Sir Reginald Cuthbertson buscou "Fonte da Melancolia" no séc. XIX; águas misteriosas prometiam liberar emoções reprimidas. Expedição intrigante! 🌊💧😮
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O que outrora se conhecia como melancolia e agora é
denominado depressão clínica, depressão maior ou simplesmente depressão,
referido comumente como transtorno depressivo maior por muitos profissionais da
saúde, possui uma extensa e enriquecedora trajetória, com condições
assemelhadas sendo descritas desde tempos clássicos.
Desde a pré-história até os períodos medievais, os quatro
temperamentos, representados no sentido horário a partir do canto superior
esquerdo (sangüíneo; fleumático; melancólico; colérico), conforme uma
antiquíssima teoria dos estados mentais, eram considerados como os fundamentos
das perturbações. Na Grécia Antiga, acreditava-se que a doença advinha de um
desequilíbrio nos quatro fluidos corporais fundamentais, ou humores. Além
disso, os tipos de personalidade eram tidos como determinados pelo humor dominante
em cada indivíduo.
Originando-se do grego antigo melas, que significa
"negro", e kholé, que significa "bile", a
melancolia foi minuciosamente descrita como uma afecção distinta com
particularidades físicas e mentais por Hipócrates em seus Aforismos, no qual
classificou todos os "medos e desânimos, quando prolongados, como
sintomas desta enfermidade". Aretaeus da Capadócia, posteriormente,
observou que os afligidos eram "obscuros ou
severos; desanimados ou excessivamente entorpecidos, sem qualquer causa
manifesta".
A teoria humoral perdeu destaque, mas encontrou
ressurgimento em Roma pelas mãos de Galeno. A melancolia, então, abarcava uma
gama muito mais abrangente do que a atual depressão; englobava sintomas de
tristeza, abatimento e desânimo, frequentemente acompanhados por medo, raiva,
delírios e obsessões.
No mundo persa e, posteriormente, no mundo muçulmano, os
médicos desenvolveram ideias sobre a melancolia durante a Iluminada Idade de
Ouro Islâmica. Ishaq ibn Imran (falecido em 908) unificou os conceitos
de melancolia e frenite. O eminente médico persa do século XI, Avicena,
descreveu a melancolia como um tipo de transtorno de humor depressivo, no qual
a pessoa podia manifestar desconfiança e desenvolver certos tipos de fobias.
Sua obra, "O Cânon da Medicina", tornou-se referência do
pensamento médico europeu, ao lado das obras de Hipócrates e Galeno.
As teorias morais e espirituais também prevaleceram e, no
contexto cristão da Europa medieval, identificou-se um mal-estar chamado acedia
(preguiça ou ausência de cuidado), envolvendo desânimo e letargia geralmente
associados ao isolamento.
A Evolução da Melancolia
Sigmund freud, Imagem de Welcome to All ! ツ por Pixabay |
O trabalho acadêmico primordial do século XVII surgiu das
reflexões do erudito inglês Robert Burton, intitulado "A Anatomia da
Melancolia", baseado em inúmeras teorias e nas próprias vivências do
autor. Burton sugeriu que a melancolia poderia ser mitigada por meio de uma
dieta salutar, sono proficiente, harmoniosa música e a busca por um
"labor significativo", além de desabafar o âmago do problema com
um confidente.
Ao longo do século XVIII, a concepção humoral da melancolia
foi gradativamente desafiada por explicações de cunho mecânico e elétrico; as
alusões a estados obscuros e sombrios cederam espaço para conceitos de
circulação vagarosa e exaustão energética. O eminente médico alemão Johann
Christian Heinroth, no entanto, defendeu que a melancolia consistia em um
transtorno da alma, decorrente de conflitos morais no interior do paciente.
Posteriormente, vários autores aventuraram-se a propor até
trinta subtipos distintos de melancolia, e termos alternativos foram aventados
e descartados. A hipocondria foi encarada como uma perturbação independente.
Tanto "melancolia" quanto "melancolia"
foram empregados de modo intercambiável até o século XIX, porém, o primeiro
passou a denotar uma condição patológica, ao passo que o segundo, um
temperamento.
A palavra "depressão"
teve sua origem do verbo latino "deprimere", que remetia ao
ato de "pressionar para baixo". A partir do século XIV, "deprimir" assumiu o sentido de subjugar ou
reprimir os ânimos. Em 1665, foi empregada pelo autor inglês Richard Baker no "Chronicle"
para se referir a alguém com "uma grande
depressão de espírito", e, posteriormente, pelo escritor inglês
Samuel Johnson com sentido similar em 1753. Progressivamente, o termo também
adquiriu usos em fisiologia e economia.
A referência inicial a um sintoma psiquiátrico emergiu nas
palavras do psiquiatra francês Louis Delasiauve em 1856, e, na década de 1860,
passou a figurar em dicionários médicos, aludindo a uma redução fisiológica e
metafórica da funcionalidade emocional. Desde os tempos de Aristóteles, a
melancolia estava associada aos homens do saber e brilhantismo intelectual, um
risco inerente à contemplação e criatividade. O novo conceito, porém, abjurou
essas associações e, ao longo do século XIX, passou a estar mais atrelado ao
universo feminino.
Ainda que a melancolia continuasse a ser o termo
diagnóstico dominante, a depressão ganhou crescente destaque nos tratados
médicos, e tornou-se sinônimo no final do século; o psiquiatra alemão Emil
Kraepelin pode ter sido o pioneiro em utilizá-lo como termo abrangente,
referindo-se a diferentes tipos de melancolia como estados depressivos. O psiquiatra
inglês Henry Maudsley propôs uma categoria ampla de transtorno afetivo.
A Evolução Conceitual da Depressão nos Séculos
20 e 21
O ilustre sistema proposto por Kraepelin amalgamou quase
todas as modalidades de transtorno de humor em uma esfera de insanidade
maníaco-depressiva. Kraepelin edificou seu edifício teórico com base em uma
premissa de patologia cerebral subjacente, todavia, igualmente fomentou a
distinção entre os tipos endógenos (originados internamente) e os
exógenos (gerados externamente).
O psiquiatra alemão Kurt Schneider, em 1920, forjou os
termos "depressão endógena" e “depressão reativa”,
sendo este último referente à reatividade no âmago emocional, não à reação aos
eventos externos, e, por conseguinte, frequentemente mal compreendido. Tal
divisão foi confrontada em 1926 por Edward Mapother, que não vislumbrou
qualquer distinção clara entre os referidos tipos.
No Reino Unido, a perspectiva unificadora angariou maior
popularidade, enquanto nos Estados Unidos, a visão dicotômica predominou,
influenciada pelo trabalho do psiquiatra suíço Adolf Meyer e, previamente a
ele, de Sigmund Freud, o arauto da psicanálise.
Sigmund Freud sustentou que a depressão, ou melancolia, pode decorrer de uma perda e é mais severa do que o luto. Em seu artigo de 1917, intitulado "Luto e Melancolia", Freud equiparou o estado de melancolia ao processo de luto. Ele teorizou que a perda objetiva, tal como a perda de um relacionamento valioso por meio da morte ou do rompimento romântico, acarreta também uma perda subjetiva; o indivíduo deprimido se identificou com o objeto de afeto através de um processo narcísico inconsciente denominado catexia libidinal do ego.
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Tal perda culmina em sintomas melancólicos de profunda
gravidade, ultrapassando o simples luto; não só o mundo exterior é percebido
com uma visão negativa, mas o próprio eu é seriamente comprometido. O declínio
da autopercepção do paciente é revelado em sua convicção acerca de sua própria
culpa, inferioridade e indignidade. Além disso, Freud enfatizou as experiências
precoces da vida como um fator preponderante nesse processo.
A Proeminente Evolução das Teorias sobre a Depressão
Meyer desdobrou uma estrutura social e biológica
amalgamada, enfatizando as reações entremeadas no contexto da vida de um
indivíduo, argumentando com veemência que o termo "depressão" deveria
suplantar a "melancolia".
O DSM-I (1952) abarcava a "reação
depressiva", enquanto o DSM-II (1968) contemplava a "neurose
depressiva", definida como uma reação excessiva a um conflito interno ou a
um evento identificável, e também incluía um tipo depressivo de psicose
maníaco-depressiva dentre os primordiais transtornos afetivos.
A meados do século 20, outras teorias psicodinâmicas foram
apresentadas. As perspectivas existenciais e humanísticas erguiam-se como
enérgica assertiva do individualismo. O psiquiatra existencial austríaco Viktor
Frankl correlacionou a depressão a sentimentos de futilidade e falta de
significado. A logoterapia de Frankl voltava-se ao preenchimento do "vácuo
existencial" imbricado a tais sentimentos, revelando-se
particularmente benéfica para adolescentes deprimidos.
O psicólogo existencial americano Rollo May aventou a
hipótese de que "a depressão é a incapacidade de erigir um futuro".
De modo geral, May escreveu: "a depressão... ocorre mais na dimensão
temporal do que na espacial", e o indivíduo deprimido se mostrava
incapaz de projetar-se adequadamente no tempo. Consequentemente,
"focalizar algum ponto no tempo além da depressão... conferia ao paciente
uma perspectiva, uma visão do alto, por assim dizer; e isso poderia,
efetivamente, romper as cadeias da... depressão".
Os psicólogos humanistas sustentavam que a depressão
emanava da incongruência entre a sociedade e o ímpeto inato do indivíduo em
auto-realizar-se, ou plasmar todo o seu potencial. O psicólogo humanista
americano Abraham Maslow teorizou que a depressão era especialmente provável de
surgir quando o mundo entravasse um senso de "plenitude" ou
"totalidade" para o autorrealizador.
Os psicólogos cognitivos formularam teorias sobre a
depressão na metade do século XX. A partir da década de 1950, Albert Ellis
sustentou que a depressão decorria de "deveria" e "deve"
irracionais, desencadeando inapropriada autoculpabilização, autopiedade ou
piedade de outrem em momentos de adversidade. Na década de 1960, Aaron Beck
desenvolveu a teoria de que a depressão resultava de uma "tríade cognitiva" de padrões de pensamento
negativos, ou "esquemas", a respeito de si mesmo, seu porvir e
o mundo.
Durante meio século, o diagnóstico de depressão era
enquadrado como endógena (melancólica),
considerada uma condição biológica, ou reativa (neurótica),
uma reação a eventos estressantes. O debate perdurou durante a maior parte do
século 20 a respeito de se um modelo unitário ou binário de depressão melhor
refletiria a síndrome; no primeiro, há um continuum de depressão classificado
única e tão somente pela intensidade, decorrente de uma "via
psicobiológica final comum", enquanto o segundo concebe uma distinção
entre síndromes depressivas biológicas e reativas. A publicação do DSM-III viu
o modelo unitário adquirir aceitação mais generalizada.
A Trajetória Conceitual da Depressão e a
Emergência dos Antidepressivos
A isoniazida, inicialmente nomeada como um composto
antidepressivo, reverberou com vigor em meados do século 20, quando
pesquisadores se dedicaram a teorizar que a depressão tinha suas raízes em um
desequilíbrio químico dos neurotransmissores cerebrais, alicerçada em
observações de alterações nos níveis de neurotransmissores de monoamina, fruto
da reserpina e isoniazida, e sua conexão com sintomas depressivos.
Entre as décadas de 1960 e 1970, a psicose
maníaco-depressiva se restringiu a um tipo exclusivo de transtorno do humor (hoje
mais conhecido como transtorno bipolar), distinto da depressão unipolar. Os
termos "unipolar" e "bipolar"
foram criados pelo psiquiatra alemão Karl Kleist.
O termo "transtorno depressivo maior" foi
introduzido por um grupo de médicos norte-americanos na metade dos anos 1970,
como parte de propostas de critérios diagnósticos fundamentados em padrões
sintomáticos (conhecidos como Critérios Diagnósticos de Pesquisa, com base nos
anteriores Critérios Feighner), e passou a integrar o DSM-III em 1980. Para
conservar a uniformidade, a CID-10 adotou esses mesmos critérios, com ligeiras
modificações, mas empregando o limiar diagnóstico do DSM para identificar um
episódio depressivo leve, acrescentando categorias de limiares mais elevados
para episódios moderados e graves.
A antiga concepção de melancolia sobreviveu na noção de um
subtipo denominado melancólico. As novas definições de depressão obtiveram
ampla aceitação, ainda que com algumas descobertas e perspectivas discordantes,
e a nomenclatura prosseguiu no DSM-IV-TR, publicado em 2000.
Críticas emergiram a respeito da expansão da cobertura
diagnóstica, associadas ao desenvolvimento e promoção dos antidepressivos e ao
viés biológico desde o final dos anos 1950. Curiosamente, um estudo revelou que
os afegãos ostentam a mais elevada taxa de depressão em âmbito global.
Conclusão
A evolução conceitual da depressão ao longo dos séculos
revela o contínuo esforço da ciência em compreender essa complexa condição
mental que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Desde as antigas teorias
humorais até as modernas perspectivas neuroquímicas, as abordagens variadas têm
lançado luz sobre os diferentes aspectos dessa enfermidade.
O advento dos antidepressivos, como a isoniazida pioneira,
representou um marco importante no tratamento da depressão e contribuiu para
uma melhor qualidade de vida de muitos pacientes. No entanto, o aprofundamento
das pesquisas e o aprimoramento das abordagens terapêuticas continuam a ser
prioridades para a comunidade científica.
Nesse sentido, o debate em torno da abrangência do
diagnóstico e a relação com o desenvolvimento dos antidepressivos despertam
questionamentos pertinentes sobre a medicalização e o papel da indústria
farmacêutica. A busca por uma compreensão holística da depressão, considerando
fatores biológicos, psicológicos e sociais, é essencial para um tratamento mais
eficaz e humanizado.
Portanto, é crucial continuar investindo em pesquisas
multidisciplinares, estabelecer abordagens terapêuticas mais personalizadas e
promover a conscientização sobre a depressão, a fim de combater o estigma e
garantir um suporte adequado a todas as pessoas que enfrentam essa condição.
A trajetória histórica e a evolução conceitual da depressão
nos conduzem a uma compreensão mais abrangente e empática desse transtorno,
destacando a importância da integração de diferentes perspectivas e do contínuo
esforço em prol do bem-estar mental da humanidade. Ao enfrentarmos a depressão
com empatia e conhecimento, podemos pavimentar um caminho de esperança e cura
para todos que dela sofrem.
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