O agravamento da crise humanitária gerou uma enxurrada de críticas contra a atual operação militar de Israel e está colocando à prova o respaldo até mesmo de seu principal aliado, os Estados Unidos.
Os ataques atingiram a cidade de Rafah, no sul de Gaza, na manhã de quinta-feira, destruindo a mesquita Al-Farouk e várias casas.Haitham Imad/EPA, via Shutterstock |
Internacional - Em
1955, quando David Ben-Gurion, um dos pioneiros de Israel, foi alertado de que
sua intenção de ocupar a Faixa de Gaza poderia gerar críticas da ONU, ele
menosprezou a organização, referindo-se a ela em hebraico como "Hum -
Shmum". Essa declaração veio a representar a disposição de Israel em
desafiar organismos internacionais quando considera que seus interesses
primordiais estão em jogo.
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Quase
sete décadas depois, Israel enfrenta uma nova onda de críticas nas Nações
Unidas, no Tribunal Internacional de Justiça e em numerosos países devido à sua
ação militar em Gaza, que resultou na morte de aproximadamente 29.000
palestinos, incluindo muitas mulheres e crianças, e deixou grande parte da
região devastada.
O
aumento significativo da pressão global deixou o governo israelense e seu
primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em uma posição de isolamento profundo,
embora ainda contem com o apoio de seu aliado mais sólido, os Estados Unidos.
No
entanto, desta vez, Israel está enfrentando uma notável discordância com
Washington. A administração Biden está promovendo um projeto de resolução no
Conselho de Segurança da ONU que advertiria as forças militares israelenses a
não realizarem uma ofensiva terrestre em Rafah, próximo ao Egito, onde mais de
um milhão de refugiados palestinos estão abrigados. Além disso, o projeto
exigiria um cessar-fogo temporário assim que possível.
"Isso
representa um grande desafio para o governo israelense, que anteriormente se
apoiava na proteção dos Estados Unidos", afirmou Martin S. Indyk,
ex-embaixador dos EUA em Israel. "Mas agora Biden está indicando que
Netanyahu não pode mais contar com essa proteção como certa."
Notícia: Edifícios danificados perto da mesquita destruída Al Farouq em Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
— Fernando michel da Silva correia (@Fernand26995567) February 22, 2024
Fonte: Imprensa Associada#orientemedio pic.twitter.com/LjKkEtvQfu
"Há
um contexto mais amplo de condenação pela opinião pública internacional, sem
precedentes em termos de amplitude e profundidade, que se estende aos Estados
Unidos", acrescentou Indyk. "Os eleitores progressistas, jovens e
árabes do Partido Democrata expressaram indignação e criticaram duramente Biden
por seu apoio a Israel."
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Até o momento, o Presidente Biden permaneceu inabalável
diante da pressão internacional ou doméstica. Na terça-feira, os Estados Unidos
adotaram uma posição familiar, exercendo seu veto no Conselho de Segurança para
bloquear uma resolução, proposta pela Argélia, que solicita um cessar-fogo
imediato em Gaza. Esta foi a terceira vez durante o conflito em Gaza que os
Estados Unidos vetaram uma resolução que pressionava Israel.
Desde a fundação das Nações Unidas em 1945, três anos antes
da criação do Estado de Israel, os Estados Unidos utilizaram seu veto mais de
40 vezes para proteger Israel no Conselho de Segurança. Na Assembleia Geral da
ONU, onde os Estados Unidos têm apenas um voto entre muitos, as resoluções
contra Israel são comuns. Em dezembro passado, a assembleia votou a favor de um
cessar-fogo imediato por 153 a 10, com 23 abstenções.
"Quando se trata de Israel, essas organizações estão
contra nós", afirmou Michael B. Oren, ex-embaixador de Israel nos Estados
Unidos, referindo-se às Nações Unidas, ao Tribunal Internacional de Justiça e
outros órgãos. "O que eles fazem não nos afeta estratégica, tática ou
operacionalmente."
No entanto, Oren admitiu que uma ruptura com os Estados
Unidos, seu principal fornecedor de armas, poderoso aliado político e principal
apoiador internacional, seria "uma situação completamente diferente".
Apesar de Israel ter enfrentado forte pressão desde o início de sua ofensiva em
Gaza, o coro de críticas de capitais estrangeiras se intensificou nos últimos
dias. Em Londres, o Partido Trabalhista, da oposição, pediu na terça-feira por
um cessar-fogo imediato, marcando uma mudança em sua posição em relação ao
Partido Conservador, que está no poder, sob pressão de seus membros e de outros
partidos da oposição.
Notícia: Tanques israelenses disparando contra Gaza vindos do Sul de Israel.
— Fernando michel da Silva correia (@Fernand26995567) February 22, 2024
Fonte: Imprensa Associada#paz pic.twitter.com/gKhD5v2iyM
Até mesmo o Príncipe William, o herdeiro do trono
britânico, de 41 anos, fez um apelo "pelo fim dos combates o mais rápido
possível", uma intervenção rara na geopolítica por parte de um membro da
realeza que geralmente evita tais questões. "Muitos perderam suas
vidas", declarou William em um comunicado na terça-feira.
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Uma evidência marcante do isolamento de Israel pode ser
vista no Tribunal Internacional de Justiça em Haia, onde representantes de 52
nações aguardam para apresentar argumentos em um caso que analisa a legalidade
da "ocupação, colonização e anexação" dos territórios palestinos por
Israel, incluindo a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. A maioria desses
representantes tem criticado veementemente Israel.
A África do Sul comparou as políticas de Israel em relação
aos palestinos a uma "forma extrema de apartheid" e abriu um processo
separado no tribunal acusando Israel de genocídio em Gaza.
Na quarta-feira, os Estados Unidos mais uma vez defenderam
Israel, pedindo ao tribunal que não emitisse uma decisão exigindo que Israel se
retirasse incondicionalmente desses territórios. Um advogado do Departamento de
Estado, Richard C. Visek, argumentou que isso tornaria ainda mais difícil
alcançar um acordo de paz entre Israel e os palestinos, pois não levaria em
consideração a segurança de Israel.
No entanto, a voz dos Estados Unidos estava isolada, com
apenas a Grã-Bretanha oferecendo um argumento semelhante.
"Na verdade, é exatamente o contrário", afirmou
Philippe Sands, um advogado de direitos humanos que falou em nome dos
palestinos. Observando que o tribunal já havia confirmado o direito palestino à
autodeterminação, ele afirmou: "A função deste tribunal - desses juízes,
de vocês - é declarar a lei: definir os direitos e obrigações legais que
possibilitarão uma solução justa no futuro."
Qualquer decisão do Tribunal Internacional de Justiça seria
apenas consultiva, e Israel se recusou a participar desses procedimentos. No
entanto, o desafio de Israel aos organismos internacionais não significa que
ele os ignore completamente.
Inicialmente, o governo israelense rejeitou veementemente a
alegação de genocídio da África do Sul como "desprezível e
desdenhosa". Houve relatos de que Netanyahu considerou enviar Alan M.
Dershowitz, o advogado que defendeu Donald J. Trump e o financista e criminoso
sexual Jeffrey Epstein, para apresentar o caso de Israel - uma escolha que
alguns argumentaram que transformaria a audiência em um circo. No final, uma
equipe jurídica de alto nível, liderada por um respeitado advogado australiano-israelense,
Tal Becker, foi enviada para representar Israel, argumentando que a África do
Sul apresentou "uma descrição abrangente contrária aos fatos" do
conflito.
Em uma decisão temporária no início de fevereiro, o
tribunal instruiu Israel a evitar e punir declarações públicas que incitassem
ao genocídio e a garantir a entrega de ajuda humanitária a Gaza. No entanto,
não concedeu um pedido fundamental da África do Sul: a suspensão da campanha
militar israelense.
Apesar de sua postura desafiadora em relação às Nações
Unidas, a estratégia israelense de desconsiderar as resoluções do Conselho de
Segurança tem limites. Israel frequentemente tenta minar ou enfraquecer essas
resoluções, reconhecendo o risco de possíveis sanções.
Em dezembro de 2016, autoridades israelenses pressionaram o recém-eleito presidente Trump a instar o então presidente em exercício, Barack Obama, a vetar uma resolução do Conselho de Segurança que condenava os assentamentos judaicos na Cisjordânia (os Estados Unidos se abstiveram e a resolução foi aprovada).
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