Os setores fundamentais da saúde, educação, segurança e transporte, assegurados pela Constituição, ainda representam um grande desafio no país.
Constituição de 1988 - Foto: Toda Matéria
Neste dia, a Constituição brasileira completa seu 35º
aniversário. Após mais de três décadas desde sua implementação, o país ainda
está imerso em debates sobre como financiar o que foi estipulado no texto
constitucional e reduzir as disparidades. São evidentes distorções que acentuam
as discrepâncias entre os cidadãos, como os chamados 'penduricalhos' e salários
excessivos no setor público. Paralelamente, a qualidade dos serviços
essenciais, tais como saúde, educação, segurança pública e transporte, permanece
como um obstáculo no cotidiano das cidades e áreas rurais.
Desde o momento em que o deputado Ulysses Guimarães, líder
da assembleia Constituinte, ergueu o livro simbolizando as cores verde e
amarelo e proferiu as palavras de que 'o inimigo mortal do homem é a miséria',
o Brasil avançou. No ano de 1988, éramos uma população de 141 milhões; desde
então, nasceu um número de brasileiros que ultrapassa a soma de todas as
populações atuais da Argentina, Paraguai e Uruguai.
Após a promulgação da Constituição, observou-se uma
ampliação dos serviços de saúde e educação. Contudo, a qualidade da educação
pública representa um desafio significativo. A questão da segurança pública,
inicialmente atribuída aos Estados, complica a situação, colocando pressão
sobre o Governo Federal e as administrações municipais para encontrar soluções,
enquanto cada um tenta transferir a responsabilidade para o outro. A
criminalidade está em ascensão, com a taxa de homicídios por 100 mil habitantes
subindo de 1678 no início da Constituição para 234 no ano passado.
Especialistas e os cidadãos brasileiros estão preocupados com a possibilidade
da situação se agravar neste ano, dada a onda de violência e os desafios na
gestão das forças policiais no país.
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presidencial
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Pela primeira vez na história, a Constituição brasileira
estabeleceu o direito à assistência médica gratuita para toda a população. Foi
a Constituição de 1988 que deu origem ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Anteriormente, o acesso era limitado aos trabalhadores formais que contribuíam com
um seguro. Houve uma queda na taxa de mortalidade infantil e um aumento na
expectativa de vida. No entanto, os gastos públicos com saúde (3,8% do PIB) ainda
estão abaixo da maioria dos países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), superando apenas o México (2,7%).
No âmbito educacional, a Constituição assegurou o direito
ao ensino público para todos os cidadãos. O índice de analfabetismo entre
jovens e adultos no país diminuiu de 20,7% em 1985 para 5,6% em 2022. Contudo, o
Brasil se encontra na última posição na avaliação do Programa Internacional de
Avaliação de Alunos (Pisa), dentre 63 nações. A promulgação da
Constituição impôs à União, aos Estados e aos municípios a obrigação de
destinar parte do orçamento para investimentos em saúde e educação. Na prática,
o país teve que integrar metade da população, anteriormente excluída dos
serviços, ao sistema público de saúde e educação. A principal dificuldade
reside no fato de que a educação só passou a receber alguma prioridade com a
promulgação da Constituição.
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O tema do financiamento foi abordado pelo então presidente
José Sarney. Em 26 de julho de 1988, ele fez uma transmissão em cadeia nacional
e declarou que 'os brasileiros temem que a Constituição torne o país ingovernável'.
Ulysses respondeu um dia depois, tanto com seu voto quanto com suas palavras.
Ele aprovou o projeto B - uma das etapas da Constituição - com 403 votos a
favor e apenas 14 contrários. A polarização política e o aumento da violência
são desafios que o Brasil enfrenta 35 anos após a promulgação da Carta.
Em 8 de janeiro, golpistas chegaram a roubar uma cópia da
Constituição do prédio do Supremo Tribunal Federal. No cenário de avanços e
recuos, as autoridades ao longo do tempo sugeriram a convocação de uma nova
assembleia constituinte para abordar questões cruciais. A Constituição Federal
contém 162 dispositivos que nunca foram devidamente regulamentados, tais como a
tributação de grandes fortunas e a obrigação de restauração do meio ambiente
degradado para aqueles que exploram recursos minerais.
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Opinião do Michel
Caro leitor,
Ao completar 35 anos, a Constituição brasileira nos faz
refletir sobre suas conquistas e desafios. Ela simboliza a busca por uma nação
mais justa e igualitária, com avanços notáveis, como o acesso à saúde e
educação. No entanto, persistem entraves no pleno exercício desses direitos. A
qualidade dos serviços essenciais é um desafio latente, e as distorções
econômicas, como 'penduricalhos' e salários excessivos no setor público,
necessitam de correções.
A visão de Ulysses Guimarães, de que 'o inimigo mortal do
homem é a miséria', é mais relevante do que nunca. A evolução populacional
desde então é surpreendente, mas a polarização política e o aumento da
violência também merecem atenção. O enfrentamento da criminalidade é um
compromisso que precisa ser intensificado para garantir um futuro mais seguro.
O financiamento adequado para as políticas estabelecidas na
Constituição é um ponto crucial. A necessidade de regulamentação de
dispositivos fundamentais, como a tributação de grandes fortunas e a proteção
ambiental, é inegável. É essencial que sejamos assertivos na implementação
eficaz dessas medidas para alcançarmos o ideal 'cidadão' proposto pela
Constituição.
Por fim, o roubo de um exemplar da Constituição reflete a
importância desse documento na nossa sociedade. Devemos proteger e valorizar os
princípios e ideais que ela representa, para construirmos um Brasil mais justo
e igualitário para todos.
Atenciosamente,
Michel
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