governança global, incluindo discussões sobre uma nova moeda para transações dentro do grupo que não dependa do dólar americano. “Essa questão é estratégica, pois visa reduzir a dependência do dólar, fortalecendo as economias dos países-membros frente à influência dos Estados Unidos”, destacou.
A ausência de Lula no evento, após um acidente doméstico, foi comentada como um alívio diplomático para o Brasil. O presidente participará virtualmente, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, representa o país in loco. “Lula evita estar lado a lado com líderes de países em situação conflituosa, como Rússia e Irã, o que poderia criar um constrangimento diplomático”, avaliou Regiane.
Com o cenário político global cada vez mais polarizado, o futuro do BRICS dependerá da capacidade de seus membros de encontrar pontos em comum para atuar como uma aliança que vá além de um contraponto ao G7, mas como um verdadeiro polo de desenvolvimento e estabilidade para os países do Sul Global.
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