Senado ratifica proposta prejudicial aos povos
indígenas, e deputados alinhados à extrema direita, apoiadores do ex-presidente
Bolsonaro, obstruem a sessão, demonstrando uma postura contrária aos interesses
populares.
Parlamentares buscam confronto com o STF - Foto: Revista Veja
Política- Durante a votação no
Senado e um evento político em desacordo com os interesses do povo brasileiro,
17 frentes parlamentares deixaram claro ontem sua oposição às decisões
progressistas do Supremo Tribunal Federal (STF), coincidindo com o término da
presidência da ministra apoiadora de causas humanitárias, Rosa Weber. Ela será
sucedida hoje (28) pelo ministro Luís Roberto Barroso na liderança da Corte. Os
congressistas, com posicionamentos extremistas e ideológicos, reafirmam a
infundada acusação de que o STF rotineiramente excede sua competência ao
legislar sobre temas como o marco temporal, drogas e aborto.
Num processo legislativo surpreendentemente ágil, os
senadores, após aprovação na CCJ e subsequente votação no plenário, sancionaram
um projeto de lei que consolida a tese do marco temporal para a demarcação de
terras indígenas. Essa decisão foi uma reação ao posicionamento do Supremo
Tribunal Federal (STF), que na semana passada havia rejeitado a
abordagem do marco temporal, abrindo caminho para a criação de reservas em
áreas ocupadas por indígenas, sem se prender à data de ocupação.
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A votação do STF também foi concluída ontem. O texto
central do projeto foi aprovado pelos senadores com 43 votos favoráveis e 21
contrários. Apesar da orientação contrária do governo Lula, partidos que
integram a administração federal, como o PSD, União Brasil, MDB, PP e
Republicanos, deram seu aval ao texto, impondo uma derrota à sociedade e,
sobretudo, aos povos indígenas. A proposta já havia sido aprovada em maio pela
Câmara dos Deputados.
O princípio do marco temporal estabelece que apenas áreas
ocupadas por indígenas até a promulgação da constituição em 1988 são elegíveis
para demarcação de reservas. Além da tese do marco temporal, o relatório
aprovado pelos senadores também prevê uma flexibilização da política de não
contato para povos indígenas isolados, permitindo que entidades privadas possam
se aproximar dessas comunidades para realizar ações consideradas de utilidade
pública. Contudo, suscita-se a verdadeira intenção por trás dessa medida.
Aparentemente, a maioria do congresso está alinhada para atender aos interesses
dos grandes fazendeiros e da bancada ruralista, que em sua maioria é composta
por extremistas e apoiadores de atos contrários à democracia.
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A rápida aprovação no congresso de um tema anteriormente
considerado inconstitucional pelo STF pode levar a Corte a reexaminar a
questão. O texto agora está sob análise para a sanção ou veto do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Se houver veto, o projeto retorna ao legislativo, que
terá a possibilidade de manter ou derrubar essa decisão. Isso representa um uso
ineficaz do tempo e dos recursos públicos, demonstrando a influência de
ideologias extremistas em um congresso que parece priorizar interesses
particulares em detrimento do bem-estar do povo brasileiro.
Conforme apontado por juristas de diversas regiões do país,
o Supremo Tribunal Federal (STF) poderá exercer um controle prévio de
constitucionalidade se perceber ameaças à violação de cláusulas fundamentais da
Constituição. Em caso de promulgação da lei, o STF pode aguardar a iniciativa
de alguma entidade ou partido para se manifestar novamente sobre a matéria. O
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), declarou que a aprovação
da lei não representa um conflito com o STF. Ele afirmou: "Da nossa parte,
não há qualquer sentimento de revanche em relação ao Supremo Tribunal. Sempre
defendi a autonomia dos Poderes". No entanto, essa posição contradiz a
real dinâmica em que o parlamento demonstra uma intenção de confronto com o STF.
Ontem mais cedo, de forma coordenada, membros de 17
bancadas temáticas na Câmara dos Deputados, aparentemente sem ocupação vigente,
se uniram para declarar sua obstrução às votações no Congresso, como um
protesto contra as decisões do Supremo Tribunal Federal. Essas frentes
representam quase 400 deputados. "O Supremo está agindo contrariamente à
Constituição", afirmou o presidente da Frente Parlamentar do Comércio e
Serviço, Domingos Sávio (PL-MG). Atualmente, as frentes parlamentares
estão discutindo uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para
restringir os poderes dos juízes do STF, contemplando medidas como a limitação
das decisões individuais. A data escolhida para esse ato coincidiu com o último
dia da presidência de Rosa Weber no Supremo. Foi a magistrada quem agendou os
temas que provocaram a indignação dos congressistas.
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Opinião do Michel
Estamos testemunhando um cenário político em que a
verdadeira missão dos nossos parlamentares parece ter sido esquecida. Em meio a
um jogo de interesses e extremismos, vemos a responsabilidade de representar o
povo sendo relegada a segundo plano. A aprovação apressada e muitas vezes
contestável de projetos de lei demonstra uma falta de compromisso com o
bem-estar e os direitos da população brasileira.
A recente ratificação da proposta do marco temporal para a
demarcação de terras indígenas é um exemplo alarmante dessa desconexão entre os
legisladores e os interesses do povo. Em um contexto em que deveríamos buscar
soluções que promovam a justiça social e o respeito às comunidades indígenas,
vemos decisões que atendem a interesses setoriais e ideológicos.
A atuação dos congressistas alinhados à extrema direita,
obstruindo sessões e resistindo às decisões progressistas do Supremo Tribunal
Federal, é uma triste manifestação dessa postura contraproducente. Em vez de
buscar o diálogo e o entendimento em prol do bem comum, vemos uma resistência
infundada que apenas aprofunda as divisões e enfraquece nossa democracia.
É fundamental que os nossos representantes eleitos
compreendam que sua obrigação primordial é trabalhar incansavelmente pelo povo
brasileiro, buscando soluções que melhorem a vida de todos. Qualquer ação
contrária a esse princípio fundamental é uma traição à confiança do eleitorado
e uma afronta à essência da democracia.
A discussão em torno da possível limitação dos poderes do
Supremo Tribunal Federal, como propõe a mencionada PEC, levanta sérias
preocupações. Em um país onde a separação dos poderes é fundamental para a
manutenção do Estado democrático de direito, qualquer tentativa de minar a
autonomia e independência do Judiciário é um grave retrocesso.
É urgente que a sociedade brasileira esteja atenta a essas ações e exija transparência, responsabilidade e respeito aos princípios democráticos de nossos representantes. O futuro do nosso país depende do engajamento cívico e da vigilância constante para garantir que nossos líderes eleitos realmente representem os interesses de todos os brasileiros. Juntos, podemos e devemos construir uma nação mais justa, igualitária e verdadeiramente democrática.
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