Diante da iminente ameaça de prisão, Bolsonaro recorre a Silas Malafaia e sua Igreja Invisível para financiar outro evento antidemocrático em 25 de fevereiro de 2024

Um dos organizadores do evento é o pastor e apoiador leal de longa data de Bolsonaro, Silas Malafaia. Ele também assume o papel de principal financiador. Ele fornecerá os fundos para o grande sistema de som que será posicionado na Avenida Paulista. Quais são as fontes desses recursos?

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, dirigiu seus seguidores em São Paulo, Brasil, em 2022.Crédito...Victor Moriyama
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, dirigiu seus seguidores em São Paulo, Brasil, no ano de 2022.Crédito...Victor Moriyama 

Política- Jair Bolsonaro teve um início de Carnaval marcado por uma atmosfera de grande ansiedade. Boatos sobre uma possível prisão iminente começaram a circular no círculo próximo ao cercadinho de Mambucaba, a alcunha do seu retiro litorâneo em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Em certo momento, cogitou-se até mesmo levar o presidente para o mar alto, como uma medida para ganhar tempo caso a Polícia Federal aparecesse. Assessores imediatamente começaram a fazer ligações para avaliar a situação. Algumas delas foram para altos funcionários do judiciário do país, e a tranquilidade só retornou quando ficou evidente que não havia motivo para tanto alarme. No entanto, a sensação persiste de que o risco continua presente, levando Bolsonaro a adotar medidas reativas com os recursos limitados que tem disponível no momento.

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Uma investigação em andamento sobre uma suposta trama para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva está avançando rapidamente, indicando que pode resultar na acusação formal, embora não tenha sido confirmada a tentativa de golpe devido à falta de apoio. Além do mais, o caso envolve diversos ex-assessores e até mesmo o presidente do seu partido atual, o PL, Valdemar Costa Neto. O primeiro passo de Bolsonaro para tentar reverter a situação aconteceu na segunda-feira, dia 12, com a publicação de um vídeo em que ele, usando a camisa da seleção brasileira, convoca seus apoiadores para participarem de uma manifestação pública na Avenida Paulista, em São Paulo, no próximo dia 25. Ele enfatizou que será um evento pacífico em defesa do Estado Democrático de Direito e pediu que todos compareçam vestindo verde e amarelo. Bolsonaro também mencionou que aproveitará a oportunidade para se defender das acusações. No entanto, ele pediu explicitamente que os participantes não levem cartazes ou faixas contra qualquer pessoa, visando evitar problemas legais, especialmente com o ministro Alexandre de Moraes do STF, que é o relator do inquérito sobre a suposta tentativa de golpe.

A história passada de Bolsonaro não é favorável. Durante o feriado de 7 de setembro de 2021, na Avenida Paulista, diante de uma multidão que aplaudia, ele insultou o ministro Moraes e ameaçou desobedecer decisões do STF. Quase imediatamente após a divulgação do vídeo convocando o evento, seus aliados próximos começaram a planejar os detalhes da organização. Um dos responsáveis pelo evento é o pastor e apoiador de longa data de Bolsonaro, Silas Malafaia. Ele também se apresenta como o principal financiador de um grande sistema de som a ser posicionado na Avenida Paulista. Mas quem está arcando com esses custos? Quem está fornecendo esses recursos? Claramente, são os seus seguidores, que muitas vezes enfrentam dificuldades financeiras para contribuir com a igreja. Apesar da proibição de faixas contra Lula, Moraes e o STF, o pastor afirmou que Bolsonaro continuará firme em seus esforços golpistas. "Bolsonaro vai expor a perseguição que está sofrendo", disse o pastor da Igreja Invisível, Malafaia.

Silas Malafaia é o financiador dos atos de 2024

De acordo com o pastor Silas Malafaia, da Igreja Invisível, mais de 150 parlamentares já estão confirmados para o evento, excedendo a capacidade máxima do carro de som. Esses parlamentares estenderam o feriado de carnaval e só retornaram ao trabalho em 19 de fevereiro de 2024. A lista dos oradores é limitada, com destaque para Bolsonaro, além do senador Magno Malta, do PL do Espírito Santo, e os deputados federais Nikolas Ferreira, do PL de Minas Gerais, e Gustavo Gayer, do PL de Goiás, este último alvo de uma investigação por racismo. A ex-primeira-dama, Michele Bolsonaro, é esperada como convidada de honra, cuja popularidade será destacada no evento, especialmente após o início das investigações envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, que levou Michele a viajar para os Estados Unidos. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, confirmou sua presença em uma entrevista à CNN Brasil na quarta-feira, dia 14.

Ex-primeira dama, Michele Bolsonaro

No cenário político atual, as incertezas se concentram no prefeito da cidade, Ricardo Nunes. Assim como Tarcísio, Nunes busca o apoio dos eleitores bolsonaristas, já que é candidato à reeleição em São Paulo. No entanto, ele tenta manter certa distância das ideias mais radicais e das polêmicas do ex-presidente. Em relação ao aspecto jurídico, a primeira resposta do ex-presidente à decisão de Alexandre de Moraes foi um pedido para que o ministro do STF devolvesse seu passaporte, que foi entregue por Bolsonaro na semana passada, por ordem judicial. O argumento é que até o momento não há evidências na investigação que justifiquem tal medida. Além da retenção do passaporte, as restrições impostas por Moraes incluem a proibição de comunicação com outros investigados e a proibição de deixar o país. Até a quinta-feira passada, 15, Moraes não havia respondido ao pedido da defesa. Para os aliados de Bolsonaro, mesmo que a resposta seja negativa, o que parece ser mais provável, isso reforçaria a narrativa de que ele está sendo perseguido pelo ministro do STF.

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Na ampla operação da Polícia Federal, que teve a aprovação dele, um dos pontos mais comprometedores ligando Bolsonaro está relacionado à sua participação na elaboração de um rascunho contendo instruções para o golpe. Segundo a delação do tenente-coronel Mauro Cid, o texto teria sido redigido pelo ex-assessor de Assuntos Internacionais, Felipe Martins, que foi preso na operação. Conforme a investigação, o rascunho foi revisado por Bolsonaro, passando por várias alterações até ficar do jeito que o ex-presidente queria. A PF está buscando outras evidências para corroborar a delação de Mauro Cid. Na quarta-feira passada, dia 14, a Globo News reportou que a polícia realizou um levantamento com base nos dados de localização das antenas de celulares, confirmando o acesso de Felipe Martins e de outros dois responsáveis pelo rascunho ao Palácio da Alvorada, no mesmo dia em que se acredita que o documento foi revisado por Bolsonaro.

O financiamento para as ações da legenda bolsonarista é significativo, e os evangélicos têm uma grande responsabilidade por essas atividades empreendidas por Bolsonaro na tentativa de subverter o Estado Democrático de Direito. Apesar dos indícios e de outras evidências que podem surgir com o avanço das investigações, ainda não está claro quais crimes podem ser atribuídos a Bolsonaro, embora se saiba que ele realmente os cometeu. Até agora, com base nas evidências divulgadas, a hipótese mais provável é que ele possa ser responsabilizado pelos crimes de subversão violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e participação em organização criminosa. As penas máximas para esses delitos somam 33 anos e 4 meses quando consideradas em conjunto, com o agravante de Bolsonaro ser um funcionário público envolvido em um ataque ao Estado. O STF está examinando esses temas fundamentais pela primeira vez, questões que colocam o Brasil no cenário jurídico internacional. "A Constituição Brasileira de 1988 e a democracia que ela consagra", afirma o ministro aposentado do Supremo, Ayres Brito.

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Geralmente, a intenção de cometer crimes não é punível pelo direito penal. No entanto, quando se trata de atentados contra o Estado e a democracia, a ligação entre a cogitação e o crime não é direta. Por isso, a investigação não pode seguir o mesmo raciocínio de um crime comum. Um golpe envolve uma série de atos políticos, conforme define o professor da USP e advogado criminalista Maurício Stegemann, Dieter. Até o momento, não está claro o que se sabe sobre a investigação relacionada à possível ligação direta entre Bolsonaro e os eventos de 8 de janeiro. Os próximos passos da investigação precisam esclarecer completamente as etapas dessa sequência, identificar as condutas do ex-presidente e entender até que ponto elas contribuíram ou não para a tentativa de golpe. Na manifestação planejada para a Avenida Paulista, Bolsonaro pretende refutar detalhadamente as acusações sobre a minuta do golpe. Por exemplo, como já afirmou em uma entrevista à revista Veja, ele negará ter se encontrado com Felipe Martins para discutir algo do tipo. O ex-presidente deixou claro que pretende usar o evento do dia 25 como uma evidência eloquente de sua popularidade, afirmando que, mais do que o discurso, o mais importante é ter uma foto da Avenida Paulista lotada para mostrar ao Brasil e ao mundo a união e o desejo de seu público. A presença de uma grande multidão seria uma maneira de confirmar o que uma pesquisa recente do Instituto Paraná Pesquisas indicou: apesar das investigações em curso, a popularidade de Bolsonaro entre seus seguidores não foi abalada.

CPMI das igrejas evangélicas
CPMI das igrejas evangélicas. Fonte: X.com

O que intriga a população brasileira e a comunidade internacional é entender o que motiva os seguidores do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, pois mesmo após a mídia divulgar a tentativa de golpe e os crimes cometidos por Bolsonaro e sua família, seu apoio continua inabalável. Parece que uma parte significativa da igreja evangélica, se não em sua totalidade, está desrespeitando os ensinamentos de Deus, ao idolatrar Bolsonaro e usar os púlpitos das igrejas para angariar mais eleitores.

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