Após um ano, trinta acusados já receberam sentenças de até dezessete anos de prisão, enquanto outros mil aguardam uma decisão.
Tentativa de golpe militar por fanáticos de extrema direita. TotalNews Agency |
Política- As janelas, o
mobiliário, os equipamentos de trabalho e as obras de arte nas sedes dos três
poderes da República foram restaurados ou substituídos (a um custo milionário)
após os danos causados pela multidão que invadiu Brasília em 8 de janeiro de
2023. Contudo, os indícios apontam que as repercussões do tumulto golpista
persistirão por um longo período. Em dezembro, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva optou por não incluir os condenados pelos ataques em seu indulto de
Natal.
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eleição presidencial em 2024
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Em igual período, um empresário de Londrina, Paraná, foi
formalmente acusado pela Procuradoria-Geral da República por financiar a horda
antidemocrática. Esses eventos não apenas sinalizam que a contenda iniciada
naquele triste domingo está longe de ser encerrada, mas também indicam que não
haverá respiro para aqueles que conspiraram contra a Democracia.
Durante o que se configura como o julgamento mais
abrangente na História do Brasil, um total de 1406 indivíduos enfrentam
acusações que variam desde associação criminosa até ações que incluem a
abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado, dano
qualificado e deterioração do patrimônio tombado. Até o momento, trinta pessoas
receberam condenações, incluindo algumas com penas de até dezessete anos de
prisão.
Um grupo de 1.121 indiciados aguarda a oportunidade de
negociar um acordo de não persecução penal. Em troca da suspensão de seus
processos, seriam proibidos de utilizar redes sociais e obrigados a usar
tornozeleira eletrônica. Após um ano, 66 pessoas permanecem detidas em
presídios da capital. O repúdio generalizado, inclusive de setores mais
moderados da oposição, provocou uma resposta enérgica das instituições,
garantindo o progresso das investigações e o julgamento dos envolvidos. No caso
supervisionado por Alexandre de Moraes, o processo avança rapidamente no STF,
com o ministro mantendo a postura necessária diante dos acontecimentos, apesar
de críticas que sugerem que a celeridade das ações penais pode prejudicar a ampla
defesa.
A condução dos processos diretamente no Supremo, a
instância mais elevada do Judiciário, gerou controvérsias ao limitar as opções
de recursos, incluindo as prisões preventivas, consideradas desnecessárias ou
ilegais por muitos. Essas críticas, majoritariamente provenientes de setores
vinculados ao bolsonarismo, contribuíram para a percepção de abuso de
autoridade. O deputado Marco Feliciano, do PL de São Paulo, apoiador do
ex-presidente agora inelegível Jair Messias Bolsonaro, classifica a situação
como um regime de exceção. No entanto, ao contrário da visão de políticos como
Feliciano, a tentativa de instaurar um regime de exceção partiu daqueles que
desafiaram as instituições em 8 de janeiro, justificando plenamente a aplicação
da justiça pelo STF. Pedro Serrano, doutor em direito do estado pela PUC-SP e
um dos redatores de projetos que em 2001 estabeleceram novas regras para
terrorismo e permitiram processar quem atentasse contra a democracia —
ironicamente, sancionado por Bolsonaro — argumenta: "As pessoas ali sabiam
o que estavam fazendo, não estamos falando de inocentes".
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Em 8 de janeiro, o Brasil registrou pela primeira vez uma
punição por crime de golpe de Estado, superando até mesmo os responsáveis pela
ditadura militar de 1964 a 1985. A resposta contundente das instituições era,
de fato, a única abordagem possível diante da gravidade dos acontecimentos.
Para o Subprocurador-Geral da República, Carlos Frederico dos Santos,
encarregado das acusações, a reação do sistema de justiça serve como um claro
indicativo de que episódios desse teor não serão tolerados. Nesse sentido,
destaca-se o cumprimento da função pedagógica. Seguindo o processo
convencional, os casos envolvem audiências de custódia, instrução e alegações
finais. Vale ressaltar que a própria Procuradoria-Geral da República solicitou
a libertação de mais de 700 acusados.
Para Mayra Goulart, cientista política e professora da
UFRJ, parte do desconforto decorre do fato de que a punição atingiu indivíduos
que raramente experimentam a repressão estatal, referindo-se à considerável
presença de pessoas de classe média nos tumultos. A questão que persiste é a
avaliação dos limites de uma linguagem crítica antipolítica que se posiciona
contra o Estado democrático de direito. Os desdobramentos legais ainda não
alcançaram todos os envolvidos, pois duas linhas de investigação estão em
curso. Uma delas é o inquérito que investiga os financiadores dos atos,
resultando na denúncia contra o empresário Pedro Luis Kurunczi, de Londrina,
acusado de destinar R$ 59 mil para transportar 108 pessoas em quatro ônibus até
Brasília. Outra frente envolve a apuração de políticos e membros de governos,
que tramita sob sigilo. Até o momento, nenhuma autoridade foi denunciada,
incluindo o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que era secretário de
Segurança do DF durante os ataques e ficou detido por 117 dias. O general
Gonçalves Dias, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), teve um
pedido de indiciamento pela CPI da Câmara Distrital do DF, mas foi poupado pela
CPMI do Senado, onde enfrentou críticas radicais.
Apesar da ausência de punições até o momento, os distúrbios
golpistas já provocaram repercussões significativas na política. O
bolsonarismo, em particular, foi fortemente impactado. O episódio, condenado
até por indivíduos que apoiaram Bolsonaro na eleição de 2022, como o presidente
da Câmara, Arthur Lira, gerou uma posição defensiva para o líder e pode
acarretar complicações judiciais. Em dezembro, a Procuradoria-Geral da
República recuperou e encaminhou ao STF um vídeo previamente postado e deletado
por Bolsonaro em janeiro, no qual ele endossava a teoria de fraude na vitória de
Lula. Esse conteúdo foi incluído em um inquérito que investiga se ele incitou a
violência antidemocrática. Além disso, em outubro, o relatório final da CPMI do
Senado solicitou o indiciamento de Bolsonaro e mais de 60 pessoas, incluindo
militares, ex-ministros e empresários. Esses pedidos aguardam análise da PGR.
Esse desdobramento representa o segundo equívoco dos radicais, que inicialmente
tentaram promover um golpe e depois incentivaram a criação de uma CPMI,
colocando-os no centro das investigações, conforme aponta o cientista político
Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No final de novembro, o bolsonarismo expressou sua
perspectiva sobre o 8 de janeiro na Avenida Paulista, realizando um protesto
contra a morte de Cleriston Pereira da Cunha, empresário detido na Papuda
aguardando julgamento. Para Lula, embora o episódio tenha gerado tumulto no
início de seu governo, apresentou aspectos positivos. Após a tentativa
golpista, o presidente conseguiu consolidar apoio político dos líderes dos
poderes e dos governadores de todos os estados, incluindo adversários
eleitorais. O 8 de janeiro desempenhou um papel crucial ao instigar o Supremo,
Congresso e Executivo a compreenderem a necessidade de estabelecer um ponto em
comum para erradicar os radicais autoritários do cenário político, conforme
observa Felipe Nunes, diretor do Instituto de Pesquisas Quaest e professor do
Departamento de Ciências Políticas da UFMG.
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A vandalização de edifícios públicos também contribuiu para
consolidar o discurso de Lula como defensor da democracia, facilitando a
construção de alianças com aliados do ex-presidente no Congresso, incluindo
Arthur Lira e o Centrão. O ocorrido foi um incidente lamentável e grotesco para
o país, admitiu o presidente dos republicanos, deputado Marcos Pereira, de São
Paulo, o que acabou fragilizando ainda mais a oposição. Apesar da resposta
enérgica das instituições, é crucial manter vigilância. Uma pesquisa do
Datafolha realizada em dezembro revela que o apoio à democracia no país
diminuiu de 79% em outubro de 2022 para 74%. No mesmo levantamento, 91% dos
eleitores de Bolsonaro em 2022 afirmam não se arrepender de sua escolha.
É relevante recordar que Donald Trump, acusado de
incentivar a invasão do Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos, devido
à recusa em aceitar a derrota nas eleições presidenciais, atualmente é visto
como favorito para a eleição de 2024. No entanto, especialistas concordam que o
8 de janeiro estabelecerá limites claros para a crítica política. Antes desse
episódio, a percepção era de que tudo era permitido. Essa dinâmica mudou,
conforme destaca Marco Antônio Teixeira, cientista político da Fundação Getúlio
Vargas (FGV).
Em 8 de fevereiro, Lula, o líder do Congresso e um ministro
do STF participarão de um evento em prol da democracia, destacando um dos
ataques mais sérios à democracia brasileira. Mesmo diante da resposta robusta
do país, é prudente permanecer alerta.
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