O Existencialismo de Jean-Paul Sartre no Universo Humano

Sartre no "Existencialismo é um Humanismo" destaca liberdade, responsabilidade e criação de significado na existência humana.

Jean-Paul Sartre e o significado da existência humana.
Jean-Paul Sartre e o significado da existência humana. Foto: Youtube

Introdução

Nascido em 21 de junho de 1905, nas entranhas de Paris, Jean-Paul Sartre, desde sua juventude, questiona os princípios e convenções de sua classe social, a burguesia. Inicialmente matriculado no liceu de Havre, ele posteriormente aprofunda sua formação filosófica no Institut Français de Berlin. Desde os primeiros escritos filosóficos, destaca-se a singularidade de um pensamento que o levará ao existencialismo, desenvolvendo suas teses fundamentais na obra "O Existencialismo é um Humanismo", publicada em 1946.

Sartre ganhou notoriedade perante o grande público, principalmente por meio de seus contos, novelas e romances, além de seus escritos críticos nas esferas literária e política. Suas peças teatrais atraíram uma audiência ainda mais ampla. Demonstrando constante preocupação em abordar os desafios contemporâneos, Sartre manteve uma atividade política fervorosa até o final de sua vida. Envolvendo-se em tribunais, recusando o Prêmio Nobel de Literatura em 1964 e liderando La Cause du Peuple e Libération, ele faleceu em Paris em 15 de abril de 1980.

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Filosofia do Existencialismo

Aqui, quero explicar e defender o existencialismo contra algumas críticas. Primeiro, dizem que essa filosofia faz as pessoas desistirem e ficarem sem esperança. A ideia é que, se as soluções são difíceis, talvez seja melhor acreditar que agir neste mundo é impossível. Além disso, falam que o existencialismo pode levar as pessoas a adotarem uma filosofia contemplativa, algo visto como luxuoso e associado a uma mentalidade mais rica, especialmente pelos críticos comunistas.

Por outro lado, criticaram-nos por destacar o lado ruim da humanidade, mostrando coisas sujas e desagradáveis, e por ignorar as coisas bonitas e alegres, o lado luminoso da natureza humana. Por exemplo, a crítica católica, senhorita Mercier, alega que esquecemos o sorriso das crianças. Alguns nos acusam de não ser solidários com os outros humanos, pensando que consideramos o homem como um ser isolado, principalmente porque, segundo os comunistas, partimos apenas da nossa própria opinião. Ou seja, começamos com o pensamento "eu penso" de Descartes e focamos no momento em que o homem está sozinho, o que nos tornaria incapazes de retornar à solidariedade com aqueles que estão fora de nós e que não podemos perceber apenas pensando em nós mesmos.

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Na perspectiva cristã, nos acusam de ignorar a importância e seriedade das ações humanas. Dizem que, ao descartarmos os mandamentos de Deus e os valores eternos, tudo se torna gratuito, permitindo que cada um faça o que quiser. Nesse cenário, alguns acreditam que não podemos julgar as visões e ações dos outros. Vou tentar responder a essas críticas hoje, e é por isso que escolhi o título "O Existencialismo é um Humanismo" para esta explicação. Alguns podem achar surpreendente falarmos sobre humanismo aqui.

Desde já, queremos explicar o que entendemos por existencialismo. Basicamente, é uma ideia que torna a vida humana possível e afirma que toda verdade e ação têm a ver com a experiência pessoal de cada um. A crítica comum que recebemos é que destacamos os aspectos negativos da vida humana. Uma vez, ouvi falar de uma senhora que, ao soltar uma palavra rude por nervosismo, se desculpou dizendo que estava "ficando existencialista". Assim, as pessoas associam o existencialismo à feiura, chegando a nos chamar de naturalistas. No entanto, é curioso que causemos mais preocupação e escândalo do que o naturalismo em si, que hoje em dia não gera tanto desconforto.

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Às vezes, parece que as pessoas aceitam bem histórias como as de Zola, como "A Terra", mas ficam incomodadas ao ler um romance existencialista. Alguém que usa ditados populares, mesmo que tristes, nos considera ainda mais melancólicos. No entanto, há algo mais desanimador do que dizer que a caridade começa consigo mesmo? Ou então, ame quem te serve e serás desprezado; castigue-o e serás amado. Conhecemos esses clichês que sempre enfatizam a mesma ideia: não devemos lutar contra as autoridades estabelecidas, não adianta enfrentar situações difíceis, e não devemos brigar com quem é mais poderoso. Qualquer ação que não siga uma tradição é vista como romantismo. Toda tentativa que não se baseia em experiência comprovada está destinada ao fracasso. E a experiência mostra que as pessoas geralmente têm tendência a descer, precisando de estruturas sólidas para contê-las, caso contrário, teríamos anarquia.

Contudo, as mesmas pessoas que repetem esses ditados desanimadores são aquelas que expressam críticas em relação à humanidade. Sempre que testemunham um ato considerado repugnante, as mesmas pessoas que apreciam músicas realistas são as que argumentam que o existencialismo é excessivamente sombrio. Chego a me questionar se não estão mais incomodadas com o otimismo do existencialismo do que com seu suposto pessimismo. Afinal, o que causa apreensão na doutrina que estou prestes a apresentar não seria exatamente o fato de proporcionar uma possibilidade de escolha ao ser humano? Para entender isso, precisamos explorar a questão de forma mais filosófica: o que entendemos por existencialismo?

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A maioria das pessoas que usa esse termo teria dificuldade em justificá-lo, especialmente agora que se tornou uma moda aplicá-lo indiscriminadamente a músicos, pintores e até colunistas de revistas. Atualmente, o termo perdeu seu significado original devido à sua ampla utilização. Por quê? Sem uma doutrina de vanguarda equivalente ao surrealismo, aqueles que buscam escândalo e agitação se voltam para o existencialismo, embora esta filosofia não ofereça muito nesse sentido. Na realidade, é a menos escandalosa e mais austera das doutrinas, direcionada principalmente a técnicos e filósofos. No entanto, pode ser facilmente definida. A complicação surge porque existem dois tipos de existencialistas: os cristãos, como Jaspers e Gabriel Marcel, que são católicos, e os ateus, como Heidegger, além dos existencialistas franceses, incluindo a mim mesmo.

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O que eles compartilham é simplesmente a crença de que a existência vem antes da essência, ou seja, é necessário começar pela subjetividade. Mas o que isso realmente significa? Ao considerarmos um objeto fabricado, como um livro ou um corta-papel, percebemos que foi criado com um propósito específico, baseado no conceito do objeto e em técnicas de produção anteriores. Nesse caso, a essência do objeto, que inclui os procedimentos e qualidades que o definem, antecede a sua existência. Assim, a presença de um corta-papel ou livro diante de mim é determinada pelos procedimentos e qualidades que o definem. Isso representa uma visão técnica do mundo, na qual a produção precede a existência.

Se considerarmos Deus como Criador, muitas vezes o visualizamos como um artífice superior. Independentemente da doutrina que consideremos, como a de Descartes ou Leibniz, geralmente assumimos que a vontade segue ou acompanha o entendimento, e Deus, ao criar, sabe precisamente o que está fazendo. Nesse contexto, o conceito de homem na mente de Deus é semelhante ao conceito de corta-papel na mente do fabricante. Deus produz um homem com técnicas específicas e uma concepção, assim como o artífice cria um corta-papel com base em uma definição e técnica. Portanto, um homem individual realiza um conceito existente na mente divina.

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Mesmo no ateísmo filosófico do século XVIII, onde a noção de Deus foi descartada, a ideia de que a essência antecede a existência permaneceu. Autores como Diderot, Voltaire e até Kant sustentavam que cada homem possui uma natureza humana, um conceito humano, o que significa que todos os homens são exemplos particulares de um conceito universal. Em Kant, um homem da selva, um homem natural e um burguês, por exemplo, se encaixam na mesma definição e compartilham qualidades fundamentais. Assim, mais uma vez, a essência do homem precede a existência histórica que encontramos na natureza.

O existencialismo ateísta que defendo é mais consistente. Afirma que mesmo que Deus não exista, há pelo menos um ser cuja existência vem antes da essência. Esse ser é o homem, ou como Heidegger diz, a realidade humana. O que isso quer dizer? Significa que a existência do homem vem primeiro, ele surge no mundo e depois se define. Na visão existencialista, o homem não é definível porque, inicialmente, ele não é nada. Ele só se tornará algo mais tarde, e isso dependerá do que ele escolher ser. Portanto, não há uma natureza humana predefinida, já que não há um Deus para concebê-la. Um homem é aquilo que escolhe ser, não apenas como concebido, mas como deseja a partir de sua existência. Ele é moldado pelo impulso de existir. Em resumo, um homem é nada mais do que aquilo que faz de si mesmo.

Este é o princípio fundamental do existencialismo. Também é chamado de subjetividade, termo pelo qual somos criticados. No entanto, o que realmente queremos dizer com isso é que o homem tem mais dignidade do que uma pedra ou uma mesa. Afirmamos que o homem existe primeiro e, antes de tudo, é aquilo que planeja se tornar, sendo consciente desse projeto. Inicialmente, o homem é um projeto vivido como sujeito, não um simples organismo como musgo, fungo ou uma couve-flor. Nada existe anteriormente a esse projeto. Não há algo inteligível no céu; o homem será, acima de tudo, o que projetou ser, não o que deseja ser, pois o querer, para a maioria, é uma decisão consciente posterior ao que já fizemos de nós mesmos. Se a existência realmente precede a essência, então o homem é responsável pelo que é. A principal implicação do existencialismo é colocar cada indivíduo no controle total de sua própria identidade e responsabilizá-lo integralmente por sua existência.

Quando afirmamos que o homem é responsável por si mesmo, não nos referimos apenas à sua individualidade, mas à responsabilidade por todos os homens. O termo subjetivismo possui dois significados, e nossos opositores exploram essa dualidade. Em um sentido, o subjetivismo representa a escolha pessoal de cada indivíduo, enquanto, em outro sentido, denota a impossibilidade humana de transcender essa subjetividade. É este segundo sentido que constitui a essência do existencialismo. Quando afirmamos que o homem faz escolhas por si mesmo, queremos dizer que cada um de nós faz suas próprias escolhas. No entanto, também estamos expressando que, ao fazer escolhas individuais, cada homem está fazendo escolhas em nome de toda a humanidade. Na realidade, nenhum de nossos atos cria o homem que queremos ser sem simultaneamente formar uma imagem do homem que acreditamos que todos devam ser. Ao fazer escolhas específicas, estamos afirmando o valor daquilo que escolhemos, pois nunca podemos escolher o mal. O que escolhemos é sempre considerado bom, e nada pode ser bom para nós sem ser bom para todos.

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Se a existência, de fato, antecede a essência, e buscamos existir enquanto moldamos nossa imagem, essa imagem tem validade universal e abrange toda a nossa era. Portanto, nossa responsabilidade é muito mais abrangente do que imaginamos, pois inclui toda a humanidade. Se, como operário, escolho aderir a um sindicato cristão em vez de ser comunista, indicando que a resignação é, essencialmente, a solução mais adequada para o homem e que o reino humano não se realiza neste mundo, não estou apenas decidindo sobre meu caso individual. Estou optando pela resignação em nome de todos. Assim, minha escolha abrange a humanidade como um todo. Mesmo em questões mais pessoais, como casar e ter filhos, embora essas decisões dependam da minha situação, paixão ou desejo, estou envolvendo não apenas a mim mesmo, mas toda a humanidade na prática da monogamia. Dessa forma, sou responsável por mim e por todos, criando uma imagem específica do homem que escolho ser. Ao escolher a mim mesmo, estou escolhendo um modelo de humanidade.

Isso nos ajuda a entender o significado de palavras como angústia, desamparo e desespero de maneira muito simples. O que queremos dizer com angústia? O existencialista afirma que o homem é, por essência, angústia. Isso se traduz da seguinte forma: o homem que se envolve e percebe que não é apenas o que escolhe ser, mas também um legislador que, ao escolher, define o que será a humanidade como um todo. Ele não pode evitar o sentimento de sua responsabilidade profunda e total. Embora muitas pessoas tentem esconder sua angústia e evitem confrontá-la, acreditamos que estão apenas mascarando essa emoção. Muitos pensam que, ao agir, estão comprometendo apenas a si mesmos. Quando questionadas sobre o que aconteceria se todos agissem da mesma forma, muitas respondem indiferentemente, dizendo que nem todos agem assim. No entanto, a questão essencial é: o que aconteceria se todos agissem da mesma maneira?

Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre. Foto: ElTiempo.com

E é difícil evitar esse pensamento perturbador sem recorrer a uma espécie de má-fé. Aquele que mente e se justifica dizendo que nem todo mundo age da mesma forma está, na verdade, desconfortável com sua consciência, pois a própria mentira implica um valor universal atribuído a ela. Mesmo quando mascarada, a angústia se manifesta. Kierkegaard denominava essa angústia como "Angústia de Abraão". Vocês conhecem a história. Um anjo ordena a Abraão que sacrifique seu filho. Tudo estaria bem se realmente fosse um anjo dizendo: "Você é Abraão e sacrificará seu filho." No entanto, cada um de nós pode se questionar, antes de tudo: "Será realmente um anjo, e sou mesmo Abraão? O que prova isso?" Havia uma pessoa com alucinações. Alguém lhe dava ordens por telefone, alegando ser Deus. Quando o médico perguntou quem falava com ela, respondeu: "Ele disse que é Deus." Mas que provas ela tinha de que realmente era Deus? Da mesma forma, se um anjo se aproximasse de mim, que provas eu teria de que é um anjo? E se eu ouvisse vozes, como teria certeza de que vêm do céu e não do inferno, do subconsciente ou de um estado patológico? Como posso ter certeza de que essas vozes estão se dirigindo a mim? Quem prova que fui designado para impor minha visão de homem e minha escolha à humanidade? Jamais terei alguma prova ou sinal convincente disso.

Se uma voz se dirige a mim, é minha responsabilidade decidir se essa voz é a do anjo. Quando considero um ato como bom, sou eu quem escolhe atribuir a qualidade de bom, não o mau. Não há nada que me designe automaticamente como Abraão. No entanto, a cada momento, sou compelido a realizar ações que sirvam de exemplo. Cada indivíduo vive como se toda a humanidade estivesse observando suas ações, influenciando outros a agirem de maneira semelhante. Cada pessoa deve se questionar se tem o direito de agir de maneira que a humanidade siga seus passos. Aquele que evita essa pergunta está, na verdade, mascarando a angústia. Essa angústia não conduz ao quietismo ou à inação.

É uma angústia simples, conhecida por todos que já tiveram responsabilidades. Por exemplo, quando um chefe militar assume a responsabilidade de ordenar um ataque, enviando um grupo de homens para a morte, ele faz uma escolha que, no fundo, é totalmente sua. Apesar de haver ordens superiores, elas são amplas e precisam de interpretação, que cabe a ele fornecer. A vida de 10, 14 ou 20 homens depende dessa interpretação. Ao tomar essa decisão, é inevitável que ele sinta uma certa angústia. Todo líder militar está familiarizado com essa angústia. No entanto, isso não os impede de agir; pelo contrário, é uma condição fundamental para sua ação, pois pressupõe que considerem várias possibilidades e, ao escolher uma delas, reconhecem seu valor pela simples razão de ter sido escolhida. Essa angústia, que o existencialismo descreve, também se explica pela responsabilidade direta em relação aos outros homens envolvidos na escolha. Ela não é uma barreira separadora da ação; ao contrário, faz parte intrínseca da própria ação.

Quando mencionamos o desamparo, termo caro a Heidegger, queremos simplesmente dizer que Deus não existe, e devemos enfrentar todas as implicações disso. O existencialista se opõe firmemente a uma certa moral secular que busca eliminar Deus pagando o menor preço possível. Em 1880, quando professores franceses tentaram estabelecer uma moral secular, declararam mais ou menos o seguinte: "Deus é uma hipótese inútil e dispendiosa, vamos eliminá-la." Contudo, para que haja uma moral, uma sociedade, um mundo que respeite as leis, será necessário que alguns valores sejam considerados sérios e existentes a priori. É preciso que seja obrigatório, a priori, ser honesto, não mentir, não agredir a mulher, criar filhos, entre outros. Portanto, realizaremos um pequeno trabalho que mostrará que esses valores existem, mesmo que estejam inscritos em um céu inteligível, mesmo que Deus não exista. Em outras palavras, esta é, acredito, a inclinação do que chamamos na França de radicalismo. Nada mudará com a ausência de Deus. Continuaremos a ter as mesmas normas de honestidade, progresso, humanismo, transformando Deus em uma hipótese ultrapassada que se extinguirá tranquilamente por si mesma.

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O existencialista, ao contrário, percebe como é extremamente desconfortável a inexistência de Deus, pois com essa ausência desaparece toda a possibilidade de encontrar valores em um plano inteligível. Não há mais a possibilidade de existir bem com base em algum princípio a priori, uma vez que não há mais uma consciência infinita e perfeita para concebê-lo. Não há um lugar onde esteja escrito que o bem existe, que é necessário ser honesto, ou que não se deve mentir, porque estamos exclusivamente em um plano habitado por seres humanos. Dostoiévski afirmou que, se Deus não existisse, tudo seria permitido. Este é o ponto de partida do existencialismo. Na verdade, tudo é permitido se Deus não existe. Portanto, o homem encontra-se desamparado, pois não tem nada dentro ou fora de si mesmo para se agarrar. Além disso, ele não tem mais desculpas. Se a existência precede a essência, não se pode recorrer a uma natureza humana predefinida para explicar alguma coisa. Em outras palavras, não há determinismo. O homem é livre. O homem é liberdade.

Se Deus não existe, não teremos à disposição valores ou ordens que deem legitimidade ao nosso comportamento. Assim, não temos justificativas ou desculpas, nem atrás de nós, nem à nossa frente, no domínio luminoso dos valores. Estamos sozinhos, sem desculpas. Isso significa que o homem está condenado a ser livre, pois não se criou a si mesmo. Por outro lado, ele é livre, pois, uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz. O existencialista não acredita no poder da paixão como uma força irresistível que leva o homem a certos atos, representando uma desculpa. Ele entende que o homem é responsável por suas paixões. Também não acredita que o homem possa encontrar orientação em sinais na terra, pois considera que é o homem quem interpreta esses sinais conforme sua vontade. Portanto, ele pensa que o homem, sem apoio ou auxílio, está destinado a inventar a cada instante o que significa ser humano. Como afirmou Ponge de maneira bela, "um homem é o futuro do homem." Isso é perfeitamente verdadeiro, desde que entendamos que o futuro não está predefinido no céu, mas é algo a ser construído, um futuro virgem que aguarda ser moldado. No entanto, isso nos deixa desamparados.

Para exemplificar o desamparo de maneira mais clara, gostaria de compartilhar o caso de um aluno que procurou minha orientação em uma situação delicada. Seu pai havia brigado com a mãe e pretendia se unir a uma colaboração. Além disso, seu irmão mais velho perdeu a vida durante a ofensiva alemã de 1940. Este jovem, de sentimentos um tanto primitivos, mas generosos, considerava vingar a morte do irmão como uma opção. Sua mãe, vivendo sozinha com ele, estava profundamente abalada pela meia traição do pai e pela perda do filho mais velho, e ele representava sua única consolação.

Nesse momento, o rapaz enfrentava a escolha entre ir para a Inglaterra e se alistar nas forças francesas livres, abandonando assim sua mãe, ou permanecer ao lado dela e auxiliá-la em sua vida. Ele tinha consciência de que a mãe só encontrava razão para viver através dele, e sua ausência, talvez até mesmo sua morte, a mergulharia no desespero. Além disso, ele compreendia que cada ação que realizasse em relação à sua mãe tinha uma resposta direta, contribuindo para ajudá-la a viver. Em contrapartida, cada ação que tomava ao partir ou se envolver no combate era ambígua, podendo se perder sem contribuir efetivamente para algo.

Ao considerar ir para a Inglaterra, ele ponderava sobre a possibilidade de ficar indefinidamente em um campo espanhol durante a passagem pela Espanha ou ser designado para tarefas burocráticas na Inglaterra ou Argélia. Assim, ele se via diante de dois tipos distintos de ação: uma concreta e imediata, voltada para um único indivíduo, e outra que se direcionava a um grupo muito mais amplo, a coletividade nacional, mas com eficácia potencialmente incerta. Ao mesmo tempo, ele hesitava entre duas formas de moral: uma baseada na simpatia e dedicação individual, e outra mais abrangente, porém sujeita a questionamentos quanto à sua eficácia.

Ele se deparava com a necessidade de escolher entre as duas opções. A doutrina cristã não forneceria orientação decisiva. Embora preconize a caridade, o amor ao próximo e o sacrifício pelo outro, não especifica qual caminho é mais exigente. Quem deveria ser amado como irmão? O compatriota ou a mãe? Qual opção representa a utilidade superior? Lutar em meio a um grupo ou auxiliar um ser em particular a sobreviver? Essa decisão não pode ser tomada a priori. Nenhum código moral oferece uma resposta clara. A moral kantiana orienta a nunca tratar os outros como meio, mas como fim. No entanto, ao permanecer ao lado da mãe, poderia estar tratando-a como fim, mas, por outro lado, agindo assim, poderia considerar aqueles que lutam ao redor como meio. Reciprocamente, ao unir-se aos combatentes, poderia tratá-los como fim, mas, nesse caso, estaria considerando sua mãe como meio. Dado que os valores são vagos e frequentemente amplos demais para casos específicos, a única opção é confiar nos instintos. O jovem que enfrentava esse dilema procurou seguir seus sentimentos, afirmando que o que realmente importava era a emoção. Ele decidiria com base na intensidade de seu amor pela mãe, avaliando se sacrificaria todo o resto, incluindo o desejo de vingança, a vontade de agir e a busca por aventuras, para permanecer ao lado dela. Contrariamente, se sentisse que seu amor não era tão profundo, escolheria partir.

No entanto, como determinar o valor de um sentimento? O que realmente define o valor de amar sua mãe? É, de fato, o ato de permanecer ao lado dela? Só posso afirmar que amo meu amigo ao ponto de sacrificar uma quantia de dinheiro se, de fato, eu realizar esse sacrifício. Da mesma forma, só posso declarar que amo minha mãe o suficiente para ficar com ela se, de fato, escolher permanecer ao seu lado. Determinar o valor preciso desse afeto sem realizar um ato que o confirme e o defina torna-se um dilema circular. Por outro lado, André Gide expressou habilmente que um sentimento representado e um sentimento vivido são praticamente indistinguíveis. Decidir que amo minha mãe ao optar por ficar ao seu lado ou interpretar uma peça teatral que induza minha permanência junto a ela são, de certa forma, equivalentes. Em outras palavras, o sentimento é construído pela ação que realizamos. Consequentemente, não posso recorrer a ele para me orientar, o que significa que não consigo buscar em mim mesmo o estado autêntico que impulsionará minha ação, nem procurar em uma moral os conceitos que me guiarão na ação. Alguns podem sugerir: "Ele foi conversar com um professor em busca de conselhos". No entanto, ao escolher o conselheiro, já se envolve em um comprometimento pessoal. A escolha do padre, por exemplo, já implica uma predisposição, pois, se você é cristão, pode dizer: "Consulte um padre." No entanto, há padres colaboracionistas, padres atentistas e padres resistentes. Qual deles escolher? E se o jovem optar por um padre resistente ou um colaboracionista, já terá pré-determinado o tipo de conselho que receberá.

Assim, ao buscar minha orientação, ele já antecipava a resposta que eu ofereceria. E, de fato, minha única resposta possível foi: "Você é livre. Escolha, ou seja, crie." Nenhuma norma de uma moral genérica pode indicar o que devemos fazer, pois não há sinais predefinidos no mundo. Embora os católicos argumentem que existem sinais, eu mesmo reconheço que sou eu quem atribui significado a eles. Durante meu período de prisão, conheci um notável jesuíta com uma história marcante. Desde a infância, enfrentou uma série de infortúnios, incluindo a perda do pai e desafios emocionais. Aos 22 anos, ao ser reprovado em sua preparação militar, viu isso não como um sinal de fracasso, mas como uma mensagem divina indicando que sua vocação estava nos triunfos religiosos e na fé. Ele interpretou os eventos de maneira apropriada para sua própria realização, evidenciando que a decisão sobre o sentido do sinal foi totalmente dele. O desamparo se entrelaça com a angústia, e em relação ao desespero, a expressão sugere que só podemos contar com o que está sob nosso controle direto ou com as probabilidades que tornam nossas ações possíveis.

Quando desejamos algo, inevitavelmente envolve elementos prováveis. Por exemplo, se estou aguardando a chegada de um amigo, é presumível que ele venha de trem ou bonde, pressupondo que o trem chegará pontualmente e o bonde não descarrilará. Contudo, a confiança nas possibilidades está estritamente vinculada à medida em que nossa ação abrange o conjunto dessas possibilidades. Se as possibilidades consideradas não estiverem diretamente influenciadas pela minha ação, devo desconsiderá-las, pois nem Deus nem destino poderão moldar o mundo e suas possibilidades de acordo com minha vontade. Em essência, quando Descartes afirmava "ganha-se antes a si mesmo, que é o mundo", queria expressar a mesma ideia: agir sem expectativas. Em conversas com marxistas, a resposta que recebo é que, dado que minha ação será limitada pela morte, devo confiar no apoio dos outros. Isso implica contar com o que outros farão em diferentes lugares, como China e Rússia, para ajudar e continuar a ação após minha morte, conduzindo-a à Revolução. No entanto, destaco que contarei sempre com camaradas de luta na medida em que estejam envolvidos comigo em uma luta concreta e compartilhada, dentro da unidade de um partido ou grupo que eu possa controlar, como um militante que conhece a cada momento os movimentos desse partido. Contar com a unidade e vontade desse partido é equivalente a contar com a pontualidade do bonde ou a estabilidade do trem.

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Não posso confiar em indivíduos desconhecidos com base na bondade ou no interesse humano na promoção do bem social, uma vez que, dado que o homem é livre e não há uma natureza humana fixa, desconheço o desdobramento futuro da Revolução Russa. Posso admirá-la como exemplo atual, mostrando o papel do proletariado na Rússia, mas não posso afirmar com certeza que levará necessariamente ao triunfo desse grupo. Minha avaliação é limitada ao que observo. Não posso garantir que meus camaradas de luta continuarão meu trabalho após minha morte, pois serão livres para decidir o curso da humanidade. No futuro, eles podem escolher estabelecer o fascismo, e outros podem ser passivos a ponto de permitir tal decisão. Nesse momento, o fascismo se tornará a "verdade humana" e enfrentaremos as consequências. Em última análise, as circunstâncias serão determinadas pela escolha humana. Isso não significa adotar o quietismo; pelo contrário, devo me comprometer e agir conforme a antiga máxima "não é preciso esperar para começar". Embora pertença a um partido, não devo nutrir ilusões, mas sim fazer o que estiver ao meu alcance. Por exemplo, se me questionarem sobre a coletivização e quando ela ocorrerá, não posso prever, mas farei todo o possível para contribuir para esse objetivo. Além disso, não posso prever nada além disso.

Outra interpretação do humanismo surge, essencialmente, da ideia de que o homem está constantemente fora de si mesmo. Ele existe ao projetar-se e perder-se fora de si, buscando fins transcendentes que o capacitam a existir. Essa superação e apropriação de objetos ocorrem apenas em relação a essa transcendência, com o homem no centro desse processo. Não há universo além do universo humano, da subjetividade humana. Chamamos isso de humanismo existencialista, pois destacamos que o homem é seu próprio legislador, decidindo no desamparo, e que ele se realiza ao buscar fora de si um fim que envolve liberação e realização. Essas reflexões revelam que as objeções feitas ao existencialismo são injustas. Este não busca afundar o homem no desespero, mas, se considerarmos qualquer atitude de descrença como desespero, então o existencialismo parte do desespero original. Não é meramente um ateísmo que tenta provar a inexistência de Deus; ao contrário, declara que, mesmo que Deus exista, isso não alteraria nada, o que representa nossa perspectiva. Não afirmamos a existência de Deus, mas argumentamos que o problema real reside na necessidade de o homem enfrentar a si mesmo, sem depender de qualquer salvação, mesmo que houvesse uma prova incontestável da existência de Deus. Nesse sentido, o existencialismo é otimista, uma doutrina de ação, e os cristãos nos rotulam erroneamente de desesperançados ao confundirem nosso desespero com o deles, apenas por má fé.

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