Teoria da base dos valores culturais humanos
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay |
A Conceituação dos Fundamentos dos Valores Culturais Humanos, desenvolvida por Shalom H. Schwartz, é uma concepção no âmbito da pesquisa transcultural. O autor considera a conceituação como um acréscimo essencial de abordagens anteriores para conceituações de pesquisa transcultural comparativa, como a conceituação das dimensões culturais de Hofstede, e tem sido amplamente aplicada em estudos interculturais de valores individuais. A Conceituação dos Fundamentos dos Valores Culturais Humanos tenta mensurar os Valores Universais que são reconhecidos em todas as principais culturas. A conceituação de Schwartz identifica dez desses valores motivacionalmente distintos e descreve ainda as relações dinâmicas entre eles. Para melhor representar graficamente essas relações, a conceituação dispõe os dez valores em uma estrutura circular.
No artigo de 2012, Schwartz e colegas apresentaram um
conjunto aprimorado de 19 valores individuais básicos que servem como "princípios
orientadores na vida de uma pessoa ou grupo".
Categorias Motivacionais dos Princípios
Orientadores
A Conceituação dos Fundamentos dos Valores Culturais
Humanos identifica dez princípios orientadores universais, que podem ser
classificados em quatro grupos de ordem superior. Cada um dos dez princípios
orientadores universais tem um propósito central que é o motivador subjacente.
Abertura para mudar
Autogestão Pensamento e ação autônomos - escolhendo,
criando, explorando.
Estímulo Excitação, novidade e desafio na vida.
Autodesenvolvimento
Hedonismo Satisfação ou gratificação sensual para si mesmo.
Conquista Sucesso pessoal através da demonstração de
habilidade de acordo com os padrões sociais.
Domínio Status social e prestígio, controle ou influência
sobre pessoas e recursos.
Conservação
Proteção Estabilidade, harmonia e equilíbrio da sociedade,
dos relacionamentos e de si mesmo.
Conservação Restrição de ações, inclinações e impulsos que
possam perturbar ou prejudicar os outros e violar expectativas ou normas
sociais.
Herança Respeito, comprometimento e aceitação dos costumes
e ideias que a própria cultura ou religião proporciona.
Autotranscendência
Generosidade Preservar e aprimorar o bem-estar daqueles com
quem se está em contato pessoal frequente (o 'círculo mais próximo').
Altruísmo Compreensão, valorização, tolerância e proteção
para o bem-estar de todas as pessoas e do meio ambiente.
Outro
A dimensão espiritual foi considerada como um décimo
primeiro valor suplementar; no entanto, verificou-se que essa dimensão não
estava presente em todas as culturas.
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Configuração das Relações de Valor
Além de identificar os dez princípios orientadores, a
concepção também explica a interconexão e a influência mútua entre eles. A
busca por qualquer um dos princípios resulta em harmonia entre alguns
(conformidade e segurança), enquanto entra em conflito com pelo menos um
outro princípio (benevolência e poder). Tradição e conformidade possuem
objetivos motivacionais particularmente semelhantes e, portanto, são agrupados
juntos. Os princípios podem se opor em diferentes graus, o que levou à
organização em uma estrutura circular com duas dimensões opostas. A primeira
dimensão contrasta a abertura à mudança com a conservação, destacando a
independência e a obediência. A segunda dimensão oposta envolve o
autoaperfeiçoamento e a autotranscendência, considerando tanto os interesses
pessoais como o bem-estar dos outros.
Embora a concepção distinga dez princípios, as fronteiras
entre eles são artificiais, pois há uma fluidez entre os princípios, que é
evidenciada pelas ênfases motivacionais compartilhadas a seguir:
Domínio e Conquista — busca
por superioridade social e reconhecimento;
Conquista e Hedonismo — busca
por satisfação pessoal;
Hedonismo e Excitação — desejo
de experiências agradáveis e emocionantes;
Excitação e Autonomia — interesse
intrínseco em novidades e aprimoramento;
Autonomia e Altruísmo — confiança
no próprio discernimento e valorização da diversidade humana;
Altruísmo e Generosidade — valorização
do próximo e transcendência do interesse egoísta;
Generosidade e Herança — dedicação
ao grupo de origem;
Generosidade e Obediência — comportamento
em conformidade para fortalecer laços pessoais;
Obediência e Herança — subordinação
pessoal às normas sociais;
Herança e Proteção — preservação
das estruturas sociais seguras;
Obediência e Proteção — defesa
da ordem e harmonia nas relações;
Proteção e Domínio — enfrentamento
de ameaças e controle de recursos.
Além disso, as pessoas têm a capacidade de adotar valores
opostos, comportando-se de maneira diferente em ambientes ou momentos diversos.
A estrutura do modelo dos 10 tipos de valores de Schwartz foi comprovada em
mais de 80 países, abrangendo diferentes gêneros e utilizando diversos métodos,
como avaliações de importância de valores (usando as pesquisas mencionadas
abaixo), tarefas de julgamento de similaridade direta, classificação por
pilhas e disposição espacial de arranjo, e até mesmo na percepção dos valores
de outras pessoas, como membros da família.
Curiosidade
Você sabia que os valores humanos podem variar significativamente entre culturas? Por exemplo, em algumas sociedades, a liberdade individual e a independência podem ser altamente valorizadas, enquanto em outras, a coletividade e a harmonia comunitária podem ser consideradas mais importantes. Essas diferenças culturais nos valores podem influenciar desde as escolhas pessoais até o funcionamento de instituições sociais e políticas. O estudo das variações culturais nos valores humanos é uma área fascinante que nos ajuda a compreender melhor a riqueza e complexidade da diversidade humana em todo o mundo.
A Diversidade dos Valores Humanos
Ainda mais, as pessoas demonstram a habilidade de adotar
valores conflitantes, comportando-se de maneira distinta em diversos contextos
ou em momentos diferentes. A configuração do modelo dos 10 tipos de valores
proposto por Schwartz foi corroborada em mais de 80 países, abrangendo
diferentes culturas, gêneros e utilizando variados métodos, como avaliações da
importância dos valores (com base nas pesquisas listadas abaixo),
tarefas de julgamento de semelhança direta, classificação por pilhas e arranjo
espacial, e até mesmo na percepção dos valores de outras pessoas, como membros
da família.
Avaliação dos Valores através do Schwartz Value
Survey
O Schwartz Value Survey (SVS) é uma pesquisa que
explora explicitamente os valores dos participantes, solicitando que eles façam
uma autoavaliação. A pesquisa consiste em 57 perguntas, divididas em duas
listas de itens de valor. A primeira lista contém 30 substantivos, enquanto a
segunda possui 26 ou 27 itens em forma de adjetivo. Cada item é acompanhado por
uma breve descrição para maior clareza. Das 57 questões, 45 são utilizadas para
calcular os 10 diferentes tipos de valor, sendo que o número de itens para
medir um determinado valor varia conforme o conceito abordado. Os 12 itens
restantes têm a finalidade de proporcionar uma melhor padronização no cálculo
do valor individual. A importância de cada item de valor é avaliada em uma
escala assimétrica, incentivando os participantes a refletirem sobre cada uma
das questões.
7 (importância suprema)
6 (muito importante)
5, 4 (sem rótulo)
3 (importante)
2, 1 (sem rótulo)
0 (não importante)
−1 (oposto aos meus valores)
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Até o momento, a pesquisa envolveu mais de 60.000 pessoas
em 64 países.
Além do Schwartz Value Survey (SVS), foi desenvolvido o
Questionário de Valores Retrato (PVQ) como uma alternativa. Embora o PVQ
tenha sido principalmente criado para crianças de 11 a 14 anos, também mostrou
produzir resultados consistentes quando administrado a adultos. Diferentemente
do SVS, o PVQ depende de relatórios indiretos. Nele, o entrevistado é
solicitado a comparar a si mesmo (de acordo com o gênero) com pequenas
descrições verbais de 40 pessoas diferentes. Após cada descrição, o respondente
deve indicar o quão parecido ele ou ela é com a pessoa retratada, variando de
"muito parecido comigo" a "não é nada parecido
comigo". Esse método de pesquisa permite avaliar como o indivíduo
realmente age, em vez de apenas pesquisar quais valores são importantes para
ele. Assim como no SVS, as descrições para cada valor variam de acordo com o
conceito abordado.
Limitações
Uma das principais limitações dessa teoria diz respeito à
metodologia da pesquisa. O Schwartz Value Survey (SVS) é
consideravelmente desafiador de responder, pois os entrevistados precisam
primeiro ler o conjunto de 30 itens de valor e atribuir uma pontuação para a
classificação mais alta e mais baixa (0 ou -1, dependendo se um item é
oposto aos seus valores). Como resultado, preencher o questionário leva
aproximadamente 12 minutos, levando a uma quantidade significativa de
formulários preenchidos apenas parcialmente. Além disso, muitos entrevistados
tendem a atribuir pontuações altas para a maioria dos valores, o que distorce
as respostas para o extremo superior. No entanto, esse problema pode ser
atenuado fornecendo aos respondentes um filtro adicional para avaliar os itens
que receberam pontuações altas. Ao administrar o Schwartz Value Survey em um
ambiente de orientação, os entrevistados são treinados para distinguir entre um
valor "obrigatório" e um valor "significativo".
Um valor "obrigatório" é aquele sobre o qual eles agiram ou
pensaram nas últimas 24 horas (esse item de valor receberia uma pontuação de
6 ou 7 na escala de Schwartz). Um valor "significativo" é
algo em que agiram ou pensaram recentemente, mas não nas 24 horas anteriores
(este item de valor receberia uma pontuação de 5 ou menos).
Outras limitações metodológicas incluem as pontuações
ordinais e ipsatizadas resultantes, que restringem o tipo de análises úteis que
os pesquisadores podem realizar.
Aplicações Práticas
Estudos recentes apontam que os valores podem influenciar a
resposta do público a campanhas publicitárias. Além disso, quando uma escolha e
um valor são alinhados, as pessoas tendem a escolher a opção que mais se
relaciona com seus próprios valores. Portanto, modelos como a Teoria dos
Valores Humanos Básicos tornam-se cada vez mais relevantes para campanhas de
marketing internacional, auxiliando a compreensão dos valores e suas variações
entre diferentes culturas. Essa importância é particularmente verdadeira, uma
vez que os valores têm se mostrado uma das explicações mais poderosas para o
comportamento do consumidor. Compreender os diferentes valores e identificar os
objetivos subjacentes também pode ajudar as organizações a motivar sua equipe
em um ambiente de trabalho cada vez mais globalizado e a criar uma estrutura
organizacional adequada.
Recentemente, o trabalho de Schwartz, assim como o de Geert
Hofstede, tem sido aplicado em pesquisas econômicas, especificamente no
desempenho econômico relacionado ao empreendedorismo e criação de empresas.
Isso tem implicações significativas para o crescimento econômico e pode
explicar por que alguns países ficam atrás de outros, mesmo com recursos
humanos, naturais e instituições governamentais similares. Esse é um campo de
estudo relativamente novo na economia; no entanto, os resultados empíricos recentes
sugerem que a cultura desempenha um papel importante no sucesso dos esforços
empresariais em todas as nações, mesmo aquelas com estruturas governamentais
semelhantes. De acordo com a pesquisa de Francisco Liñán e José
Fernandez-Serrano, esses atributos culturais representam 60% das variações no
Produto Interno Bruto (PIB) per capita em países da União Europeia
(UE).
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