Senador Mourão minimiza reunião golpista;
General Heleno demonstra descontrole. Separação crucial entre militares e
política em xeque.
Ex-presidente Jair Bolsonaro, Augusto Heleno e Mourão- Foto: Terra
Política- O senador Hamilton
Mourão (Republicanos-DF) desconsiderou a reunião entre Jair Bolsonaro e
os comandantes das Forças Armadas, detalhada na delação premiada do ex-ajudante
de ordens da Presidência Mauro Cid, como uma "conversa sem
importância". Tentou minimizar afirmando que, se a delação de Mauro Cid
sobre a reunião fosse verdadeira, tratava-se apenas de uma discussão, onde
alguns eram contra e outros a favor de um golpe militar, normalizando a
conversa golpista. Por outro lado, o ex-ministro do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) no governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno,
defendeu vigorosamente o ex-presidente durante seu depoimento à Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) em 8 de janeiro. Durante a sessão,
Heleno contradisse depoimentos anteriores de outros militares e teve um momento
de exaltação com a relatora da comissão, a senadora Eliziane Gama (PSD-Ma),
o que demonstrou desequilíbrio, um comportamento frequentemente associado a
militares e extremistas da direita. A sessão foi suspensa no início da tarde.
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No decorrer de seu depoimento, Heleno afirmou não ter
conhecimento sobre a reunião ocorrida em 24 de novembro, enfatizando a suposta
falha de memória de todos os acusados. Durante esse encontro, o ex-presidente
Jair Bolsonaro teria buscado o apoio das Forças Armadas para um possível golpe
de Estado. Segundo relatos, o general Marco Antônio Freire Gomes, então
comandante do Exército, teria ameaçado prender Bolsonaro.
Por outro lado, Mourão fez uma analogia entre a situação e
o governo de Juscelino Kubitschek para argumentar a seu favor. Ele mencionou
que, ao ser eleito, Juscelino Kubitschek enfrentou um período tumultuado devido
à morte de Getúlio Vargas. Nesse contexto, ocorreram três presidentes interinos
e duas tentativas de golpe para impedir a posse de Juscelino: Jacareacanga e
Aragarças. Todas essas foram revoltas militares da Força Aérea. Mourão usou
esse histórico para minimizar a gravidade da reunião de Bolsonaro com as Forças
Armadas, descrevendo-a como mera conversa vazia.
Em determinados momentos da CPMI, Heleno exibiu falta de
controle ao ser questionado, assemelhando-se à postura frequentemente observada
no ex-presidente Bolsonaro. Durante o interrogatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA)
sobre suas opiniões sobre possível fraude nas eleições de 2022, o general
Heleno negou tal possibilidade, citando a posse de um novo presidente da
República como evidência e evitando declarar que houve fraude. A senadora,
então, observou a mudança em sua posição. Heleno manifestou sua irritação,
usando linguagem ofensiva e exibindo descontrole, refletindo uma dinâmica
característica da extrema direita em várias esferas que têm ocupado.
O que se percebe no comportamento desses dois militares é
que nenhum deles assume a responsabilidade das Forças Armadas nos atos
antidemocráticos de 8 de janeiro. Mourão, mesmo ao reconhecer que Bolsonaro
poderia ter aceitado a derrota eleitoral mais cedo, não atribui ao
ex-presidente a culpa pelas invasões dos palácios na Praça dos Três Poderes.
Ele mencionou que essa movimentação já estava presente em certos grupos de seus
apoiadores, especialmente aqueles insatisfeitos com o processo eleitoral. No
entanto, Mourão omite o fato de que o ex-presidente deixou o país, abandonando
seus apoiadores em um mundo ilusório que ele próprio criou.
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Além disso, Mourão fez uma comparação entre a rigidez na
prisão de Mauro Cid, questionando a prisão baseada no argumento de falsificação
de um cartão de vacina, e a conduta da operação Lava Jato, muito criticada pela
esquerda, levantando dúvidas sobre a validade dessa ação.
Heleno e Mourão, figuras centrais do polêmico governo do
ex-presidente Jair Bolsonaro, representam ideologias ultrapassadas marcadas por
desrespeito e tendências golpistas. Durante a CPMI, Heleno negou a participação
de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em reuniões com o então
presidente e os líderes das Forças Armadas. Entretanto, vazamentos de
depoimentos de Cid indicam que Bolsonaro consultou os comandantes da Marinha,
Exército e Aeronáutica sobre o respaldo a uma proposta com caráter golpista
durante uma dessas reuniões.
A declaração de Heleno foi refutada por usuários nas redes
sociais. O perfil "Desmentindo Bolsonaro" no X (antigo Twitter) compartilhou
uma foto divulgada pela comunicação do Palácio do Planalto, evidenciando uma
reunião de Bolsonaro, durante seu mandato, com os chefes das Forças Armadas, na
qual Heleno e Mauro Cid estavam presentes.
A presença de militares como Mourão e Heleno na esfera
política levanta sérias questões sobre a separação entre as instituições
militares e o governo civil, um princípio vital para a manutenção de uma
democracia sólida. O envolvimento direto desses militares em posições políticas
importantes coloca em risco a imparcialidade e a neutralidade que devem
caracterizar as Forças Armadas.
Além disso, a demonstração de descontrole e intemperança
exibida por Heleno e Mourão em seus cargos é alarmante e prejudicial para a
estabilidade e o respeito ao Estado de Direito. A política requer diálogo,
respeito às instituições democráticas e maturidade para lidar com divergências
e críticas. O comportamento destemperado desses indivíduos mina a credibilidade
e a confiança necessárias para o funcionamento eficaz de um governo
democrático.
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Em uma sociedade democrática, é crucial que os
representantes, especialmente aqueles com histórico militar, demonstrem
compromisso com a civilidade, o respeito às instituições e a governança ética.
A ausência desses princípios essenciais pode enfraquecer a confiança do público
nas instituições democráticas e, em última instância, comprometer a
estabilidade política e a integridade do processo democrático.
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Opinião do Michel
Caros leitores,
A conturbada interseção entre a vida militar e a política é
um tema sensível que merece nossa atenção e análise crítica. Os recentes
acontecimentos envolvendo figuras militares proeminentes, como Hamilton Mourão
e Augusto Heleno, na esfera política brasileira levantam questões preocupantes
sobre a separação necessária entre o ambiente militar e a condução de um
governo democrático.
É fundamental compreendermos que as Forças Armadas possuem
um papel crucial na defesa da soberania e da integridade do país, pautado por
princípios e valores que garantam a estabilidade e a ordem. Contudo, quando
membros das Forças Armadas se envolvem diretamente na política, essa linha
tênue pode ser violada, abrindo espaço para conflitos de interesses e
enfraquecimento das instituições democráticas.
No caso em questão, as atitudes de Mourão e Heleno durante
a CPMI revelam uma perigosa normalização de comportamentos e discussões
golpistas, além de um descontrole preocupante em situações de pressão. Ao
minimizar reuniões e consultas a respeito de golpes, ou ao demonstrar irritação
e linguagem inadequada em contextos políticos, esses militares colocam em xeque
a seriedade que se espera dos representantes políticos.
A história nos ensina que a política militarizada pode
levar a consequências desastrosas para a democracia, restringindo liberdades
individuais e colocando em risco a diversidade de vozes que caracteriza uma
sociedade plural e inclusiva.
Portanto, é fundamental que reafirmemos a importância de
manter uma clara separação entre as atividades militares e a política. Devemos
zelar pela integridade do processo democrático, buscando líderes comprometidos
com a estabilidade institucional, o respeito aos direitos humanos e a promoção
da justiça social.
Apostemos em uma sociedade onde a participação política
seja orientada pelo diálogo, pela responsabilidade e pelo respeito mútuo, em
prol de um futuro mais justo e equitativo.
Michel
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