Os Deuses e a Eternidade nas Águas do Nilo

Numa sociedade profundamente guiada pela espiritualidade, a estrutura da civilização egípcia foi moldada pela influência religiosa, delineando seu curso ao longo dos milênios até ser observada nos dias atuais.

Divindades Egípcias
Divindades Egípcias. Foto: Dreamstime/ Reprodução Instagram

Os hieróglifos egípcios assinalam uma transição crucial entre história e pré-história. No entanto, o povo do rio Nilo, uma das primeiras civilizações humanas, não se destaca apenas por sua escrita em papiro. De fato, a religião emerge como o tema mais relevante na sociedade egípcia. As crenças locais desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento cultural e na estrutura social da antiga nação do Nordeste Africano.

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A influência da fé no Antigo Egito permeava não apenas o aspecto espiritual, mas também se estendia à esfera política. Este foi o primeiro exemplo conhecido de um estado teocrático, onde o faraó desempenhava o papel de líder governamental e principal sacerdote da religião. Ele representava, na Terra, o Deus Sol, Rá, uma figura central entre as divindades que influenciava todas as facetas da vida cotidiana dos cidadãos. Cada ação individual era registrada, avaliada e julgada pelos deuses, buscando a transformação em um espírito santificado para desfrutar da vida eterna entre os deuses. No Egito, tudo estava interligado à religião e às divindades, exercendo influência nas artes, vestuário, objetos, perfumes e construções. Essas ideias são exploradas por Gilberto Bacaro, especialista em kabballah egípcia e autor de oito obras dedicadas ao Egito.

Assim como outras religiões ao redor do mundo, a antiga fé egípcia também concebeu sua narrativa sobre a criação do universo. Contudo, devido à diversidade de deuses adorados em diferentes cidades, várias mitologias de criação coexistiam. Segundo o mito principal, no início, nada existia, exceto o Oceano Celestial, caracterizado por sua imobilidade absoluta. Dentro dele, estavam os germes das coisas que eventualmente surgiriam, incluindo o próprio mundo.

O gênesis teve origem a partir de um germe ou ovo que emergiu na superfície da água, dando origem a Rá, o deus sol. Reverenciado desde tempos pré-históricos no Egito Antigo, conforme ilustrado em trechos dos papiros de Hunefer, autor do Livro dos Mortos, uma coleção de textos e hinos da religião egípcia. "Tributo a ti, que és Rá, quando te elevas, e Temo quando te pões. És o Soberano do Céu, o Senhor da Terra, o Criador dos que habitam nos céus e nos abismos. És o Único Deus que nasceu nos primórdios. Moldaste a Terra, esculpiste o homem, formaste o grande Reservatório Celestial, criaste Hapi, o Nilo, originaste o vasto Mar e todas as vidas que existem dentro deles."

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Egito Antigo

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Rá gerou quatro descendentes – Shu, Geb, Nut e Tefnet –, incumbidos da criação do céu, da terra e da atmosfera, com o Deus Sol assumindo o papel de organizador supremo. Posteriormente, Geb e Nut foram pais de dois filhos, Set e Osíris, e duas filhas, Ísis e Neftis. Osíris sucedeu Rá como o soberano da terra, mas Set, movido por ódio, acabou por matá-lo. Com a assistência de Anúbis, filho de Osíris e Neftis, Ísis o ressuscitou após embalsamá-lo, levando-o a governar o reino dos mortos. Enquanto isso, Horus, filho de Osíris e Ísis, triunfou sobre Set em uma épica batalha e ascendeu ao trono como rei da terra.

O surgimento do mito da criação deu origem às Enéades, um conjunto de nove divindades interligadas por laços familiares, e às Triades, compostas por uma divindade pai, mãe e filho. Essa narrativa contribuiu significativamente para a profunda caracterização do politeísmo na religião do Antigo Egito.

O contato dos egípcios com outras civilizações resultou no aumento do número de deuses adorados, e cada região desenvolveu sua própria variedade de divindades. Em Heliópolis, situada no delta do Nilo, era o epicentro do culto a Rá, seus filhos e netos. Por outro lado, em Tebas, ao sul, a figura central de adoração era Amon, acompanhado por sua esposa Mut e seu filho Khonsu. Em Mênfis, mais próxima de Heliópolis, Ptah ocupava a posição de grande deus, acompanhado por Sekhmet e Nefertum, esposa e filho, respectivamente.

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A relevância dos deuses no Egito Antigo flutuava conforme a dinastia no poder. Durante os períodos dominados pelos Menfitas, por exemplo, Ptah era elevado como uma das principais divindades, reconhecido como o criador do mundo. Em contrapartida, quando os Tebanos assumiam o controle, a tríade local ganhava destaque, conferindo ao líder a posição de rei dos deuses. Isso resulta em uma notável complexidade nas características da religião do Egito Antigo, impossibilitando uma simplificação abrangente.

Considerando todos os períodos dinásticos, apenas um deus permaneceu consistentemente proeminente. Osíris, o soberano do mundo inferior, desempenhava o papel de juiz dos falecidos, decidindo se um indivíduo era virtuoso o suficiente para se unir aos deuses em Sekhet-Aaru, o paraíso egípcio, assegurando assim a vida eterna. Semelhante a outras religiões que mais tarde ganharam influência global, o julgamento da alma para uma existência eterna no paraíso constituía um elemento fundamental na concepção pós-morte da sociedade egípcia. A pessoa, para alcançar essa condição, precisava demonstrar sua honra, tendo como principal guia o Livro dos Mortos, que revelava o caminho para a salvação e condução à morada divina.

Segundo a mitologia, todos os falecidos empreendiam a jornada pelo submundo e eram submetidos a julgamento diante do tribunal de Osíris. Nesse processo, o coração, onde residia a alma, era comparado a uma pluma, símbolo da verdade e da justiça, nas balanças. Se o coração pesasse mais que a pluma, indicava que a pessoa havia cometido transgressões durante sua vida na esfera dos vivos. Nesse cenário, o coração era consumido por Ammit, um demônio com cabeça de crocodilo, corpo meio leão e meio hipopótamo, resultando na verdadeira morte da pessoa. Por outro lado, se o coração tivesse o mesmo peso que a pluma de Maat, a pessoa era considerada digna da vida eterna.

A preocupação em garantir a eternidade da alma era uma característica marcante na cultura egípcia, evidenciada pela ênfase nas tumbas em detrimento das residências luxuosas. Para os faraós, os túmulos eram elaborados com grande magnificência, destacando-se as pirâmides como um conceito arquitetônico perdurável ao longo dos tempos. A complexidade dos rituais funerários aumentava proporcionalmente à riqueza do falecido.

 

 

Referências Bibliográficas

História do Mundo. Disponível em: <https://historiadomundo.uol.com.br>. Acesso em: [08/12/2023].

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