Raízes da Doutrina da 'Imortalidade da Alma'

A crença na imortalidade da alma varia em culturas e religiões, gerando debates ricos e reflexões filosóficas ao longo dos tempos.

Imortalidade
Imagem da Imortalidade. Foto: Reprodução/Superinteressante - Alexandre Camanho

Adentrando o intrigante mundo das crenças e interpretações, convido você, caro leitor, a mergulhar conosco em uma análise profunda das perspectivas sobre a vida após a morte. A Bíblia, um dos textos mais estudados e debatidos ao longo dos séculos, lança luz sobre a questão da "imortalidade da alma" de maneira surpreendentemente diferenciada. Conduzindo-nos por um labirinto de conceitos e compreensões, essa antiga obra revela, de forma clara e unânime, uma visão que pode abalar convicções e suscitar novas indagações.

Neste nosso percurso de exploração, desvendaremos a curiosa perspectiva bíblica de que os mortos repousam em um sono sem consciência. Uma premissa que pode parecer contra-intuitiva para muitos, mas que possui um embasamento sólido nas passagens que examinaremos a seguir. Afinal, é nas entrelinhas desses escritos que encontramos reflexões profundas sobre a natureza da existência pós-morte, revelando uma visão que talvez desafie o que já consideramos certo.

Diante dessa jornada intelectual, convido você a revisitarmos juntos algumas dessas passagens reveladoras. Prepare-se para uma exploração que transcende dogmas e que nos conduz a questionamentos fascinantes sobre o que pode aguardar além do limiar da vida terrena.

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Daniel 12:2 diz:

E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.

O limiar da eternidade não se manifesta no derradeiro suspiro da morte, mas sim na renovação da ressurreição! Mesmo os que encontraram o término desta existência transitória repousam, neste momento, na inatividade do "pó da terra". Observa-se, com notável atenção, que não se registra nas anais divinas, conforme expresso a Daniel, a celestial ascensão imediata de múltiplas entidades espirituais.

Este mesmo princípio se manifesta no discurso de Paulo, quando ele, dirigindo-se aos tessalonicenses acerca da finitude da morte e da perspectiva que nutrimos na crença da ressurgência, emprega a terminologia de "sono" para referir-se aos indivíduos em tal estado: Observemos atentamente os termos que ele seleciona:

1 Tessalonicenses 4:13-16

“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemos-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro:”

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A expectativa que Paulo, inspirado pela divina mensagem, acolheu e transmitiu para nós é firmemente ancorada na perspectiva da ressurreição. Entre o âmbito presente e o horizonte da ressurgência, um intervalo temporal cuja duração permanece incerta (pois somente o Senhor detém tal conhecimento), antevê-se para muitos de nós, senão para todos, o suspiro final da existência terrena. Nesse entremeio, não se delineia um estado de êxtase celestial ou exuberância paradisíaca; ao contrário, aguarda-nos um estado de repouso. Mas onde repousaremos, indagamos? A resposta ecoa nas páginas da divina escritura sob as designações "pó da terra", ou, como frequentemente aludido, "Sheol" ou "Hades", expressões que aludem ao túmulo.

Esta essência, que verte na simplicidade e acessibilidade das palavras divinas, desvela a profundidade de uma crença ancestral, contrastando com a noção contemporânea da imortalidade da alma. Um dualismo clássico se ergue: um ser humano definido como a união corpórea e espiritual, onde o corpo é o envoltório físico da carne e sangue, e a alma abriga o imaterial, englobando mente e emoções. No limiar da morte, a concepção difundida propugna que a alma se aparta do corpo e mantém uma existência consciente, eternamente arraigada no céu ou no inferno.

Todavia, a revelação que emerge da análise minuciosa das Escrituras diverge desse entendimento prevalente. A verdade inegável é que os falecidos atualmente repousam em sono e, no fulcro da ressurreição, recobrarão a vida. Essa disparidade entre o dogma comum e a essência bíblica desencadeia uma reflexão instigante sobre a natureza da vida após a morte, convidando-nos a explorar as profundezas dessa intrincada temática com um olhar renovado e discernimento aprimorado.

Gênesis 2:7

“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.[“nephesh” em hebraico]. ”

Constata-se que as Sagradas Escrituras não concebem a alma como entidade independente do corpo. Pois, na verdade, é proclamado que "o homem se tornou uma alma vivente". Em tal compreensão, cada indivíduo que hoje respira é, em si, uma alma vivente. Todavia, ao emitirmos o último sopro, cessa-se a condição de almas viventes. De fato, entramos num estado de repouso, destituídos de consciência, assemelhando-se a quem está imerso num sono profundo.

Se acolhermos a definição que as Sagradas Escrituras nos legam sobre a alma, rejeitando a perspectiva "greco-latina" à qual Vine se referiu, emergirá uma perspicácia que permite contemplar a harmonia. Sob tal ótica, seremos capazes de apreender sem contradições que também os animais possuem alma.

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Gênesis 1:20-21

" E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente [nephesh, alma]; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus. E Deus criou as grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom."

e Gênesis 1:29-30

"E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente [nephesh em hebraico], toda a erva verde será para mantimento; e assim foi."

Manifestamente, a essência da alma não se estabelece como um conceito metafísico. Com efeito, cada entidade dotada de respiração, quer seja humano ou animal, assume o estatuto de uma alma vivente. Nesse ínterim, emerge uma indagação: de que fonte emana, portanto, a arraigada convicção na imortalidade da alma? A resposta a essa interpelação, mergulhada em complexidade, será desvendada nos próximos compassos desta análise.

Doutrina da Imortalidade da Alma: A Influência Platônica

No que se refere à gênese da concepção da imortalidade da alma, Vine gentilmente lança pistas para nossa apreciação: esta crença é imbuída da linhagem filosófica grega, em especial sob os auspícios de dois notáveis pensadores helenos, a saber, Platão e Sócrates. Com efeito, Platão, embora não tenha inaugurado a doutrina da imortalidade da alma, consagrou-se como seu mais eloquente porta-voz. Tal como sintetizado por Werner Jaeger, distinto acadêmico da Universidade de Harvard, "A imortalidade do ser humano representava um dos princípios fundamentais da religião filosófica do platonismo, que, em parte, foi acolhida pela igreja cristã." (Werner Jaeger, "As ideias gregas da imortalidade", Harvard Theological Review, Volume LII, Julho de 1959, Número 3, com destaque).

À semelhança, o próprio legado da Enciclopédia Católica (no tópico: Escola Platônica) nos elucida com precisão: "A grande maioria dos filósofos cristãos, até Santo Agostinho, nutriram uma inclinação platônica."

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Mas, que concepções alimentava Platão a respeito da alma? Notório discípulo do filósofo grego Sócrates, a epopeia intelectual de Platão, a "Fédon", se apresenta como um diálogo que tece a narrativa da derradeira jornada de Sócrates antes de enfrentar sua execução por ingestão de cicuta. Como consigna a Wikipédia: "Um dos núcleos temáticos centrais em 'Fédon' é a proposição da imortalidade da alma." Com habilidade, poderíamos considerar "Fédon" uma obra que encapsula o credo compartilhado por dois luminares do pensamento grego. Nesse ínterim, permitam-me compartilhar alguns excertos extraídos dessa obra-prima (acessíveis no seguinte endereço: http://classics.mit.edu/Plato/phaedo.html):

"A alma assemelha-se ao divino e ao imortal, à inteligência e à uniformidade, à indissolubilidade e à inalterabilidade... Eleva-se ao puro, eterno e imutável, ao qual ela está intrinsecamente ligada..." (Fédon)

Uma vez mais:

 

"A entidade da alma, cuja natureza essencial é inseparável da vivacidade, denega categoricamente qualquer espaço à existência oposta, ou seja, à morte. Dessa maneira, o destino inerente à alma é alinhavado à imortalidade, transmutando-se, por conseguinte, numa condição indestrutível... Seria então um sofisma argumentar que a inexistência da morte é uma realidade? Indubitavelmente, sim. No entanto, podemos contemplar tal ideia sob uma perspectiva divergente, qual seja, a de que a morte representa, de fato, a não união entre a alma e o corpo? E a condição de estar morto é a manifestação concreta dessa separação, no momento em que a alma subsiste em sua própria essência e dissocia-se do corpo, que, por sua vez, se aparta da alma. Isso é o que entendemos como morte... Em suma, a morte é meramente a cisão entre a alma e o corpo." (com ênfases)

Prosseguindo:

"Regozijai-vos e não vos compadeçais de minha partida... Ao depositar-me na sepultura, comunicai que o corpo está sendo sepultado, não a alma."

E agora, prosseguindo na exploração deste tema, não podemos deixar de notar a ressonância entre as afirmações de Platão e Sócrates e os preceitos familiarmente abraçados pela maioria dos adeptos do cristianismo. Com efeito, a consonância é inegável, refletindo uma harmonia de crenças que reverbera a cada entrelinha das palavras destes proeminentes filósofos.

De acordo com as palavras do erudito eclesiástico Philip Schaff:

"Platão também concede ênfase à doutrina de um futuro estado de retribuição e castigo. Após a morte, sob uma irrefutável lei intrínseca de sua própria essência, bem como por designação divina, cada alma ascende ao seu lugar apropriado: aquela de natureza maligna à esfera maligna, e aquela inerentemente virtuosa a uma elevação em direção ao bem supremo." (Conforme registrado na Nova Enciclopédia Schaff-Herzog de Conhecimentos Religiosos, artigo: "Platonismo e Cristianismo").

Incontestavelmente, tais afirmações poderiam facilmente ser atribuídas a um ministro cristão contemporâneo. Efetivamente, comparando o que encontramos no relato do "Fédon" com as assertivas proferidas por muitos ilustres pregadores do Cristianismo Moderno sobre nosso tópico em pauta:

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"....você é uma entidade de alma imortal. Sua essência interna é eterna e persistirá ad infinitum. Ou seja, o verdadeiro núcleo do seu ser – seus processos mentais, afetivos, sonhos, aspirações, o ego, a singularidade pessoal – jamais conhecerá o perecimento....sua essência etérea subsistirá eternamente em um dentre os dois planos existenciais – o Paraíso ou o abismo do sofrimento...Quer sejamos resgatados ou perdidos, a perpetuidade consciente e a individualidade da alma persistirão." (Billy Graham, em "Paz em Deus", capítulo 6, parágrafos 25 e 28).

Agora, efetue-se uma comparação entre essas assertivas e os discursos de Deus e seu arqui-adversário, o diabo, conforme registrados nos capítulos 2 e 3 do livro de Gênesis.

Gênesis 2:16-17, 3:4

“E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás... Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.”

A princípio que se insinuou ao homem, mesmo no estado de queda, foi a noção da suposta imortalidade, sendo que o diabo, presentemente confinado aos domínios do Jardim do Éden, personificou tal conceito. Contrapondo-se ao aforismo "inequivocamente, não encontrareis o término da vida", observamos a concordância da doutrina da imortalidade da alma. Billy Graham, em suas palavras, asseverou: "Vossa essência é imorredoura, destinada a perdurar ad infinitum." Embora nutrindo profundo respeito por esse renomado orador, vale salientar que idêntico postulado foi formulado por Platão e Sócrates. Consoante à perspectiva de ambos, a mortalidade autêntica não prevalece. "Inegavelmente não encontrareis o ocaso derradeiro", expressam eles; a alma simplesmente transcende o corpo e subsiste eternamente, desfrutando do Paraíso ou consumida pelo sofrimento do inferno, em consonância com suas ações terrenas. Contudo, é crucial reconhecer que esta visão não adere a um âmbito cristão, mas sim a um molde pagão, uma crença incubada primeiramente pelo arauto da falsidade, no recinto do Éden.

A Doutrina da Imortalidade da Alma à Luz de Tyndale e Lutero

Dirijamo-nos à consideração das perspectivas abrigadas pelos insignes reformadores, explorando, destarte, os entendimentos que Thomas Tyndale e Martinho Lutero, figuras de destaque nesse movimento, acalentavam em relação à doutrina da imortalidade da alma. Tyndale, um eminente reformador e erudito tradutor das Escrituras Sagradas, cujo destino o conduziu ao doloroso fim na pira, proferiu palavras memoráveis a respeito desta doutrina em resposta ao defensor papal, Thomas More.

Ao confrontar a colocação das almas que transcenderam o véu da mortalidade nos domínios celestiais, infernais ou purificadores do purgatório, Tyndale desmantela os argumentos que Cristo e Paulo elencaram para substanciar a ressurreição. Interroga-se: "E ainda, se almas povoam o firmamento celestial, por qual razão não ocupam um estado igual ao dos anjos? Se as almas residem nos céus, de que maneira justificamos a necessidade da ressurreição?... A verdadeira fé firma-se na ressurreição, a qual nos exorta a buscar incessantemente. Os filósofos pagãos, em sua negação, postulam a existência das almas. Contudo, o Papa amalgama a doutrina espiritual de Cristo com a doutrina materialista dos filósofos, uma confluência tão dissonante que não pode coexistir, assim como o espírito e a carne no interior do cristão. E ao abraçar essa mentalidade terrena, ao consentir com uma doutrina de matiz pagão, o Papa, por conseguinte, deturpa as Escrituras Sagradas em seu intuito de estabelecê-la." (Resposta ao Diálogo de Sir Thomas More, reedição Parker, 1850, pp. 180, 181, com destaque).

E acrescentou igualmente:

"Surpreende-me profundamente o fato de que Paulo, ao confortar os tessalonicenses, não tenha introduzido esta doutrina (da imortalidade da alma), caso tivesse conhecimento de que as almas de seus falecidos se encontravam em um estado de bem-aventurança, assim como ele detinha a compreensão da ressurreição, pela qual seus falecidos viveriam de novo. Se, de acordo com sua doutrina, as almas repousam nos céus em um estado de glória similar ao dos anjos, então pergunto, qual o motivo da necessidade da ressurreição?" (Resposta ao Diálogo de Sir Thomas More, reedição Parker, 1850, pp. 118, com destaque).

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Acrescente-se, Martín Lutero, o eminente reformador germânico, em réplica à mesma Bula emitida por Leão X, rotulou a doutrina da imortalidade da alma como uma "opinião monstruosa". Eis o trecho que ecoa suas palavras:

"Entretanto, concedo ao Papa o direito de estabelecer preceitos para si mesmo e seus fiéis adeptos, tais como: a substanciação do pão e do vinho no sacramento, a geração não gerada da essência de Deus, a alma como forma substancial do corpo humano, ele como imperador do mundo, rei dos céus e um deus terreno, a imortalidade da alma, e todas essas intermináveis monstruosidades..." (Afirmação de todos os artigos de M. Lutero condenados pela última Bula de Leão X), artigo 27, Weimar edição das Obras de Lutero, vol. 7, pp. 131, 132, com ênfases).

O erudito luterano Dr. T. A. Kantonen, em sua obra "A Esperança Cristã" (1594, p. 37), encapsulou a perspectiva de Lutero sobre o fenômeno da morte por meio destas palavras:

"Lutero, com notável ênfase na ressurreição, optou por enfocar a metáfora do sono nas Escrituras. 'Assim como alguém que adormece e, ao despertar inesperadamente ao amanhecer, não sabe o que lhe ocorreu durante o sono, da mesma forma seremos abruptamente despertados no último dia, sem conhecer a natureza de nossa transição para a morte e a travessia através dela. Dormiremos até o momento em que Ele se apresentar e bater à porta de nosso túmulo, dizendo: 'Doutor Martin, ergue-te!' E, então, ressurgiremos prontamente com Ele, para uma eternidade conjunta."

Constitui-se em prerrogativa concordar plenamente com esses dois ilustres reformadores. Emerge como incontestável a analogia entre a morte e o estado de sono. A noção de uma alma imortal carece de sustentação. A consolação que a Bíblia oferece não se alinha com o conforto que a maioria dos pregadores oferecem em funerais, que insinua a presença de uma alma morta, porém viva. Tal concepção, na realidade, ecoa as alicerces da instrução ministrada por Platão e Sócrates aos seus discípulos convertidos. (Reitero a citação extraída da Enciclopédia Católica: "A grande maioria dos filósofos cristãos, até Santo Agostinho, nutriu inclinações platônicas.") Será que continuaremos a manter fidelidade a esta perspectiva, ou iremos direcionar nossa atenção ao que as Escrituras Divinas, por si mesmas, expressam?

Imortalidade da Alma: Abordagens Divergentes e a Perspectiva dos Fundadores da Igreja

A concepção de uma alma imortal, antagonista às sagradas escrituras, encontra também refutação na Enciclopédia Judaica, que sustenta o seguinte a respeito:

De maneira análoga, a Enciclopédia Bíblica Internacional emite considerações semelhantes:

"Em certo sentido, sempre fomos moldados pelas premissas gregas, de cunho platônico, segundo as quais o corpo fenece, enquanto a alma é inalienavelmente imortal. Tais doutrinas contrastam abruptamente com o ethos israelita, não encontrando fundamento no Antigo Testamento." (1960, Volume 2, p. 812, Artigo: "Morte").

Caros irmãos, convém frisar que a alma NÃO é intrinsecamente imortal. A função da alma limita-se a conferir vitalidade ao corpo. A sua respiração constitui um sinal da existência de sua alma. Analogamente, tal princípio aplica-se aos animais, que são igualmente almas viventes. No entanto, a morte põe fim a essa condição, extinguindo a presença da alma. O cerne da esperança cristã repousa firmemente na doutrina singular da ressurreição dos falecidos. Quando o apóstolo Paulo embarcou para Atenas, centro da erudição filosófica grega, berço de Platão e Sócrates, ele proclamou incisivamente: "Jesus e a ressurreição" (Atos 17:18). A partir de então, a ideia da imortalidade da alma difundiu-se amplamente pela Grécia. Entretanto, Paulo não endossou essa perspectiva para corroborar com os preceitos filosóficos gregos. Em vez disso, ele proclamou a única doutrina genuína sobre o tema: a doutrina da ressurreição. Paulo não se prestou a comprometer a verdade ao enaltecer as opiniões dos filósofos. Efetivamente, esta passagem constitui um apelo a todos no que concerne a este assunto:

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Colossenses 2:8

“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo.”

A palavra “filósofos” é a palavra usada em atos 17:18 para descrever os epicuristas e estoicos que ridicularizavam Paulo, porque ele estava pregando a ressurreição. É a palavra usada por Platão, Sócrates e todos os demais para descreverem a si mesmos. Eles eram filósofos e suas obras eram uma só: filosofia. Enquanto Paulo alertava: “cuidado para que ninguém vos prenda pela filosofia” – os fundadores da igreja – a maioria deles – foram capturados por ela. Por exemplo, o Dicionário Teológico Evangélico diz sobre a origem, os fundadores da igreja são descritos pela Enciclopédia Britânica como: “os teólogos e bíblicos mais importantes do início da igreja grega”.

“Especulação sobre a alma na igreja sub apostólica foi fortemente influenciada pela filosofia grega. Pode-se ver isto na aceitação da origem da doutrina platônica da preexistência da alma como mente pura (nous)...” (1992, p. 1037, “Alma”)

Aqui está o que a própria Origem escreveu:

“. . . A alma, tendo sua substância e vida em si mesma, deverá após sua partida do mundo, ser recompensada de acordo com que ela merece, ser destinada para obter uma herança de vida eterna e benção...ou ser mandada para o fogo eterno e punição...” (Padres pré Nicenos, Vol. 4, 1995, p. 240)

Muitos dos fundadores da igreja, ao invés de rechaçar essas influências filosóficas, eles a cristianizaram, sendo enganados por elas e misturando-as com a verdade da Palavra com um erro da filosofia pagã. Veja o que Ackermann diz a respeito dos Padres da igreja grega, o mártir Justino:

"Justino foi como ele mesmo relata um admirador entusiasta de Platão antes de encontrar no Evangelho a satisfação plena que ele tinha procurado intensamente, mas em vão, na filosofia. E, embora o evangelho fosse infinitamente superior em seu ponto de vista do que a filosofia platônica, ainda assim ele considerava a filosofia como estado preliminar para o evangelho.” E do mesmo modo fizeram muitos escritores apologéticos ao se expressarem sobre Platão e sua filosofia.” (Ackermann, Das Christliche im Plato, chap. i., Hamburg, 1835; Eng. transl., The Christian Element in Plato, Edinburgh, 1861).

De fato a Enciclopédia Britânica descreve o mártir Justino como “o primeiro cristão a usar a filosofia grega no serviço da fé cristã”.

E como o historiador de igreja alemão Philip Schaff diz em sua Enciclopédia:

“muitos dos primeiros cristãos encontraram peculiar atração nas doutrinas de Platão, e as empregaram como armas de defesa e extensão do cristianismo, ou colocaram as verdades do cristianismo em um molde platônico. As doutrinas do Logos e da Trindade receberam a sua forma de Padres gregos, os quais, se não treinados nas escolas, foram muito influenciados, direta ou indiretamente, pela filosofia Platônica, particularmente no modelo Judeu-Alexandrino. Que os erros e corrupções penetraram na Igreja a partir desta fonte não pode ser negada... Entre os mais ilustres dos padres que foram influenciados por Platão, podemos nomear: Justino Mártir, Atenágoras, Teófilo, Irineu, Hipólito, Clemente de Alexandria, Orígenes, Felix Minúcio, Eusébio, Metódio, Basílio, o Grande, Gregório de Nissa, e Santo Agostinho.” (A Nova Enciclopédia de conhecimentos religiosos Schaff-Herzog, artigo: Platonismo e Cristianismo, com ênfases).

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Raízes da Doutrina da 'Imortalidade da Alma': Considerações Finais

Encerrando esta reflexão, é imperativo ressaltar que a doutrina que postula a separação da alma dos falecidos de seus corpos, conferindo-lhe um estado contínuo nos reinos celestiais ou infernais, fundamentado na suposta imortalidade da alma, não se origina como uma inovação de matiz cristão. Em verdade, este constructo teológico remonta à elaboração filosófica de Platão e Sócrates, figuras cujo pensamento exerceu significativa influência sobre a maioria dos expoentes eclesiásticos, desde o Mártir Justino até Agostinho. Este arcabouço doutrinário de cunho pagão, ainda que desprovido de fundamentação nas Escrituras e nos códices do Antigo Testamento, acabou por amalgamar as concepções de Jesus e dos apóstolos com os ideais de outros luminares da filosofia grega, sendo convenientemente batizado de cristianismo. No lugar da esperança cristã genuína concernente à morte, centrada na "ressurreição ao soar da última trombeta, pois a trombeta soará e os mortos ressuscitarão incorruptíveis" (1 Coríntios 15:52), esta doutrina platônica pagã insinuou-se e prevaleceu.

Tal premissa desautoriza a veracidade da imortalidade da alma, substanciando-se em fundamentos de ordem pagã que, em sua essência, entravam a doutrina da ressurreição dos falecidos. O apóstolo Paulo, com agudeza, interpelou: "Se as almas se encontram nos céus, em uma esfera gloriosa semelhante à dos anjos, de acordo com vossa premissa, demonstrai-me, pois, a razão subjacente à necessidade da ressurreição." Nesse contexto, a imortalidade da alma não encontra lastro bíblico, denotando, em essência, um substrato pagão que antiteticamente se contrapõe à doutrina da ressurreição dos mortos. A suposição de uma existência atual para os mortos, em verdade, contrapõe-se à perspectiva da ressurreição, pois a própria ressurreição pressupõe a restauração da vida.

A epístola paulina aos Coríntios (1 Coríntios 15:22-23) assevera com contundência: "Porquanto, assim como todos morrem em Adão, igualmente todos serão vivificados em Cristo. Porém, cada qual em sua própria ordem: as primícias, Cristo; em seguida, os que são de Cristo, por ocasião de sua vinda." Este processo de vivificação está reservado para o futuro, conforme o teor do texto, que explicita a condição de NÃO estarem vivos no presente. Quaisquer outras inferências contrastam com a verdade, independentemente de serem veiculadas por líderes eclesiásticos, denominações ou veneráveis instituições religiosas.

A nós, é dada a prerrogativa de escolher: aderir à palavra divina ou afeiçoar-se ao legado de Platão e Sócrates, por meio de seus discípulos, que permearam as doutrinas eclesiásticas. Desejamos ser discípulos de Platão ou de Cristo? A opção certa demanda assumir uma postura de resistência contra as opiniões corriqueiras (sendo a crença na imortalidade popularmente estabelecida por intermédio das diretrizes eclesiásticas) e arcar com as inerentes consequências. No entanto, a questão que se impõe é: direcionaremos nossa atenção para esta premissa ou orientar-nos-emos pela verdade? Será que nos importaremos com as opiniões humanas ou, ao contrário, alicerçaremos nossas convicções nas instruções divinas? É o apelo de Paulo que ressoa:

2 Timóteo 2:15

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.”

Equilibrar tanto a Palavra quanto nossas tradições nesse contexto se revela inviável. Uma dentre as duas deverá ceder espaço, e clamo para que você, na sua sabedoria, efetue a escolha adequada sobre qual delas prevalecerá.

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