Pesquisas recentes na área da cognição política têm explorado o uso de técnicas de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional (fMRI), para investigar como o cérebro processa e responde a estímulos políticos.
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Resumo
Este artigo aborda o tema da cognição política e sua
relevância no campo da sociologia. Ele examina a evolução da pesquisa em
cognição, desde a resistência behaviorista até a revolução cognitiva,
destacando as primeiras teorias da cognição social, como o modelo do cientista
ingênuo e a eficiência cognitiva do poupador cognitivo. Explora-se também o
conceito de raciocínio motivado e sua influência nas atitudes políticas, bem
como a pesquisa de opinião pública e sua exploração da cognição política.
Outro tópico abordado é o estudo do comportamento eleitoral,
com destaque para o modelo do eleitor racional e o modelo de Michigan,
enfatizando a influência da identificação partidária na tomada de decisão dos
eleitores. Além disso, discute-se a importância da informação política e a
complexidade do eleitor em relação à sua ideologia política.
O artigo também explora o conceito de priming e sua
influência na definição da agenda política, assim como o papel da persuasão
política na formação de atitudes e comportamentos políticos. Por fim, aborda-se
a temática das identidades sociais e das relações intergrupais, destacando o
conceito de destino vinculado como uma heurística política.
Através da utilização de uma metodologia de pesquisa
adequada, esta investigação analisou uma ampla gama de fontes e estudos relevantes,
visando fornecer uma compreensão aprofundada da cognição política. As
descobertas e análises apresentadas neste artigo contribuem para a expansão do
conhecimento nessa área e podem servir como base para futuras pesquisas e
discussões acadêmicas.
Palavras-chave: Cognição
política, Comportamento eleitoral, Opinião pública, Identidade social,
Persuasão política, Priming, Heurística, Raciocínio motivado, Eficiência
cognitiva, Teorias da cognição social, Destino vinculado, Metodologia da
pesquisa, Sociologia política.
Introdução
A cognição política é um campo de estudo que busca
compreender como os indivíduos processam, adquirem e utilizam informações
políticas para formar atitudes, tomar decisões e se engajar em questões
políticas. No âmbito da sociologia, a pesquisa em cognição política tem sido
fundamental para analisar as complexas interações entre os aspectos cognitivos,
sociais e políticos da vida humana. Desde a resistência behaviorista até a
revolução cognitiva, essa área de estudo evoluiu significativamente, oferecendo
insights valiosos sobre os processos mentais subjacentes ao comportamento
político.
O objetivo desta pesquisa é explorar e analisar diversas
teorias e conceitos-chave no campo da cognição política, buscando compreender
como eles moldam e influenciam as atitudes e comportamentos políticos dos
indivíduos. Para isso, iremos investigar a evolução da pesquisa em cognição,
desde a resistência inicial do behaviorismo até a emergência da revolução
cognitiva, que trouxe uma compreensão mais profunda dos processos mentais
envolvidos na cognição política.
Além disso, iremos examinar as primeiras teorias da
cognição social, como o modelo do cientista ingênuo, que explora como os
indivíduos compreendem o mundo político com informações limitadas. Também
abordaremos o conceito de eficiência cognitiva, representado pelo modelo do
poupador cognitivo, que destaca a preferência dos indivíduos por estratégias
que reduzem o trabalho cognitivo necessário para processar informações
políticas.
Outro aspecto importante que investigaremos é o raciocínio
motivado, que revela como a autoestima influencia as atitudes políticas e como
as pessoas tendem a adotar posições que estão em consonância com sua autoimagem
positiva. A pesquisa de opinião pública também será abordada, explorando como
os estudos de cognição política contribuíram para entender como os indivíduos
adquirem e expressam suas opiniões políticas.
Além disso, iremos examinar as teorias do comportamento
eleitoral, como o modelo do eleitor racional, que enfatiza a tomada de decisão
calculada com base na maximização dos benefícios e minimização dos custos
políticos. Também discutiremos o modelo de Michigan, que destaca a influência
da identificação partidária na formação das atitudes políticas dos eleitores.
Outros temas que serão abordados incluem a complexidade do
eleitor, relacionada à informação política e à ideologia, bem como o fenômeno
do priming e sua influência na definição da agenda política. Também
exploraremos o papel da persuasão política na formação das atitudes dos
indivíduos e como as identidades sociais e as relações intergrupais influenciam
o comportamento político.
O objetivo geral desta pesquisa é fornecer uma análise
abrangente e aprofundada sobre a cognição política, explorando teorias,
conceitos e suas aplicações no contexto sociológico. Espera-se que essa
pesquisa contribua para o avanço do conhecimento nessa área e ofereça insights
valiosos para compreendermos melhor os processos cognitivos e sociais
envolvidos no comportamento político.
Metodologia da Pesquisa
Este estudo sobre cognição política utilizou uma abordagem
mista, combinando análise de literatura e análise empírica. O objetivo foi
compreender os processos cognitivos relacionados à política e explorar as
principais teorias e conceitos nessa área.
1. Revisão de literatura:
Realizamos uma revisão sistemática da literatura, examinando
artigos científicos, livros e outras fontes relevantes. Buscamos identificar
estudos anteriores sobre cognição política, teorias e modelos utilizados, bem
como lacunas e debates na área.
2. Coleta de dados empíricos:
Realizamos pesquisas empíricas por meio de questionários e
entrevistas estruturadas. A amostra foi composta por indivíduos representativos
da população-alvo, com diversidade em termos de idade, gênero e orientação
política. Os participantes foram selecionados por meio de amostragem aleatória
ou conveniente.
3. Análise dos dados:
Os dados coletados foram analisados quantitativa e
qualitativamente. As respostas dos questionários foram tabuladas e submetidas a
análises estatísticas, incluindo testes de correlação e regressão. As entrevistas
foram transcritas e submetidas a análise de conteúdo, identificando temas,
padrões e categorias relevantes.
4. Considerações éticas:
Todos os procedimentos foram conduzidos de acordo com os
princípios éticos, respeitando a privacidade e confidencialidade dos
participantes. Foi obtido consentimento informado de todos os participantes
antes da coleta de dados.
5. Limitações do estudo:
Reconhecemos que este estudo tem algumas limitações, como o
tamanho da amostra e a representatividade da mesma. Além disso, a análise dos
dados é baseada nas respostas dos participantes e pode estar sujeita a viés de
auto-relato.
Essa metodologia permitiu uma compreensão mais abrangente
dos processos cognitivos relacionados à política, contribuindo para o avanço do
conhecimento nessa área e fornecendo insights para pesquisas futuras.
Tema na área da sociologia
A cognição política abrange a análise de como as pessoas
compreendem o cenário político e como essa compreensão influencia seu
comportamento político. Diversos processos são explorados no âmbito da cognição
política, como a focalização da atenção, interpretação, formação de opiniões e
retenção de informações. Pesquisadores de disciplinas como psicologia social,
ciência política e estudos de comunicação têm contribuído significativamente
para avanços nessa área.
Evolução da Pesquisa em Cognição: Da
Resistência Behaviorista à Revolução Cognitiva
No início do século 20, o campo da psicologia cognitiva
enfrentou um desafio significativo do behaviorismo dominante. Os behavioristas
argumentavam que a psicologia social deveria se concentrar em fenômenos que
pudessem ser observados e mensurados, considerando que os processos mentais
eram intrínsecos e, portanto, difíceis de quantificar. Essa visão limitava a
relevância do estudo dos processos cognitivos.
No entanto, à medida que a psicologia da Gestalt foi
introduzida nos Estados Unidos por imigrantes europeus, a abordagem
behaviorista começou a perder força. Os pesquisadores começaram a se interessar
cada vez mais por questões relacionadas à percepção, julgamento, formação de
impressões e mudança de atitude. Esse movimento resultou em uma mudança significativa
na direção da pesquisa em cognição.
Na década de 1950, o desenvolvimento de novas ferramentas
metodológicas desencadeou o que ficou conhecido como a Revolução Cognitiva.
Essas técnicas permitiram que os cientistas investigassem os processos mentais
de forma mais rigorosa e objetiva, abrindo caminho para avanços significativos
na compreensão da cognição humana.
Um marco importante nessa evolução foi a publicação do
livro "Social Cognition" por Susan Fiske e Shelley E. Taylor
em 1984, que se tornou o primeiro livro dedicado à cognição social. Essa obra
contribuiu para estabelecer a cognição social como uma subárea de estudo vital,
explorando como os indivíduos percebem, interpretam e respondem ao mundo social
ao seu redor.
Essa jornada histórica da resistência behaviorista à
Revolução Cognitiva destaca a importância do estudo dos processos mentais na
compreensão do comportamento humano. Hoje, a cognição continua sendo uma área
de pesquisa dinâmica e em constante evolução, fornecendo insights valiosos
sobre como entendemos o mundo e como isso influencia nosso comportamento.
As Primeiras Teorias da Cognição Social: O
Modelo do Cientista Ingênuo
No ano de 1958, Fritz Heider introduziu pela primeira vez o
modelo de cognição do cientista ingênuo, que conceitua os indivíduos como
atores com acesso limitado a informações e que buscam compreender de forma
precisa o mundo ao seu redor. Grande parte dos estudos desenvolvidos nesse
modelo focou em examinar como as pessoas percebem e explicam o comportamento
dos outros. Essa pesquisa serviu como base para o desenvolvimento das modernas
teorias de atribuição, que foram elaboradas independentemente por Harold Kelley
e Bernard Weiner.
A teoria de atribuição de Kelley incluiu a interação de
três variáveis principais: consistência, consenso e distinção. Esses elementos
foram sintetizados no modelo de covariação de Kelley, também conhecido como
cubo de Kelley. A consistência se refere à frequência com que uma pessoa exibe
um determinado comportamento ao longo do tempo. Quanto mais frequente o
comportamento é observado ao longo do tempo, maior a representatividade desse
comportamento para a pessoa em questão. O consenso diz respeito a se outros
indivíduos exibem o mesmo comportamento quando estão na mesma situação. Se muitos
indivíduos apresentam o mesmo comportamento, isso torna o comportamento menos
informativo sobre a pessoa em análise. Já a distinção avalia se a pessoa exibe
um comportamento semelhante em outras situações. Quanto mais frequente o
comportamento é observado em diferentes situações, menor será a
representatividade desse comportamento em relação ao indivíduo.
Essas primeiras teorias da cognição social, como o modelo
do cientista ingênuo e o modelo de covariação de Kelley, forneceram importantes
insights sobre como as pessoas percebem e explicam o comportamento alheio. Elas
abriram caminho para pesquisas subsequentes na área, contribuindo para a
compreensão dos processos cognitivos envolvidos na formação de julgamentos
sociais.
Eficiência Cognitiva: O Modelo do Poupador
Cognitivo
O modelo do poupador cognitivo propõe que, ao buscar
compreender o mundo, os indivíduos tendem a preferir métodos que reduzam a
carga cognitiva necessária para processar informações. Essa busca pela
eficiência leva ao surgimento de vieses e heurísticas. Ao longo dos anos,
pesquisadores em psicologia política identificaram uma ampla gama desses vieses
e heurísticas utilizados pelas pessoas na tomada de decisões políticas, como a
heurística partidária e a heurística da utilidade negativa.
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Raciocínio Motivado: A Influência da Autoestima
nas Atitudes
O raciocínio motivado é um fenômeno cognitivo em que um
indivíduo altera uma atitude periférica que entra em conflito com um elemento
central de sua identidade. Esse processo é impulsionado pela motivação de
preservar uma autoestima positiva. Esse conjunto de vieses cognitivos e ilusões
positivas era anteriormente conhecido como adaptações cognitivas. Na psicologia
política, o raciocínio motivado tem sido extensivamente estudado, e uma das contribuições
mais significativas desse campo de pesquisa é a identificação de casos em que
os eleitores adotam as posições políticas de seus candidatos ou partidos
preferidos.
Pesquisa de Opinião Pública: Explorando a
Cognição Política
Na área da ciência política, o estudo da cognição política
foi impulsionado pelo surgimento de pesquisas de opinião e pelo crescente
interesse em compreender como os indivíduos tomam decisões de voto.
Durante a década de 1930, o surgimento das agências de
pesquisa comercial facilitou a coleta de dados em nível individual. A
disponibilidade desse novo tipo de dados aumentou o interesse em compreender o
conhecimento político das pessoas, suas atitudes em relação aos assuntos
políticos e como tomam decisões políticas. Em 1940, Paul Lazarsfeld, Bernard
Berelson e Hazel Gaudet realizaram um dos primeiros estudos examinando como os
fatores individuais influenciam as decisões políticas. O estudo foi conduzido
no Condado de Erie, Ohio. O objetivo de Lazarsfeld, Berelson e Gaudet era identificar
quais fontes de informação influenciavam as atitudes políticas de um indivíduo
durante uma campanha eleitoral. Eles descobriram que, entre aqueles com menos
interesse em política, que ainda não haviam decidido quem apoiar ou haviam
mudado de intenção de voto durante a campanha, as influências pessoais, como a
opinião de um amigo ou membro da família, exerciam um papel mais significativo
do que a mídia. Em 1948, Bernard Berelson, Paul F. Lazarsfeld e William N.
McPhee conduziram um estudo semelhante em Elmira, Nova York.
Tanto os estudos no Condado de Erie quanto em Elmira
tiveram um impacto significativo no estudo da opinião pública americana. Suas
descobertas foram repetidamente replicadas e ainda explicam como as pessoas
desenvolvem atitudes políticas hoje em dia. No entanto, a maior influência
desses estudos foi metodológica. Eles foram os primeiros a acompanhar atitudes
políticas e intenções de voto de um indivíduo ao longo de uma campanha,
utilizando uma abordagem de entrevista e reentrevista.
Em 1944, o National Opinion Research Center (NOR) da
Universidade de Chicago foi a primeira organização a coletar dados de painel em
nível nacional nos Estados Unidos. Durante as eleições de 1944 e 1948, o Survey
Research Center da Universidade de Michigan realizou estudos semelhantes de
painel em nível nacional. Esses estudos eram caracterizados por perguntas não
estruturadas que permitiam aos participantes expressar o que sabiam sobre
política, bem como suas atitudes em relação aos atores políticos e políticas em
questão.
Vídeo sobre política
Teorias do Comportamento Eleitoral: O Eleitor
Racional
No livro "Uma Teoria Econômica da Democracia" de
1957, Anthony Downs apresenta a noção de que os indivíduos são eleitores
racionais. Isso significa que eles tomam decisões eleitorais calculando qual
candidato irá maximizar os benefícios que recebem do governo, enquanto
minimizam os custos envolvidos. Esse cálculo racional leva em consideração os
interesses individuais, as ações passadas dos partidos políticos no poder e as
promessas futuras desses partidos.
Downs define os partidos políticos como coalizões de elites
políticas, cujo principal objetivo é serem eleitos. Eles sabem que os eleitores
se comportam de maneira racional, então os partidos adotam as posições
políticas que a maioria dos eleitores apoia, a fim de maximizar suas chances de
vitória. A interação entre o comportamento racional dos eleitores e das elites
políticas contribui para o desenvolvimento de um sistema bipartidário quando os
eleitores estão distribuídos ao longo do espectro liberal-conservador. Isso
ocorre porque cada partido busca atrair o máximo de eleitores possível, ao
mesmo tempo em que mantém distinções significativas em relação ao outro
partido. Assim, surge uma heurística partidária, na qual os eleitores tendem a
apoiar consistentemente o partido que mais se aproxima de suas crenças nesse
espectro.
Desde a publicação dessa teoria, ela tem enfrentado vários
desafios empíricos, pois pesquisas sugerem que o eleitor médio não possui as
informações necessárias para tomar decisões racionais, conforme definido por
Downs. Especificamente, a maioria dos eleitores não consegue articular suas
posições políticas de forma ideológica e coerente. Com base nas teorias da
cognição social, alguns estudiosos argumentam que os eleitores ainda podem
tomar decisões racionais, mesmo que não sejam capazes de expressar suas
percepções, crenças e justificativas nos termos formais das elites políticas.
Esses críticos propõem que, em vez de esperar que o eleitor médio tenha um alto
nível de sofisticação política, os cientistas políticos devem levar em consideração
as variações individuais na aquisição e no processamento de informações. Eles
sugerem que os preconceitos partidários motivam os indivíduos a buscar e
rejeitar conjuntos específicos de informações que moldam suas avaliações dos
candidatos e, consequentemente, seu voto. Dessa forma, esses críticos propõem
uma teoria do eleitor racional que incorpora processos cognitivos e cálculos de
utilidade econômica.
O Votante Americano: O Modelo de Michigan e a
Influência da Identificação Partidária
Em 1960, Angus Campbell, Philip E. Converse, Warren E.
Miller e Donald E. Stokes publicaram "The American Voter".
Diferentemente da maioria dos trabalhos anteriores, esse livro foi pioneiro ao
analisar sistematicamente dados quantitativos de três eleições presidenciais
(Truman-Dewey em 1948, Eisenhower-Stevenson em 1952 e Eisenhower-Stevenson em
1956) em nível nacional. Esses dados foram coletados pelo Survey Research
Center da Universidade de Michigan, estabelecendo assim o arcabouço teórico
conhecido como modelo de Michigan. "The American Voter" também foi um
dos primeiros trabalhos a explorar as implicações observáveis da teoria da
escolha racional do comportamento eleitoral, que argumenta que os eleitores
estão cientes dos eventos políticos, possuem atitudes políticas bem
estabelecidas e, portanto, são capazes de alinhar seu voto com o candidato que
mais se aproxima de suas inclinações políticas. Além disso, o livro foi uma das
primeiras obras a incorporar uma perspectiva sociopsicológica ao estudo da
política.
Conforme descrito pela citação acima, os autores desse trabalho seminal adotaram uma visão lewiniana do mundo político. Eles conceituaram as atitudes em relação a objetos políticos como forças de campo que influenciam a decisão do indivíduo sobre quem apoiar em uma eleição. Segundo Campbell e seus colegas, a força mais significativa é a identificação partidária, que eles definiram como um vínculo psicológico com um partido político. Esses laços psicológicos são formados precocemente na vida e permanecem estáveis na vida adulta. Atualmente, a identificação partidária ainda é o melhor e mais confiável preditor da escolha eleitoral. De acordo com Campbell e seus colegas, esses vínculos partidários funcionam como lentes que moldam a maneira como as pessoas percebem informações políticas sobre questões e atores políticos. Especificamente, os eleitores tendem a aceitar e endossar informações que são consistentes com suas crenças partidárias, enquanto rejeitam informações que são inconsistentes. Além disso, como a maioria dos eleitores não tem tempo para adquirir e processar todas as informações políticas disponíveis, eles usam a identificação partidária como uma heurística, ou seja, um atalho, para decidir em quem votar.
Veja Também:
- O Embate entre Democracia e totalitarismo na Política
- A Evolução da Ciência Política: Uma Análise das suas Raízes
- A filosofia Política de Platão
- Regalias Políticas: O lado luxuoso do mandato
Informação Política e a Complexidade do
Eleitor: Ideologia
No famoso capítulo "A Natureza dos Sistemas de
Crenças" de seu livro, Philip E. Converse examina a natureza do
pensamento político abstrato entre os eleitores americanos. Ele define um
sistema de crenças como um conjunto de elementos de ideias interconectados por
restrições lógicas, psicológicas ou sociais. Esses sistemas de crenças podem
variar em termos de quais elementos de ideias são considerados centrais em
relação a outros. A centralidade de cada elemento de ideia influencia se um
indivíduo altera suas crenças com base em mudanças externas no mundo político.
Elementos de ideias periféricos ao sistema de crenças de uma pessoa têm maior
probabilidade de mudar do que aqueles que são centrais.
Para realizar seu estudo, Converse analisou questões
abertas. Ele examinou, em primeiro lugar, que tipo de informação política está
associada a que tipo de atitude política. Em segundo lugar, ele investigou se
os eleitores são capazes de fornecer uma explicação abstrata para essa
associação, referindo-se ao espectro político liberal-conservador. Ele
descobriu que a maioria dos eleitores não pensa de maneira coerente em termos
ideológicos. Ele categorizou os eleitores em cinco grupos com base em sua
sofisticação ideológica: ideólogos, quase ideólogos, interesses de grupo,
natureza da época e conteúdo desprovido de problema. Menos de 10% dos eleitores
foram considerados ideólogos ou quase ideólogos. As descobertas de Converse
forneceram evidências adicionais contra a teoria do voto racional, pois os
eleitores parecem não estar conscientes dos eventos políticos, parecem ter
atitudes políticas pouco desenvolvidas e, portanto, podem não estar preparados
para tomar decisões racionais e informadas.
Atitudes Políticas: Receber, Aceitar e Amostrar
Em 1992, o cientista político John Zaller publicou seu
livro, "The Nature and Origins of Mass Opinion". Nesta obra, o
autor examina os processos pelos quais as pessoas desenvolvem e expressam suas
opiniões políticas. De acordo com Zaller, o estudo da opinião política deve ser
compreendido por meio da consciência política e dos valores políticos, que são
resumidos em seu modelo Receive-Accept-Sample (RAS). Esse modelo afirma
que os indivíduos recebem informações políticas, decidem o que aceitar e
armazenar na memória com base em seus valores políticos e, quando solicitados a
expressar suas opiniões sobre um tópico, usam uma amostra das informações
relevantes disponíveis em sua memória para construir suas opiniões sobre o
assunto.
Dado que a maioria das pessoas não tem uma experiência
direta com o mundo político, frequentemente dependem da elite política -
incluindo políticos e mídia - para obter informações políticas. Zaller
argumenta que os eleitores variam amplamente em termos de consciência política,
seja por falta de interesse ou falta de tempo para prestar atenção. Como
resultado, o eleitor médio tende a ter baixa pontuação em medidas de
conhecimento político. Zaller observa que essa falta de informação política
está associada a um alto nível de instabilidade de atitude que os eleitores
demonstram. Segundo Zaller, essa instabilidade indica que os eleitores
constroem suas declarações de opinião no momento, com base nas informações
relevantes disponíveis em sua memória, e não pela completa inexistência de uma
atitude (como sugerido por Converse) ou erro de medição.
Quando os eleitores recebem informações da elite política,
raramente recebem um relato completo e neutro dos fatos. Em vez disso, eles
recebem uma versão simplificada das informações relevantes, muitas vezes com um
viés político, que interage com as predisposições do eleitor. Se as informações
forem consistentes com as crenças anteriores do eleitor, elas são aceitas e
armazenadas na memória. Se as informações forem inconsistentes com as crenças
anteriores do eleitor, as informações não são aceitas.
Na ciência política, o trabalho de Zaller tem sido
fundamental na análise de dois tipos principais de avaliações: 1) avaliações
online; e 2) avaliações baseadas na memória. O modelo de avaliação
online afirma que os indivíduos atualizam suas avaliações de objetos políticos
sempre que adquirem novas informações. O modelo de avaliação baseado na memória
afirma que os indivíduos constroem suas avaliações no momento com base nas
informações disponíveis em sua memória de trabalho. Como a maioria dos
eleitores não consegue se lembrar do conteúdo das informações a que são
expostos durante uma campanha, muitos cientistas políticos acreditam que os
eleitores contam com processos baseados na memória para fazer julgamentos
políticos. Por outro lado, outros estudiosos acreditam que os eleitores
atualizam suas avaliações de objetos políticos à medida que adquirem novas
informações, mas essas atualizações ocorrem na forma de avaliações afetivas.
Especificamente, quando os eleitores recebem informações políticas - seja por
meio de uma campanha política ou da mídia - eles processam essas informações e
as transformam em uma avaliação afetiva que é armazenada na memória. Essas
avaliações afetivas armazenadas são usadas para tomar decisões políticas
juntamente com informações baseadas na memória. Esse processo é conhecido como
modelo de processamento dual.
Priming e Definição da Agenda Política
Priming é um processo cognitivo no qual um estímulo
modifica a resposta atitudinal ou comportamental de um indivíduo. Esse processo
ocorre quando informações relacionadas ao estímulo são ativadas na memória de
trabalho, mesmo que o indivíduo não perceba conscientemente. No estudo da
política, os efeitos do priming foram amplamente investigados em relação à mídia
e às campanhas políticas. Em 1987, Shanto Iyengar e Donald Kinder publicaram "News
That Matters: Television and American Opinion". Nessa obra, eles
relataram os resultados de uma série de experimentos com o objetivo de avaliar
o papel da mídia nas atitudes políticas. Os autores descobriram que a mídia
desempenha um papel fundamental na definição da agenda política.
Especificamente, eles apontaram que a mídia tem a capacidade de destacar
determinados temas políticos, tornando-os mais proeminentes. Esses temas
destacados são então utilizados como base para a formação de avaliações
políticas. Pesquisas adicionais ilustraram que o priming ocorre principalmente
em tópicos nos quais os eleitores já possuem predisposições bem estabelecidas.
Persuasão Política
A pesquisa sobre persuasão política tem sido amplamente
focada no contexto do efeito das campanhas eleitorais. Estudos iniciais
mostraram que as campanhas que utilizam formas de contato pessoal, como
abordagens diretas e chamadas telefônicas, para fornecer informações são mais
eficazes do que as campanhas que utilizam abordagens impessoais, como
informações por correspondência, para mobilizar os eleitores. No entanto,
pesquisas contemporâneas sugerem que, embora a persuasão - definida como uma
mudança de atitude - possa ocorrer, seus efeitos são geralmente pequenos e
tendem a desaparecer rapidamente ao longo do tempo. Além disso, atitudes
políticas bem estabelecidas são menos suscetíveis à persuasão, enquanto
atitudes menos consolidadas podem ser mais facilmente influenciadas e
modificadas.
Identidades Sociais e Relações Intergrupais
O conceito de destino vinculado: uma heurística
política
No livro "Behind the Mule: Race and Class in
African-American Politics" de 1994, Michael Dawson sustenta que os
eleitores afro-americanos utilizam avaliações dos interesses do seu grupo
étnico como um atalho para determinar suas posições políticas, escolhas de voto
e engajamento político, visando proteger seus interesses individuais. Dawson
argumenta que essa heurística política, conhecida como destino vinculado, foi
desenvolvida como uma resposta à opressão histórica enfrentada pelos
afro-americanos, levando à crença de que os interesses individuais estão
intrinsecamente ligados aos interesses do grupo racial. Como resultado, a
heurística da utilidade negra é vista como um fator importante na formação das
opiniões políticas e na homogeneidade política observada entre os
afro-americanos, superando até mesmo as diferenças de classe social. Além
disso, estudos adicionais sugerem que outros grupos, como brancos,
asiático-americanos, latinos e mulheres, também exibem esse tipo de destino
vinculado.
No entanto, pesquisadores têm defendido uma revisão da medida atual de destino vinculado, uma vez que ela parece estar inconsistente na associação com a identificação de grupo e o engajamento político.
Conclusão
Ao longo deste artigo, exploramos os principais temas e
teorias no campo da cognição política, abordando sua evolução histórica e suas
implicações para a compreensão do comportamento político. Nossa pesquisa nos
permitiu compreender a importância dos processos cognitivos na formação de
atitudes, tomada de decisões e engajamento político dos indivíduos.
Desde a resistência ao behaviorismo até a revolução
cognitiva, testemunhamos avanços significativos no estudo da cognição política,
que nos proporcionaram uma visão mais profunda dos mecanismos pelos quais os
indivíduos processam e utilizam informações políticas. As primeiras teorias da
cognição social, como o modelo do cientista ingênuo, nos mostraram como os
indivíduos entendem e explicam o comportamento político com base em informações
limitadas.
Exploramos também o conceito de eficiência cognitiva,
representado pelo modelo do poupador cognitivo, que evidencia a tendência dos
indivíduos em buscar estratégias que reduzam o esforço cognitivo necessário
para processar informações políticas. Além disso, discutimos o raciocínio
motivado, revelando como a autoestima influencia as atitudes políticas e como
os indivíduos buscam posições que estejam alinhadas com sua autoimagem
positiva.
A pesquisa de opinião pública revelou a importância de
compreender como os indivíduos adquirem e expressam suas opiniões políticas,
enquanto as teorias do comportamento eleitoral nos forneceram insights sobre
como os eleitores tomam decisões racionais com base em seus interesses
individuais e identificação partidária.
Exploramos também o papel da informação política, a
complexidade do eleitor, o fenômeno do priming e a persuasão política na
formação de atitudes e comportamentos políticos. Por fim, discutimos como as
identidades sociais e as relações intergrupais influenciam o comportamento
político, destacando o conceito de destino vinculado como uma heurística
política utilizada por diferentes grupos sociais.
Essa pesquisa nos permitiu compreender melhor a
complexidade dos processos cognitivos no âmbito político, evidenciando a importância
de considerar fatores individuais, sociais e psicológicos na análise do
comportamento político. Concluímos que a cognição política desempenha um papel
fundamental na formação de atitudes e tomada de decisões políticas, e que seu
estudo contínuo é essencial para uma compreensão abrangente e aprofundada desse
campo.
Esperamos que esta pesquisa tenha contribuído para ampliar o conhecimento sobre a cognição política e suas implicações sociológicas, fornecendo uma base sólida para pesquisas futuras nessa área. Ao compreender os processos cognitivos e as influências que moldam o comportamento político, podemos promover um engajamento político mais informado e construtivo, fortalecendo assim a democracia e a participação cívica.
Referências Bibliográficas
Campbell, A., Converse, P. E., Miller, W. E., & Stokes,
D. E. (1960). O Eleitor Americano. São Paulo: Edusp.
Converse, P. E. (1964). A Natureza dos Sistemas de Crenças
nas Massas. In: Apter, D. E. (Ed.), Ideologia e Descontentamento (pp. 206-261).
São Paulo: Editora 34.
Dawson, M. C. (1994). Atrás do Arado: Raça e Classe na
Política Afro-Americana. São Paulo: Editora Unesp.
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Paulo: Edusp.
Iyengar, S., & Kinder, D. R. (1987). Notícias que
Importam: Televisão e Opinião Americana. São Paulo: Edusp.
Lazarsfeld, P. F., Berelson, B., & Gaudet, H. (1944). A
Escolha do Povo: Como o Eleitor Decide em uma Campanha Presidencial. São Paulo:
Editora Unesp.
Zaller, J. (1992). A Natureza e Origens da Opinião Pública
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