O Golpe de Pinochet

Para estabelecer um regime autoritário no Chile, as forças militares do líder autoritário atacaram o edifício do governo democraticamente eleito com explosivos.

Pinochet, o governante mais violento e criminoso da história
Pinochet, o governante mais violento e criminoso da história - Foto: El País Brasil/ Reprodução

Apenas alguns eventos do passado são identificados pela data em que ocorreram, sem necessidade de mencionar o que aconteceu. Isso é evidente no caso do "11 de setembro", que desde 2001 evoca automaticamente o terrível atentado das Torres Gêmeas do World Trade Center nos Estados Unidos. No entanto, há meio século, em 1973, essa data também deixou uma marca sombria (e terrorista) na história do Chile, que é o foco deste artigo.

Em uma terça-feira, ocorreu um golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet, que pôs fim à primeira tentativa de governo socialista eleito na América do Sul. Nesse episódio, ficou evidente o uso brutal do poder, pois as forças militares bombardearam diretamente o Palácio de La Moneda, localizado em Santiago, antes de invadi-lo, marcando o início dos 17 anos de uma das ditaduras mais violentas do continente.

No mês de setembro, porém, em 1857, ocorreu outro trágico incidente nos Estados Unidos. Convidamos você a explorar as páginas seguintes e garantir que os eventos que marcam o calendário não obscureçam outras narrativas importantes. Aproveite a leitura!

Era por volta das 8h30 da manhã em 11 de setembro de 1973. Recém-chegado ao Chile e sem um rádio em sua nova residência, Viegas, que mais tarde se tornaria ministro da defesa do Brasil, ligou para dois colegas na embaixada para verificar as notícias: uma revolta militar estava em andamento, começando em Valparaíso à beira-mar e se aproximando rapidamente da capital.

A liderança da tentativa de golpe era composta pelos líderes das forças armadas chilenas: Augusto Pinochet do exército, José Toribio Merino da marinha e Gustavo Leigh da aeronáutica. Com o apoio de setores conservadores da sociedade civil, empresários e parte significativa da mídia, o objetivo era destituir o presidente socialista Salvador Allende. Esse golpe militar, que completa 50 anos, impôs ao Chile, uma nação com uma forte tradição democrática na América Latina, uma das ditaduras mais cruéis de sua história. A escolha da data, coincidentemente trágica com o ataque às Torres Gêmeas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, foi feita pelos conspiradores devido às celebrações das Glórias do Exército, uma tradicional parada militar que atraiu um grande número de militares de todo o país naquela data.

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Viegas optou por se juntar aos seus colegas da embaixada, e o veículo seguiu em direção ao palacete da Aladema, localizado na região central de Santiago e que servia como representação brasileira. À distância, eram audíveis disparos esporádicos. Enquanto passavam pela calçada da escola militar, que estava no trajeto, cadetes trajando uniformes de combate e uma faixa laranja no braço, que os identificava como rebeldes, se posicionavam em sentido. "A partir deste momento, somos o governo", tinha ordenado há pouco tempo o general Raúl Cesar Benevides aos soldados, conforme documentado pelo jornalista e analista internacional Roberto Simon em seu livro "O Brasil Contra a Democracia - A Ditadura, o Golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul" (editora Companhia das Letras).

Algumas horas antes de Viegas iniciar sua viagem no veículo oficial, ele atravessou apressadamente as ruas da capital chilena. Nesse momento, Salvador Allende estava a bordo, acompanhado por carros de segurança e dois veículos blindados, que estavam equipados com armamentos improvisados devido às ameaças de golpe. Outros membros da equipe de segurança de Allende se dirigiam ao Palácio de La Moneda, que era a sede do governo chileno, com a esperança de realizar algum tipo de resistência legal. Apesar dos esforços de seus aliados, essa ação heroica acabaria sendo em vão, uma vez que o palácio foi bombardeado e tomado à força pelos militares, um evento sem precedentes na história do país.

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Socialista Eleito

Na realidade, o golpe contra Allende teve seu início desde sua eleição em outubro de 1970. Com o apoio de uma coalizão de partidos de esquerda e centro conhecida como Unidade Popular, o ex-senador com inclinações marxistas e ex-ministro da saúde, que também havia se candidatado outras três vezes à presidência, finalmente conquistou a Presidência do Chile em uma vitória apertada, com cerca de 39 mil votos de vantagem em um eleitorado de 3 milhões. Após assumir o cargo, o governo Allende empreendeu uma abordagem sem precedentes, buscando guiar o país em direção a um socialismo democrático e implementando amplas medidas de proteção social para a população mais necessitada, embora os níveis de desigualdade fossem consideravelmente menores em comparação com países vizinhos, como o Brasil.

Diante desses desafios, ao contrário de países como Cuba, onde os revolucionários comunistas alcançaram o poder por meio de conflitos armados, Allende acreditava que era viável transformar o Chile em uma nação socialista por meio de processos eleitorais. Uma vez no cargo, seu plano incluía medidas como a nacionalização de grandes empresas, especialmente as estrangeiras, uma reforma agrária abrangente e uma significativa redistribuição de riqueza para as classes mais desfavorecidas. Tudo isso seria realizado de maneira pacífica, respeitando as garantias constitucionais e mantendo o estado democrático de direito. Um marco importante ocorreu em 11 de julho de 1971, quando o governo alcançou uma de suas maiores conquistas ao aprovar uma emenda constitucional que permitia a nacionalização de toda a indústria e exploração de minério de cobre, uma das principais fontes de riqueza do Chile.

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Efeito Negativo

Com o aumento significativo dos gastos públicos destinados à implementação dos programas governamentais, muitos dos quais envolviam generosos subsídios para estimular o consumo da população, a economia como um todo começou a enfrentar consequências adversas. Isso se refletiu em uma taxa de inflação anual que atingiu 160% em 1972. No cotidiano da população, a disrupção na produção industrial causada pelo controle estatal de preços, boicotes empresariais e nacionalizações de empresas resultou em sérios problemas de escassez de produtos.

Quando se analisa as razões que levaram ao golpe militar no Chile, é evidente que as forças políticas de centro-direita abandonaram a tradição democrática do país. Em vez de se mobilizarem para recuperar o poder por meio de eleições democráticas, os políticos e empresários conservadores acreditaram que, após uma intervenção militar para derrubar o governo constitucional, seriam convocados pelos generais para assumir o controle, o que, no entanto, não ocorreu.

No âmbito internacional, o governo chileno foi alvo de uma conspiração, principalmente instigada pelo presidente dos Estados Unidos na época, Richard Nixon, com o respaldo do Brasil e o envolvimento de algumas corporações multinacionais. Apesar da possível assistência que poderia ser esperada da superpotência militar mais alinhada com a Unidade Popular, a União Soviética, esta cooperação não se concretizou. Os soviéticos e outros países do antigo bloco comunista demonstraram uma postura ambígua em relação à situação no Chile. Embora reconhecessem uma afinidade ideológica, não estavam dispostos a arcar com os consideráveis custos financeiros de uma nova revolução no continente americano.

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Ataque Bélico

Todos esses elementos levaram aos eventos do 11 de setembro no Chile. No interior do palácio de La Moneda, o presidente Allende rejeitou qualquer tentativa de negociação com os golpistas. Desde o início da manhã, ele se dirigiu à população por meio de vários pronunciamentos no rádio, informando sobre os acontecimentos de extrema tensão política e reafirmando sua determinação de não se render de forma alguma. Uma das imagens mais icônicas desse dia mostra o presidente usando um capacete e empunhando um fuzil AK-47, um presente de seu amigo Fidel Castro. Do lado de fora, a junta militar, que havia assumido o poder à força, exigia a rendição de Allende e seus colaboradores até às 11 horas da manhã. Caso contrário, ameaçavam bombardear o palácio "por terra e ar". E foi exatamente o que aconteceu. Bombas e tiros começaram a ser disparados em direção à sede do governo chileno, em um ataque bélico sem precedentes na história do país, que abrangia três séculos.

Em seu último e comovente discurso transmitido pela rádio governamental Magallanes, por volta das 10 horas, Allende declarou: "Provavelmente, a rádio Magallanes será calada. Minha voz serena não alcançará mais seus ouvidos. Mas isso não importa. Ela continuará a ser ouvida. Estarei sempre ao seu lado", afirmou Allende, que nos momentos finais dispensou todos que o cercavam para evitar um massacre e protegê-los da violência das bombas e balas disparadas contra o histórico edifício. Após garantir a segurança de todos os funcionários, Salvador Allende dirigiu-se ao Salão da Independência, no segundo andar do suntuoso edifício, e tirou sua própria vida com tiros, usando o mesmo fuzil que havia recebido de Fidel Castro. Dessa forma, encerrou-se à força e de forma trágica o governo socialista da Unidade Popular, que havia perdurado por 1001 dias.

Por muitos anos, houve contestações à teoria do suicídio de Allende, sugerindo que ele poderia ter sido morto durante o bombardeio do La Moneda ou por invasores do palácio. Em 2011, os restos mortais de Allende foram desenterrados com o propósito de determinar a causa de sua morte. Essa exumação foi realizada a pedido de María Isabel Allende, filha do ex-presidente e, na época, senadora. Os resultados dos exames periciais, que confirmaram a hipótese de suicídio, foram apresentados às autoridades judiciais, encerrando assim o caso.

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A Ditadura

Após assumirem o controle, Pinochet e os líderes militares estabeleceram um regime autoritário que perdurou por 17 anos, até 1990, quando a democracia foi restaurada e eleições livres ocorreram no país. Durante esse período, o congresso nacional foi fechado, a democracia foi suprimida e os partidos que compunham a Unidade Popular foram declarados ilegais. Um estado policial foi instituído, sob o comando da Direção de Inteligência Nacional Anticomunista (DINA), cujas funções se assemelhavam às dos órgãos de repressão da ditadura no Brasil, como o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).

Durante o período de 1973 a 1977, a DINA foi implicada em assassinatos e torturas em larga escala de opositores do regime, fazendo com que a ditadura chilena se destacasse como uma das mais opressivas e cruéis da América Latina. Relatórios oficiais de organizações e comissões de busca pela verdade indicam que mais de 3 mil pessoas perderam suas vidas devido à ditadura chilena. O número total de vítimas, incluindo execuções, desaparecimentos forçados e casos de tortura, ultrapassa a marca de 40 mil, e, de acordo com associações de vítimas, pode ser ainda mais elevado, chegando a mais de 100 mil vítimas.

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