Os Salões dos Mortos, também conhecidos como Valhalla

Exploração textual única dos Salões dos Mortos em Valhalla: uma mistura intrigante de elementos nórdicos pagãos e arquitetura cristã gótica.

Os salões dos mortos
Os salões do Mortos. Reprodução/Wikipédia

Valhalla, conhecido como Salão dos Mortos, refere-se à residência de Odin em Asgard, onde guerreiros mortos em combate são acolhidos. De acordo com Boyer e Simek, a concepção clássica do Valhalla é de um paraíso para guerreiros. No entanto, se considerarmos a junção de Valr, que significa morto, com Holl, que se refere a salão, mas no sentido de Hallr, que significa pedra, obtemos a expressão "Pedra, o monte dos mortos". Essa ideia está presente em diversos toponímios associados a montanhas, evidenciada em fontes literárias como Eyrbyggia, Saga XI, Njáis, Saga XIV, Gisla, Saga XI, especialmente ligada ao folclore do sul da Suécia, onde os falecidos supostamente viviam e celebravam com seus antepassados em montanhas. Essa tradição pode estar relacionada à antiga prática de sepultamento em montículos na Escandinávia. Outra interpretação, sugerida por Christopher Abram e outros acadêmicos, especialmente para o termo Valhalla em Atlakvioa II e XIV, seria "salão externo".

É por meio de Snorri e da tradição poética éddica e escáldica que se difunde a representação do Valhalla, relacionada aos guerreiros escolhidos em combate. Os Einherjar, reunidos pelas valquírias enviadas por Odin, formam um exército destinado a enfrentar as forças caóticas durante o Ragnarok. O teto é composto por escudos, e a entrada principal é chamada Valgrindi, também conhecida como Grade dos Caídos, conforme Grímmismál XXII, sendo guardada por um lobo e uma águia. O salão possui 540 portões. No interior do Valhalla, os guerreiros selecionados se sustentam com hidromel proveniente de uma cabra chamada Heidrún e carne de um javali chamado Saehrímir. Durante o dia, eles se enfrentam em combate como treinamento para o Ragnarok, renascendo e celebrando juntos durante a noite.

Conforme a perspectiva de John Lindow e Rudolf Simek, o Valhalla pode ser considerado um dos vários salões em Gladsheim, a Casa Brilhante, mencionada no Grímnismál 8 como a residência de Odin em Asgard. Em Gylfaginning 14, é descrito como um local dourado contendo 12 tronos para os deuses. Nesse contexto, Snorri parece ter incorporado uma influência da tradição oriental cristã, especificamente a imagem do Éden, um lugar paradisíaco associado aos primeiros humanos na Bíblia. Sophus Bugge, por sua vez, sugere que a planície de Idavoll também pode ter sido influenciada pelo Éden. O número 12, considerado um símbolo importante com raízes na tradição oriental e associado a vários elementos religiosos, como constelações zodíacas, meses do ano, apóstolos, etc., parece carecer de um significado autêntico na tradição nórdica.

Uma das interpretações acadêmicas notáveis sobre o Valhalla foi formulada por Magnus Olsen em 1931. Ele propôs que um viajante nórdico antigo poderia ter testemunhado os combates de gladiadores no Coliseu da Roma Clássica, influenciando assim a narrativa de guerreiros lutando em um salão com 540 portões. No entanto, essa ideia carece de apoio atualmente. Para Rudolf Simek, a quantidade mencionada nas fontes, 800 multiplicado por 540, totalizando 432 mil guerreiros, parece ser uma influência helenística, não carregando um significado simbólico na tradição escandinava. Em vez disso, Simek argumenta que se refere de maneira objetiva aos 800 eleitos.

Outros estudiosos procuraram interpretar esses valores com base em referências astrológicas e astronômicas, mas não obtiveram resultados conclusivos. Em 1969, no livro "Hamlet’s Mill", Giorto de Santillana e Hertha von der Dechend propuseram a hipótese de que os dois números mencionados na poesia édica sobre o Valhalla indicavam possivelmente o fenômeno da precessão dos equinócios em relação aos signos do zodíaco, uma suposta observação pelos antigos nórdicos. Esses autores foram influenciados pela concepção do século XIX de que o Grímnismál fazia referência aos doze signos do zodíaco, uma interpretação atualmente considerada sem base.

Em 2004, Elisabeth e Paul Barber seguiram adiante com essa teoria, embora não tenham encontrado respaldo em pesquisas etnoastronômicas. Georges Dumézil, um mitólogo francês, em sua análise de Valhalla “Heur et malheur du Guerrier” de 1969, via isso como uma transposição de um modelo social existente na antiga Germânia para os mitos, representando o ideal de vida das comunidades conquistadoras. Segundo Dumézil, o termo "einherjar" para os escolhidos deste salão seria uma adaptação das tribos do Harii, mencionadas por Tácito na Germânia (43.6), notoriamente belicosas, que empregavam escudos negros e estratégias de combate noturnas. Ele sugeria que o termo, inicialmente, poderia se referir não ao nome de um povo, mas a um grupo secreto de guerreiros.

Os poemas escáldicos apresentam cenários do Valhalla, nos quais Odin e seus guerreiros aguardam a chegada dos reis, como Eirik Machado, o sanguinário, e Hakon, o virtuoso, sendo fontes cruciais para compreender a concepção do Valhalla na sociedade e política ao final da Era 20. Entretanto, de acordo com Cristopher Abram, essas representações escáldicas do Valhalla não possuem uma ligação direta com as imagens da poesia édica; ao invés disso, foram elaboradas pelos poetas para elevar o prestígio do rei, dentro do contexto das cortes reais. Alguns pesquisadores levantam a possibilidade de o Valhalla ter sido representado ainda na Era 20, sugerindo que as imagens de objetos circulares nos pontos mais altos das estelas de Ardre Vill e Tijagvide evocam características das casas tradicionais nórdicas.

Junto às Valquírias e ao cavalo Sleipnir, a representação pode indicar o Salão dos Mortos, embora a primeira manifestação visual do Valhalla tenha ocorrido apenas em 1660, no manuscrito AM 738 da Edda Poética. Essa representação assemelha-se a uma igreja gótica, destacando-se por suas 12 torres pontiagudas, sob as quais se estendem Yggdrassil e Duas Cabras. Além das 12 torres, ao lado do imponente portal ocupado por Odin, encontram-se 12 janelas, evidenciando o simbolismo cristão reforçado pelo autor. A torre mais alta ostenta uma bandeira marcada com VH, abreviação de Valhalla. Abaixo da torre principal, sobre Odin, surge a representação reservada de uma cruz latina. Aqui, de forma mais evidente do que em Adan de Bremen, observamos a representação dos antigos espaços satíricos do paganismo nórdico inseridos em uma arquitetura tipicamente latina, cristã e continental.

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