Sessão de votação do projeto de lei que busca
proibir a equiparação das relações estáveis dos LGBTQIAPN+ ao casamento
torna-se palco de confronto entre conservadores e a base governista.
Movimento LGBTQIAPN+ se mobiliza contra PL 5.167/09 - Foto: Muita Informação |
Política- Novo projeto de lei
ligado a assuntos já discutidos pelo STF está em andamento na Câmara, gerando
confronto entre deputados da base governista e bolsonaristas alinhados com os
setores mais tradicionais da casa. A Comissão de Previdência, Assistência
Social, Infância, Adolescência e Família debateu intensamente por quase 10
horas o PL 5.167/09, visando modificar o Código Civil para proibir a
equiparação entre uniões homoafetivas e o casamento. Entretanto, após
considerável tumulto e provocação, a votação programada para ontem foi
postergada inicialmente para 10 de outubro.
Os conflitos entre os dois grupos ocorrem em uma série de
confrontos sobre questões de valores ou temas cruciais para a base e a
oposição. Isso tem se evidenciado pelos diversos desentendimentos entre
parlamentares de vertentes conservadoras e progressistas durante audiências
públicas com ministros do governo Lula e na recentemente concluída CPI do MST.
Também é notável na CPMI do 8 de janeiro e foi visível na votação do PL do
marco temporal para a demarcação de terras indígenas no Senado, que se choca
diretamente com a posição do STF (Supremo Tribunal Federal), que não a
reconheceu. No caso de ontem, a base e a oposição já estavam em desacordo antes
mesmo do início da sessão. Os movimentos sociais que pretendiam acompanhar os
procedimentos foram barrados de entrar no plenário, levando os representantes
LGBTQIAPN+ a protestarem com palavras de ordem. A pressão teve efeito.
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Após quase duas horas de negociação entre os deputados
Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Duda Salabert (PDT-MG), Erika
Kokay (PT-DF) e Erika Hilton (PSOL-SP), o presidente do comitê,
Fernando Rodolfo (PL-PE), permitiu a entrada dos manifestantes. No
entanto, foi necessário transferir a sessão para um plenário mais amplo para
acomodar todos os presentes. Enquanto os bolsonaristas defendiam a
"heteronormatividade", que impõe padrões de comportamento com base
nos papéis tradicionais de gênero, os deputados progressistas argumentaram que
o projeto representa uma violação dos direitos civis e sociais da comunidade
LGBTQIAPN+. Duda Salabert expressou sua indignação: "Esse projeto tem o
propósito de nos atacar, criminalizar nosso afeto e tirar o pouco da nossa
humanidade que conquistamos. É uma vergonha para a política brasileira".
Sessão tumultuada durante a votação da PL 5.167/09 - Vídeo: Canal Viver para EDUCAR
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Apesar da marcante divisão ideológica, os conservadores
viram-se compelidos a retroceder diante da pressão exercida pelos movimentos
sociais e da mobilização dos deputados progressistas para bloquear o PL. Após a
audiência pública na terça-feira, a oposição moderou suas críticas à comunidade
LGBTQIAPN+. O deputado Pastor Isidório (Avante-BA), conhecido por ser
"ex-gay" e protagonizar um incidente de transfobia contra Erika
Hilton, adotou uma postura mais cautelosa e declarou que não votaria "contra
direitos civis", posicionando-se contra o PL. Ele afirmou: "Não vou
votar contra direito e garantia social, porque sei que se Jesus estivesse aqui
não faria isso". Os ativistas LGBTQIAPN+ presentes na sessão aplaudiram o
deputado de pé.
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Opinião do Michel
Prezado leitor,
A recente sessão legislativa que debateu o PL 5.167/09 é um
exemplo vivo da importância de permanecermos vigilantes quanto à preservação
dos direitos conquistados pela comunidade LGBTQIAPN+. É fundamental que a
legislação continue a evoluir na direção da igualdade e inclusão, garantindo a
todos o pleno exercício de seus direitos civis e sociais.
No entanto, é lamentável testemunhar como a extrema direita
utiliza a religião de forma arbitrária para tentar reverter essas conquistas. A
defesa da chamada "heteronormatividade", que busca impor padrões de
comportamento baseados em estereótipos de gênero ultrapassados, não apenas
contradiz a evolução dos valores sociais, mas também ameaça a dignidade e a
igualdade de todos os cidadãos, independente de sua orientação sexual.
É preciso reconhecer que a luta pela equidade vai além da
esfera política e deve refletir o verdadeiro espírito da democracia: respeito e
aceitação das diferenças. Nossas leis devem refletir essa compreensão, protegendo
os direitos de todos, inclusive aqueles que historicamente enfrentaram
discriminação e preconceito.
Diante desse cenário, é encorajador perceber que a pressão
dos movimentos sociais e o esforço dos deputados progressistas têm o poder de
influenciar decisões políticas, levando até mesmo os mais conservadores a
repensarem suas posições. O recuo do deputado Pastor Isidório demonstra que a
conscientização e a mobilização são ferramentas poderosas para assegurar nossas
liberdades e garantir a igualdade para todos.
A batalha pelos direitos civis é contínua, e é dever de
todos nós permanecermos unidos nesse combate, protegendo e fortalecendo as
conquistas já alcançadas. Somente assim conseguiremos construir uma sociedade
verdadeiramente inclusiva, justa e igualitária.
Atenciosamente,
Michel
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