Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro relata encontro com líderes militares
e menciona apoio de almirante à proposta de golpe militar.
Almirante Garnier apoiou os devaneios de Bolsonaro- Foto: Valor Econômico/ Reprodução- O Globo |
O ex-braço direito de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid,
declarou em acordo de colaboração com a Polícia Federal (PF) que o
ex-presidente se encontrou com os líderes das forças armadas para debater a
possibilidade de uma intervenção militar, visando anular o resultado da eleição
do ano passado. De acordo com o informante, o então chefe da Marinha, almirante
Almir Garnier Santos, endossou a ideia de Bolsonaro. Cid, conforme divulgado
pelo CAM News, afirmou ter participado da reunião entre Bolsonaro e os
militares. O podcast Política com Michel apurou que o então presidente,
entretanto, viu sua intenção de permanecer no palácio do Planalto por meio de
um golpe esvaziar ao ser alertado por um militar de alta patente que, em caso
de intervenção, ele também teria que deixar o cargo e uma nova eleição seria
realizada. A advertência, dada de maneira incisiva, ocorreu durante o encontro
após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e antes da posse do petista.
Segundo informações obtidas pela reportagem, a reunião mencionada por
Cid em sua colaboração premiada teve um clima "tensificado", e
Bolsonaro escutou a reprimenda que o impactou, levando-o a desistir do golpe,
uma vez que percebeu que não sairia ileso da empreitada. A estratégia para
persuadir os líderes das Forças Armadas consistiu em uma "proposta de
intervenção", que serviria de base jurídica para a conspiração contra o
Estado Democrático de Direito. Conforme relatado pelo ex-assistente de
confiança de Bolsonaro, o documento foi entregue ao então presidente por seu
assessor internacional, Filipe Martins. O ex-presidente negou ter participado
de qualquer diálogo relacionado a uma tentativa de golpe.
Mauro Cid informou à Polícia Federal que somente o ex-comandante da
Marinha deu seu aval à proposta. Entre os integrantes, Garnier era o que mais
concordava com as ideias de Bolsonaro. Os líderes das outras Forças não se
envolveram na iniciativa. Conforme relatos, o general Marco Antônio Freire
Gomes, que era o comandante do Exército na época, criticou fortemente a
iniciativa. O ex-chefe da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista
Júnior, também não apoiou a sugestão. Desencorajado e sem apoio, Bolsonaro se
sentiu isolado e entrou em desespero ao perceber que seria o único presidente
não reeleito.
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O conteúdo da delação de Cid provocou reações entre os meios militares.
O general Tomás Paiva, comandante do Exército, exigiu que os envolvidos sejam
punidos. Em comunicado, o Exército afirmou que não faria comentários, pois o
caso está sob análise judicial e a instituição ainda não possui todos os dados
consolidados da investigação. No entanto, generais ressaltaram que nenhuma
ordem contrária à lei foi seguida pelas Forças Armadas. Contudo, reconheceram
que houve uma reunião para discutir essa possibilidade, enquadrando-a como uma
tentativa de golpe. Até a noite de ontem, Garnier não havia respondido aos
contatos feitos pela reportagem.
A Marinha emitiu uma declaração na qual assegura que não teve acesso ao
teor da colaboração de Cid e esclarece que "não emite posicionamentos
sobre investigações em andamento no âmbito do poder judiciário". A
instituição naval ressaltou estar ciente de sua "missão constitucional e
de seu compromisso com a sociedade" e reiterou o compromisso de guiar sua
"conduta de acordo com a estrita observância da legislação, princípios
éticos e transparência". Em janeiro, o Almirante Garnier não esteve
presente na cerimônia de transmissão de cargo da Marinha para seu sucessor,
Marcos Sampaio Olsen, indicado por Lula. A ausência do almirante no evento
gerou desconforto nas Forças Armadas.
Quando questionado sobre se os líderes militares tinham o dever oficial
de denunciar o então presidente da República devido à trama golpista, o
ex-presidente do Superior Tribunal Militar (STM), brigadeiro Sérgio
Xavier Ferolla, enfatizou que as leis e regulamentos têm precedência sobre
possíveis comandantes, os quais são obrigados a obedecê-los, assim como seus
subordinados. "Consequentemente, ordens ilegais não devem ser seguidas.
Aqueles que as seguem se tornam cúmplices." Ferolla também esclareceu que
os líderes das Forças Armadas não estavam "regulamentarmente
obrigados" a denunciar o plano golpista, pois poderiam "enfrentar
acusações de insubordinação". No entanto, se a ordem resultasse em uma
investigação e se tornasse um crime legalmente, o subordinado seria obrigado a
relatar o que sabe à autoridade superior quando questionado. "Na
investigação, tudo deve ser examinado, incluindo possíveis coerções
hierárquicas ou funcionais."
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Perante os investigadores, Cid declarou que Bolsonaro foi apresentado a
um esboço de decreto, elaborado pelo seu assessor à época, Filipe Martins, que
propunha a detenção de oponentes políticos e a convocação de novas eleições.
Ele entregou esse documento aos militares. O ex-auxiliar de confiança afirmou
ter estado presente tanto na reunião entre Bolsonaro e Martins, quanto na
reunião com os principais líderes das Forças Armadas. A Polícia Federal
suspeita que essas manobras relatadas por Cid possam estar conectadas aos
eventos golpistas de 8 de janeiro. A investigação também busca esclarecer se o
documento mencionado pelo ex-assistente de confiança é a mesma proposta
golpista apreendida na residência do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres,
dois dias após os incidentes na Praça dos Três Poderes.
Ontem, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da Comissão
Mista de Inquérito (CPMI) dos incidentes golpistas, anunciou sua
intenção de apresentar pedidos de convocação e de quebra do sigilo telemático
do almirante Garnier. Cid, em sua colaboração premiada, também mencionou
suspeitas relacionadas a fraudes nos certificados de vacina contra a Covid-19,
pelas quais o militar foi detido em maio. Além disso, abordou a alegada
apropriação indevida e comercialização de presentes recebidos por Bolsonaro
durante sua presidência. Essa investigação também abrange o ex-presidente
militar. A Polícia Federal planeja conduzir diligências para verificar a
veracidade das declarações feitas pelo informante. No dia 9 do mês passado, o
militar deixou o Batalhão da Polícia do Exército em Brasília, após sua
colaboração premiada ser homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF),
Alexandre de Moraes.
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Opinião do Michel
Prezado leitor,
Os relatos contundentes do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o
tenente-coronel Mauro Cid, lançam uma luz clara sobre a participação do
ex-presidente na tentativa de golpe militar. A revelação de que Bolsonaro
discutiu a possibilidade de intervenção militar para anular o resultado
eleitoral é alarmante e demonstra uma afronta à democracia.
É inadmissível que um ex-presidente eleito democraticamente, ao perceber a
derrota nas urnas, busque subverter o sistema democrático por meio de um golpe.
A democracia é a base do nosso país e deve ser protegida e respeitada por todos
os cidadãos, especialmente pelos líderes que juraram defendê-la.
A corroboração desses eventos por meio de testemunho é um passo
significativo para a justiça. Acredito que é essencial que as autoridades
responsáveis conduzam uma investigação completa e imparcial, e se os indícios
de participação de Bolsonaro na tentativa de golpe forem substanciados, a
prisão deve ser uma consequência direta.
Acredito firmemente na importância da justiça e do Estado de Direito
para nossa sociedade. A verdade e a transparência são essenciais para restaurar
a confiança nas instituições e assegurar um futuro democrático e íntegro para o
nosso país.
Atenciosamente,
Michel
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