Lula assume a presidência do G20, destacando a
luta contra a fome, a erradicação da pobreza e a priorização da transição
sustentável de energia em seu discurso inaugural.
Lula e o príncipe Saudita que deu joias a Bolsonaro - Foto: Correio Braziliense/ Reprodução
Ontem, durante o encerramento da décima oitava reunião de
líderes do G20, que congrega as principais economias globais, realizada em Nova
Délhi, na Índia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu o
símbolo da presidência do grupo das mãos do primeiro-ministro indiano, Narendra
Modi. Durante seu discurso de encerramento, Lula enfatizou a importância de
manter a agenda de desenvolvimento do G20 à frente das questões geopolíticas,
observando que a coesão é essencial para enfrentar os desafios contemporâneos.
O G20 agora inclui a União Africana como membro permanente, e Lula expressou
seu desejo de unidade e cooperação, enfatizando a necessidade de paz em vez de
conflitos.
A declaração controversa ocorreu imediatamente após o
comentário polêmico de Lula, no qual afirmou que o presidente russo Vladimir
Putin não enfrentaria prisão em território brasileiro. Isso aconteceu em meio à
polêmica em torno dos mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal
Internacional (TPI) contra Putin por alegados crimes de guerra. A
ausência de Putin na cúpula foi atribuída ao temor de ser detido caso deixasse
o seu país. Dado que o Brasil é um signatário do tratado que estabeleceu o TPI,
há a obrigação de cumprir os mandados caso o presidente russo pise em solo
brasileiro.
O Brasil adota como lema 'Promovendo a Equidade Global e
Sustentabilidade Planetária' durante seu período de liderança no bloco. A
presidência do país entrará em vigor oficialmente a partir do primeiro dia de
dezembro. Lula fez referência ao recente ciclone que afetou o Rio Grande do Sul
e destacou a urgência de mostrar um maior respeito pela natureza, à luz de
inúmeras tragédias naturais.
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Prioridades
Durante a ocasião, o presidente delineou os planos do
Brasil para coordenar as atividades do G20 durante seu período à frente do
bloco. Lula destacou que sua presidência se concentrará em três principais
prioridades: a erradicação da fome, redução da pobreza e combate à
desigualdade; a promoção da transição para fontes de energia sustentáveis; e o
desenvolvimento sustentável, abrangendo dimensões econômicas, sociais e
ambientais, bem como a reforma do sistema de governança global.
Ele também confirmou a criação de duas forças-tarefa para
intensificar os esforços no combate à desigualdade: a Aliança Global contra a
Fome e a Pobreza, e a Mobilização Global contra as Mudanças Climáticas. Lula
enfatizou a necessidade de redobrar os esforços para alcançar a meta de
erradicar a fome mundial até 2030, alertando que o fracasso nesse objetivo
seria um grande revés no âmbito multilateral. Ele ressaltou que enfrentar as
mudanças climáticas requer vontade política, determinação dos líderes governamentais
e a alocação de recursos adequados.
O presidente fez um apelo aos outros países, instando-os a
demonstrar maior determinação política e compromisso por parte de seus líderes
no que diz respeito à luta contra as mudanças climáticas. Além disso, ele
solicitou um aumento nos recursos financeiros e a transferência de tecnologia.
Lula também expressou o desejo de uma maior participação das nações em
desenvolvimento nas decisões tomadas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário
Internacional. Ele enfatizou a urgência de encontrar soluções para a insustentável
dívida externa enfrentada pelos países mais pobres.
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Falta de Profundidade
Para Marcus Vinícius de Freitas, um professor de relações
internacionais que está visitando a China Foreign Affairs University, o tom
excessivamente moderado adotado levanta dúvidas sobre a profundidade da
estratégia da política externa brasileira. Ele observou que o governo Lula, sem
dúvida, tem aumentado a visibilidade internacional do Brasil. No entanto, o
principal desafio reside em compreender claramente os objetivos da política
externa brasileira e como esses objetivos se traduzirão em benefícios tangíveis
para o país. Freitas expressou sua preocupação de que manter uma posição de
neutralidade em questões delicadas, como o conflito entre Rússia e Ucrânia,
pode ser difícil, já que o exercício de liderança muitas vezes requer tomar
decisões claras e tomar partido.
No último dia da cúpula do G20, o presidente Lula realizou
uma série de encontros bilaterais, incluindo reuniões com o presidente francês,
Emmanuel Macron, e o príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita,
Mohammed bin Salman, conhecido por ter presenteado Jair Bolsonaro com joias no
passado. Durante essas conversas, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia
foi novamente discutido. O governo brasileiro, em comunicado, destacou que Lula
abordou as questões pendentes que ainda precisam ser resolvidas para a
aprovação final do acordo de cooperação entre os dois blocos, incluindo a
posição firme do Brasil em relação às chamadas compras governamentais.
O texto está atualmente sob avaliação no Parlamento
Europeu. De acordo com informações fornecidas pela assessoria, durante a
reunião entre os líderes de Estado, diversos tópicos de colaboração foram
abordados, abrangendo áreas que incluem defesa e questões ambientais. Além
disso, ambos os líderes trataram de assuntos pendentes relacionados ao acordo
entre o Mercosul e a União Europeia, expressando o desejo de progredir em
direção à sua finalização.
Os países também expressaram seu interesse em retomar, em
2025, uma colaboração cultural semelhante às iniciativas conhecidas como o
"Ano do Brasil na França" e o "Ano da França no Brasil,"
que ocorreram na década passada. Segundo a nota oficial, esta iniciativa
possibilitará que representantes da cultura brasileira visitem a França, ao
mesmo tempo em que artistas renomados da cena artística francesa se
apresentarão no Brasil, fortalecendo ainda mais o intercâmbio cultural entre as
duas nações.
Além disso, durante o encontro, o presidente Lula convidou
o presidente Macron para fazer sua primeira visita oficial ao Brasil, e Macron
indicou que essa oportunidade poderá se concretizar no primeiro semestre de
2024. Vale destacar que a parceria estratégica entre Brasil e França foi
estabelecida em 2006, abrangendo áreas como diálogo político, relações
econômico-comerciais e cooperação em diversos setores.
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Opinião do Michel
A liderança de Lula no G20 com ênfase nas questões
climáticas e na redução das disparidades sociais é um passo positivo em direção
a um mundo mais justo e sustentável. A urgência das mudanças climáticas não
pode mais ser ignorada, e é encorajador ver o compromisso do presidente em
priorizar a transição para fontes de energia sustentáveis e promover o
desenvolvimento sustentável.
No entanto, a controvérsia em torno das declarações de Lula
sobre Vladimir Putin levanta preocupações. A questão da prisão de Putin é séria
e deve ser tratada de acordo com o direito internacional. O Brasil, como
signatário do tratado que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional, tem a
obrigação de cumprir mandados de prisão emitidos por esse tribunal.
A ênfase de Lula na erradicação da fome, na redução da
pobreza e no combate à desigualdade também é louvável. No entanto, é importante
que essas prioridades se traduzam em ações concretas e em compromissos
significativos por parte do Brasil e de outros membros do G20.
A criação de forças-tarefa para combater a desigualdade e
as mudanças climáticas é uma medida positiva, mas a eficácia delas dependerá de
ações concretas e do compromisso contínuo. É fundamental que os líderes do G20
estejam dispostos a alocar os recursos necessários para enfrentar esses
desafios globais.
A crítica de Marcus Vinícius de Freitas sobre a falta de
profundidade na estratégia da política externa brasileira também é válida. É
importante que o Brasil tenha uma visão clara e abrangente de seus objetivos de
política externa e como eles contribuirão para o benefício do país.
A iniciativa de retomar a colaboração cultural entre o
Brasil e a França é uma oportunidade emocionante para promover o intercâmbio
cultural entre as duas nações. Essa parceria pode enriquecer a compreensão
mútua e fortalecer os laços culturais.
Em resumo, a liderança de Lula no G20 é um momento crucial para o Brasil e para o mundo. Suas prioridades em questões climáticas, desigualdade e desenvolvimento sustentável são bem-vindas, mas é fundamental que se traduzam em ações significativas e compromissos reais para enfrentar os desafios globais. Além disso, é importante que o Brasil mantenha sua integridade em questões de direito internacional e tenha uma estratégia de política externa clara e profunda.
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